Mediadas por Egito,
Catar e Turquia, conversações realizadas no Cairo tentam evitar que conflito
entre Israel e o Hamas se transforme numa "guerra de verdade". Palestinos
indicam que cessar-fogo pode ser alcançado logo.
Rumores de que um
cessar-fogo entre Israel e o grupo radical palestino Hamas (que governa a Faixa
de Gaza) havia sido alcançado tomaram conta da imprensa internacional no início
da noite desta terça-feira (20/11), depois de pessoas ligadas a esses grupos
afirmarem que a trégua era iminente.
Mas nada do que foi
anunciado se confirmou, e o próprio Hamas acabou revisando sua declaração
anterior. "O lado israelense ainda não respondeu, por isso não vamos dar
uma entrevista coletiva nesta noite e precisamos esperar até amanhã",
declarou Ezzat al-Rishq, um dos principais líderes do Hamas, à agência de
notícias Reuters.
As conversações
entre os dois lados estão sendo conduzidas no Cairo. Os negociadores reunidos
na capital egípcia não dispõem de muito tempo – apenas 24, no máximo 48 horas –
se quiserem alcançar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas em Gaza, afirmou
Yossi Mekelberg, do think tank britânico Chatham House, "senão, o conflito
se transformará numa guerra de verdade". Ou seja: Israel irá enviar tropas
de infantaria à região, o que resultará num número ainda maior de vítimas
civis.
Mekelberg se mostra
preocupado: afinal de contas, reservistas israelenses foram convocados e estão
estacionados na fronteira com Gaza. Enquanto isso, os ataques mútuos continuam.
"Escute isso", disse Omar Shaban, diretor do Pal-Think, um think tank
local, "é um míssil que acaba de passar sobre a minha casa". Há dias
ele não deixa sua casa, na cidade de Gaza.
Ele relatou à
Deutsche Welle que, naquela manhã, a apenas 20 metros de distância, três
pessoas haviam sido mortas por armas israelenses. Shaban se disse muito
apreensivo com a situação. Por outro lado, o fato de todos estarem reunidos à
mesa de negociações demonstra que tanto Israel quanto o Hamas almejam um
arrefecimento da violência, ponderou.
Nas mãos das potências
regionais
Desde o último fim
de semana, representantes das partes em conflito vêm se encontrando na capital
egípcia com mediadores do Egito, do Catar e da Turquia.
"Os
israelenses estão insistindo na própria segurança", disse Mekelberg,
resumindo as exigências de ambos os lados. "Eles não querem que mais
nenhum míssil seja disparado entre Gaza e Israel. O Hamas precisa que Israel
assegure que relaxará o bloqueio e abrirá a fronteira entre Gaza e o restante
do mundo."
Os representantes
do governo egípcio é que estão impulsionando as negociações adiante, com o
apoio catariano. Mekelberg define: "O Egito tem o impacto político e o
Catar, os meios financeiros".
O Cairo, que já
mediou diversos cessar-fogos entre as duas instâncias, ficaria
consideravelmente fortalecido se as conversações tiverem sucesso. "Isso
poderia representar um marco importante para o presidente egípcio, Mohamed
Morsi, como pacificador regional", comentou Mekelberg.
No final das
contas, o Egito, o Catar e a Turquia é que terão que tomar a frente das
negociações. "Os Estados Unidos não querem assumir a liderança",
disse Yesid Sayigh, do Carnegie Middle East Center em Beirute.
"Essa é a
política que [os EUA] têm adotado com quase tudo desde a intervenção na Líbia,
passando pela Síria e agora. Eles não querem tomar a frente, sobretudo por que
isso inevitavelmente significaria ter que exercer algum tipo de pressão sobre
Israel, em algum momento."
Mero apoio da ONU
O secretário-geral
da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, conversou com Morsi nesta
segunda-feira (19/11), e na quarta-feira deverá se encontrar com as delegações
israelense e palestina.
No entanto, Sayigh
acredita que o papel da ONU será limitado enquanto Washington não estiver
envolvido. "A ONU não tem mais poder do que o que lhe concedem seus
membros-chave", afirmou. Por outro lado, a organização "esteve
obviamente paralisada no tocante à Síria", e ele está certo de que ela
apoiará qualquer plano partindo dos egípcios.
Shaban, do
Pal-Think, também está convencido que o papel da ONU será apenas de apoio. "As
Nações Unidas não têm muita influência sobre o Hamas, até porque Ban Ki-moon só
esteve em Gaza duas vezes." Para ele, a chave está nas mãos do Egito e do
Catar.
Cabe às potências
regionais, sobretudo ao Egito, reverter a escalada da violência. Segundo
Mekelberg e Shaban, esses países sabem disso. Ninguém tem interesse numa
guerra, nem os palestinos de Gaza, nem os egípcios, os quais já enfrentam
numerosos problemas internos, como apontou Mekelberg.
Falando à emissora
alemã WDR, o ex-embaixador de Israel na Alemanha Avi Primor assegurou que seu
país tampouco deseja uma guerra. Pois "sabemos que seria desastroso para
todos" e só traria uma tranquilidade temporária para os israelenses,
ressaltou Primor.
Cessar-fogo
tampouco é solução
Segundo Shaban, o
mesmo se aplica a um cessar-fogo. "Não cremos que um armistício desses
seria mantido por ambos os lados durante muitos anos. É por isso que, todo o
tempo, apelamos por uma solução política, para que se retomem as negociações de
paz entre Israel e os palestinos."
Ele deseja que os
EUA e a União Europeia, sobretudo a Alemanha e o Reino Unido, impulsionem ambas
as partes em direção à mesa de negociações e às conversações pela paz. O
diretor do Pal-Think receia, ainda, que os grupos salafistas militantes que
emergiram em Gaza nos últimos anos possam minar qualquer cessar-fogo, embora
"até agora, o Hamas tenha conseguido mantê-los sob controle".
Sayigh afirmou que
só será possível exercer um controle eficaz sobre os grupos se o Hamas fechar
com Tel Aviv um acordo para que ambos passem a só atacar alvos militares. "Aí,
o Hamas poderá dizer: nós forçamos Israel a concordar com isso, e agora vocês
terão que acatar o acordo, também."
Também para
Mekelberg o cessar-fogo não passa de uma solução temporária. "Talvez ambas
as partes se deem conta de que a vida em Gaza precisa ser mais suportável, e o
sul de Israel, mais seguro." Segundo o integrante do Chatham House, este
seria o primeiro passo no sentido de um processo político de que o Oriente
Médio precisa urgentemente – porém por mais tempo do que as próximas 48 horas.
Autoria: Naomi
Conrad (av) - Revisão: Alexandre Schossler
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