quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Guiné-Bissau: A SIDA SEM DINHEIRO, OS “ARRUACEIROS” E O TRÁFICO DE DROGA




Programa de luta contra a SIDA sem dinheiro para tratar doentes

01 de Agosto de 2012, 12:54

Bissau, 01 ago (Lusa) - O programa nacional de luta contra SIDA na Guiné-Bissau está há mais de cinco meses sem dinheiro para acudir aos doentes, na sequência de falta de apoios financeiros provenientes do Fundo Global, disse o responsável do programa.

Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, João José Monteiro afirmou que há mais de cinco meses que a Guiné-Bissau deixou de receber verbas do Fundo Global das Nações Unidas para o tratamento aos doentes.

"O Fundo Global, embora diga que não, está a fazer economias e depois alega a questão da alteração da ordem constitucional para justificar atrasos incompreensíveis na transferência de verbas que possam ajudar a continuar o trabalho que estamos a fazer", disse José Monteiro.

"A situação é grave. Por exemplo, na área do tratamento há três ou quatro elementos que podemos citar, há quatro/cinco meses que o secretariado não tem conseguido pagar os exames biológicos aos pacientes. Como os tratamentos são pesados, há um grupo de ativistas que acompanham os doentes nos tratamentos, mas há muito tempo que esses ativistas não recebem os seus subsídios", exemplificou.

O coordenador do secretariado nacional de luta contra SIDA na Guiné-Bissau apontou ainda os constrangimentos burocráticos que a instituição que dirige tem sofrido por falta de fundos.

"Aqui no escritório há mais de cinco meses que não recebemos salários. Antigamente tínhamos energia permanente, mas agora não temos energia, não temos Internet e telefone", observou Monteiro, sublinhando que tudo isso afeta a chamada "resposta nacional" no combate à doença.

"Há medicamentos que chegam ao país mas que ficam nas alfândegas porque não temos dinheiro para o desalfandegamento, temos cerca de oito milhões de preservativos oferecidos pelo Brasil e Fundo Global mas que estão desde dezembro no porto de Bissau e não conseguimos fazê-los sair", declarou João José Monteiro.

"O impacto é muito negativo. Não diria que a luta contra a sida na Guiné-Bissau esteja em risco, mas temos que repensar o financiamento da luta contra a doença. O financiamento não pode repousar apenas nos apoios internacionais. Tem que haver uma verba do Estado da Guiné-Bissau para o combate à SIDA", disse o responsável.

O Fundo Global pergunta-me se os bancos estão a funcionar.

Noutro dia diziam-me que a maioria dos Governos (que financiam o Fundo Global) não reconhece o (atual) Governo da Guiné-Bissau. E por aí fora. Portanto são questões ligadas à instabilidade permanente que o país vive", explicou José Monteiro ao referir-se a relutância do Fundo Global em desbloquear as verbas.

"Este problema da instabilidade também mexe com a estabilidade do financiamento do programa de luta contra SIDA. Mas, temos que dizer ao Fundo Global que a luta contra a SIDA é uma ação humanitária e precisamente em momentos de instabilidade política que é mais necessário a sua ajuda" ao país, notou José Monteiro.

A Guiné-Bissau tem um Governo e um Presidente que gerem um período de transição de 12 meses, mas a maioria da comunidade internacional não reconhece essas autoridades por terem sido criadas na sequência do golpe de Estado perpetrado por militares a 12 de abril último.

MB.

Veteranos do PAIGC "juntaram-se a arruaceiros para denegrir" o partido - PM deposto

01 de Agosto de 2012, 13:49

Lisboa, 01 ago (Lusa) - O primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau disse hoje em Lisboa que os veteranos do seu partido que o acusaram de ter "encabeçado um regime despótico" de se terem juntado a arruaceiros para denegrir a imagem do PAIGC.

"Esses combatentes deviam ser o exemplo para esse grande projeto [de tornar a Guiné-Bissau um país viável] e não juntar-se com arruaceiros para tentar denegrir a imagem do nosso grande partido", disse Carlos Gomes Júnior aos jornalistas à saída de uma reunião em Lisboa com o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso.

As acusações dos veteranos do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde foram inscritas numa carta aberta em que criticam a postura da Internacional Socialista ao convidar o primeiro-ministro do Governo deposto, Carlos Gomes Júnior, para a sua última reunião realizada em Cabo Verde.

Governo refuta relatório da ONU que assinala aumento de tráfico droga

01 de Agosto de 2012, 14:49

Bissau, 01 ago (Lusa) - O ministro da Justiça do Governo de transição da Guiné-Bissau, Mamadu Saido Baldé, rejeitou hoje a conclusão de um relatório da ONU, que aponta para o aumento do tráfico de droga desde o golpe de Estado de 12 de abril.

"Nós estamos numa fase pós-golpe de Estado. Esta nossa afirmação é válida para contrariar qualquer tipo de relatório. Nós repudiamos e contrariamos qualquer elemento no sentido de que há um crescimento do narcotráfico na Guiné-Bissau", defendeu, em conferência de imprensa o ministro da Justiça guineense.

O último relatório do secretário-geral apresentado ao Conselho de Segurança das Nações Unidas referiu que há um aumento significativo do tráfico de droga na Guiné-Bissau desde o golpe militar de 12 de abril, que destituiu as autoridades eleitas.

"O entendimento que nós temos é de que não há neste momento o aumento do consumo ou do narcotráfico na Guiné-Bissau", disse Saido Baldé, desafiando a ONU ou quem quer que seja a apresentar provas contrárias à posição das autoridades de transição.

"Que nos provem o contrário. Se nos provarem o contrário e com os elementos que nós temos aqui, estamos disponíveis para dialogar, em articulação com estas instituições para, em conjunto, identificarmos os espaços onde haja esse crescimento do narcotráfico para ser combatido", afirmou o ministro da Justiça.

"Temos aqui o painel de 2011 e o de 2012. São apreensões feitas pela Policia Judiciária. Eu pergunto a apreensão de uma quantidade pouco significativa da droga significara um aumento ou decréscimo?", questionou Saido Baldé ao referir-se às últimas apreensões de droga feitas pela Policia Judiciaria guineense.

A Guiné-Bissau conheceu, no dia 12 de abril, mais um golpe de Estado que destituiu o Presidente interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, sendo que o país é agora dirigido por um Governo de transição mas que não é reconhecido pela maioria da comunidade internacional.

MB.

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