quinta-feira, 22 de março de 2012

Guiné Equatorial: Entrevista a Daniel Ayacaba, Presidente da UP


Obiang, o ditador
Jornal Digital

Sobre a adesão à CPLP

Daniel Ayacaba: «A adesão da Guiné Equatorial à CPLP e o reencontro com Portugal, seria muito significativa para o povo da Guiné Equatorial»

Malabo - Daniel Dario Martínez Ayacaba é desde 2009 o Presidente do Partido União Popular (UP), partido da oposição na Guiné Equatorial. Ayacaba é licenciado em Direito. Na altura da sua eleição como presidente do partido afirmou que «a sua formação política apela à transferência de poder por métodos democráticos» e está «predisposto a cooperar com as instituições do Estado».

PNN – Na sua opinião, quais as vantagens e desvantagens de uma possível entrada da Guiné Equatorial para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Daniel Dario Martinez Ayacaba (DDMA) - A existência da República da Guiné Equatorial tem a sua origem nas explorações de marinheiros portugueses. Se a história fosse diferente, quem sabe hoje falar-se-ia da Guiné Equatorial como uma ex-colónia Portuguesa e, não Espanhola, mas a história é bem conhecida de todos e ninguém a questiona.

Os benefícios produzidos pela entrada da Guiné Equatorial na CPLP, seriam vários. Esta adesão e o reencontro com Portugal, seria muito significativa para o povo da Guiné Equatorial. Porém constata-se que este tipo de decisão é tomada directamente pelo regime ditatorial presidido actualmente por Teodoro Obiang Nguema, sem considerar os interesses dos seus cidadãos.

O povo da Guiné Equatorial tem suportado, um regime muito duro, nos últimos 44 anos. O país tem menos de um milhão de habitantes, possui grandes recursos naturais e, apesar disso, a maioria da população vive no limiar da pobreza.
Dispomos de uma elite dirigente que, para além de controlar os interesses económicos do país, consome 90% do rendimento nacional, enquanto a maioria da população não tem acesso diário a alimentação.

PNN – Considera que a adesão à CPLP poderia contribuir para uma mudança no regime estabelecido no país?

DDMA – Na minha opinião a CPLP deveria exigir ao regime de Obiang alguns requisitos para a sua adesão à comunidade, como o respeito pelos direitos humanos, a liberdade de imprensa, dos seus cidadãos, a democratização do país, e a luta contra a corrupção, caracteristica dominante na classe dirigente.

Um exemplo visível é o que se passa actualmente, com o filho de Teodoro Obiang na Justiça de diversos países, como os EUA, França, Espanha e África do Sul.

Estes julgamentos ajudam a clarificar esta ditadura. Por outro lado, seria desejável que se travasse esta integração uma vez que só procura interesses e apoios no concerto internacional, enquanto, internamente mantém o mesmo tipo regime para com os seus cidadãos.

Um exemplo que comprova o regime de Obiang é que apesar de já fazerem parte da comunidade francófona e espanhola, e de estarem aguardar a integração na CPLP, ao mesmo tempo, enviam um pedido para aderir a Commonwealth.

Considero que nem tudo vale na política para permanecer no poder, não é um regime sincero e tem uma vasta lista de actos que o desqualificam para integrar a Lusofonia.

Esperemos que os interesses económicos dos países, estejam acima dos principios orientadores do humanismo, que preside o desempenho dos países europeus e consequentemente Portugal.

A população equato-guineense vive num estado de sitio não declarado desde a adesão à soberania nacional. Gostariamos que Obiang respeitasse primeiramente a vontade dos seus cidadãos, uma vez que a situação é insustentável e acabasse com a contínua propaganda no exterior.

Considero que esta integração não se deveria realizar sem que o regime cumpra primeiramente, os requisitos mínimos exigidos. Contudo, o Partido da União Popular não está contra a integração do país em áreas e grupos de prestígio como o da Lusofonia.

(c) PNN Portuguese News Network

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