terça-feira, 24 de maio de 2011

PORTUGAL E INDONÉSIA EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO




PAULO GORJÃO* - PÚBLICO

O eixo Ásia/Pacífico tem vindo a afirmar-se progressivamente como o centro de gravidade da economia mundial, pondo deste modo em causa a preponderância das relações transatlânticas entre a América do Norte e a Europa. Os indicadores de que dispomos indicam que nos próximos anos, salvo uma alteração estrutural de natureza imprevisível, o eixo Ásia/Pacífico continuará a reforçar a sua relevância internacional. Quais as implicações desta evolução para Portugal?

As relações políticas e económicas de Portugal com os países da Ásia são frágeis. Portugal tem poucas embaixadas no continente asiático e as suas trocas comerciais, salvo uma ou duas excepções, têm pouca importância. Impõe-se, portanto, não só reforçar a nossa representação diplomática, claramente subdimensionada, mas também apostar na vertente económica da política externa portuguesa.

A Indonésia é um bom exemplo de um país asiático com o qual mantemos relações diplomáticas, mas em que há ainda muito espaço para que o relacionamento bilateral político, económico e cultural adquira maior dimensão. Tendo restabelecido relações diplomáticas em Dezembro de 1999, nos meses seguintes o relacionamento bilateral progrediu rapidamente. A presidência portuguesa da União Europeia, no primeiro semestre de 2000, foi decisiva para esse efeito, uma vez que permitiu manter contactos ao mais alto nível com as autoridades indonésias. Nos anos seguintes, Timor-Leste deixou de ser um tema de divergência, passando a ser um elo em comum entre Lisboa e Jacarta. O mais importante é que o relacionamento bilateral ganhou maior espessura e independência em relação a Timor-Leste. Com o intuito de dar maior substância e visibilidade política ao relacionamento bilateral, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, visitou a Indonésia e o seu homólogo, Hassan Wirajuda, retribuiu mais tarde com uma visita a Lisboa, em 2003. A relação bilateral, todavia, estagnou nos anos seguintes, num sinal claro, embora incompreensível, de desinteresse. De certo modo, apesar do início fulgurante, pode dizer-se que a década passada foi uma oportunidade perdida no âmbito do aprofundamento do relacionamento bilateral.

Portugal parece querer agora recuperar algum do tempo perdido. No ano passado, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, esteve em Jacarta para dar um novo impulso ao relacionamento bilateral, e é possível que este ano haja um encontro ao nível presidencial entre os dois países.

A Indonésia é um país estável política e economicamente. É o primus inter pares no Sudeste Asiático, beneficiando de uma localização estratégica que lhe confere uma relevância indiscutível. Os seus 237 milhões de habitantes ilustram bem a sua dimensão e as oportunidades à espera das empresas portuguesas. Todavia, a Indonésia é o país do G-20 para o qual Portugal exporta menos, ocupando Jacarta em 2010 um modesto 84.o lugar no ranking das exportações portuguesas.

Numa altura em que Portugal faz um esforço acrescido para diversificar as suas relações para além dos três pilares tradicionais, e em que o foco na diplomacia económica assume um destaque sem igual no passado, o aprofundamento das relações bilaterais com a Indonésia terá de ser uma prioridade para o próximo governo.

*Director do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS)

**Escreve à terça-feira

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