domingo, 5 de agosto de 2012

Rebeldes criam Estado dentro do Estado na República Democrática do Congo



Deutsche Welle

Os rebeldes do Movimento 23 de Março (M23) no leste da RDC conquistam cada vez mais território. Substituíram funcionários públicos e passaram a cobrar impostos. ONU, presidente e países vizinhos discutirão crise.

Há cerca de quatro semanas, os rebeldes do movimento M23 ocuparam a cidade fronteiriça de Bunagana, de grande importância estratégica no leste da República Democrática do Congo (RDC). Dali avançaram sobre a de Goma. Neste momento encontram-se a 30 quilômetros da capital da província, que ameaçam conquistar.

Rutshuru é a capital de distrito no leste da RDC, no coração do território conquistado pela milícia M23. Para os habitantes da cidade, muito mudou desde a chegada dos rebeldes.

O tenente coronel Vienney Kazarama é um dos fundadores do M23, que constituído em abril deste ano por desertores do exército nacional. O homem em uniforme juntou as pessoas no centro de Rutshuru. Durante um discurso, Kazarama explica as novas regras aos habitantes do "território libertado", como ele próprio diz. Promete emprego na função pública, nos hospitais e nas escolas a quem for leal ao governo rebelde.

Impostos e portagens para os rebeldes

Os rebeldes ergueram uma barreira na estrada no centro da cidade. Os camiões têm que pagar uma portagem de 500 dólares se quiserem seguir para Goma. O M23 está a criar sistematicamente o seu próprio Estado no leste da RDC. Já nomearam um presidente e ministros do governo que se ocupam da política externa, da saúde e das questões sociais.

Os rebeldes também já enviaram embaixadores para os países vizinhos e a Europa. O líder do M23, Sultani Makenga, desafia agora o presidente Joseph Kabila e ameaça ocupar da cidade de Goma. "O nosso procedimento futuro depende do governo", afirma Makenga. "Se ele quiser uma solução violenta para o nosso conflito, continuaremos a lutar. Se quiser uma solução pacífica, estamos dispostos a negociar. Se for preciso, avançamos sobre Goma. O final depende do governo", reitera o líder da milícia.

Até agora, o governo recusou todas as ofertas de negociação. Oficialmente os líderes dos rebeldes dizem que querem renegociar o acordo de 2009. Na altura, a milícia que precedeu o M23, a CNDP, assinou um acordo de paz e integrou os seus cinco mil combatentes no exército nacional.

O então dirigente do CNDP era Bosco Ntaganda, procurado por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia. Quando o presidente Kabila anunciou no início deste ano a sua extradição para Haia, Ntaganda e os seus oficiais desertaram e fundaram o M23.

O papel atual de Ntaganda no movimento é pouco claro. O dirigente oficial é Sultani Makenga, com quem Ntaganda tem relações tensas.

Marcha contra Goma

Agora os rebeldes marcham contra Goma, e já se encontram a 30 quilômetros da cidade. O exército do Congo e os capacetes azuis das Nações Unidas estacionaram carros de combate e lança-mísseis nos arredores da cidade. Mas a moral das tropas congolesas é muito baixa. Os soldados também acabaram por fugir nos combates em torno de Rutshuru.

Entretanto, diariamente fogem mais pessoas das zonas ocupadas para a cidade de Goma. Dez mil refugiados assentaram praça nos arredores, em condições de vida terríveis. Entre eles Gasagi Mumi. "Fugi com os meus cinco filhos dos combates em Kibumba. Mas aqui não temos nada para comer e dormimos ao relento. À noite somos atacados por bandidos", relata.

Na próxima segunda-feira (06.08) realiza-se no Uganda uma conferência sobre a crise. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, os chefes de Estado dos países vizinhos e o presidente Kabila vão tentar encontrar uma solução para a crise no leste da República Democrática do Congo.

Autoras: Simone Schlindwein/Cristina Krippahl Edição: Renate Krieger/António Rocha

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