quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Portugal: IGREJA ACEITA MUDAR DOIS FERIADOS SE GOVERNO FIZER O MESMO




António Marujo - Público

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) já decidiu que irá propor ao Governo, através do Vaticano - já que a matéria está regulada pela Concordata -, a eliminação de dois feriados religiosos condição de o Governo extinguir também dois feriados civis, como já foi anunciado.

Uma das hipóteses mais prováveis das quais a hierarquia católica pode abdicar é o dia do Corpo de Deus, que calha entre Maio e Junho. Festa secundária no calendário católico, que começou a ser celebrada no século XII) mas apenas se institucionalizou e alargou no século XVI, em resposta à Reforma protestante. Em Itália e em França, o feriado também já foi extinto.

As outras possibilidades poderiam ser o feriado do 15 de Agosto (festa de Nossa Senhora da Assunção), o 1 de Novembro (dia de Todos os Santos, aproveitado por muita gente para romagem aos cemitérios, tendo em conta que no dia seguinte se assinala o dia dos Defuntos) ou o 8 de Dezembro (Imaculada Conceição, padroeira de Portugal).

Provavelmente, cairá o 15 de Agosto, data que é assinalada em muitas zonas do país com romarias e festas. Mas, como é época de férias, os bispos poderão abdicar do feriado, transferindo a festa litúrgica para o domingo seguinte.

Em conferência de imprensa, ao princípio da tarde de hoje, em Fátima, o porta-voz da CEP, padre Manuel Morujão alertou, no entanto, para a ideia de que “suprimir um feriado não é uma varinha mágica que resolva os problemas da economia nacional”. Mas o facto “pode ser um sinal de que há que colaborar com trabalho, com criatividade e evitar os excessos, o desleixo, a desmotivação e de [esperar que] os outros que resolvam”.

A CEP manifestou-se ainda contra a “ditadura do capital que acaba por ferir os mais frágeis” e contra os “jogos obscuros, sobretudo do poder económico”. O padre Manuel Morujão, antecipava deste modo o conteúdo de uma nota que amanhã será divulgada pelos bispos, a propósito do actual momento da vida do país.

“As próprias forças políticas são subalternizadas” na situação que se vive, disse Morujão, a propósito do documento. O texto, que terá como título “Esperança em tempos de crise”, pretende “afirmar a solidariedade com o povo que sofre”.

O texto é uma curta carta de uma página, que substitui o documento doutrinal, mas muito longo, que estava em agenda e que chegou a ser discutido. A CEP decidiu, no entanto, guardá-lo para outra ocasião, trocando-o pela publicação de um texto mais incisivo.

“É uma mensagem afectiva e efectiva”, disse Manuel Morujão, comentando o facto de a Igreja estar envolvida em muitas instituições de solidariedade.

“Há gente sem rosto, que provoca ditaduras económicas”, afirmou o porta-voz. “Se há paraísos fiscais, quer dizer que há infernos de pobreza e injustiça”, disse ainda o porta-voz da CEP. O padre Morujão citou ainda o Papa Bento XVI, que pede “uma nova ordem económica mundial” e disse que a Igreja “não tem soluções técnicas, mas aponta” critérios como a verdade e a justiça.

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