terça-feira, 20 de novembro de 2012

Conflito entre Israel e o Hamas está entre o cessar-fogo e a "guerra de verdade"

 

 
Mediadas por Egito, Catar e Turquia, conversações realizadas no Cairo tentam evitar que conflito entre Israel e o Hamas se transforme numa "guerra de verdade". Palestinos indicam que cessar-fogo pode ser alcançado logo.
 
Rumores de que um cessar-fogo entre Israel e o grupo radical palestino Hamas (que governa a Faixa de Gaza) havia sido alcançado tomaram conta da imprensa internacional no início da noite desta terça-feira (20/11), depois de pessoas ligadas a esses grupos afirmarem que a trégua era iminente.
 
Mas nada do que foi anunciado se confirmou, e o próprio Hamas acabou revisando sua declaração anterior. "O lado israelense ainda não respondeu, por isso não vamos dar uma entrevista coletiva nesta noite e precisamos esperar até amanhã", declarou Ezzat al-Rishq, um dos principais líderes do Hamas, à agência de notícias Reuters.
 
As conversações entre os dois lados estão sendo conduzidas no Cairo. Os negociadores reunidos na capital egípcia não dispõem de muito tempo – apenas 24, no máximo 48 horas – se quiserem alcançar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas em Gaza, afirmou Yossi Mekelberg, do think tank britânico Chatham House, "senão, o conflito se transformará numa guerra de verdade". Ou seja: Israel irá enviar tropas de infantaria à região, o que resultará num número ainda maior de vítimas civis.
 
Mekelberg se mostra preocupado: afinal de contas, reservistas israelenses foram convocados e estão estacionados na fronteira com Gaza. Enquanto isso, os ataques mútuos continuam. "Escute isso", disse Omar Shaban, diretor do Pal-Think, um think tank local, "é um míssil que acaba de passar sobre a minha casa". Há dias ele não deixa sua casa, na cidade de Gaza.
 
Ele relatou à Deutsche Welle que, naquela manhã, a apenas 20 metros de distância, três pessoas haviam sido mortas por armas israelenses. Shaban se disse muito apreensivo com a situação. Por outro lado, o fato de todos estarem reunidos à mesa de negociações demonstra que tanto Israel quanto o Hamas almejam um arrefecimento da violência, ponderou.
 
Nas mãos das potências regionais
 
Desde o último fim de semana, representantes das partes em conflito vêm se encontrando na capital egípcia com mediadores do Egito, do Catar e da Turquia.
 
"Os israelenses estão insistindo na própria segurança", disse Mekelberg, resumindo as exigências de ambos os lados. "Eles não querem que mais nenhum míssil seja disparado entre Gaza e Israel. O Hamas precisa que Israel assegure que relaxará o bloqueio e abrirá a fronteira entre Gaza e o restante do mundo."
 
Os representantes do governo egípcio é que estão impulsionando as negociações adiante, com o apoio catariano. Mekelberg define: "O Egito tem o impacto político e o Catar, os meios financeiros".
 
O Cairo, que já mediou diversos cessar-fogos entre as duas instâncias, ficaria consideravelmente fortalecido se as conversações tiverem sucesso. "Isso poderia representar um marco importante para o presidente egípcio, Mohamed Morsi, como pacificador regional", comentou Mekelberg.
 
No final das contas, o Egito, o Catar e a Turquia é que terão que tomar a frente das negociações. "Os Estados Unidos não querem assumir a liderança", disse Yesid Sayigh, do Carnegie Middle East Center em Beirute.
 
"Essa é a política que [os EUA] têm adotado com quase tudo desde a intervenção na Líbia, passando pela Síria e agora. Eles não querem tomar a frente, sobretudo por que isso inevitavelmente significaria ter que exercer algum tipo de pressão sobre Israel, em algum momento."
 
Mero apoio da ONU
 
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, conversou com Morsi nesta segunda-feira (19/11), e na quarta-feira deverá se encontrar com as delegações israelense e palestina.
 
No entanto, Sayigh acredita que o papel da ONU será limitado enquanto Washington não estiver envolvido. "A ONU não tem mais poder do que o que lhe concedem seus membros-chave", afirmou. Por outro lado, a organização "esteve obviamente paralisada no tocante à Síria", e ele está certo de que ela apoiará qualquer plano partindo dos egípcios.
 
Shaban, do Pal-Think, também está convencido que o papel da ONU será apenas de apoio. "As Nações Unidas não têm muita influência sobre o Hamas, até porque Ban Ki-moon só esteve em Gaza duas vezes." Para ele, a chave está nas mãos do Egito e do Catar.
 
Cabe às potências regionais, sobretudo ao Egito, reverter a escalada da violência. Segundo Mekelberg e Shaban, esses países sabem disso. Ninguém tem interesse numa guerra, nem os palestinos de Gaza, nem os egípcios, os quais já enfrentam numerosos problemas internos, como apontou Mekelberg.
 
Falando à emissora alemã WDR, o ex-embaixador de Israel na Alemanha Avi Primor assegurou que seu país tampouco deseja uma guerra. Pois "sabemos que seria desastroso para todos" e só traria uma tranquilidade temporária para os israelenses, ressaltou Primor.
 
Cessar-fogo tampouco é solução
 
Segundo Shaban, o mesmo se aplica a um cessar-fogo. "Não cremos que um armistício desses seria mantido por ambos os lados durante muitos anos. É por isso que, todo o tempo, apelamos por uma solução política, para que se retomem as negociações de paz entre Israel e os palestinos."
 
Ele deseja que os EUA e a União Europeia, sobretudo a Alemanha e o Reino Unido, impulsionem ambas as partes em direção à mesa de negociações e às conversações pela paz. O diretor do Pal-Think receia, ainda, que os grupos salafistas militantes que emergiram em Gaza nos últimos anos possam minar qualquer cessar-fogo, embora "até agora, o Hamas tenha conseguido mantê-los sob controle".
 
Sayigh afirmou que só será possível exercer um controle eficaz sobre os grupos se o Hamas fechar com Tel Aviv um acordo para que ambos passem a só atacar alvos militares. "Aí, o Hamas poderá dizer: nós forçamos Israel a concordar com isso, e agora vocês terão que acatar o acordo, também."
 
Também para Mekelberg o cessar-fogo não passa de uma solução temporária. "Talvez ambas as partes se deem conta de que a vida em Gaza precisa ser mais suportável, e o sul de Israel, mais seguro." Segundo o integrante do Chatham House, este seria o primeiro passo no sentido de um processo político de que o Oriente Médio precisa urgentemente – porém por mais tempo do que as próximas 48 horas.
 
Autoria: Naomi Conrad (av) - Revisão: Alexandre Schossler
 

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