Deutsche Welle
Para contrabalançar
influência regional chinesa, presidente tenta impulsionar novo foco da
diplomacia americana, mas se vê forçado a voltar sua atenção para o aliado
Israel e a interceder pelo fim da crise em Gaza.
Quando, logo após
ser reeleito, o presidente Barack Obama anunciou que sua primeira viagem
oficial seria para a Ásia, deixou claro qual seria a prioridade em política
externa de seus próximos quatros anos na Casa Branca.
A decisão não
significaria abandonar seus aliados no Oriente Médio, e sim reorientar o foco
para uma região economicamente promissora e, ao mesmo tempo, conter a
influência chinesa. Mas, com o conflito em Gaza em ebulição, em cada uma de
suas três paradas no continente – Tailândia, Myanmar e Camboja – Obama foi
lembrado de que a nova prioridade não seria assim tão simples de ser levada
adiante.
Obama desembarcou
na Tailândia, neste domingo (18/11), sem esconder seus objetivos. Evitou a
retórica de afronta a Pequim, mas, ao mesmo tempo, deixou claro os interesses
americanos em se fazer presente no continente. Há meses os Estados Unidos vêm
expandindo suas alianças e intensificando exercícios militares na região, mas,
com 25 milhões de desempregados, estreitar os laços com os países da
Ásia-Pacífico é mais do que contrapor o crescimento chinês.
"Como região
de maior crescimento do mundo, a Ásia-Pacífico vai modelar a segurança e a
prosperidade neste século, o que vai criar empregos e oportunidades para os
americanos", disse Obama.
Atuação nos
bastidores
Mas desde que
chegou à Ásia, a diplomacia americana teve que se ocupar de outro assunto e
trabalhou de forma intensa nos bastidores para tentar aproximar israelenses e
palestinos de uma trégua. Por telefone, Obama conversou com o presidente do
Egito, Mohamed Morsi, e com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Publicamente,
fez apelos à paz e declarou apoio ao direito israelense a se defender.
Os esforços
culminaram na decisão de enviar, nesta terça-feira, a secretária de Estado,
Hillary Clinton, ao Oriente Médio, na primeira interferência pública da
diplomacia americana num conflito que já dura sete dias e ameaça se transformar
numa guerra. Hillary, que já falara por telefone com representantes de França,
Catar e Turquia, foi destacada para ir a Jerusalém, Cisjordânia e Cairo.
"Hillary
Clinton vai enfatizar os interesses americanos num resultado pacífico, que
proteja e garanta a estabilidade regional, e melhore as condições para os civis
de Gaza", disse Ben Rhodes, assessor de Obama.
Do ponto de vista
americano, evitar uma ofensiva terrestre israelense seria evitar também um
problema maior. A ação confrontaria Washington com dois aliados estratégicos: o
Egito, parceiro de longa data no mundo árabe, e a Turquia, membro-chave da
Otan. Desde o início da crise em Gaza, ambos os países deixaram claro seu apoio
aos palestinos – da mesma forma que Obama o fez com Israel.
Ao mesmo tempo,
qualquer solução duradoura para o conflito depende de Turquia e Egito. É neles
e na boa relação de ambos com o Hamas que os EUA precisam confiar se quiserem
fazer suas mensagens chegar ao movimento radical palestino, classificado como
um grupo terrorista por Washington.
Hamas fortalecido
No início da noite
desta terça-feira começaram a surgir os rumores de uma trégua em Gaza, mediada
pelo Egito. Duradoura ou não, ela é suficiente para mostrar como o Hamas emerge
do atual conflito não só militarmente, mas também diplomaticamente mais forte. É
com o grupo radical que Israel está negociado, e seu rival político Fatah, do
presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, se tornou
totalmente irrelevante nas conversas.
Além disso, o Hamas
vem sendo cortejado por líderes do Oriente Médio, politicamente remodelado pela
ascensão de islamistas após a Primavera Árabe, e Israel está mais cauteloso em
enfrentá-lo em solo do que há quatro anos, devido ao aumento do poderio militar
do grupo.
Prova disso é que,
ao longo de toda a terça-feira, mesmo durante as negociações de paz, o Hamas
não cessou o lançamento de foguetes contra Israel. Em menos de 24 horas, mais
de 140 foram disparados, e pelo menos 94 caíram em território israelense. Dois
dos foguetes atingiram os arredores de Jerusalém.
Autor: Rafael
Roldão - Revisão: Alexandre Schossler
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