quarta-feira, 12 de outubro de 2011

QUAL É O PREÇO DE SALVAÇÃO COBRADO PELA ALEMANHA?




Petros Panayotídis, no Monitor Mercantil – Correio do Brasil

O desafio para a Alemanha – a atual, mas também para os próximos governos – é dupla e de dimensões estratégicas: Primeiro, que não serão alteradas as condições de participação do país na União Monetária, com ponto principal de referência a disciplina fiscal, o controle da inflação e a responsabilidade de qualquer país-membro por sua credibilidade creditícia.

O mecanismo provisório EFSF é uma ferramenta de administração de circunstâncias emergenciais, com o permanente ESM interpretando mais claramente o approach alemão. Não é, aliás, casual e sequer coincidente que em Berlim já falam abertamente sobre o funcionamento do ESM desde os primeiros meses do ano que vem, e não em janeiro de 2013, como era previsto inicialmente.

Segundo, que o governo de Berlim aproveitará do gerenciamento da crise atual para sedimentar sua total hegemonia sobre a Europa, um alvo que torna proibitivo o custo de uma incessante oposição ou, na melhor das hipóteses, uma desaceleração da blindagem da Zona do Euro que impõe na Alemanha para assumir suas responsabilidades em uma blindagem preventiva e dissuasiva da Zona do Euro contra um incontrolável dominó.

É óbvio que os aspectos do desafio estratégico que a Alemanha enfrenta impõem opções contraditórias e que se anulam. Dentro do cenário acima o gerenciamento da crise grega surge como catalisador que anula os riscos e revela as oportunidades, usando como ferramenta um segundo corte da dívida pública da Grécia em percentuais oscilando entre 50% e 60%, uma receita que, certamente, será seguida, primeiro por Portugal, depois pela Irlanda:

França se submete

Primeiro, a Alemanha transfere o apoio à Grécia das costas de seus contribuintes para o setor privado, que, para início de conversa, encontra-se fora de suas fronteiras e, principalmente, na França, cujo sistema bancário encontra-se extremamente exposto à dívida pública grega e, em grau multiplicado, às dívidas públicas da Itália e da Espanha.

Segundo, está sendo concluída a submissão da França à Alemanha, que foi iniciada como opção de Sarkozy, em junho do ano passado, após uma bienal oposição frontal com a primeria-ministra Merkel: o governo de Paris já está com margem zero de diferenciação do Governo de Berlim, considerando que depende do apoio alemão para salvação dos bancos franceses de uma falência coletiva, assim como depende do governo de Berlim evitar a perda da classificação AAA pelas agências de rating.

A ajuda da Alemanha à França será caríssima, considerando que Sarkozy, ou melhor, seu sucessor, será convocado por Merkel para que aumente o limite de idade para concessão de aposentadoria de 60 para 67 anos, sem levar em consideração o custo social e político, seja qual for.

No que diz respeito a uma crise de endividamento da Itália até o final deste ano, que derrubaria os planejamentos acima, felizmente para Merkel existe como tábua de salvação a permanência de Berlusconi no poder. O premiê italiano está decidido a continuar tomando empréstimos caríssimos – ignora-se o percentual de juro que pagará aos mercados, ou ficará esperando uma reviravolta na Zona do Euro ou, simplesmente, a bomba explodira nas mãos de seu sucessor. Semelhante política havia seguido, sem sucesso, também, o ex-primeiro-ministro José Sócrates, em Portugal.

Em 1940, a França arrastou-se ao armistício para evitar que a derrota se tornasse pulverização. Ano passado, Sarkozy assinou primeiro o armistício para em seguida cobrar a derrota.

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