Guiné-Bissau com
centro de tratamento de noma a partir de hoje
20 de Novembro de
2012, 13:43
Bissau, 20 nov
(Lusa) - A Guiné-Bissau tem a partir de hoje um centro de tratamento de noma,
uma doença que afeta os tecidos moles da face de crianças e que pode provocar a
morte.
O centro,
inaugurado pelo primeiro-ministro do Governo de transição, Rui de Barros, foi
construído por uma organização não-governamental alemã, a Hilfsaktion Noma,
empenhada em "lutar pela erradicação da doença no país", disse a
presidente da associação, Ute Winkler-Stumpf.
A organização está
há quatro anos na Guiné-Bissau e quando iniciou o trabalho a noma "era
praticamente uma doença desconhecida pela maioria das populações", notou a
responsável, que agradeceu o apoio do Governo, da autarquia e da embaixada da
Alemanha, além de doadores e de pessoal local.
Lassana Tchasso,
cirurgião e coordenador do novo centro, disse aos jornalistas que foram
diagnosticados 106 casos de noma em todo o país. "Não temos casos
internados, temos casos que vamos operar aqui no dia 27, por uma equipa
austríaca que chega no dia 25", explicou.
O centro hoje
inaugurado tem capacidade para 15 pacientes e o tratamento, as operações e os
medicamentos são gratuitos. As obras para a construção do Centro de Noma, no
bairro da Penha, começaram em fevereiro passado.
Rui de Barros disse
que a inauguração do Centro veio colmatar uma lacuna no país e prometeu que o
Governo de transição tudo irá fazer para criar condições no sentido de os
equipamentos serem usados por todos numa clima de paz e estabilidade.
A noma é uma doença
também conhecida por estomatite gangrenosa e afeta principalmente crianças
entre os 02 e os 06 anos. Deve-se a má nutrição e falta de higiene e está
presente em países pobres de África e da América Latina.
Começa com o
desenvolvimento de ulceras nas membranas mucosas da boca e se não for tratada
pode causar a morte. A doença tem cura mas a deformação que causa é
irreversível.
FP // VM.
Estigma é dos
maiores obstáculos na luta contra a SIDA na Guiné-Bissau - Secretariado
Nacional
20 de Novembro de
2012, 14:59
Bissau, 20 nov
(Lusa) - O Secretariado Nacional de Luta contra a SIDA (SNLCS) da Guiné-Bissau
lamentou hoje que mais de 20 anos após o primeiro caso conhecido no país "o
estigma continua a ser um dos maiores obstáculos" no combate à pandemia.
João Silva
Monteiro, secretário executivo do SNLCS, disse que até hoje nunca alguma figura
pública se assumiu como seropositiva, porque apesar de todas as campanhas se
"teme a exclusão".
"Outro sinal
triste da estigmatização prende-se com o facto de muitos guineenses escolherem
a calada da noite para procurar antirretrovirais", disse o responsável,
que criticou "os próprios serviços do Estado que praticam a estigmatização"
quando exigem o teste de SIDA a candidatos a bolsas de estudo no exterior.
João Silva Monteiro
disse à Lusa que há países como a China ou a Rússia que exigem esse teste, mas
que os serviços competentes o fazem mesmo para candidatos a bolsas para países
como Brasil ou Portugal, que não têm essa exigência.
"É contra a
lei e é desumano", disse, acrescentando que é também "monstruoso"
que se tenha chegado ao ponto de impedir uma pessoa de ser jornalista por ser
seropositiva.
O SNLS iniciou hoje
em Bissau um encontro para debater a lei 5/2007, de prevenção e tratamento da
SIDA, na tentativa de, através de melhoramentos da lei, se possa chegar "à
realização plena e universal dos direitos do Homem e das liberdades
fundamentais".
É que, disse o
secretário executivo, "se há discriminação é porque a lei ou não foi
suficientemente divulgada ou porque tem lacunas ou está desatualizada".
Segundo um
relatório hoje divulgado pelas Nações Unidas, pelo menos 2,5 milhões de pessoas
contraíram o vírus da SIDA em 2011, com a África subsaariana a ser a mais
afetada. A Guiné-Bissau está no grupo de países onde houve um aumento de pelo
menos 25 por cento de novas infeções.
Em setembro
passado, as organizações de luta contra a SIDA na Guiné-Bissau já tinham
alertado para a situação "muito delicada" em que estava o país, quase
sem apoios depois de o Fundo Global (organização internacional de apoio à luta
contra a malária, tuberculose e SIDA) ter cancelado a cooperação.
Os cortes,
disseram, começaram há um ano mas agudizaram-se depois do golpe de Estado de 12
de abril passado. O país ficou durante algum tempo praticamente sem reservas de
medicamentos e de suplementos alimentares.
João Silva Monteiro
disse hoje que os problemas começaram antes, por alegadas irregularidades na
gestão do dinheiro do Fundo Global, mas considerou que o país viveu "uma
sanção" (pelo golpe).
"O Fundo
Mundial anunciou que vinha. Antes diziam que não vinham por motivos de
segurança", disse o responsável, precisando que a delegação do fundo
chegará a Bissau no início do próximo mês para negociar um novo programa, mas
mais reduzido e sem apoios para organizações da sociedade civil, que faziam a
prevenção.
"Penso que não
é sério dizer que estamos a financiar a luta quando a prevenção é completamente
tirada do programa. Como é que podemos travar a SIDA se não evitamos novas
infeções? É insensato", disse.
Questionado sobre
os mais recentes números de infeções na Guiné-Bissau, João Silva Monteiro disse
que essa estatística está a ser preparada.
"Até ao ano
passado, tínhamos baixado novas infeções em 25 por cento. Agora passámos um ano
sem preservativos, é complicado", disse.
Segundo números da
Rede Nacional de Pessoas com HIV-SIDA, a Guiné-Bissau, com uma prevalência de
3.4, é dos países da região com maior taxa, havendo neste momento mais de 50
mil pessoas infetadas.
FP // VM.
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