sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CARLOS GOMES JÚNIOR ESPERA MAIS DA ONU NA GUINÉ-BISSAU

 

Deutsche Welle
 
O primeiro-ministro afastado na Guiné-Bissau está disposto a regressar ao país para participar do Congresso do PAIGC, partido que venceu as eleições interrompidas pelo golpe militar, desde que tenha segurança.
 
Carlos Gomes Júnior anunciou, nesta quinta feira (8.11) em Lisboa, no momento em que exige a reposição do Estado de direito democrático na Guiné-Bissau, sua candidatura na qualidade de líder do Partido Africano da Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC), no poder até antes do golpe militar de 12 de abril.
 
O governante falou de suas pretensões em uma conferência de imprensa na capital portuguesa que contou com a presença do Presidente deposto guineense, Raimundo Pereira.
 
O diálogo como ferramenta
 
As Nações Unidas devem assumir o processo de transição na Guiné-Bissau para a reposição da legalidade democrática no país, apela o primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Junior, afastado do poder com o golpe militar.
 
O político disse ainda que a União Africana está a fazer diligências para uma aproximação entre as partes em busca de uma solução, que passa pelo diálogo.
 
"Nós estamos a aguardar. Há todo um calendário que está a ser preparado e brevemente penso que as partes poderão se reunir em Addis-Abeba, na capital da Etiópia", explicou em Lisboa o primeiro-ministro guineense deposto.
 
"Justiça com as próprias mãos"
 
Carlos Gomes Júnior, conhecido por “Cadogo”, aplaude a firmeza de todos as membros da comunidade lusófona, mas responsabiliza alguns dos países da Comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) pelo desrespeito à Constituição guineense.
 
Ele acusa àqueles que querem transformar o país em um espaço propício ao negócio ilícito de narcotráfico e terrorismo. Cadogo afirma que outro objetivo é aniquilar o PAIGC. Face à situação na Guiné-Bissau, o primeiro-ministro deposto deu conta de diligências junto de instâncias internacionais.
 
"Nós já mandamos uma carta ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pedindo a instalação de um tribunal ad-hoc [especialmente para esta finalidade] para julgar todos os crimes de sangue que têm ocorrido na Guiné-Bissau. Porque como já dissemos várias vezes, ninguém está acima da lei", enfatiza o primeiro-ministro afastado.
 
"O que se está a passar na Guiné-Bissau é extremamente grave, porque ninguém tem o direito de fazer a justiça pelas próprias mãos. Na nossa Constituição, todos os direitos humanos são salvaguardados e todos os cidadãos têm direito de serem julgados", esclarece Cadogo.
 
Bissau quer extradição de Cadogo
 
Carlos Gomes Júnior convocou a imprensa, depois de uma viagem a Cabo Verde e África do Sul, com o objetivo de reafirmar o repúdio à violência e condenar os atos que voltaram a marcar a população guineense, como mortes, perseguições, espancamentos e anulamento das vozes discordantes do regime imposto por alguns países da CEDEAO.
 
O primeiro-ministro deposto reporta-se aos acontecimentos de 21 de outubro passado e refuta as acusações que envolvem o seu nome, o de Portugal e da CPLP no ataque contra o quartel militar dos "boinas vermelhas".
 
Por outro lado, o primeiro-ministro exilado estranha o desejo do governo de transição guineense de ter pedido a sua extradição por intermédio de uma carta rogatória, endereçada à Procuradoria-Geral da República Portuguesa. Eles esperam que Cadogo seja ouvido no processo de Hélder Proença, ex-ministro da Defesa, assassinado em 2009.
 
"Nunca fui convocado em nenhum tribunal, nem como testemunha nem como arguido. Estranho o envio dessa carta rogatória. Mas de toda a maneira, há tramitações normais. Se um dia for convocado, como disse ninguém está acima da justiça, os meus advogados naturalmente se encarregarão de analisar o caso", defende-se.
 
Para ele, que diz estar de consciência tranquila, as acusações de que é alvo são "bizarras". Além disso, já avisou considerar curto o período estabelecido pelo governo de transição para a preparação das eleições até 12 de abril de 2013.
 
"Na nossa ótica deve haver continuidade da segunda volta que foi interrompida e ganha pelo PAIGC com 49%. Fazer eleições de raíz têm custos”, acrescenta.
 
Na conferência de imprensa, assistida por militantes do PAIGC em Lisboa, Carlos Gomes Júnior esteve acompanhado do Presidente da República interino da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira, do ministro dos Negócios Estrangeiros, Djaló Pires, e do ministro do Interior, Fernando Gomes, do governo deposto.
 
Autor: João Carlos (Lisboa) - Edição: Bettina Riffel / António Rocha
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana