Deutsche Welle
O primeiro-ministro
afastado na Guiné-Bissau está disposto a regressar ao país para participar do
Congresso do PAIGC, partido que venceu as eleições interrompidas pelo golpe
militar, desde que tenha segurança.
Carlos Gomes Júnior
anunciou, nesta quinta feira (8.11) em Lisboa, no momento em que exige a
reposição do Estado de direito democrático na Guiné-Bissau, sua candidatura na
qualidade de líder do Partido Africano da Independência da Guiné-Bissau e Cabo
Verde (PAIGC), no poder até antes do golpe militar de 12 de abril.
O governante falou
de suas pretensões em uma conferência de imprensa na capital portuguesa que
contou com a presença do Presidente deposto guineense, Raimundo Pereira.
O diálogo como
ferramenta
As Nações Unidas
devem assumir o processo de transição na Guiné-Bissau para a reposição da
legalidade democrática no país, apela o primeiro-ministro guineense, Carlos
Gomes Junior, afastado do poder com o golpe militar.
O político disse
ainda que a União Africana está a fazer diligências para uma aproximação entre
as partes em busca de uma solução, que passa pelo diálogo.
"Nós estamos a
aguardar. Há todo um calendário que está a ser preparado e brevemente penso que
as partes poderão se reunir em Addis-Abeba, na capital da Etiópia",
explicou em Lisboa o primeiro-ministro guineense deposto.
"Justiça com
as próprias mãos"
Carlos Gomes
Júnior, conhecido por “Cadogo”, aplaude a firmeza de todos as membros da
comunidade lusófona, mas responsabiliza alguns dos países da Comunidade dos
Estados da África Ocidental (CEDEAO) pelo desrespeito à Constituição guineense.
Ele acusa àqueles
que querem transformar o país em um espaço propício ao negócio ilícito de
narcotráfico e terrorismo. Cadogo afirma que outro objetivo é aniquilar o
PAIGC. Face à situação na Guiné-Bissau, o primeiro-ministro deposto deu conta
de diligências junto de instâncias internacionais.
"Nós já
mandamos uma carta ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pedindo
a instalação de um tribunal ad-hoc [especialmente para esta finalidade] para
julgar todos os crimes de sangue que têm ocorrido na Guiné-Bissau. Porque como
já dissemos várias vezes, ninguém está acima da lei", enfatiza o
primeiro-ministro afastado.
"O que se está
a passar na Guiné-Bissau é extremamente grave, porque ninguém tem o direito de
fazer a justiça pelas próprias mãos. Na nossa Constituição, todos os direitos
humanos são salvaguardados e todos os cidadãos têm direito de serem julgados",
esclarece Cadogo.
Bissau quer
extradição de Cadogo
Carlos Gomes Júnior
convocou a imprensa, depois de uma viagem a Cabo Verde e África do Sul, com o
objetivo de reafirmar o repúdio à violência e condenar os atos que voltaram a
marcar a população guineense, como mortes, perseguições, espancamentos e
anulamento das vozes discordantes do regime imposto por alguns países da
CEDEAO.
O primeiro-ministro
deposto reporta-se aos acontecimentos de 21 de outubro passado e refuta as
acusações que envolvem o seu nome, o de Portugal e da CPLP no ataque contra o
quartel militar dos "boinas vermelhas".
Por outro lado, o
primeiro-ministro exilado estranha o desejo do governo de transição guineense
de ter pedido a sua extradição por intermédio de uma carta rogatória, endereçada
à Procuradoria-Geral da República Portuguesa. Eles esperam que Cadogo seja
ouvido no processo de Hélder Proença, ex-ministro da Defesa, assassinado em
2009.
"Nunca fui
convocado em nenhum tribunal, nem como testemunha nem como arguido. Estranho o
envio dessa carta rogatória. Mas de toda a maneira, há tramitações normais. Se
um dia for convocado, como disse ninguém está acima da justiça, os meus
advogados naturalmente se encarregarão de analisar o caso", defende-se.
Para ele, que diz
estar de consciência tranquila, as acusações de que é alvo são
"bizarras". Além disso, já avisou considerar curto o período
estabelecido pelo governo de transição para a preparação das eleições até 12 de
abril de 2013.
"Na nossa
ótica deve haver continuidade da segunda volta que foi interrompida e ganha
pelo PAIGC com 49%. Fazer eleições de raíz têm custos”, acrescenta.
Na conferência de
imprensa, assistida por militantes do PAIGC em Lisboa, Carlos Gomes Júnior
esteve acompanhado do Presidente da República interino da Guiné-Bissau,
Raimundo Pereira, do ministro dos Negócios Estrangeiros, Djaló Pires, e do
ministro do Interior, Fernando Gomes, do governo deposto.
Autor: João Carlos
(Lisboa) - Edição: Bettina Riffel / António Rocha
Sem comentários:
Enviar um comentário