domingo, 8 de abril de 2012

Suíça: O SUICÍDIO POR ARMAS DE FOGO




Correio do Brasil, com Swissinfo - de Genebra

Em 1815, a Suíça brigou pela última vez em um conflito internacional, mas essa nação, famosa desde então por sua neutralidade, possui hoje um dos maiores índices do continente europeu de posse de armas de fogo e também de suicídios por esta via. Contrariamente aos velhos mitos de pacifismo, a Suíça ostenta um exército profissional e um sistema de milícia, o qual estipula que os soldados devem manter em casa seus equipamentos pessoais.

Por isso, não é de se estranhar que em 2007, 37,5% dos domicílios do país tivessem armas de fogo, pois o acesso a estas na Suíça é superior à média continental. Nesse mesmo ano, o Ministério de Defesa, Proteção da População e Esportes estimava que os lares suíços guardavam 2,2 milhões de armas de fogo e, delas, 535 mil pertenciam ao exército.

Não obstante, outro estudo realizado pelo Instituto de Investigação de Genebra, considerava que tal cifra atingia um total de até 3,4 milhões desses dispositivos em moradias. Atualmente, o país possui ao redor de 2,5 milhões de armas de fogo em mãos privadas, o que representa a maior taxa per capita na Europa, e a quarta mais alta do mundo.

Mas o armamento circulante também acarreta consequências em um indicador sumamente negativo: o suicídio.

Na Suíça, mais de 1,3 mil pessoas se suicidam a cada ano, enquanto que mais de 300 falecem em incidentes relacionados com armas de fogo, o que, como demonstram diversas estatísticas, não é algo novo. De 1996 a 2005 foram levados a cabo 3.410 suicídios no país, enquanto que em 2006, a Suíça se situou em segundo lugar neste índice, só superada pelos Estados Unidos, que encabeçam a lista mundial com quase 57% das fatalidades.

Hoje em dia, as regiões com maiores taxas de suicídio são Uri, Obwalden, Nidwalden e Schwyz, que ostentam ao mesmo tempo o mais alto índice de posse de armas de fogo, revela a coordenadora da organização contra o suicídio Stop Suicide, Anne-Marie Trabichet.

Para Trabichet, a solução ao problema começa por fazer mudanças na vigente legislação e para isso se apoia nos casos do Canadá e da Áustria. Na década de 1980, o Canadá modificou suas leis e a posse de armas caiu de 31 a 19%. Em consequência, o número de mortes por suicídio decaiu em seu conjunto, de 32 a 19%.

Igualmente em 1997, a vizinha Áustria alterou seu código legal para restringir o acesso às armas de fogo. Desse modo, entre 1998 e 2005, o país viu uma redução anual de cinco por cento nos casos de suicídio.

Cada ano na Suíça, morrem quatro vezes mais pessoas por suicídio que por acidentes no trânsito.

No entanto, o tema é um grande tabu, reconheceu Trabichet, ao explicar que a maioria das pessoas não são conscientes da magnitude do problema.

– A disponibilidade é determinante para a escolha do método. O fácil acesso aos meios letais eleva a probabilidade de que alguém os utilize, e na Suíça são facilmente acessíveis. Muitos suicídios são de natureza passageira, impulsiva. Isso quer dizer que a decisão de levá-los a cabo é tomada em um brevíssimo lapso de tempo – disse o sociólogo da Clínica Universitária de Psiquiatria de Zurich, Vladeta Ajdacic-Gross, ao portal swissinfo.

Por isso, explicou o especialista, a acessibilidade ao método desempenha nesses momentos um papel crucial: “se alguém tem que se esforçar para conseguir o instrumento mortal, já é em si um grande fator de prevenção”, agregou.

Em sua opinião, os homens são mais propensos a tirar a própria vida com uma arma de fogo: em 2010 representaram 95% das fatalidades por esta via, enquanto que um terço do total de homens suicidas optaram por esse caminho.

Isso se deve a que os homens sabem utilizar melhor as armas de fogo. Já as mulheres são menos hábeis no manejo das armas e por isso quase nunca as usam para se suicidar, concluiu.

O mercado informal torna-se também um problema: em 1999, uma lei federal estabeleceu que as vendas de armas entre os indivíduos não tinham que ser registradas.

Em 2008, o Conselho Federal modificou sua decisão, mas uma grande quantidade desses artefatos se perderam no caminho.

Durante uma recente entrevista com La Tribune de Geneve, o chefe do Serviço de Armas da polícia de Genebra, Bernard Bersier, disse que durante esses nove anos, as autoridades perderam o rastro de mais de 20 mil armas. Atualmente, a venda anônima está proibida, mas é quase impossível controlar todas as transações. As forças policiais só agem quando alguém denuncia um abuso ou suspeita.

Não obstante, tanto a polícia regional, como as autoridades judiciais e o exército criaram grupos de trabalho para estabelecer formas de intercâmbio de informação sobre as investigações penais relacionadas com os soldados e sua equipe.

Mas tais medidas respondem também a outro problema: o excedente de armas provenientes do Exército. Hoje em dia, dos 2,5 milhões em circulação, pelo menos 1,5 milhões estão relacionadas com as forças armadas, já que os suíços guardam em casa em tempos de paz seus armamentos para casos de guerra.

De acordo com o psicólogo Philip Jaffé, os suíços têm uma ideia romântica de defender sua cultura e independência, como parte de uma mentalidade onde cada cidadão é um soldado e na qual as armas de fogo jogam um papel importante. Isso em parte explica a derrota em 2011 de uma iniciativa destinada a criar um registro nacional de armas, que pedia também a proibição daquelas consideradas mais perigosas e exigia que os militares guardassem seu equipamento militar no quartel.

No entanto, persiste a reticência cidadã: Cada morte é uma a mais, e toda arma que circula por aí, seja controlada ou não, é um perigo potencial; diz o secretário político do Grupo por uma Suíça sem Armas, Christophe Barbey.

Não há nenhuma necessidade estratégica de que mais soldados mantenham suas armas em casa, diz Barbey.

– Esses tempos passaram – acrescenta.

Quantas vítimas mais precisaremos – pergunta-se o ativista – antes de mudar as coisas?

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2 comentários:

Anónimo disse...

ARGUMENTO BESTA PARA DEFENDER O DESARMAMENTO !!!!

UMA PESSOA QUE QUER SE SUICIDAR PODE RECORRER A VÁRIOS MEIOS. PODE PULAR DO ALTO DE UM PRÉDIO .... VÃO QUERER PROIBIR EDIFÍCIOS POR CAUSA DISSO?

Cy4ok_jr disse...

Essa pagina é tão lixo e ridícula que meu pc resolveu ir embora pra suiça comprar uma arma e " NUNCA SER ASSALTADO PELO BANDIDO "

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