sábado, 5 de janeiro de 2013

EXÉRCITO COLONIAL PORTUGUÊS DECAPITOU CIVIS ANGOLANOS





No livro “O Império Colonial em Questão”, organizado pelo historiador português Miguel Bandeira Jerónimo, é publicado um artigo de António Araújo sobre um relatório militar que revela que militares portugueses do  Esquadrão dos Dragões participaram  num massacre em Angola que envolveu violência extrema e decapitação dos corpos. O massacre ocorreu a 27 de Abril de 1961. 

O fuzilamento com mutilação de cadáveres começou às 10h30 de 27 de Abril de 1961, dois meses após o início da luta armada de libertação em Angola,em 4 de Fevereiro, na aldeia Mihinjo, a cerca de 20 quilómetros de Luanda.  O relatório, de um capitão dos “Dragões”,  unidade do Exército português, descreve em 11 pontos o massacre. O documento começa por se referir às explicações forjadas do soba da aldeia à população para a presença no local de um pelotão de execução do Exército português.  

O pelotão de fuzilamento disparou, com seis pistolas-metralhadoras, sobre os suspeitos de participarem na luta de libertação nacional. Depois, “avançaram os cortadores de cabeças”, “avançou o soba”, que “colocou as cabeças nos paus”, “ficaram dois sem cabeça”. “As cabeças ficaram espetadas pela boca, submissamente viradas para o chão”, o “clarim tocou”, “e terminou a cerimónia”, lê-se no relatório. Por fim o “soba falou ao povo, explicando a razão porque tinham ficado dois paus sem cabeça, à espera dos futuros não respeitadores da lei” e “ao soba eu disse: os corpos podem ser enterrados as cabeças ficam sete dias, os paus ficam para sempre”, escreve o capitão do Exército português no relatório. O autor do relatório é o capitão de cavalaria do 1º Esquadrão dos Dragões que comanda uma “acção punitiva de pacificação”, segundo o título do documento. O ditador António de Oliveira Salazar proferiu, a 13 de Abril,14 dias antes desta cerimónia, o célebre discurso de “andar rapidamente e em força para Angola”, onde foi formalmente anunciada a intenção de Portugal de expandir a repressão colonial.  

O relatório, revelado pela primeira vez no livro das Edições 70, está no Arquivo da Torre do Tombo, em Lisboa, no espólio da PIDE/DGS, a polícia repressiva de  Salazar. O documento já tinha sido citado, brevemente, em 2008, no Brasil, por Marcelo Bittencourt, historiador brasileiro. Para os peritos na História do colonialismo, o relatório é a primeira prova escrita de que o Exército português participou na execução, com mutilação de cadáveres, de muitos angolanos que considerados suspeitos de participar na luta de libertação nacional e confirma as acusações de que essa foi uma prática generalizada.

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