terça-feira, 20 de novembro de 2012

Guiné-Bissau: TRATAMENTO DE NOMA, ESTIGMA É OBSTÁCULO NA LUTA CONTRA A SIDA

 


Guiné-Bissau com centro de tratamento de noma a partir de hoje
 
20 de Novembro de 2012, 13:43
 
Bissau, 20 nov (Lusa) - A Guiné-Bissau tem a partir de hoje um centro de tratamento de noma, uma doença que afeta os tecidos moles da face de crianças e que pode provocar a morte.
 
O centro, inaugurado pelo primeiro-ministro do Governo de transição, Rui de Barros, foi construído por uma organização não-governamental alemã, a Hilfsaktion Noma, empenhada em "lutar pela erradicação da doença no país", disse a presidente da associação, Ute Winkler-Stumpf.
 
A organização está há quatro anos na Guiné-Bissau e quando iniciou o trabalho a noma "era praticamente uma doença desconhecida pela maioria das populações", notou a responsável, que agradeceu o apoio do Governo, da autarquia e da embaixada da Alemanha, além de doadores e de pessoal local.
 
Lassana Tchasso, cirurgião e coordenador do novo centro, disse aos jornalistas que foram diagnosticados 106 casos de noma em todo o país. "Não temos casos internados, temos casos que vamos operar aqui no dia 27, por uma equipa austríaca que chega no dia 25", explicou.
 
O centro hoje inaugurado tem capacidade para 15 pacientes e o tratamento, as operações e os medicamentos são gratuitos. As obras para a construção do Centro de Noma, no bairro da Penha, começaram em fevereiro passado.
 
Rui de Barros disse que a inauguração do Centro veio colmatar uma lacuna no país e prometeu que o Governo de transição tudo irá fazer para criar condições no sentido de os equipamentos serem usados por todos numa clima de paz e estabilidade.
 
A noma é uma doença também conhecida por estomatite gangrenosa e afeta principalmente crianças entre os 02 e os 06 anos. Deve-se a má nutrição e falta de higiene e está presente em países pobres de África e da América Latina.
 
Começa com o desenvolvimento de ulceras nas membranas mucosas da boca e se não for tratada pode causar a morte. A doença tem cura mas a deformação que causa é irreversível.
 
FP // VM.
 
Estigma é dos maiores obstáculos na luta contra a SIDA na Guiné-Bissau - Secretariado Nacional
 
20 de Novembro de 2012, 14:59
 
Bissau, 20 nov (Lusa) - O Secretariado Nacional de Luta contra a SIDA (SNLCS) da Guiné-Bissau lamentou hoje que mais de 20 anos após o primeiro caso conhecido no país "o estigma continua a ser um dos maiores obstáculos" no combate à pandemia.
 
João Silva Monteiro, secretário executivo do SNLCS, disse que até hoje nunca alguma figura pública se assumiu como seropositiva, porque apesar de todas as campanhas se "teme a exclusão".
 
"Outro sinal triste da estigmatização prende-se com o facto de muitos guineenses escolherem a calada da noite para procurar antirretrovirais", disse o responsável, que criticou "os próprios serviços do Estado que praticam a estigmatização" quando exigem o teste de SIDA a candidatos a bolsas de estudo no exterior.
 
João Silva Monteiro disse à Lusa que há países como a China ou a Rússia que exigem esse teste, mas que os serviços competentes o fazem mesmo para candidatos a bolsas para países como Brasil ou Portugal, que não têm essa exigência.
 
"É contra a lei e é desumano", disse, acrescentando que é também "monstruoso" que se tenha chegado ao ponto de impedir uma pessoa de ser jornalista por ser seropositiva.
 
O SNLS iniciou hoje em Bissau um encontro para debater a lei 5/2007, de prevenção e tratamento da SIDA, na tentativa de, através de melhoramentos da lei, se possa chegar "à realização plena e universal dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais".
 
É que, disse o secretário executivo, "se há discriminação é porque a lei ou não foi suficientemente divulgada ou porque tem lacunas ou está desatualizada".
 
Segundo um relatório hoje divulgado pelas Nações Unidas, pelo menos 2,5 milhões de pessoas contraíram o vírus da SIDA em 2011, com a África subsaariana a ser a mais afetada. A Guiné-Bissau está no grupo de países onde houve um aumento de pelo menos 25 por cento de novas infeções.
 
Em setembro passado, as organizações de luta contra a SIDA na Guiné-Bissau já tinham alertado para a situação "muito delicada" em que estava o país, quase sem apoios depois de o Fundo Global (organização internacional de apoio à luta contra a malária, tuberculose e SIDA) ter cancelado a cooperação.
 
Os cortes, disseram, começaram há um ano mas agudizaram-se depois do golpe de Estado de 12 de abril passado. O país ficou durante algum tempo praticamente sem reservas de medicamentos e de suplementos alimentares.
 
João Silva Monteiro disse hoje que os problemas começaram antes, por alegadas irregularidades na gestão do dinheiro do Fundo Global, mas considerou que o país viveu "uma sanção" (pelo golpe).
 
"O Fundo Mundial anunciou que vinha. Antes diziam que não vinham por motivos de segurança", disse o responsável, precisando que a delegação do fundo chegará a Bissau no início do próximo mês para negociar um novo programa, mas mais reduzido e sem apoios para organizações da sociedade civil, que faziam a prevenção.
 
"Penso que não é sério dizer que estamos a financiar a luta quando a prevenção é completamente tirada do programa. Como é que podemos travar a SIDA se não evitamos novas infeções? É insensato", disse.
 
Questionado sobre os mais recentes números de infeções na Guiné-Bissau, João Silva Monteiro disse que essa estatística está a ser preparada.
 
"Até ao ano passado, tínhamos baixado novas infeções em 25 por cento. Agora passámos um ano sem preservativos, é complicado", disse.
 
Segundo números da Rede Nacional de Pessoas com HIV-SIDA, a Guiné-Bissau, com uma prevalência de 3.4, é dos países da região com maior taxa, havendo neste momento mais de 50 mil pessoas infetadas.
 
FP // VM.
 

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