sábado, 30 de novembro de 2013

NÓS, OS OUTROS E NÓS OUTROS

 

Rui Peralta, Luanda
 
I
As agressões neocolonialistas de novo tipo são uma constante no actual período de agudização da crise crónica do capitalismo vigente. As incertezas provocadas pela deslocação do centro financeiro dominante para parte ainda incerta, provocam uma estranha ansiedade no Ocidente e no Oriente, criando uma actividade frenética de intervenções armadas e diplomáticas a nível global. As periferias periféricas (caso do continente africano) tornam-se pontos de exercício e balões de ensaio, onde são ensaiados cenários, intervenções, agressões, equipamento e novas tecnologias de segurança, sinais de dramas, destruição e morte.
 
O conflito maliano inscreve-se neste contexto amplo e é um exemplo de como se processam as agressões neocolonialistas ao continente africano. No Mali actuam os grupos armados pelo Qatar e pela Arábia Saudita, directa ou indirectamente coordenados pela CIA, grupos maioritariamente constituídos por combatentes provindos da Líbia. Estes grupos cumpriram a sua função de desestabilização, conduzindo á intervenção da França, Bélgica e outras forças ocidentais e africanas, que se apresentam como forças salvadoras da “unidade e integridade do Mali”. É uma cartilha seguida á letra: Os grupos de combatentes islâmicos, que conduzem á desestabilização e que criam as condições para “justificar” aos olhos do mundo – depois de uma boa campanha mediática, bem delineada nos bastidores – uma intervenção militar internacional, dirigida pela França e com o cunho atlantista da NATO e a sombra dos USA reflectida no muro.   
 
O contexto internacional em que esta intervenção se desenrola está inserido nas dinâmicas da crise mundial. Desde 2008, ano em que a crise crónica (a senilidade do capitalismo mundial) se agravou, a França  intenta escapar á situação em que se encontram a Itália, ou a Espanha (Grécia, Portugal e Irlanda são casos periféricos no contexto europeu). A “Françafrique” é o escape possível para uma elite burguesa que apesar de todo o seu europeísmo, necessita do contexto nacional para continuar a afirmar-se (a burguesia francesa nunca conseguirá sobreviver num contexto europeu aberto e teme, principalmente, a concorrência alemã).
 
Se numa primeira fase desta política, as contradições com os USA atingiram laivos de concorrência aberta, a continuidade e aprofundamento da crise levaram a uma “cartelização” dos interesses e a uma colaboração estratégica, que se revela frutuosa para o Ocidente. Foi assim que o continente africano assistiu (impávido e sereno) á intervenção francesa na Cote d`Ivoire para instalar Ouatarra, um peão africano dos USA, no poder. E da mesma forma o continente africano assiste, no Mali, á invasão francesa a “beneficiar” os “cousins” yankees, que instalaram uma base na Nigéria, para melhor poderem passear os seus drones pelos céus do continente.
 
A medio-prazo o continente assistirá (sempre debaixo da passividade cúmplice das suas elites) a um conflito permanente no Mali, afectando toda a região que o rodeia, semelhante ao conflito que destruiu, desintegrou, a Somália nos anos 90. São os desígnios do Império, que embora na fase senil, continua a transportar o “fardo do homem branco” nas costas dos carregadores africanos, gentilmente cedidos pelas “nobres, tradicionais e influentes” elites africanas, sempre tão dóceis e compreensíveis para com o “fardo” dos seus parceiros do ocidente.
 
II
Na Líbia, Estado e instituições públicas foram arrasados em nome do… “Estado”. O Ocidente do Capital nunca compreendeu o Estado Líbio, ou melhor, o aparelho de Estado na Líbia. Se ouvirmos os “opinionmaiqueres” da indústria mediática ocidental (e da China também, se atendermos á CCTV News), a Líbia não tinha Estado. E com esta mentira seca, atiram-se as areias do deserto para os olhos da opinião pública.
 
Depois da agressão, depois do desmembramento do país, podemos dizer que o Estado não existe, ou pelo menos é tão frágil que não se faz sentir, nem mesmo em Trípoli.  
 
A polícia e o exército líbios são figurantes inseridos num cenário montado pelo Ocidente e pelas oligarquias árabes, suas fieis aliadas. O país caiu na mão dos bandos armados, uns controlados pela CIA, outros controlados por ninguém e que actuam como autênticos bandos mercenários, prestando serviços a quem mais paga. Desde serviços para a CIA e para a NATO, até serviços prestados às grandes redes de tráfico de droga que circulam pelo continente, em busca permanente de novas rotas e de novos locais para instalarem os seus equipamentos, ou para lavarem o dinheiro obtido no tráfico, os bandos armados líbios pululam por todo o território, assassinando cidadãos, raptando e assaltando. 
 
 Estima-se que estes bandos abrangem um universo de cerca de um quarto de milhão de elementos. Os tiroteios entre os bandos (autodesignados de “milícias”) são constantes, assim como as vitimas destes tiroteios e as vitimas das suas acções. Estranhas Primaveras que desembocam directamente em asfixiantes Verões, criadores de angustiantes Outonos, completando-se o ciclo num infernal Inverno. Mas as elites do continente africano estão contentes. Pelo menos já não sentem-se comprometidas com Kadhafi e não precisam de fingir que são pela Unidade dos Povos Africanos, podendo aparecer mais á vontade junto dos seus parceiros do Ocidente e do Oriente, a falarem de…África e do seu tema predilecto: negócios (será a “acumulação primitiva”?)
 
III
As encenações a que o continente é sujeito, pelos interesses neocoloniais de novo tipo (do Ocidente e dos emergentes), tanto internamente (pelas elites locais) como externamente (pelos interesses exteriores) são de diversa ordem e abarcam inúmeros cenários, alguns deles experimentados e testados noutras paragens e noutros tempos. Uma das montagens cénicas mais antigas das técnicas de agitação e propaganda é a vitimização. Foi utilizada pelos nazis na Alemanha, apresentando os pobres germânicos como vitimas das potências ocidentais aliadas e dos “judeus” que enfraqueciam o “sangue germânico, herdado dos arianos”; pelos fascistas italianos, apresentando o “povo de Itália, destinado aos grandes desígnios de Roma” como vítimas da “inveja dos bárbaros”; ou dos falangistas espanhóis, que apresentavam a “Espanha vitima das hostes comunistas”. A estes exemplos podemos juntar mais alguns, como as operações de desestabilização utilizada pelos norte-americanos na Indochina, América Central e Caribe, América do Sul, Iraque, Afeganistão e os mais recentes exemplos da Síria, do Mali e da Líbia.
 
Um dos cenários de mistificação melhor conseguidos foi o do sionismo com a vitimização dos judeus, um velho truque político de grande êxito, que permitiu angariar simpatia política internacional para a causa sionista, ao mesmo tempo que justificava a agressão e as campanhas de terror que o exército sionista perpetra contra os palestinianos e os países árabes vizinhos. Sempre que a comunidade internacional chama a atenção a Israel, surge um novo “episódio” desta longa novela. Por exemplo: quando Israel ficou debaixo de olho devido aos acontecimentos ocorridos contra os imigrantes africanos em algumas cidades israelitas, surgiram na indústria mediática internacional uma série de trabalhos (artigos, reportagens, documentários) sobre os “refugiados judeus nos países árabes”. Nesta campanha os judeus eram apresentados como uma comunidade humilhada, sem direitos, escamoteando o facto de que as comunidades judaicas estavam integradas nas sociedades árabes e que sempre foram respeitadas pelo Islão, tratadas como cidadãos de pleno direito e esquecendo que as comunidades judaicas sempre tiveram um estatuto de igualdade de tratamento, que permitiu-lhes estabelecer negócios de grande envergadura por todo o mundo islâmico (o que no Ocidente nem sempre era permitido e quando o podiam fazer era sinal de que mais tarde ou mais cedo iriam ser vitimas de perseguições ou de “conversões” forçadas – na melhor das hipóteses – quando não eram “convertidos” nas salas de tortura da Inquisição ou queimados nas fogueiras desta “Santa Instituição”). Desta forma a História foi falsificada e criada uma nova realidade, que entrou pelos canais auditivos de milhões de “telespectadores”.
 
A criação de “factos históricos” – o refazer da História - é também uma constante no continente africano. De Norte a Sul do continente as elites pós-coloniais (as mesmas que provêm do colonialismo, ás quais se juntaram novas franjas criadas pelas realidades pós-coloniais) realizam operações de cosmética – como por exemplo a passagem ao Estado de Direito – para melhor manterem o seu domínio sobre as restantes camadas da população. Existe um exemplo característico a toda a realidade africana que é a quase ausência de referência nos manuais históricos dos países africanos ao papel dos sindicatos, das organizações de trabalhadores, das associações de camponeses pobres, ou seja, um limpar da memória, do importante papel assumido pelas estruturas proletárias africanas no movimento de libertação nacional. No seu lugar surge, aos poucos, uma historieta de tricas, de personagens, figuras, famílias e dirigentes, de heróis – em alguns casos inexistentes, noutros transfigurados – com o objectivo de limpar a imagem das elites e de criar uma áurea de “missão histórica” ocupando, perante os povos, o lugar do colono. Desta forma as elites africanas retomam a figura retórica do colonialismo, assumindo o “fardo do homem branco”.
    
IV
As elites sionistas fazem por ignorar algumas realidades, deturpando factos, como por exemplo o facto de no Irão residir uma comunidade judaica composta por 25 mil cidadãos, representados no parlamento por um deputado, Maurice Mohtamed, ou as inúmeras comunidades judaicas espalhadas pelo mundo islâmico (do Norte de África ao Médio-Oriente), mentindo deliberadamente sobre a realidade da Palestina ou escamoteando a forte contestação social que se faz sentir na sociedade israelita. Criam desta forma um domínio assente sobre uma realidade virtual, sofisticadamente criada com o objectivo de manter e ampliar o poder e a influência, não apenas sobre a sociedade israelita e sobre o povo judaico, mas também sobre os mercados internacionais.
 
As elites africanas, por sua vez, fazem-se desentendidas em relação a assuntos como a unidade africana (os imigrantes africanos nos países africanos são sempre estrangeiros, enquanto os imigrantes ocidentais ou chineses são cooperantes, expatriados ou “mão-obra-especializada”), as condições de vida, o nível de vida (recentemente trocado por “índices de consumo”) as condições dos trabalhadores, o desemprego (um numero esotérico, a taxa de desemprego em África) as revindicações dos trabalhadores, os salários em atraso (uma práctica constante e normalizada na grande maioria dos países do continente) a saúde (ao cuidado dos privados ou das mafiosas e “maçónicas” parcerias público-privadas), a educação (ao cuidado dos comerciantes da educação e da formação), a habitação (construção de “edilidades” e de condomínios geradores de fenómenos de apartheid social) ausência de politicas urbanísticas, relutância para com politicas de transportes públicos e de redes públicas de transportes colectivos e um cúmplice cruzar de ombros para com a principal arma do neocolonialismo: a corrupção.
 
Ambas são sociedades assentes na mentira, geradoras de realidades virtuais, de guetos, sociedades de apartheid (em Israel predomina um duplo apartheid: racial em relação aos palestinianos, berberes e árabes e social em relação aos judeus pobres ou aos judeus africanos e aos oriundos da Asia Ocidental e da Europa de Leste, assumindo o topo do escalão hierárquico os judeus provenientes da Europa Ocidental e da América do Norte) sociedades postas ao serviço de elites arruaceiras, astutas, formadas pelo entrecruzar de famílias e de parentescos gerados nas encruzilhadas históricas.
 
Uma frase simples de Mahatma Gandhi sobre o conflito árabe / israelita seria desejável que fosse aplicada á realidade africana: “A Palestina pertence aos árabes, da mesma forma que a Inglaterra pertence aos ingleses e a França aos franceses”. Mas em África estamos ainda longe desse facto. As independências politicas não foram consubstanciadas pela descolonização cultural e a independência económica é uma miragem a milhares de anos-luz…O papel histórico do movimento de libertação nacional ainda não terminou, para mal das sobrealimentadas (á custa da subalimentação dos cidadãos africanos e ás oferendas dos parceiros estratégicos do Ocidente) elites africanas.
 
V
Existe, para lá deste mundo acima referido - o mundo do Capital - um outro mundo em transformação. A globalização é feita destas contradições. Um mundo em transformação constante, onde a Humanidade é simultaneamente protagonista e espectadora, em que aparece numas vezes na tela, noutras está sentada na plateia, numas vezes aufere dos direitos de autor, outras vezes paga o bilhete para assistir da plateia.
 
No mundo em que a Humanidade se constrói, em que é protagonista dos acontecimentos e senhora do seu nariz, existe um país que ocupa um lugar de relevo: Cuba. E quando se fala de Cuba, fala-se de muitas coisas, de muitos factos, de muitas constantes e de infinitas variáveis. Fala-se de um Universo Pluridimensional, como o são todos os universos transformados pelo Homem. E falar sobre Cuba implica referir, obrigatoriamente, dois personagens, que são património libertário da Humanidade, dois Comandantes proletários: Che e Fidel.
 
 Em 1987, Fidel estava preocupado com as deformações sofridas pelo processo revolucionário cubano. Foi então lançada a campanha de rectificação, que implicou o regresso do Che, cujo pensamento quase fora esquecido (o pensamento e não o seu papel que é um neurónio fundamental na memoria colectiva dos povos), durante a turbulência do processo, nos anos 70. Tornou-se evidente que o Che fazia muita falta. Não apenas aos cubanos, mas a todos nós, nas Américas, em África, na Ásia, na Europa e na Oceânia, a todos nós, Humanidade cosmopolita, a todos nós, identidade solidária.
 
Tal como há 26 anos atrás (e tal como desde o seu inicio) o processo cubano necessita do pensamento do Che, para mais estando Fidel (essa imensa biblioteca humanista) com uma presença indirecta no actual processo. O aprofundamento da via socialista, a necessidade constante da posição critica e da análise autocritica (ou da autoanálise, ou análise introspectiva, se preferirem), a capacidade de renovação plena, de mutação constante, tornam obrigatórias as leituras e a experiencia do Che.
 
O momento actual da sociedade cubana, em que se empreenderam transformações cruciais e decisivas para a continuidade do projecto revolucionário, exige a socialização de um pensamento estratégico que abarque as questões essenciais da construção do socialismo em Cuba. Mais do que nunca, a luta entre capitalismo e socialismo, caracteriza a situação do país.
 
A concepção socialista do Che é oposta a muitas das opiniões e propostas que ecoam na sociedade cubana e que asfixiam-se num pragmatismo niilista e obsoleto. É que não se pode separar a dimensão económica da dimensão social, politica e cultural. Isso acontece no capitalismo, onde a realidade económica torna-se realidade dominante, levando á extrema alienação do Homem, reduzido a um mero activo, a uma simples mercadoria. A dimensão económica é um corolário da concepção politica e da praxis revolucionária criadora do socialismo. No pensamento do Che a Economia e as políticas económicas são formas da economia capitalista e correspondem ao complexo teórico e ao arsenal ideológico do capitalismo. A transição socialista é, pelo contrário, um poder político e ideológico, revolucionário, transformador, que unifica as diferentes esferas da sociedade, mantendo as suas características e especificidades. O poder revolucionário, o domínio da pluridimensionalidade, a capacidade transformadora e criativa, colocam a economia debaixo do seu domínio. Por isso, para que o socialismo avance, o poder popular (a soberania popular, a democracia participativa), tem de ser efectivo, caso contrário o poder cai nas mãos das camadas burocráticas que se desenvolvem no seio dos processos revolucionários e que na primeira oportunidade aliar-se-ão às velhas camadas remanescentes, residuais, da antiga ordem e reconduzirão o processo ao capitalismo.   
 
A experiencia revolucionária cubana encontra as suas fontes em Carlos Manuel de Céspedes, que abriu as portas ao abolicionismo revolucionário da escravatura, ao pensamento de José Marti, de Júlio António Mella, António Guiteras e consubstancia-se na praxis revolucionária de Fidel e do Che. É toda uma “bagagem” histórica, rica em ensinamentos e experiencias.
 
Nós, angolanos, que sentimos directamente nas nossas vidas o impacto da solidariedade cubana, devermos olhar para estas experiências como sendo fontes directas do nosso saber, como lucidamente compreendeu o presidente Neto. Por esse conhecimento e pela compreensão dessas fontes solidárias e dos seus ensinamentos, fomos, num passado recente, a trincheira firme da revolução em África. Talvez seja altura de revermos os trilhos por onde passámos e balancearmos a nossa experiencia com a realidade em que nos encontramos. È tempo de deixarmo-nos das bagatelas da ilusão, dos ópios alienantes que nos conduziram a esta encruzilhada em que nos encontramos e revermos as lições e as experiencias do nosso combate, á luz das novas realidades. É tempo de reassumirmos o nosso papel histórico de trincheira firme no continente africano. Porque essa foi a raiz da nossa libertação.
 
Para terminar gostaria de salientar um último facto: com Cuba nunca tivemos parcerias estratégicas. Por uma razão: porque entre camaradas, entre companheiros unidos por laços fraternais, não existem parcerias. Só existe Solidariedade. 
    
Fontes
Hassan, Mohamed e Pestieau, David L`Irak face à l`occupation EPO, 2004
Hassan, Mohamed; Lalieu, Grégoire e Collon, Michel La stratégie du chaos Investig`Action/Couleur Livres, 2012
News Magazine, March, 19, 2007.
 
Imagem: Malangatana (Moçambique)
 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

EUROPA, RECUPERAÇÃO BIZARRA

 


Gregos estariam se auto-infectando com HIV para… sobreviver. Anos de “ajustes” devastam sociedades e não recuperam economias
 
Vinícius Gomes – Outras Palavras, em Blog da Redação
 
Assim que descoberto, o dado chocou tanto que precisou ser desmentido. No começo da semana, jornalistas perceberam que um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado há dois meses, revelava, sobre a Grécia (pág 112): “As taxas de HIV e uso de heroína cresceram significativamente; cerca de metade das novas infecções de HIV foram auto-infligidas, para permitir aos pacientes receber benefícios de 700 euros mensais e admissão mais rápida nos programas de subsitituição de drogas”. Horas depois, porta-vozes da OMS desmentiram a informação, atribuindo-a a um estranho “erro de revisão”.
 
Mas é duro tapar o sol com a peneira. Três anos depois de iniciados os programas de “austeridade” no Velho Continente, uma série de dados está demonstrando que a queda da qualidade de vida é mais dramática que se pensava. Além disso, não há sinais de recuperação das economias – um sinal de que o sacrifício irá se prolongar, a menos que haja revolta social. Eis alguns dados, elencados pelo jornalista Bernard Cassen, no site internacional Mémoire des Luttes:
 
> O número de suicídios de mulheres gregas pelo menos dobrou;
> Na antes riquíssima Finlândia, um em cada cinco jovens de 25 anos sofre de desordens psíquicas ou mentais associadas à depressão econômica;
> Na Espanha e Grécia tornou-se comum jovens casais retornarem à casa dos pais de um dos cônjuges;
> Em Milão, capital financeira da Itália, já não são incomuns as cenas de antigos membros da classe média obrigados a viver na rua;
> Apesar do desmonte dos serviços públicos, a dívida pública cresceu na Espanha, Portugal, Itália e Bélgica, após os pacotes de “austeridade”. O “remédio” está matando o doente: a receita pública cai muito mais que a despesa, porque, em economias submetidas à recessão, a arrecadação de impostos é muito menor.
 
Cassen zomba da situação atual dos dirigentes europeus: agora “eles precisam desesperadamente de uma ‘success story’” – mesmo que ínfima. Por isso, apelaram para o caso da Irlanda. O país anunciou que dispensará a renovação do pacote de “salvamento” de 85 bilhões de euros, que recebeu há anos. “A que preço?”, pergunta o jornalista. Ele mesmo responde: “13% da população permanece em desemprego; o PIB per capita caiu 8% em relação a 2008; a dívida pública, que era de 104% do PIB em 2011, saltou para 125%: eis o que custa aos irlandeses salvar os banqueiros e o euro”…
 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

QUEM PAGA O SALVAMENTO DOS BANCOS EUROPEUS – vídeo

 

A TEIMOSIA NO FRACASSO
 
A carta de demissão do ex-ministro das Finanças, Vitor Gaspar, era uma confissão do fracasso da política que seguira sob o diktat da troika. No entanto, apesar daquela confissão, manteve-se a mesma política como se nada se tivesse passado. E agora as troikas, nacional e estrangeira, anunciam que têm a intenção de continuar exactamente a mesma política, como se verifica na nova carta de intenções subscrita por P. Portas, M. L. Albuquerque e C. S. Costa. Estes três capatazes nacionais dos três funcionários da troika estrangeira cometem assim um acto de traição nacional: esforçam-se por eternizar a servidão do país aos ditames do capital financeiro internacional.
 
O restabelecimento de um governo digno em Portugal é a condição prévia necessária para que o povo recupere a soberania nacional, com a ruptura em relação à zona euro, à UE, ao FMI, ao BCE, à NATO, à OMC. Retomar o destino nas suas mãos é a tarefa histórica que se depara ao povo português e a todos os povos oprimidos da Europa.

Ver vídeo (52:10)
 
 

Portugal: MANIFESTAÇÕES SEM ESCADARIAS

 

Triunfo da Razão
 
Ontem, dia de aprovação do Orçamento de Estado, o país assistiu a novas manifestações, sem recurso à subida de escadarias. Por outro lado e para além da manifestação à frente da Assembleia da República, vários manifestantes dirigiram-se a alguns ministérios. Hoje a segurança em todos os ministérios terá sido reforçada.
 
Sucedem-se os episódios de descontentamento, na sua maioria sem tentativas de subir quaisquer escadas e o Governo insiste na aplicação de medidas que mais não são do que imperativos ideológicos.
 
O resultado dessas medidas são conhecidos e correspondem a uma verdadeira tragédia social. O Orçamento de Estado aprovado ontem vai agravar a vida da maioria dos portugueses, contribuindo dessa forma para um incremento da dimensão da já referida tragédia social.
 
Protestou-se ontem, sem recurso à subida da escadarias. Mais protestos estão marcados e outros eclodirão de forma mais ou menos espontânea.
 
Salvaguardando o meu agnosticismo, a existirem umas escadas com direcção ao inferno, o Governo arrisca-se a ter de descê-las.
 
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Moçambique: Governo não clarifica ao Parlamento a compra de barcos para a EMATUM

 

Alfredo Manjate – Verdade (mz)
 
O Governo de Moçambique continua cauteloso na abordagem de questões cruciais inerentes à compra de trinta barcos pertencentes à EMATUM, uma empresa privada criada em Agosto passado para se dedicar à pesca de atum. Esta quarta-feira (27), o Executivo esteve no Parlamento para responder às perguntas das três bancadas que constituem este órgão.
 
Entre as questões levantadas constava a inerente à aquisição de 30 embarcações a uma empresa francesa. Entretanto, o Governo, na sua resposta, limitou-se a repetir as mesmas informações já prestadas anteriormente, esquivando-se de tocar no “coração” do negócio.
 
A compra dos referidos barcos esteve sempre envolta em processos pouco transparentes, em paralelo com a deficiente disponibilização de informação, para além das contradições das mesmas nas declarações dos governantes.
 
As bancadas da Renamo e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) quiseram, hoje, ter do Executivo detalhes sobre os contornos da planificação, orçamentação, concurso e o envolvimento do Estado moçambicano como avalista neste negócio de 300 milhões de euros.
 
O MDM questionou acerca da fonte de financiamento e garantias que Estado moçambicano tem de uma empresa (EMATUM) que nem sequer tem um ano de actividade económica até ao ponto de se assumir como seu avalista. Na sua resposta, o Governo para além de não tocar no cerne de questão, divagou em torno das mesmas informações prestadas anteriormente não trazendo, deste modo, nenhuma novidade.
 
O Primeiro-Ministro, Alberto Vaquina, explicou que a criação da empresa EMATUM e a aquisição dos 30 barcos destina-se a “dotar Moçambique de capacidade para explorar um recurso que é seu, em benefício do seu povo e da sua economia”.
 
“Os estudos mostram que a entrada em funcionamento da EMATUM pode gerar cerca de mil e quinhentos empregos. E isto não inclui os empregos que serão gerados pela industrialização e comercialização do atum e outros empregos indirectos”, disse.
 
Ainda para fortificar seus argumentos, Vaquina recordou ao Parlamento o episódio do sequestro da embarcação de pesca denominada Veja 5 como resultado da incapacidade do Estado de proteger a costa. Nesta senda, afiançou que a aquisição de novas embarcações vai garantir a segurança da actividade da EMATUM e fazer face a outros desafios com vista a proteger e salvaguardar a soberania e integridade do território nacional.
 
Apesar disso, o governante disse que estas aquisições ainda são insuficientes para responder às necessidades do país, tendo em conta a sua vastidão. Este afirmou que actualmente a pesca de atum no país é feita por 130 embarcações dos quais, só apenas, uma é que ostenta a bandeira moçambicana. E que, hoje, se Moçambique quiser consumir o atum das suas próprias águas, tem de importá-lo de outros países. Assim, para reverter a situação foi construída a empresa EMATUM.
 
Desta forma o PM arrematava seu discurso sem tocar nos pontos cruciais levantadas pelas duas bancadas da oposição.
 
Por sua vez, ministro das Pescas, Victor Borges, sobre a EMATUM acrescentou à informação dada pelo PM ao afirmar que o estudo de viabilidade efectuado para a sua constituição prevê a aquisição de barcos atuneiros a serem incorporados gradualmente. Ademais, segundo dirigente serão pescados a médio prazo, de 23 mil toneladas por ano, valorizada em cerca de 90 milhões de dólares/ano. “O estudo também demonstrou claramente que o negócio é viável e que, em sete anos, o empréstimo contraído poderá ser totalmente pago pelo desenvolvimento das actividades do próprio projecto.”
 
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Moçambique: Ministério da Defesa considera boato notícias sobre recrutamento compulsivo

 


Maputo, 27/11 - O Ministério da Defesa de Moçambique qualificou como "boato" informações divulgadas hoje por alguns órgãos de comunicação social sobre o recrutamento compulsivo de jovens para o exército, visando enfrentar a instabilidade no centro do país.
 
"Não constitui verdade que o Ministério da Defesa Nacional ou outras Forças de Defesa e Segurança, estão a fazer o recrutamento militar compulsivo para o cumprimento do serviço militar, trata-se de boato visando desacreditar o cumprimento deste dever sagrado para com a pátria pelo jovem", diz um comunicado do Ministério.
 
Segundo as notícias em causa, muitos jovens estão a evitar sair à rua na cidade da Beira, capital da província de Sofala, centro de Moçambique, porque receiam ser compulsivamente incorporados no exército e enviados para zonas onde se têm verificado confrontos com homens armados da Renamo.
 
O comunicado oficial exorta os jovens a apresentarem queixa à polícia caso sejam coagidos para alegadamente serem integrados no serviço militar obrigatório.
 
Moçambique vive a sua pior crise política e militar, desde a assinatura do acordo Geral de Paz, em 1992, na sequência de divergências entre a Renamo e o governo.
 
Angop
 

Angola: A. I. pede investigação a fundo da morte de Manuel Hilberto Ganga

 


Amnistia Internacional e a Human Right Watch apelaram às autoridades angolanas a investigarem a fundo, o assassinato do activista da CASA-CE por elementos da Guarda Presidêncial em Luanda, no dia 23 de Novembro
 
António Capalandanda – Voz da América
 
Muluka Anne-Miti, pesquisadora da Amnistia internacional, acusou as autoridades angolanas de violarem os tratados internacionais de direitos humanos.
 
“De acordo com os tratados internacionais, as armas só pode ser usadas para defender pessoas contra ameaças eminentes de morte ou ferimento grave, também só podem ser usadas para impedir grave ameaça a vida.”

Por seu lado, a Human Rights Watch instou as autoridades angolanas a investigar as prisões arbitrárias e o alegado uso de força excessiva usada para dispersar uma manifestação organizada por um partido da oposição no mesmo dia 23, e os maus-tratos infligidos a um advogado defensor de direitos humanos.

Leslie Lefkow, directora-adjunta de África da Human Rights Watch, disse hoje através de um comunicado que "não há justificação possível para o assassinato de um homem desarmado e sob custódia", e acrescetou que "o presidente deve proceder a uma investigação completa da sua guarda devido a este assassinato e levar à justiça todos os responsáveis, incluindo os oficiais”.

"O assassinato de um activista por parte de forças governamentais, assim como as prisões em massa e a dispersão com gás lacrimogêneo de manifestantes pacíficos está apenas a aumentar o descontentamento público", disse Leslie Lefkow.

"Os partidos da oposição e os aCtivistas têm todo o direito de protestar pacificamente contra alegados assassinatos pelas forças de segurança e de exigir justiça", concluiu a dirigente da Human Rights Watch.

Num outro comunicado, o Conselho Directivo da ADRA ( Accão Para Desenvolvimento Rural e Ambiente) uma ONG angolana ,concluiu ser preocupante o actual ambiente de tensão, sendo grave que em tempo de paz ainda se percam vidas humanas por diferenças de opinião.

É necessário um esforço conjunto para se continuar a consolidar e ampliar o ambiente de democracia e estabilidade.

Para isso é fundamental uma governação num ambiente de diálogo, de participação, abertura, transparência e justiça social.

Recorde-se que a Guarda Presidêncial abateu um activista da CASE-CE e prendeu mais de uma centena de colegas que na noite da passada Sexta-feira colavam cartazes com as fotos dos activistas Isaías Kassule e Alves Kamulingue alegadamente assassinados pela segurança do Estado.

No dia seguinte, a Polícia Nacional impediu manifestações da UNITA em quase todo o país, com prisões de militantes daquele partido em várias províncias.

Na foto: Funeral em Luanda de Manuel Hilberto Ganga morto por agentes da Guarda Presidencial
 
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Angola: POLÍCIA REPÕE ORDEM NO FUNERAL DE MILITANTE CASA-CE

 


Luanda - O funeral de Manuel Hilberto Ganga, militante da CASA-CE falecido sábado último, ficou marcado por um clima de "desordem pública", protagonizado por membros daquela força política, cuja marcha dificultou o tráfego rodoviário na Avenida Deolinda Rodrigues.
 
Segundo o porta-voz da corporação, Aristófanes dos Santos, que falava à Angop, a via ficou interdita por cerca de duas horas, obrigando a polícia a intervir para repor a ordem, antes de liberar o cortejo até ao cemitério da Santa Ana.
 
O subcomissário explicou que a CASA-CE solicitou, em carta dirigida ao Governo da Província de Luanda, que o cortejo fúnebre do seu militante fosse realizado à pé, até ao cemitério da Santa Ana, tendo as autoridades (Governo local) recusado tal solicitação.
 
Ainda assim, reforçou, os militantes decidiram faze-lo, pondo em causa a segurança e tranquilidade pública, sobretudo o tráfego rodoviário, “criando um grande alvoroço entre a área da rotunda da Praça da Independência até à Shoprite”.
 
No trajecto para a última morada do malogrado, disse, os militantes da CASA-CE faziam vários insultos à polícia.
 
Entretanto, por volta das 11horas, a direcção do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional encetou contacto com o presidente da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, que também esteve no local, para que a situação fosse solucionada.
 
“Após a conversa mantida com os responsáveis da coligação e sob escolta da PN, o funeral foi finalmente feito com tranquilidade, em autocarros que já estavam alugados, pese embora as ameaças contra os jornalistas dos órgãos de comunicação social públicos”, declarou.
 
Segundo Aristófanes dos Santos, a Polícia Nacional recebeu instruções específicas do seu comandante-geral, Comissário-Geral Ambrósio de Lemos, para apenas conter as manifestações desordeiras e evitar ao máximo qualquer confronto com a população.
 
“A Polícia Nacional alerta, contudo, que não vai continuar a tolerar situações de desordem que coloquem em causa a ordem e a segurança interna”, disse o oficial comissário, sublinhando que não houve qualquer detenção ou dano substancial.
 
Na foto: Aristófanes dos Santos, porta-voz da Polícia Nacional
 
Angop
 
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Bissau: Deputados interpelam governo transição sobre alegada venda de passaportes

 


Bissau, 27/11 - Deputados da Assembleia Nacional Popular (ANP) da Guiné-Bissau interpelaram hoje o governo de transição sobre uma alegada venda de passaportes do país "em várias zonas do mundo", relatos que o executivo desmentiu.
 
Entre as perguntas dirigidas ao Governo, a questão da venda de passaportes acabou por dominar a sessão parlamentar, que deve continuar durante toda a semana.
 
O deputado Baltasar Cardoso, do Partido da Renovação Social (PRS), afirmou que passaportes diplomáticos da Guiné-Bissau "estão a ser vendidos" e que recentemente duas pessoas teriam sido apanhadas com estes documentos no Senegal.
 
O parlamentar apontou ainda relatos que indicam que os documentos estarão a ser vendidos igualmente na China.
 
Em resposta, o secretário de Estado das Comunidades (afecto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros), Idelfrides Fernandes, refutou as denúncias dos deputados, notando que os passaportes da Guiné-Bissau são agora emitidos de forma presencial em Bissau e em algumas embaixadas.
 
"A embaixada da Guiné-Bissau na China não tem a máquina de emissão de passaportes", observou Idelfrides Fernandes, para quem tudo o que se diz sobre a alegada venda "não passa de especulação da imprensa".
 
O deputado Amizade Fará Gomes, do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), pediu a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros, Fernando Delfim da Silva, para "um esclarecimento cabal" da situação.
 
Delfim da Silva está a participar em encontros na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, e de lá deve seguir para Paris para uma reunião na UNESCO, juntamente com o primeiro-ministro de transição, Rui de Barros.
 
Um outro assunto que dominou a discussão parlamentar de hoje foi a alegada pesca ilegal por barcos ucranianos e marroquinos nas águas territoriais da Guiné-Bissau.
 
Segundo o deputado Baltasar Cardoso, mais de 30 barcos de empresas dos dois países estariam a pescar em águas territoriais guineenses "sem licença, apenas com meras autorizações".
 
Os deputados questionaram o governo sobre relatos da alegada actividade de barcos ucranianos e marroquinos com base apenas em autorizações emitidas pelo Ministério do Interior.
 
"Se isto for verdade, muita gente estará a cometer crimes graves contra este país", observou o deputado Baciro Djá da bancada do PAIGC.
 
Sem entrar em detalhes, o ministro das Pescas, Mário da Rosa, rejeitou as denúncias dos deputados, salientando o facto de a Guiné-Bissau ser "um país soberano" que pode atribuir licenças de pesca a quem entender.
 
Angop
 

Guiné-Bissau: IMC ORGANIZA SESSÕES CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

 


Bissau, 27/11 - O Instituto da Mulher e Criança (IMC) da Guiné-Bissau está a organizar encontros com representantes da população para criar mecanismos de erradicação da violência de género, anunciou a dirigente da associação, Virgínia Fernandes.
 
A iniciativa decorre em parceria com o sistema das Nações Unidas e enquadra-se num plano de acção nacional de combate à violência doméstica, referiu aquela responsável à Agência de Notícias da Guiné (ANG).
 
"O objetivo do IMC é lutar dia e noite ao lado das mulheres e crianças do país", referiu, ao destacar a importância de disseminar informação, particularmente nas zonas rurais.
 
O parlamento da Guiné-Bissau aprovou a 18 de Julho, por unanimidade, um projecto de lei que criminaliza a violência doméstica, estabelecendo penas de prisão que podem ir até 12 anos e a criação de centros de acolhimento para as vítimas.
 
Apesar dos esforços para proteger os direitos fundamentais da pessoa, "assiste-se ainda a crescentes violações dos direitos humanos no continente africano e em particular na Guiné-Bissau", justificou-se na altura no preâmbulo do diploma, destacando-se os elevados índices de violência doméstica no país.
 
Alfredo Handem, Consultor Nacional para Elaboração do Plano de Luta contra a Violência baseada no género, considera a iniciativa do IMC importante "para permitir a interação entre diferentes atores públicos e privados" e mudar mentalidades no relacionamento entre homem e mulher.
 
"Pretende-se criar condições para a recolha de informações e para proporcionar ensinamentos em relações as estratégias que devem ser implementadas através do Instituto de Mulher e Criança, entidade que vai pilotar este processo", concluiu.
 
Angop
 

Brasil: Mundo jurídico contesta desmandos de Barbosa, mas ministros do STF se calam

 


Juristas das mais diversas correntes, associações de magistrados e OAB já contestam publicamente o modus operandi do presidente do Supremo.
 
Najla Passos – Carta Maior
 
Brasília - Embora boa parte da grande imprensa ainda lute para dar um caráter lícito e regular aos desmandos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, na condução das prisões dos condenados pela ação penal 470, quase todo o mundo jurídico já se deu conta que é impossível permanecer calado diante de tantas irregularidades. Juristas das mais diversas correntes, associações de magistrados e OAB já contestam publicamente o modus operandi do presidente do Supremo. O que permanece cada vez mais ensurdecedor é o silêncio dos demais ministros da corte.

Barbosa determinou a prisão de parte dos condenados às vésperas do feriado da república, sem sequer ter proclamado o resultado do julgamento dos segundos embargos declaratórios em plenário, como ele próprio havia prometido fazer. Os réus foram presos no feriado, contrariando a constituição, e transferidos dos seus estados de origem para Brasília no meio do final de semana, em uma operação midiática, sem nenhuma justificativa legal. Os condenados ao regime semiaberto foram alocados em regime fechado, o que também contraria a legislação.

Entre eles, o ex-presidente do PT, José Genoíno, em comprovado estado de debilidade de saúde, que passou mal no voo que o conduziu à Brasília e, posteriormente, por duas vezes, na cela do complexo Penitenciário da Papuda, enquanto seu pedido para cumprir pena em prisão domiciliar dormia na mesa de Barbosa. Só foi levado a uma unidade de saúde pública quando os médicos do presídio diagnosticaram suspeita de enfarto. E tudo isso enquanto demais condenados, obviamente de outras agremiações partidárias, continuam soltos. Um deles, o ex-deputado Pedro Correia (PP-PE), chegou a pedir oficialmente para começar a cumprir logo a sua pena.

Como se não bastasse, Barbosa determinou que o juiz titular da Vara de Execuções Penais do Dsitrito Federal, Ademar Vasconcelos, fosse substituído na condução do caso pelo juiz substituto Bruno André Silva Ribeiro, filho do ex-deputado do PSDB que atuou no primeiro escalão do governo Arruda, aquele político afastado do cargo em função da suspeita flagrada em vídeo do seu envolvimento no “mensalão do DEM”, ocorrido há quatro anos e ainda não julgado. A operação do substituição do juiz titular foi classificada pela Associação Juízes para a Democracia de “coronelismo eletrônico” e pelo presidente eleito da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) de “canetaço”.

Na segunda (25), o pleno da OAB, reunido em Salvador (BA), decidiu pedir explicações ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a regularidade da substituição do juiz. Na prática, exigiu que o órgão investigue o presidente da corte máxima do país, já praticamente isolado no seu autoritarismo. O próprio Ministério Público, em
parecer do dia 19/11, já opinava que a condução da execução das penas deveria ficar a cargo do juiz Ademar, como antecipou Carta Maior na matéria “PGR quer decisão sobre Genoíno fora das mãos de Barbosa”.

No STF, entretanto, o assunto é tabu entre os demais ministros, que não se posicionam sobre ele. Nem uma palavra dos outros 10 ministros sobre as prisões irregulares, sobre a substituição do juiz, sobre a correria para prender uns e o esquecimento de determinar a prisão dos que continuam soltos, dez dias depois. Nem mesmo a não proclamação da decisão dos embargos em plenário foi contestada por eles. No mínimo estranho, na corte que se notabilizou pelos bate-bocas públicos entre os seus ministros.

Créditos da foto: Arquivo
 
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Brasil: A SOBERBA DOS BANCOS E A JUSTIÇA

 


STF define nesta semana se bancos terão de devolver o dinheiro do poupador prejudicado com o Plano Verão. Por Elici C. Bueno e Mariana A. Tornero, do Idec
 
Elici Cechhin Bueno e Mariana Alves Tornero – Carta Maior
 
Está marcada a data para o Supremo Tribunal Federal consagrar o direito dos poupadores de receber a correção monetária de suas poupanças confiadas aos bancos há quase 25 anos.

Naquela época, os bancos não repassaram o IPC - Índice de Preço ao Consumidor aos poupadores, nas contas da primeira quinzena, sob a frágil escusa de que o Plano Verão, instituído em 15 de janeiro de 1989, alterara o índice de atualização para LFT - Letras Financeiras do Tesouro.

Indignados, os cidadãos buscaram o Poder Judiciário que há muitos anos firmou entendimento no sentido de reconhecer as perdas dos poupadores com aniversário na primeira quinzena de janeiro de 1989 como devidas no percentual de cerca de 20% do valor aplicado, corrigidos monetariamente.

A fundamentação das decisões é irretorquível: a lei que instituiu o Plano Verão, em vigor a partir de 16/01/89, estabelecia novo critério de correção monetária para os contratos firmados ou renovados a partir daquela data, não podendo retroagir para atingir os contratos de poupança com aniversário na primeira quinzena de janeiro - cujo período de 30 dias já havia se iniciado e apenas o recebimento dar-se-ia na primeira quinzena de fevereiro. Dos magistrados de primeira instância ao Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, a voz única é de que a atitude dos bancos violou direitos constitucionais basilares, o direito adquirido dos poupadores e o ato jurídico perfeito.

Mas a empáfia das instituições financeiras não as permitiu aceitar a decisão unânime da Justiça. Por meio de uma ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (a ADPF 165), que será julgada nos próximos dias, buscam destruir o direito consagrado dos cidadãos de reaverem as perdas das poupanças, aguardado por mais de duas décadas.

Juridicamente, a medida intentada pelos bancos é inaceitável. A ADPF é uma ação constitucional de natureza autônoma que se presta a evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do poder público. Não há qualquer preceito fundamental violado. O próprio poder judiciário é que determinou a devolução do dinheiro do poupador. Não se pode considerar que as decisões judiciais sejam atos normativos com potencial para violar preceito fundamental, porque decorrem do exercício da função jurisdicional e observam o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa e a utilização dos recursos inerentes. Pressupor que a suprema corte, por meio de um instrumento não cabível, desconstrua o que milhares de decisões judiciais de todas as instâncias, inclusive suas próprias decisões, declarou como direito dos poupadores, só mesmo fruto de muita insolência.

Os bancos também apelaram na ADPF para o aspecto econômico, sugerindo o risco de um abalo sistêmico no sistema financeiro – argumento que soa mais como piada. Sobre isto, ministro Ricardo Lewandowski, relator da ADPF 165, afastou liminarmente a pretensão das instituições financeiras deitando dados e mais dados sobre a lucratividade extraordinária e desmedida dos bancos, o que impedirá a trepidação no sistema financeiro se os bancos forem compelidos a devolver o que tomaram dos cidadãos.

Desrespeitosamente, os bancos insistiram no pedido de liminar, no período de férias, tentando convencer o então presidente da corte, ministro Gilmar Mendes, e receberam um novo não.

Finalmente, passados mais de quatro anos desde que o ministro relator negou a liminar dos bancos, chegou a hora aguardada pelos poupadores de receber a decisão final do Supremo Tribunal Federal que fará os bancos finalmente se curvarem e obedecerem a lei.

Elici Cechhin Bueno é coordenadora-executiva do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor)

Mariana Alves Tornero é advogada do Idec
 

Portugal: UM ORÇAMENTO CONTRA O PAÍS DO MEIO

 
 
Daniel Oliveira – Expresso, opinião
 
A conversa sobre a retoma da economia, a luz ao fundo do túnel e o regresso aos mercados é a banda sonora. O Orçamento de Estado é o guião. E a banda sonora da comédia romântica não cola com o filme gore. Porque começamos a ter alguma tarimba em austeridade, sabemos exatamente o que acontecerá: entre as previsões e a realidade qualquer semelhança será pura coincidência.
 
O caminho determinado por este orçamento não resulta apenas de incompetência. O "ajustamento interno" que a troika e o governo pretendem, correspondendo à contração da economia, quer simular, de forma tosca, uma desvalorização monetária. Que permita garantir o crescimento por via da redução dos custos de trabalho e redução do consumo. E isto já nos foi explicado com todas as letras: temos de empobrecer para encontrar um novo lugar na economia do euro. Um lugar que, um dia, acabará mesmo por garantir o nosso crescimento. Mas em moldes sociais e económicos completamente novos, mais habituais nos países subdesenvolvidos. Isto, e não as delirantes metas definidas pela troika, é que interessa. Elas nunca foram para cumprir. E por isso mesmo a troika, nas suas avaliações, pouca relevância lhes tem dado. As metas são a motivação para a austeridade. A austeridade não é o meio para cumprir o memorando de entendimento e o que lhe venha a suceder. É o meio para garantir esta assustadora engenharia social. Que permitirá, de caminho, esmifrar a economia nacional, transferindo todos os recursos ainda disponíveis para os credores.
 
Manter o IVA e o IRS onde estão, punindo os consumidores, as pequenas empresas e os trabalhadores, enquanto se desce o IRC, que apenas beneficiará grandes empresas que já têm lucro, é uma escolha política. Fingir que se exige qualquer esforço real à banca e empresas de energia (que é imediatamente compensado pela queda do IRC) e às concessionárias das PPP (que só reduzem a as compensações que recebem na medida em que vão reduzindo os serviços que garantem), enquanto se assalta o contribuinte, o trabalhador e o reformado, é uma escolha política. Dizer que, em caso de chumbo do Tribunal Constitucional, o plano B passa por mais impostos pagos pelos de sempre, mantendo intocados os interesses que têm sido poupados, também é uma escolha política. E estas escolhas não resultam de teimosia. Se digo que são políticas é por terem uma racionalidade. E a sua racionalidade corresponde à estratégia de empobrecimento definida pela troika. Que implica perda de rendimento.
 
Muitos pensavam que esta estratégia de empobrecimento teria como principal alvo os mais pobres. Isso seria apenas sadismo e, havendo pouca margem para os empobrecer, não teria grande efeito na economia. A redução do consumo e dos salários (os dois principais instrumentos para, com a redução da despesa pública, contrair a economia) passa pelo empobrecimento de quem consome e de quem tem salários acima do limiar de sobrevivência: os trabalhadores (e também os reformados) que ainda não são mesmo pobres. São eles que "inflacionam" os custos do trabalho e, com o seu consumo, aumentam as importações.
 
A vitima preferencial é o país do meio (que não é, longe disso, apenas a classe média), que aproxima os seus rendimentos dum país de baixo cada vez mais maioritário e se afasta cada vez mais das classes mais altas. É através do seu empobrecimento que esta macabra engenharia social se faz. A ideia não é pôr todos na miséria e causar o colapso político e social do país, apesar de, no meio de tanta irresponsabilidade, tal poder vir a acontecer. É pôr quase todos próximo do limiar da pobreza, a produzir barato para consumir apenas o indispensável, exportando quase tudo o que se produz e não importando quase nada para consumir. Os mais qualificados e mais jovens, que não quiserem participar neste desígnio nacional, emigram. Esse é o investimento que fizemos e oferecemos de borla a outros países. Aqui fica a mão de obra barata que trabalhará apenas para exportar e pagar a dívida e os seus juros, numa das maiores transferências de riqueza para o exterior a que este país já assistiu. Isto, claro, se a estratégia resultar.
 
O que nos é proposto é passarmos a ocupar, na economia global, o lugar reservado para os países subdesenvolvidos. Como eles, escravos da dívida e da chantagem externa. A competitividade que nos propõem depende, na política, da ausência de exigência democrática. Na organização social, da ausência de mobilidade e dos serviços públicos que a facilitam. Na economia, da ausência de mercado interno e de consumo. E, para tudo isto, do empobrecimento radical da classe média e dos remediados. É isso mesmo que significa o orçamento ontem aprovado: a continuação do ataque ao país do meio. E assim, dentro da Europa, vamos saindo dela.
 

Portugal - Garcia Leandro: "Soares está a alertar para um perigo que pode ocorrer"

 


O general Garcia Leandro, em entrevista à Renascença, revelou concordar com o alerta de Mário Soares para o perigo de violência iminente no País, frisando que é fundamental mudar mentalidades e comportamentos. A necessidade de consenso político, a culpa do PSD e PS por esta crise, e o papel de Cavaco Silva foram outros dos temas que comentou.
 
Além de se mostrar em sintonia com o alerta de violência iminente de Mário Soares face à situação do País, e de comentar os papéis do PS, PSD e do Presidente da República, o general Garcia Leandro criticou também as trocas de acusações entre partidos que não interessam nada à população.
 
Em relação ao que Mário Soares tem vindo a defender, o general – que foi um dos dinamizadores da recente homenagem a Ramalho Eanes – sublinha que, “embora com um estilo que desagradou à maior parte das pessoas, [Mário Soares] está a alertar para um perigo que pode ocorrer”.
 
O responsável salientou também que “tem de haver uma grande reforma de mentalidades e comportamentos, desses processos que a nós não interessam nada, aquelas acusações que se passam no Parlamento ou nos programas de TV do ‘tu é que és mau, eu é que sou bom’ não interessam rigorosamente nada, interessa que governem em condições e que encontrem consensos”, pois se tal não acontecer “o País desaparece”.
 
A urgência do entendimento ente PSD e PS também foi destacada pelo general, que acredita terem sido estes dois partidos os responsáveis pela crise e ainda por estarem a aumentá-la. “Não podem fugir ao debate, têm que se encontrar, é assim a democracia em todos os países do Mundo.”
 
Garcia Leandro aproveitou para apelar a Cavaco Silva para utilizar mais o poder negocial e de influência de Ramalho Eanes, lamentando que o actual Presidente não tenha chamado Eanes para mediar as negociações de Julho entre PS, PSD e CDS.
 
Notícias ao Minuto
 

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