domingo, 5 de agosto de 2012

QUANDO A ALEMANHA FOI O PAÍS “RESGATADO”



Luís Manuel Cabral – Diário de Notícias

No dia em que o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, alertou a Alemanha para o risco de um "confronto entre Norte e Sul" na Europa, é bom lembrar que no século XX a Alemanha também precisou de ajuda económica.

Hoje todos os focos da crise económica estão voltados para os países do Sul da Europa, mas o jornal espanhol "ABC" lembra que, durante o século XX, a Alemanha também precisou de ajuda financeira em momentos chave da sua história, que nunca lhe foi negada.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a fome dominava uma Europa devastada pelo conflito. Por isso, os Estados Unidos da América decidiram aprovar, em 1947, o "European Recovery Program", popularmente conhecido como "Plano Marashall, em memória do secretário de Estado norte-americano que o anunciou, George Marshall. O plano consistia num pacote de ajudas económicas com o duplo objetivo de evitar a ruina da Europa Ocidental e travar o avanço do comunismo da União Soviética.

Dessas ajudas, a recentemente constituída República Federal Alemã (RFA) obteve, segundo estima Martin Schain no seu livro "O Plano Marshall 50 anos depois", cerca de 1.448 milhões de dólares (1.178 milhões de euros). Desse modo, a metade não comunista da Alemanha foi o terceiro país europeu que mais dinheiro recebeu dos norte-americanos, atrás da França e do Reino Unido. Graças a essa ajuda e à audácia política do chanceler Ludwig Edhard, a Alemanha Ocidental iniciou uma impressionante recuperação económica que ficou conhecida como "o milagre alemão".

A Alemanha voltou a receber ajuda, embora numa escala menor, com o objetivo de ajudar à reunificação alemã após a queda do "Muro de Berlim", a 9 de Novembro de 1989, que pôs fim à "Guerra Fria".

A queda do muro não se deu apenas por razões políticas, como explica o economista Joachim Ragnitz, do Centro de Estudos Económicos IFO, no livro "Alemanha Oriental hoje: êxitos e fracassos": "No outono de 1989, a República Democrática da Alemanha não estava apenas arruinada politicamente, mas também a nível económico", já que, a título de exemplo, o Produto Interno Bruto da zona comunista representava apenas "43% da média do da Alemanha Ocidental".

A reunificação alemã teve como consequência a entrada imediata das regiões que formavam a República Democrática alemã na União europeia. Um feito sem precedentes, já que normalmente para que um país possa ingressar na UE tem de dar início a um processo de vários anos que exige que o candidato cumpra, segundo os tratados europeus, "com critérios políticos e económicos e assuma integralmente o conjunto de normas e tratados comunitários".

Por outro lado, para reduzir as diferenças estruturais existentes, a Europa teve de aprovar de forma urgente um pacote de crédito para melhorar a situação crítica de algumas regiões alemãs que tinham estado sobre o controlo comunista. De acordo com informações do parlamento Europeu, embora sem a certeza de saber se os dados fornecidos pela ex-RDA eram fiáveis, a União Europeia aprovou "ajudas no valor de três mil milhões de euros por ano à Alemanha no período compreendido entre 1991 e 1993.

Assim, entre 1993 e 2013, a Alemanha terá sido e será um dos países mais beneficiados pelos fundos europeus, pelo que, segundo um estudo elaborado pelo Departamento de Política Regional da União Europeia, quando terminar o ano de 2013, a Alemanha terá recebido mais de 80 mil milhões de euros.

Sem comentários:

Mais lidas da semana