quinta-feira, 22 de março de 2012

Angola: "Não nos surpreende" - UNITA comenta surgimento do novo partido CASA



Deutsche Welle

Entrevista com porta-voz da UNITA revela como a nova formação política que surgiu em Angola foi recebida no seio do maior partido da oposição angolana.

A CASA, Convergência Ampla de Salvação de Angola, foi lançada na passada quarta-feira (14.03), em Luanda. Durante a sessão, Abel Chivukuvuku, antigo líder parlamentar da UNITA e à frente do novo partido, foi o único a intervir.

O congresso constitutivo da CASA deverá realizar-se, em Luanda, nos próximos dias 03 e 04.04. A DW África falou com o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, para saber o que o maior partido da oposição angolana pensa da desvinculação de alguns de seus militantes para a contituir esta nova formação.

Deutsche Welle África: Como foi que a UNITA recebeu a notícia da constituição de um novo partido em Angola?

Alcides Sakala: É uma situação que não nos surpreende, era esperada. Talvez tenha acontecido tarde demais, porque já havia indicações no passado de que haveria esta ruptura com a UNITA.

Os mentores deste processo antes da morte do doutor [Jonas] Savimbi [fundador da UNITA] já foram pronunciando neste sentido quando viram que o doutor Savimbi era uma carta fora do baralho, e que a UNITA era um manto de retalhos.

DW: Qual é o significado para a UNITA da desvinculação de alguns de seus militantes para integrarem o novo partido CASA?

AS: A UNITA é um partido democrático, que se abre para si próprio adotando o princípio da abertura. Agora, quem achar que não pode adaptar-se a este processo de fazer política dentro da organização é livre para tomar a decisão que achar a mais apropriada para a defesa de interesses próprios.

DW: Abel Chivukuvuku foi militante da UNITA durante 38 anos, saiu para fundar o CASA. Mas muitos outros o seguiram. Pode ser um sinal de insatisfação dentro do partido, de que a UNITA já não corresponde às expectativas de seus militantes?

AS: Não, não creio. A UNITA é um partido de tendências, que tem várias linhas de pensamentos e que apresenta suas noções de estratégia nos congressos, que se realizam de quatro em quatro anos e conforme diz o estatuto. Portanto, esta é uma tendência, diria eu.

Antes do Jonas [Savimbi] morrer já havia esta indicação. Portanto, mais tarde ou mais cedo haveria essa ruptura em relação ao que são os fundamentos ideológicos da organização. Porque a UNITA tem princípios, definidos há 46 anos, e todo um partido que subsista e continue a existir para lá da vida de seus fundadores, é porque tem de fato um projeto de sociedade.

DW: A UNITA é o partido de oposição mais forte de Angola. Mas esta perda de militantes agora e o surgimento dessa nova formação política, CASA, podem ser interpretadas como um enfraquecimento da oposição em Angola, em geral?

AS: Não, não creio. Eventualmente sabe-se que esta nova convergência tem outras figuras de outros partidos políticos. Portanto, não é nenhuma novidade nem as saídas, nem as entradas de cidadãos nas organizações. É normal. Temos colegas que por razões diversas deixaram-nos em 1992, mas que agora integram órgãos da direção. Portanto é um processo normalíssimo.

DW: Existe, eventualmente, a possibilidade da criação de uma frente eleitoral comum contra o MPLA [partido no poder], por exemplo?

AS: Este é um processo novo em Angola. Vamos até na terceira eleição que eventualmente poderá ter lugar este ano. Tivemos duas que correram mal. A primeira terminou num banho de sangue, em 1992. A segunda, foi em 2008, foi uma mascarada autêntica. Por isso, nós esforçamo-nos para que as próximas, previstas para este ano, sejam bem, bem organizadas.

As coligações são importantes, mas o grande problema nosso ainda em Angola, acredito mesmo em África, há a posição das lideranças, que muitas vezes têm objetivos claros, querem afirmar-se tal como se apresentam, e isso tem dificultado efetivamente criarmos as plataformas. Vamos dar tempo ao tempo.

Autora: Carla Fernandes - Edição: Cris Vieira / Renate Krieger

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