domingo, 3 de março de 2013

MORTE DE TAXISTA MOÇAMBICANO NA ÁFRICA DO SUL É “INACEITÁVEL”





A notícia do taxista moçambicano que foi torturado pela polícia sul-africana e acabou por morrer provocou uma onda de choque e condenação entre os moçambicanos. Em Moçambique, pede-se agora justiça.

O taxista moçambicano, identificado pelo nome de Mido Macia, foi algemado por agentes da polícia sul-africana na parte traseira de uma viatura policial. Depois, foi arrastado no asfalto durante cerca de 400 metros.

Toda a cena ficou registada num vídeo amador e foi, mais tarde, divulgada pela imprensa. Tudo terá acontecido depois do taxista se ter envolvido numa discussão com a polícia por ter estacionado inadequadamente o seu carro, segundo os meios de comunicação social sul-africanos.

Em consequência dos maus-tratos da polícia, a vítima viria a perder a vida.

"Absolutamente inaceitável"

O Governo moçambicano reagiu em Maputo através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi.

"Este assassinato deste nosso compatriota é chocante, revoltante e absolutamente inaceitável", disse. "Espero que o Governo sul-africano tome medidas apropriadas, não só para punir os infratores como também para desencorajar atitudes dessa natureza."

O Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, condenou esta sexta-feira (01.03.2013) as agressões infligidas ao taxista moçambicano em Joanesburgo. Zuma disse ter ficado horrorizado com as imagens: "São horríveis, perturbadoras e inaceitáveis. Nenhum ser humano devia ser tratado daquela maneira."

Entretanto, oito polícias foram presos. Os agentes são suspeitos de estarem envolvidos no homicídio do moçambicano de 27 anos.

Choque

"Vi as imagens e aquele homem a ser arrastado ali com a polícia, aquilo para mim foi horrível", dizia esta sexta-feira um habitante. A notícia virou a manchete do dia nos média moçambicanos e foi o principal tema de conversa em vários locais.

"Só por causa do estacionamento, é ridículo", comentava ainda outro habitante. Um taxista afirmava: "A morte de um colega em circunstâncias estranhas é de lamentar. O Governo tem de ver o que pode fazer."

Outros casos de violência

O chefe da diplomacia moçambicana diz que o Governo está preocupado com a forma como os seus compatriotas são tratados na África do Sul. Oldemiro Baloi reconhece que este incidente foi um caso excecional, mas refere também que esta não foi a primeira vez que as autoridades de segurança utilizaram violência extrema.

"Também temos tido conhecimento de que os caçadores furtivos normalmente são mortos", afirmou. "Não podem ser desarmados, não podem ser presos e julgados... Começamos a ter alguma preocupação em relação à maneira como eles são penalizados – com a morte sem qualquer tipo de julgamento."

Cameron Jacobs, diretor da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch na África do Sul, diz estar preocupado com uma possível relação entre o que aconteceu ao taxista e o facto do jovem ter nacionalidade moçambicana.

"A investigação em curso irá determinar se há ou não uma ligação entre ambas as coisas. Até pode ser uma coincidência, mas não me surpreenderia se isso se verificasse tendo em conta algumas coisas que já experienciámos no país", referiu. "Por exemplo, a violência xenófoba que irrompeu em maio de 2008 e as presentes tensões relacionadas com cidadãos estrangeiros."

"Más perceções"

O analista político Gil Laurenciano, que viveu muitos anos na África do Sul, afirmou que este ato da polícia contra o taxista moçambicano demonstra que aquele país ainda tem dificuldades em promover a convivência.

"Eles passaram por um regime tão violento como o apartheid e há muitos preconceitos e más perceções sobre as causas da situação em que eles se encontram e a presença dos estrangeiros", disse. "É uma tendência muito comum na África do Sul pensar-se que os estrangeiros é que vão para lá buscar a riqueza deles."

Este não é o primeiro caso de tratamento brutal de que são vítimas moçambicanos residentes na África do Sul. No passado foram igualmente reportados casos de moçambicanos usados pela polícia sul-africana para treinar cães, cujas imagens foram fortemente condenadas pela comunidade internacional.

A África do Sul acolhe a maior comunidade de moçambicanos no exterior. Muitos atravessaram a fronteira e instalaram-se no país vizinho à procura de emprego e de melhores condições de vida.

Autor: Leonel Matias (Maputo) / Guilherme Correia da Silva - Edição: Helena Ferro de Gouveia

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