sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Cabo Verde – Presidenciais: DEZASSEIS DIAS DE CAMPANHA PERSPETIVAM SEGUNDA VOLTA




José Sousa Dias, da Agência Lusa

Cidade da Praia, 05 ago (Lusa) -- Os 16 dias de campanha, que hoje termina, não deixaram claro quem sairá vencedor das presidenciais de domingo em Cabo Verde, onde a única "quase certeza" é a realização de uma segunda volta, que continuará a entrar de forma inédita por agosto dentro.

Com data marcada para 21 de agosto, se for confirmada nas urnas a convocação de uma segunda volta, poderá agravar ainda mais a já prevista alta abstenção, tradicional nas Presidenciais, sendo por isso uma incógnita saber quem beneficiará mais dela.

Aristides Lima, Jorge Carlos Fonseca, Joaquim Jaime Monteiro e Manuel Inocêncio Sousa percorreram, não só nas últimas duas semanas mas também na pré-campanha, todas as nove ilhas habitadas do arquipélago e algumas cidades da diáspora cabo-verdiana, à procura do voto dos 305.349 eleitores inscritos.

A campanha começou com os candidatos a exporem as suas ideias para o cargo de chefe de Estado, mas rapidamente resvalou para um ataque cerrado do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, no poder) a Aristides Lima, considerado "traidor", por apresentar a sua candidatura contra a oficial do partido, a de Inocêncio Sousa.

O ponto alto das acusações foi a introdução de Amílcar Cabral na campanha, quando o líder do PAICV e primeiro-ministro, José Maria Neves, acabou por atacar tacitamente o principal apoiante de Lima, o presidente cabo-verdiano cessante, Pedro Pires.

Na ocasião, Neves deixou a suspeita de que a geração mais conservadora do partido sabe de "intrigas" que levaram ao assassinato do "pai" das independências da Guiné e Cabo Verde, cujas circunstâncias estão oficialmente ainda por esclarecer.

Lima nada respondeu, mas as acusações prosseguiram, com Jorge Carlos Fonseca, apoiado pelo Movimento da Democracia (MpD), a "explorar" as divisões no PAICV, considerando tratar-se de uma "guerra entre fações" do partido.

Das acusações passou-se, depois, para discursos em que a generalidade dos analistas políticos cabo-verdianos consideraram "ocos, fúteis e vãos", tendo como argumento a confusão que se tentou incutir no eleitorado sobre quais são de facto os poderes presidenciais.

Todos foram acusados de fazerem uma campanha como se fossem chefes, não de Estado mas de Governo, confundindo, por vezes, o eleitorado que rapidamente percebeu a diferença, sobretudo através da comunicação social cabo-verdiana, sempre presente.

Logo depois, veio o tema da estabilidade, em que, mais uma vez, todos esgrimiram os respetivos argumentos e todos garantiram serem os únicos que a podem assegurar com um Governo de base PAICV.

Lima lembrou os 10 anos à frente do Parlamento (2001/11), Fonseca os 13 anos fora da ribalta político-partidária, Inocêncio a dezena de anos em que, como ministro, tratou da diplomacia e das infraestruturas e Monteiro a "força do povo", que é quem manda no país.

Aos comícios diurnos e noturnos, sempre animados por nomes importantes da música local e com atrasos, por vezes, de mais de três horas, juntaram-se as ações porta a porta, em que o "rei" foi Joaquim Monteiro, que mostrou aos restantes candidatos que se pode fazer campanha com baixos custos financeiros, andando sempre junto do "povo".

A campanha acaba às 24:00 de hoje e quem mais vai lamentar são as vendedoras de rua, os proprietários de carrinhas e os jovens que nas rotundas recebem para apelar ao voto dos condutores e que tiveram nos comícios uma fonte extra e inesperada de rendimento. A esperança renascerá se houver segunda volta.

*Foto em Lusa

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