domingo, 8 de abril de 2012

O GOVERNO É OPOSIÇÃO




António Fernando Nabais - Aventar - ontem

A estratégia comunicacional do Governo consiste em retirar espaço à oposição defendendo várias posições contrárias ao mesmo tempo. Ao princípio, talvez por mau funcionamento da máquina partidária ou por disfunção psiquiátrica, esse papel cabia unicamente a Passos Coelho, o que chegou a trazer alguns problemas à integridade física do primeiro-ministro, porque é muito difícil separar o agredido do agressor quando são a mesma pessoa. A última vez que se assistiu a um fenómeno semelhante remonta à primeira metade do século XX, quando Álvaro de Campos escrevia cartas à namorada de Fernando Pessoa.

A nova estratégia começou a ser testada com as polémicas “piegas” e “se és professor, emigra” e ganhou consistência aquando da recente e aparente confusão relativa à reposição adiada dos subsídios de férias e de Natal: primeiro, Vítor Gaspar garantiu que voltariam em 2013; depois, Passos Coelho afirmou que talvez voltassem em 2015; finalmente, Vítor Gaspar, opondo-se a si mesmo, garantiu que já tinha afirmado o mesmo que Passos Coelho.

Mais recentemente, numa entrevista ao Die Welt, Passos Coelho exprime dúvidas sobre o regresso de Portugal aos mercados, dúvidas desfeitas, um dia depois, por Miguel Relvas. A qualquer momento, Carlos Abreu Amorim virá a público afirmar que ambas as declarações foram lidas fora do contexto e maldosamente interpretadas por membros da oposição, ou seja, do governo.

Pessoalmente, talvez contaminado por tanta indecisão, vivo numa dúvida cuja enunciação é antiga: hei-de mandá-los à merda ou para a merda?


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