terça-feira, 1 de maio de 2012

Fuga de dissidente é novo "quebra cabeças" para PC China e relações com EUA



AC - Lusa

Pequim, 30 abr (Lusa) - A audaciosa fuga de um conhecido dissidente chinês e o seu anunciado refúgio na Embaixada dos Estados Unidos em Pequim, na semana passada, já foram descritos como "uma bomba relógio" e "um choque de automóveis em câmara lenta".

Metáforas à parte, o caso Chen Guangsheng - advogado cego que conseguiu evadir-se da casa onde se encontrava ilegalmente detido há mais de um ano - é suscetível de ensombrar as relações sino-norte-americanas e ocorre numa conjuntura muito sensível para a liderança chinesa.

A secretária de Estado norte-americana, Hilary Clinton, e o secretário do Tesouro, Timothy Geitner, são esperados na próxima quarta-feira em Pequim, para a 4.ª ronda do Diálogo Estratégico e Económico de Alto Nível China-Estados Unidos.

Ativistas e amigos de Chen garantem que ele está "sob proteção" das autoridades norte-americanas, o que Washington e Pequim ainda não confirmaram nem desmentiram.

A atitude dos dois governos é interpretada como sinal de comum embaraço.

Em fevereiro passado, o ex-chefe da polícia de Chongqing e braço direito do líder comunista local, Wang Lijun, passou mais de 24 horas num consulado dos Estados Unidos no sudoeste da China, onde terá pedido asilo político, mas segundo a embaixada norte-americana, Wang Lijun acabou por sair de "livre vontade".

Wang Lijun está hoje "sob investigação das autoridades centrais", o referido líder, Bo Xilai, foi entretanto afastado e a mulher deste, Gu Kailai, presa por suspeita de homicídio, num escândalo sem precedentes na política chinesa.

No caso de Chen, no entanto, os Estados Unidos não poderão entregá-lo à polícia chinesa e, ao contrário do que já aconteceu com outros dissidentes, o advogado não quererá sair do país.

"Amigos e apoiantes dizem que o ativista não tem nenhuma intenção de abandonar o continente e procura um diálogo direto com o governo central", disse um jornal de Hong Kong.

Chen Guangcheng, 40 anos, tornou-se conhecido por ter apresentado uma queixa contra alegados abusos na aplicação da política de controlo da natalidade ("um casal", um filho"), entre os quais abortos e esterilizações forçadas.

Desde setembro de 2010, quando acabou de cumprir mais de quatro anos de prisão por "atentados à propriedade e perturbação do trânsito", Chen estava proibido de sair de casa, numa aldeia da província de Shandong, nordeste da China, e de receber visitas.

A queda de Bo Xilai foi considerada "um revés para a linha esquerdista" do Partido Comunista Chinês (PCC) seis meses antes de um crucial congresso, que irá escolher a liderança do país para a próxima década.

Segundo alguns analistas, a "linha reformista" do PCC, aparentemente em ascensão, poderia tentar "dialogar" com Chen e atender às suas reivindicações, responsabilizando as autoridades locais pela situação.

Os mesmos analistas advertem, contudo, que essa atitude poderia ser vista como "uma perda de face" ou, pior ainda, "uma cedência a pressões estrangeiras", dois riscos que ninguém parece querer correr.

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