sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Portugal: O NARCOTRÁFICO DA DIREITA

 
 
Fernanda Câncio – Diário de Notícias, opinião
 
Em Espanha, o Governo PP apresentou uma lei para restringir o aborto a situações de risco de vida para a mulher e violação - malformação do feto (ou seja, trissomia, ausência de membros, etc.) e vontade da mulher deixam de ser "causas admissíveis". Em Portugal, o PSD propôs um referendo sobre coadoção por casais do mesmo sexo. Em Espanha, 80% dos espanhóis são, nas várias sondagens, contra a alteração da lei proposta pelo PP (cujo Governo chega, imagine-se, a alegar que esta visa "aumentar a natalidade" e portanto "melhorar a economia"). Em Portugal, de acordo com uma sondagem publicada ontem no i, maioria é contra referendo e a favor da coadoção (e até da adoção por casais de pessoas do mesmo sexo). Em Espanha, o PP está dividido sobre a lei do seu Governo e cada vez mais se crê que esta irá para a gaveta; em Portugal, o PSD anda ao estalo por causa do referendo, predizendo a toda gente que nunca terá lugar.
 
Vejamos, pois: que leva dois Governos de direita, com a popularidade em frangalhos, a fazer propostas destas, contrárias ao interesse da maioria dos cidadãos e controversas dentro dos próprios partidos, em países submetidos a brutais medidas de austeridade? Convicção ideológica? Se no caso do Governo espanhol é admissível, no do PSD português, cujo presidente e atual primeiro-ministro já defendeu publicamente não só a adoção por casais do mesmo sexo como reputou de inconstitucional a sua proibição (já referendar uma inconstitucionalidade, pelos vistos, não acha inconstitucional), é claro que não. Que vantagem viram então nestas manobras?
 
Óbvio: tanto o PSD como o PP espanhol estão apostados em satisfazer a única fação das sociedades portuguesa e espanhola que vê abominações no aborto e nas uniões homossexuais, a saber, a Igreja Católica. Não os católicos em geral, muitos deles discordando frontalmente da doutrina oficial da sua Igreja; a hierarquia e os integristas. Muito pouca gente, sim (como aliás se viu no referendo de 2007, que legalizou o aborto por vontade da mulher em Portugal), mas muito poder e dinheiro, e sobretudo aliados inestimáveis na pacificação e no controlo de uma sociedade cada vez mais empobrecida, controlo esse que em Portugal o Executivo está a passar a olhos vistos para as mãos das organizações católicas, tendo até recentemente o secretário de Estado da Segurança Social aventado que estas poderão passar a administrar a atribuição do RSI e outras prestações sociais.
 
A religião já não é de certeza o ópio do povo, mas o aborto e a homossexualidade são o ópio, pão e sal da Igreja Católica (como o próprio Papa já admitiu). E PSD e PP querem ser os reis desse narcotráfico, sonhando contar com os "samurais de Cristo" como aliados e braço armado. Seguindo o mote da Frente Nacional francesa, a direita da Europa Ocidental quer importar a intifada religiosa que vem de Leste. Se a ironia matasse.
 

QUANDO PORTUGUESES QUISEREM REVOLUÇÃO, SARGENTOS VÃO ESTAR AO LADO

 


Para Lima Coelho, “é muito grave” que “deputados da nação”, nomeadamente os dos “partidos que apoiam o governo”, digam que é preciso recuperar a soberania
 
O presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS) defendeu hoje uma “revolução de mentalidades” e revelou que os militares vão estar “ao lado” dos portugueses quando estes se convencerem de que “a mudança está nas suas mãos”.
 
“O discurso do não há alternativas, de que não vale a pena votar, o facto de haver mais de 50% de abstenção é um sinal claro de que essa consciência ainda não está tomada. Sucessivos responsáveis políticos têm conduzido o povo português a este estado de alguma letargia e de algum desacreditar. Isso não é inocente”, sublinhou António Lima Coelho, em declarações à Lusa à margem das comemorações do 31 de Janeiro de 1891 no Porto.
 
Para o responsável, quando “o povo português se consciencializar de que está nas suas mãos a mudança de que o país precisa, pode bem ter a certeza que os militares, e os sargentos em particular, estarão ao seu lado a defender os valores democráticos, da liberdade e os valores e princípios inscritos na Constituição”.
 
“É importante que haja uma revolução e essa revolução tem de começar pela revolução das mentalidades”, sublinhou, apontando a necessidade de defesa de “uma pátria soberana e independente”.
 
Para Lima Coelho, “é muito grave” que “deputados da Nação”, nomeadamente os dos “partidos que apoiam o Governo”, digam que é preciso recuperar a soberania.
 
“Eles próprios admitem que puseram em causa a soberania, isto não é uma atitude ligeira. Temos de despertar para isso”, afirmou.
 
O presidente da ANS avisou que as armas “letais” dos militares não podem ser usadas “levianamente nem com um espírito de aventureirismo”, mas defendeu não poder “baixar os braços” nem “desistir de procurar as medidas que podem levar à mudança”.
 
“Isso é com a força dos cidadãos, com a sua consciência. Por isso temos de fazer e tudo o que tivermos de fazer para o despertar de um povo que está um pouco letárgico”, frisou.
 
A situação profissional dos sargentos também preocupa a associação que, juntamente com a Associação de Praças e a Associação de Oficiais das Forças Armadas, agendou para o dia 13 de fevereiro, no Largo de Camões, em Lisboa, uma iniciativa pública para “decidir o que fazer mais adiante”.
 
“Nos discursos oficiais, os responsáveis militares e políticos gostam muito de dizer que os sargentos são a espinha dorsal das Forças Armadas. Com o tratamento que nos vão dando, é uma espinha dorsal cheia de escolioses e problemas”, sustentou.
 
O problema, referiu, é que “os sargentos sempre foram votados a uma situação de esquecimento” e existe “quase que uma xenofobia classista” relativamente à classe, não sendo clara a sua definição de carreira ou reconhecida a sua capacidade académica.
 
“Depois, vemos que estes cortes que mais uma vez o Governo impôs vêm afetar sobretudo as classes mais baixas das hierarquias, nomeadamente praças e sargentos. Mais uma vez a matriz ideológica do Governo vem retirar a quem menos tem”, criticou.
 
Explicando que o dia 31 de Janeiro, comemorativo da primeira tentativa de implantação da República em Portugal, é também comemorado como o Dia Nacional do Sargento, Lima Pereira identificou “paralelismos por demais evidentes” com a atualidade.
 
“Há 123 anos, por força do ultimato imposto pela coroa britânica, a nação estava de joelhos perante potências estrangeiras, o país estava numa situação de pré-bancarrota por incapacidade dos governos que se iam alternando entre os partidos regenerador e progressista. Para além disso, a situação do povo era de miséria, a insatisfação era total, impunha-se uma mudança profunda”, recordou.
 
Lusa, em jornal i
 

PORQUE ADERIR À EUROPA É RUIM PARA A UCRÂNIA

 


Europeus forçaram uma opção unilateral em meio a tentativas de barganha por parte de Yanukovich
 
Fabiano Mielniczuk (*) | Rio de Janeiro – Opera Mundi, em Duelos de Opinião
 
A Ucrânia se beneficiaria entrando para União Europeia? NÃO
 
Desde o fim da guerra fria, o Ocidente, representado pela OTAN e pela UE, iniciou sua expansão para a área de influência da antiga URSS. A justificativa oficial baseava-se na hipótese de que a segurança do continente dependeria da implementação de regimes com democracia política e economia de mercado na região, tendo em vista que “democracias não lutam contra democracias” (Há uma corrente em relações internacionais chamada de teoria da paz democrática, que postula que esses regimes criam laços duradouros de paz entre seus vizinhos, fomentados pelo comércio e pelos controles dos civis sobre os militares, entre outros aspectos).

Para Daniel Edler, SIM: Acordo é favorável à Ucrânia

Todavia, na prática, o processo de expansão representou a manutenção das políticas de contenção à URSS aplicadas agora à Rússia, uma vez que esse país foi deixado de fora dos arranjos institucionais pensados pelos ocidentais. Aliada a uma grave crise econômica dos anos 1990, tal exclusão fomentou o anti-ocidentalismo na população russa, sentimento importante para se entender a legitimidade de iniciativas antagônicas aos interesses ocidentais por parte do governo russo.
 
E no meio do caminho tinha a Ucrânia! Desde sua independência a Ucrânia soube se valer de sua posição intermediária e utilizou a Europa e os EUA para contrabalançar a influência russa e a Rússia para contrabalançar a influência dos Ocidentais.

A Rússia e a Ucrânia quase entraram em guerra nos anos 1990 devido aos movimentos separatistas da Criméia e às disputas em torno da base militar de Sevastópol e do arsenal nuclear, ambos legados do período soviético. Nesse período, o apoio dos Europeus e dos norte-americanos foi fundamental para que os ucranianos equilibrassem as relações com a Rússia.

No final dos anos 1990, com a desilusão dos ucranianos a respeito dos pífios resultados econômicos obtidos com o apoio (ou falta de apoio) ocidental, ocorreu uma inflexão pró-Rússia. Os generosos subsídios oferecidos por esse país ao setor energético ucraniano trouxeram conforto para uma elite política que pretendia se manter no poder por meio de práticas condenáveis.

Com a crescente e justificável insatisfação popular em relação à administração Kuchma e a ativa participação de governos ocidentais na Revolução Laranja, inaugurou-se uma nova fase europeia na Ucrânia, tendo Victor Yushenko a frente do país.

Novamente, frente à falta de assertividade da Europa em promover mudanças econômicas no país, o apoio da população ao pró-ocidentalismo do governo esmoreceu e a Ucrânia voltou a ter uma postura mais ponderada, com a eleição democrática de Yanukovich, mais próximo da Rússia. Yanukovich mantinha a clássica postura de barganhar com os dois vizinhos até que os europeus forçaram uma opção unilateral pela Europa.

Os motivos para a postura intransigente da UE não fazem parte do escopo desse texto. O que ocorre hoje é que a Europa está pressionando a Ucrânia para aceitar algumas de suas imposições políticas (a libertação de Yulia Timoshenko, antiga aliada de Yushenko e opositora de Yanukovich) em troca de benefícios econômicos.

Nesses termos, seria impossível à adesão ao acordo de livre comércio com a Europa e o governo da Ucrânia se voltou para a Rússia para neutralizar essa pressão. A redução dos preços da energia vendida pela Rússia para Ucrânia após o anúncio de que a Ucrânia ingressaria na União Euroasiática é um resultado desse jogo de barganhas.

A partir dessa breve retrospectiva, cabe sugerir que a Ucrânia mantenha sua posição de autonomia relativa frente a seus vizinhos, pois a adesão formal à Europa ou a um bloco controlado pelos russos diminuiria sua capacidade de barganha para alcançar seus interesses nacionais.

(*) Fabiano Mielniczuk é doutor em relações internacionais pelo IRI/PUC-Rio e diretor da Audiplo: Educação e Relações Internacionais
 
*Os artigos publicados em Duelos de Opinião não representam o posicionamento de Opera Mundi e são de responsabilidade de seus autores.
 
Leia mais:
 

Central nuclear britânica com níveis de radioactividade “acima do normal”

 


Situação não oferece riscos para a população nem para os trabalhadores, disse porta-voz
 
Níveis de radioactividade “acima do normal” foram detectados na central nuclear de Sellafield, noroeste de Inglaterra, que, por precaução, reduziu esta sexta-feira a sua actividade.
 
A central informou que um dos monitores detectou “um elevado nível de actividade”, mas assegura que não há riscos nem para a população nem para os trabalhadores.
 
“Foi tomada a decisão de operar a níveis reduzidos de pessoal, compatível com a segurança das operações”, disse um porta-voz citado pela BBC. Os níveis de radioactividade estão "acima o normal, mas abaixo do que nos levaria a tomar qualquer [outra] acção", acrescentou.
 
A central informou que, “por prudência”, esta sexta-feira, só estão a trabalhar os funcionários indispensáveis e decorrem investigações para apurar a origem dos elevados níveis de radioactividade.
 
Sellafield, na Cumbria, foi a primeira central nuclear do mundo a fornecer electricidade para consumo público e cessou a produção em 2003. É desde então usada para armazenamento de resíduos nucleares e processamento de combustível usado. Em Março de 2013 foi temporariamente encerrada “por precaução”, alegadamente devido ao mau tempo.
 
Na foto: Sellafield foi a primeira central nuclear do mundo a fornecer electricidade para consumo público DAVID MOIR/REUTERS
 
Público e Agências
 

A “LARANJA” APODRECIDA

 

Martinho Júnior, Luanda

1 – A segunda fase da “Revolução Laranja” está em curso, com todas as triunfalistas fanfarras disponíveis e instrumentalizadas, reeditando, dez anos depois, os aconteciments de 2004 na Ucrânia!

Pouco há a acrescentar em relação à essência dos instrumentos, nesta segunda edição, ao que a Wikipedia esclarece sobre as “revoluções coloridas”:

“Revoluções coloridas é o nome coletivo que têm recebido uma série de manifestações políticas no ex-espaço soviético tomadas contra líderes "autoritários" acusados de "práticas ditatoriais", fraudarem as eleições ou outras formas de corrupção. Esses movimentos muitas vezes adotaram uma cor específica ou flores como seu símbolo que dá nome a sua mobilização. Esse fenômeno surgiu na Europa Oriental e também teve repercussões no Oriente Médio. Alguns observadores chamaram os acontecimentos de uma onda revolucionária.

Estas manifestações têm em comum o uso de ação direta da resistência não violenta (de acordo com os seus apoiantes) e um discurso de democratização, liberalismo e pró-ocidental. Outra coincidência é o importante papel desempenhado por algumas ONGs e organizações estudantis. O sucesso de cada um desses movimentos tem sido variado, mas o seu eco repercutiu em todo o espaço da antiga União Soviética, onde líderes como Vladimir Putin na Rússia e Aleksandr Lukashenko na Bielorrússia, tomaram medidas preventivas para impedir a sua extensão.

Até agora, estes movimentos foram bem sucedidos na Sérvia (a Revolução Bulldozer de 2000), a Revolução Rosa na Geórgia (2003), a Revolução Laranja na Ucrânia (2004), e (ainda o mais violento dos anteriores), a Revolução das Tulipas no Quirguistão (2005). Cada vez que grandes protestos seguiam a eleições disputadas e levou à renúncia ou deposição de líderes considerados por seus opositores de autoritarismo.

O alcance e o significado dessas "revoluções" ainda estão em discussão, bem como qual é o papel desempenhado por agentes externos, principalmente norte-americanos e a CIA, como a Fundação Soros, USAID e o National Endowment for Democracy. Apesar de apoiar esses movimentos de apresentá-los como puramente nativos ou nacionalistas, críticos acusam de serem manipulados e maximizam a importância desses agentes externos.

Em 2007, se tentou prorrogar essas "revoluções" para a América Latina, o uso de estudantes e ONGs, em oposição aos governos de esquerda, embora democráticos como o caso dos opositores de Hugo Chávez, onde os estudantes tiveram um papel importante em oposição a um referendo à reforma da Constituição da Venezuela”…

De facto por detrás estão as mesmas causas, a mesma filosofia, o mesmo carácter, a mesma colecção de conceitos, os mesmos comportamentos e atitudes, os mesmos intereses, as mesmas conveniências, o mesmo tipo de mobilização humana… no fundo as potências ocidentais em dez anos não estão a ser nada criativas em relação aos instrumentos ao seu serviço, talvez por que os meios financeiros ao seu dispor são agora mais exíguos que antes no início do século, quando ainda “embandeiravam em arco” com a queda do muro de Berlim!

2 – No golpe de estado que se vai tentando instalar na Ucrânia, os “arietes” dos dispositivos ocidentais são grupos conservadores e fascistas, mesclados com as ONGs oportunistas que perfilham ideologías “radicais” que compõem a pseudo-esquerda europeia, ao jeito, por exemplo, do que Francisco Louçã, como um autêntico “cavalo de Tróia”, criou na tentativa de integrar o pelotão “radical” em relação a Angola (“Os donos angolanos de Portugal”).

Numa síntese analítica o Pravda explica no que toca à Ucrânia:

…“Fora da versão edulcorada e maniqueísta imposta pela mídia, encontramos aqui como o jornalista estadunidense e especialista de questões geopolíticas William Engdahl, obteve informações sobre o papel desempenhado na Ucrânia pelo Canvas (ex-Otpor), organização não governamental sérvia, activa desde finais dos anos 1990, que se tornou o fulcro da oposição pró-ocidental ao presidente Slobodan Milosevic.

Fontes ucranianas de fato explicaram ao jornalista estadunidense que ônibus de todos os cantos do país são mobilizados para a capital, Kíev. Esses ônibus são lotados por estudantes e desempregados contratados para participar dos protestos, que distribuem na Praça Maidan - coração das manifestações - panfletos idênticos aos difundidos em 2011 na hoje famosa Praça Tahrir, do Cairo (Egito), lugar simbólico e palco das manifestações de protesto que levaram à derrubada de Hosni Mubarak”…

(…)

…“Uma vez apurado o papel do Canvas, que evidentemente se movimenta a favor de tudo o que vem estabelecido por Washington, é interessante descobrir a conexão entre o heterogéneo ordenamento da chamada oposição pró-ocidental e a União Europeia, além de com os incontornáveis Estados Unidos, como já mencionamos anteriormente.

Nesse sentido, figura paradigmática é o ex-campeão de boxe Vitaly Klitschko. Homem forte do partido de direita Udar, capaz de conseguir o apoio estadunidense e europeu, o ex-campeão atualmente indicado como líder da variegada oposição, é respaldado por Victoria Nuland, ex-representante estadunidense junto à Otan sob Bush, que atualmente assume o papel de secretária de Estado para Assuntos Europeus e Euroasiáticos da administração Obama. Nuland pode se orgulhar dos sólidos laços com os círculos neoconservadores: seu marido é Robert Kagan, conhecido falcão, estreito colaborador do ex-vice-presidente dos EUA, Dick Cheney.

No que se refere ao lado europeu, o jornal alemão Bild informa que a chanceler Angela Merkel em concertação com o Partido Popular Europeu (conservador), teria abertamente indicado Klitschko como candidato pró-europeu nas eleições previstas para 2015. Há tempos que a União Democrata Cristã da Alemanha (CDU) - partido da chanceler, juntamente com o PPE - oferece apoio econômico e logístico aos membros do Udar, fornecendo também adestramento político dos expoentes do partido de direita ucraniano.

O deputado conservador alemão no Parlamento Europeu Elmr Brok, que esteve em Kíev, chegou ao ponto de pedir aos dirigentes da oposição ucraniana que estejam dispostos a morrer para instaurar um novo caminho pró-europeu.

Encerramos esta breve resenha sobre a oposição ucraniana, que em nossas latitudes ainda é definida como pró-democracia - quando na realidade se trata de uma aglutinação de forças conservadoras e fascistas - como o Svoboda. Derivação directa do Partido Socialista Nacional Ucraniano (SNPU), assume a actual denominação em 1998, depois da eleição do seu líder Oleh Tiahnybok ao Parlamento ucraniano. Recorde-se o aberrante discurso sobre a tumba de um nazista ucraniano, onde vociferou contra a máfia judia de Moscou.

Esse partido chauvinista e nazista cujos militantes foram indicados pelo New York Times como os mais temíveis manifestantes, autores das iniciativas mais provocadoras como a ocupação de edifícios e escritórios do governo, é fautor do culto a Stepan Bandera, fundador da Organização dos Nacionalistas Ucranianos que em junho de 1941 uniu as próprias forças com as dos nazistas durante a invasão da União Soviética. A autorização para a atuação do Svoboda foi conseguida graças ao partido pró-alemão Batkivshina da corrupta Julia Tymoshenko, atualmente presa por apropriação indébita e fraude, que na última eleição fez aliança com os nazistas decididamente frutífera para estes últimos, que conquistaram 37 cadeiras. Enquanto isso, a sua influência aumenta cada vez mais, graças ao papel proeminente nos violentos protestos em curso”…

3 – A contra-revolução liberal ganha espaço na União Europeia, atiçada pela “alta finança” ao nível dos principais mandatários, ao nível sobretudo da espartana Ângela Merkel!

A “pseudo-revolução”, melhor a contra revolução liberal na Ucrânia visa, por via do golpe de estado, colocar definitivamente a Ucrânia na esfera de influência e de conveniência da aristocracia financeira mundial, jogando contraditoriamente com a manipulação que, ao mesmo tempo pesa sob a forma de ditadura financeira sobre os países, as nações e os povos do sul, os “PIIGS” (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).

Quando a Ucrânia estiver dominada, surgirão os suspeitos do costume: o Banco Mundial, o FMI, as “troikas” do mercado e dos mercadores dispostos a vender as mães!... que terão de lidar com o empréstimo russo de 15.000 milhões de Euros e com a torneira do gás!

Cheira a enxofre Europa fora, parafraseando um discurso do Presidente Hugo Chavez na ONU, em Setembro de 2006:

…”O Diabo, o próprio Diabo está em casa. Ontem o Diabo veio aqui, (risos e aplausos) ontem o Diabo esteve aqui, neste mesmo lugar. Esta mesa onde me coube falar ainda cheira a enxofre. Ontem, senhoras e senhoras, desta mesma tribuna o Senhor Presidente dos Estados Unidos, a quem eu chamo "O Diabo", veio aqui falando como o dono do mundo. Um psiquiatra não estaria a mais a fim de analisar o discurso do Presidente dos Estados Unidos. Como porta-voz do imperialismo veio dar as suas receitas para tentar manter o actual esquema de dominação, de exploração e de saque dos povos do mundo”…

Não há bandeiras vermelhas nas praças tomadas pela contra revolução liberal na Ucrânia, quando cada vez mais praças dos países do sul (Portugal, Grécia e Espanha) estão pejadas delas!...

Que faz uma “laranja” apodrecida no cesto carregado de frutas maduras da Europa do capital e do império?

Foto: A contra-revolução liberal incendeia as noites da Praça da Independência em Kiev

A consultar:
- Revoluções coloridas –
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%B5es_coloridas
- Revoluções coloridas: os golpes do século XXI –
http://www.viomundo.com.br/denuncias/publica-como-funcionam-as-revolucoes-de-veludo.html
- Revolução Laranja –
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Laranja
- Acções de protesto na Ucrânia foram instigadas pelos EU e UE –
http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_01_22/A-es-de-protesto-na-Ucr-nia-foram-coordenadas-pelos-EUA-e-UE-4850/
- Does the USA sponsor revolutions? –
http://www.youtube.com/watch?v=lpXbA6yZY-8
- Nicolai Azarov assegura que Ucrânia vive um intento de golpe de estado –
http://www.cubadebate.cu/noticias/2014/01/23/nikolai-azarov-asegura-que-ucrania-vive-un-intento-de-golpe-de-estado-video/
- John MacCain mete sus manos em la crisis ucraniana –
http://www.cubadebate.cu/noticias/2013/12/15/john-mccain-mete-sus-manos-en-la-crisis-ucraniana/
- Conservadores e fascistas unidos na desestabilização –
http://paginaglobal.blogspot.com/2014/01/ucrania-conservadores-e-fascistas.html
- O financiamento de Washington a jornalistas –
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/o-financiamento-de-washington-a-jornalistas.html
- Falsas revoluções coloridas –
http://forum.antinovaordemmundial.com/Topico-falsas-revolu%C3%A7%C3%B5es-coloridas-como-derrubar-governos-com-ongs-globalistas
- Discurso na Assembleia Geral da ONU –
http://resistir.info/venezuela/chavez_onu_20set06.html
- Férteis activismos –
http://www.diarioangolano.com/index.php/opiniao/146-editoriais/7762-ferteis-activismos; http://paginaglobal.blogspot.com/2013/12/ferteis-activismos.html
- Basta de fundamentalismos –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/12/basta-de-fundamentalismos.html
- A pseudo-esquerda portuguesa segue a trilha da democraCIA –
https://www.facebook.com/martinho.junior.1217?ref=tn_tnmn
 

Ucrânia: ONU pede investigação a mortes, raptos e tortura de manifestantes

 


O gabinete de direitos humanos da ONU pediu hoje à Ucrânia uma investigação "rápida, minuciosa e independente" das mortes, raptos e torturas de manifestantes.
 
"Estamos chocados com as mortes relatadas nos últimos dias em Kiev, as quais devem ser pronta, completa e independentemente investigadas", disse à imprensa Rupert Coville, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.
 
"Também pedimos que sejam investigados os relatos de raptos e de tortura", acrescentou.
 
A televisão ucraniana noticiou hoje o caso de um ativista da oposição Dmytro Bulatov, desaparecido há uma semana e encontrado hoje gravemente ferido, que terá sido torturado pelos seus captores.
 
Bulatov, 35 anos, relatou que os seus captores o espancaram e torturaram, tendo-lhe cortado uma orelha e pregado pregos nas mãos, acabando por deixá-lo numa floresta.
 
"Repetimos o nosso apelo ao Governo e aos manifestantes para que mostrem contenção e criem condições para o diálogo e a reconciliação", disse o porta-voz.
 
Rupert Coliville referiu-se por outro lado a progressos na situação na Ucrânia, evocando os passos dados no sentido de um diálogo entre Governo e oposição e à abolição das leis aprovadas duas semanas antes e que "restringiam o exercício dos direitos à liberdade de reunião, associação e expressão".
 
Antiga república soviética, a Ucrânia é há dois meses palco de manifestações maciças, algumas marcadas por violentos confrontos com a polícia, convocadas após a decisão do Presidente, Viktor Ianukovitch, de suspender os preparativos para assinar um acordo com a União Europeia e estreitar relações com a Rússia.
 
Lusa, em Notícias ao Minuto
 

Moçambique: PARA QUANDO O FIM DESTE REGABOFE?

 

Verdade (mz) - editorial
 
Hoje - volvidos pouco mais de seis meses de conflito armado que eclodiu na região centro e se alastrou, qual uma praga, pelo país inteiro - parece que ninguém tem dúvidas de que, quando os políticos não têm juízo, o povo é que paga. Ao longo do tempo, o maior partido da oposição, de forma obtusa, jogou tudo na sua vingança, esquecendo-se do bem-estar do povo que, como sempre, vai na conversa de promessas que são feitas por quem nunca as poderá cumprir. Já o partido no poder, valendo-se da maioria absoluta parlamentar, continua indiferente ao eleitor, aos moçambicanos e à opinião pública.
 
Indubitavelmente, os próximos dias continuarão a ser muito sacrifício para as populações que se viram forçados a abandonar o sossego das suas humildes casas por causa da ambição desmedida de duas pessoas. Os políticos que hoje temos são um verdadeiro perigo público. São vampiros políticos que medram à custa do sofrimento e do generalizado subdesenvolvimento dos moçambicanos.
 
Não são capazes de sair dos seus covis e não têm a humildade suficiente para admitir que são a causa da instabilidade política e da desgrenhada miséria que asfixia milhões de moçambicanos. Numa palavra, os políticos que temos por aí são os principais produtores da pobreza e de pobres em massa.
 
Os moçambicanos continuam a ser reduzidos a simples bestas de carga. Não há espaço para o diálogo. E, muito menos, há lugar para rectificar o que está mal. Nem hoje, nem amanhã. Na verdade, nos tempos que se seguem, colocar o interesse do país antes das rivalidades pessoais e partidárias parece utopia. Mas não devia parecê-lo.
 
Porém, inesperadamente, depois de três meses sem diálogo, as negociações entre o Governo de turno e a Renamo retomaram. Curioso: as duas delegações chegaram pela primeira vez a um entendimento. Mas esse facto não passa de um teatro mal encenado, pois é indiscutível que é quase impossível humanizar o líder da Renamo e o Presidente da República.
 
Agora, na hora dos apertos de mão e dos sorrisos cínicos, ninguém contabiliza as vítimas da insanidade, ninguém fala do material bélico que atravessou Maputo e foi anichar-se à beira da serra de Gorongosa. O esforço desencadeado para matar o outro foi relegado para o sótão do esquecimento, os desterrados da vossa estupidez colectiva não contam. Constituem, no vosso exercício de hipocrisia, vítimas colaterais do progresso.
 
Curiosamente, depois de jorrar litros de sangue, a Renamo prepara-se para concorrer em força nas próximas eleições. O recenseamento foi adiado para acomodar o maior partido da oposição. Só mesmo num país que não vale nada é que o sangue rega a terra para perpetuar a indigência do povo. Hipócritas!
 

Moçambique: DHLAKAMA VAI CONCORRER NAS “PRESIDENCIAIS”

 

André Manhice – O País (mz)
 
"Afonso Dhlakama continua a ser alternativa governativa para o país"
 
O líder da Renamo poderá candidatar-se nas próximas eleições presidenciais a ter lugar a 15 de Outubro deste ano. Esta informação foi confirmada pelo quadro sénior e porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, segundo o qual o próprio Dhlakama terá de passar por eleições internas do partido.
 
De acordo com Mazanga, os militantes da Renamo ainda depositam confiança no líder. “Ele vai participar nas eleições internas, vai passar por esse escrutínio e vai candidatar-se à Presidência da República, pois há voto de confiança de muitos membros da Renamo. Creio que ele vai aceitar a pressão dos militantes para continuar candidato da Renamo nas eleições”, afirmou Mazanga.
 
Para o partido da “perdiz”, Afonso Dhlakama continua a ser alternativa governativa para o país. “Há muitos moçambicanos que acreditam que o presidente Afonso Dhlakama é a solução para os problemas do país”, declarou.
 
Este partido garante que as eleições internas continuam a ser a forma democrática de se indicar o seu rosto nos processos eleitorais. “Os candidatos da Renamo aparecem nos próprios órgãos, candidatam-se, são eleitos e o escolhido vira candidato. Portanto, a democracia interna vai prevalecer e vai ditar o futuro e iluminar quem será o candidato às eleições de 2014”, afiançou.
 
Recorde-se que Dhlakama é o candidato da Renamo desde as primeiras eleições multipartidárias em Moçambique. Perdeu em todas, mas sempre reclamou a existência de fraude eleitoral.
 

Moçambique: “Dhlakama terá medo de voltar a Maputo“ - diz Alberto Ferreira

 


Afonso Dhlakama é um líder político e de um movimento militar e, por isso, terá muito medo de voltar a Maputo. Devia haver uma forma de ele retornar em segurança para manter e gerir a estrutura do seu partido.
 
A entrada de Afonso Dhlakama e da Renamo nas eleições é benéfica para a Frelimo, dado que esta vai dispersar os votos do MDM.
 
Porém, há também a hipótese de o MDM reconfirmar a sua participação positiva nos pleitos eleitorais, como nas últimas eleições autárquicas.
 
Para além de observadores, devia haver mediadores nas negociações para permitir a resolução de muitas questões fundamentais e da principal, que é a manutenção da paz.
 
O País (mz)
 

Centenas de pessoas na rua para ver passar dragão de 238 metros em Macau

 


Macau, China, 31 jan (Lusa) - Centenas de pessoas concentraram-se hoje entre as Ruínas de São Paulo, o ex-libris do turismo de Macau, e o Largo do Senado, para verem passar o dragão dourado gigante de 238 metros que animou o primeiro dia do Ano Lunar do Cavalo.
 
Além do dragão gigante, também os leões foram atração, numa mistura de cores vivas tipicamente utilizadas nas grandes festas como o Ano Novo Chinês, a mais importante celebração das famílias chinesas.
 
Vivificados o dragão e os leões, efetuada a danças rituais, os dirigentes do turismo de Macau - Helena de Senna Fernandes, Manuel Pires e Cecília Tse - lideraram o cortejo até ao Largo do Senado num trajeto feito em festa e cumprindo rituais.
 
O cortejo foi também acompanhado por Alex Vong, presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, até ao Senado, onde decorreu a queima de panchões, cartuchos de pólvora semelhantes a bombas de carnaval, mas mais potentes, para afastar os maus espíritos.
 
Já no Largo do Senado, e continuando o ritual iniciado nas Ruínas de São Paulo, O Deus da Fortuna, auxiliado pelos 'mortais' dirigentes do turismo, distribuíram lai-sis, envelopes vermelhos com dinheiro, neste caso uma moeda de 10 avos (1 cêntimo), como sinal de boa sorte.
 
O envelope contém também frases auspiciosas, formas de desejar os maiores sucessos ao longo do ano, agora 'liderado' pelo Cavalo.
 
JCS // SB - Lusa
 

XANANA GUSMÃO EM LONDRES PARA CAPTAR INVESTIMENTO PARA TIMOR-LESTE

 


Díli, 31 jan (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, inicia hoje uma visita de trabalho a Londres, Inglaterra, para captar investimento e falar sobre os progressos alcançados pelo país nos últimos anos.
 
Em comunicado divulgado à imprensa, o gabinete do primeiro-ministro refere que durante a visita, que termina na terça-feira, Xanana Gusmão vai reunir-se com membros da Câmara dos Comuns para "falar sobre os progressos alcançados em Timor-Leste e desenvolver um diálogo interativo".
 
"Estão, também, previstas reuniões com membros da Comunidade Empresarial Britânica para encorajar o investimento internacional em Timor-Leste", refere o comunicado.
 
Em Londres, o primeiro-ministro vai também reunir-se com a equipa de juristas internacionais que representa Timor-Leste e participar numa receção da embaixada timorense em Londres.
 
No próximo dia 18, Timor-Leste vai apresentar no tribunal arbitral de Haia a exposição timorense relacionada com as acusações de alegada espionagem durante as negociações dos acordos sobre o petróleo e gás no mar de Timor feitas à Austrália.
 
De Londres, Xanana Gusmão viaja para Lisboa, onde vai realizar uma visita de trabalho até ao dia 08.
 
MSE // PMC - Lusa
 

COMUNIDADE CHINESA EM TIMOR-LESTE CELEBRA ANO NOVO LUNAR

 

31 de Janeiro de 2014, 16:01
 
A Comunidade Chinesa em Timor-Leste celebra hoje à noite o novo ano lunar chinês, o ano do cavalo, numa festa que conta com a presença do presidente da Associação Chinesa em Timor-Leste Peng Lay e o presidente da república de Timor-Leste Taur Matan Ruak.
 
Segundo Kathleen Gonçalves, responsável pela organização da festa e descendente de família chinesa há mais de 101 anos que os chineses marcaram a sua entrada em Timor-Leste.

Da antiga geração de chineses, que depois acabaram por se casar com timorenses estão registados 700.

Actualmente, segundo Kathleen, o número de pessoas de nacionalidade chinesa a residir em Timor-Leste varia entre os 11 a 12 mil.

O impacto da comunidade chinesa em Timor-Leste pode-se medir pelo número de lojas espalhadas, principalmente na cidade de Díli.

Timor Plaza é o mais recente centro comercial e foi estabelecido pela familia de um chinês bem conhecido em Timor-Leste, o Jape Kong Su.

Em Timor-Leste, a comunidade chinesa tem o seu próprio cemitério, a sua própria escola Chinesa e o seu templo chinês.

SAPO TL
 

Brasil: A SONOLENTA PALESTRA DE JOAQUIM BARBOSA EM LONDRES

 

Pragmatismo Político
 
Discurso de duas horas do presidente do Supremo fez reitor da Universidade de Londres cair no sono. Passagem de Joaquim Barbosa foi financiada pelo STF; ele recebeu R$ 14 mil em diárias para 10 dias de passeio pela Europa
 
Joaquim Barbosa, conhecido por seus longos e acalorados debates na Presidência do Supremo Tribunal, passou por um constrangimento em Londres. Em palestra no King’s College, o reitor da Universidade, Rick Trainor, caiu no cochilo durante o discurso de duas horas de Barbosa sobre o funcionamento da Corte brasileira.
 
A passagem de Barbosa pelo evento foi financiada pelo STF. Ele recebeu R$ 14 mil em diárias para 10 dias de passeio pela Europa, nos quais teve apenas dois compromissos oficiais, em Paris e Londres.
 
A repórter Patrícia Dantas cobriu a palestra de Joaquim Barbosa em Londres para o portal DCM. Confira abaixo o seu relato:
 
Patrícia Dantas
 
O presidente do STF fechou sua temporada de três dias em Londres com uma palestra-aula no King’s College. Barbosa não deu entrevistas à imprensa antes ou depois e adotou um tom mais cauteloso do que seu padrão.
 
Apesar do frio de 5 graus e da chuva, o King’s College teve de disponibilizar uma sala extra com transmissão por streaming no Safra Lecture Theater. O salão principal teve seus 253 lugares tomados (o evento foi aberto e gratuito). Algumas pessoas ficaram em pé. Barbosa proibiu qualquer tipo de questionamento relacionado aos casos que ainda estão em andamento no Supremo. O diretor do King’s Brazil Institute, Anthony Pereira, deixou isso claro ao apresentar o palestrante. Segundo os organizadores, ele não recebeu cachê.
 
JB abriu a noite explicando como é escolhido o presidente do STF. ”O chefe da Suprema Corte não é eleito pelo presidente da República, mas sim pelos seus pares desde 1890″, disse. A conversa foi toda num inglês correto, com alguns termos jurídicos em português. “É importante para evitar a personalização e centralização do poder em apenas em um juiz. Fico muito feliz pelo Brasil ter adotado esse sistema desde o início”.
 
O tom, especialmente no início, foi monótono, com longas pausas reflexivas. O reitor, Rick Trainor, não aguentou e cochilou. No final, houve uma sessão de 40 minutos reservada às perguntas do auditório. Eu pude perguntar, se ele pretendia se candidatar a presidente.
 
Não respondeu de imediato. Preferiu passar a outras questões formuladas pelo público. Voltaria depois ao assunto da presidência. “A plateia me perguntou se eu sou candidato e eu ainda não respondi”, disse. “E, afinal, quer?”, ouviu-se no auditório repleto de brasileiros.
 
“Quero!”, afirmou ele, em tom irônico. Houve uma certa surpresa. Em seguida, esclareceu que estava fazendo uma piada. “Muitas pessoas se aproximam de mim nas ruas ou lugares públicos dizendo que eu deveria ser candidato. Nunca fui um político ou afiliado a qualquer partido político. Até mesmo na época da faculdade, também nunca participei de nenhuma militância política. Então, a resposta é não”.
 
Sobre racismo, ele disse o seguinte: “A maioria das pessoas que sofrem com a pobre educação no Brasil são negras. Negros moram em favelas, têm os trabalhos que pagam menos. Todos os indicadores apontam que esse é um dos problemas-chave na política brasileira. Brasileiros brancos não querem discutir isso. A TV no Brasil parece a TV da Dinamarca. Precisamos lidar com o assunto logo”.
 
Sobre uma visita recente que teria feito ao presídio de Pedrinhas, no Maranhão: “Políticos não se importam com esses assuntos porque isso não traz nenhum retorno, dividendos ou votos. Esta é a razão pela qual as prisões estão nesta situação. São como o inferno. Os governos alegam que não têm equipe suficiente para construir os presídios”.
 
Alguém quis saber se, sendo um “intelectual com ideias bastante progressistas”, ele não se incomodava em ser transformado em “herói” pela maioria dos grupos conservadores no Brasil. Barbosa: “Não me importo com quem aprecia meu trabalho, conservador ou liberal. Eu faço o que acho que é certo. Sou uma pessoa realmente cautelosa. Minha orientação é fazer o que é preciso ser feito. Se liberais gostam do que faço, tudo bem, mas eu realmente não me importo com isso”.
 
Encerrada a apresentação, Barbosa posou para fotos com a galera. Ficou calado e fez cara de exclamação quando um jornalista indagou se assinaria o mandado de prisão do deputado federal João Paulo Cunha quando voltasse das férias (aliás, não havia nenhum profissional da mídia internacional).
 
O gelo só foi quebrado quando alguém perguntou se ele iria tomar uma “pint”, a tradicional cerveja inglesa servida nos pubs. “Aí, sim”, disse Joaquim Barbosa, escoltado por seguranças e por seu assessor pessoal em direção à saída.
 
com Brasil 247 e DCM
 
Na foto: O reitor Rick Trainor (esq.) em sua soneca
 

O BRASIL, EUA E O “HEMISFÉRIO OCIDENTAL”

 


Washington deve sufocar militarmente ações comuns da América do Sul, propôs teórico geopolítico norte-americano mais influente dos no século XX. Em que medida proposição prevalece?
 
José Luis Fiori – Outras Palavras
 
As terras situadas ao sul do Rio Grande constituem
um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos.
E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina
do continente tenham que ser chamadas igualmente de América,
evocando similitudes entre as duas que de fato não existem
 
N. Spykman, “America´s Strategy in World Politics”
 
Tudo indica que os Estados Unidos serão o principal contraponto da política externa brasileira, dentro do Hemisfério Ocidental, durante o século XXI. E quase ninguém tem dúvida, também, de que os EUA seguirão sendo, por muito tempo, a principal potência militar, e uma das principais economias do mundo. Por isto é fundamental compreender as configurações geopolíticas da região, e a estratégia que orienta a política hemisférica norte-americana, deste início de século.
 
Ao norte do continente, o poder americano foi, é, e seguirá sendo incontrastável, garantindo-lhe fronteiras continentais absolutamente seguras. Além disto, a assimetria de poder dentro da América do Norte é de tal ordem que o Canadá e o México tendem a convergir cada vez mais, atraídos pela força gravitacional do poder econômico e militar dos EUA. O que não significa, entretanto, que o Canadá e o México ocupem a mesma posição junto aos EUA e dentro do tabuleiro geopolítico e econômico regional, apesar dos três países participarem do “Tratado Norte-Americano de Livre Comercio” (NAFTA), desde 1993. O Canadá ocupa uma posição única, como ex-colônia e ex-domínio britânico, que depois da sua independência, e da II Guerra Mundial, transferiu-se para a órbita de influencia direta dos EUA, transformando-se em sócio comercial, aliado estratégico e membro do sistema de defesa e informação militar dos povos de “língua inglesa”, comandado pelos EUA, e composto pela Inglaterra, Austrália e a Nova Zelândia. Neste contexto, o México ocupa apenas a posição de enclave militar dos EUA, uma espécie de “primo pobre”, de “fala latina”, ao lado das potências anglo-saxônicas. Mais do que isto, o México é hoje um país dividido e conflagrado por uma verdadeira guerra civil que escapa cada vez mais ao controle do seu governo central, mesmo depois do acordo de colaboração militar assinado com os EUA, em 2010. E mesmo com relação ao NAFTA, a economia mexicana beneficiou-se em alguns poucos setores dominados pelo capital americano, como automobilístico e eletrônico, mas ao mesmo tempo, neste últimos vinte anos, o México foi o único dos grandes países latino-americanos em que a pobreza cresceu, atingindo agora 51,3% da sua população. Hoje a economia mexicana é inseparável da norte-americana, e a política externa do país tem escassíssimos graus de liberdade, atuando quase sempre como ponta de lança da política econômica internacional dos EUA, como no caso explícito da “Aliança do Pacífico”.
 
Do ponto de vista estritamente geográfico, a América do Norte inclui o istmo centro-americano, que Nicholas Spykman coloca ao lado dos países caribenhos, e da Colômbia e Venezuela, dentro de uma mesma zona de influência americana, “onde a supremacia dos EUA não pode ser questionada. Para todos os efeitos trata-se um mar fechado, cujas chaves pertencem aos EUA — o que significa que ficarão sempre numa posição de absoluta dependência dos EUA” (N.S, p: 60). O que explica as 15 bases militares dos EUA existentes na América Central e no Caribe. Foi uma região central na 2º Guerra Fria de Ronald Reagan, e será muito difícil que se altere a posição americana nas próximas décadas, muito além das “dissidências” cubana e venezuelana.
 
Por último, a política externa americana diferencia claramente os países situados ao sul da Colômbia e da Venezuela, onde seu principal objetivo estratégico foi sempre impedir que surgisse um polo alternativo de poder no Cone Sul do continente, capaz de questionar a sua hegemonia hemisférica. Com relação a estes países, os EUA sempre utilizaram a mesma linguagem, com duas tônicas complementares: a dos acordos militares bilaterais, e a das zonas de livre comércio. Os acordos militares começaram a ser assinados no fim do século XIX, e a primeira proposta de uma zona pan-americana de livre-comércio foi apresentada pelo presidente Grover Cleveland, em 1887, um século antes da ALCA — proposta em 1994 e rejeitada em 2005, pelos principais países sul-americanos. Não existe uma relação mecânica entre os fatos, mas chama atenção que pouco depois desta rejeição os EUA tenham reativado sua IV Frota Naval, com objetivo de proteger seus interesses no Atlântico Sul. A este propósito cabe lembrar o diagnóstico e a proposta de Nicholas Spykman (1893-1943), o teórico geopolítico que exerceu maior influência sobre a política externa dos EUA, no século XX: “fora da nossa zona imediata de supremacia norte-americana, os grandes estados da América do Sul (Argentina, Brasil e Chile) podem tentar contrabalançar nosso poder através de uma ação comum [...] e uma ameaça à hegemonia americana nesta região do hemisfério (a região do ABC) terá que ser respondida através da guerra”(N.S p: 62 e 64). Estes são os termos da equação, e a posição norte-americana foi sempre muito clara. O mesmo não se pode dizer da política externa brasileira.
 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

COMO A OBSESSÃO POR SEGURANÇA MUDA A DEMOCRACIA

 


UMA CIDADANIA REDUZIDA A DADOS BIOMÉTRICOS
 
A segurança está entre aquelas palavras com sentidos tão abrangentes que nós nem prestamos mais muita atenção ao que ela significa. Erigido como prioridade política, esse apelo à manutenção da ordem muda constantemente seu pretexto (a subversão política, o terrorismo...), mas nunca seu propósito: governar as populações
 
Giorgio Agamben, em Le Monde Diplomatique (br)
 
A expressão “por razões de segurança” funciona como um argumento de autoridade que, cortando qualquer discussão pela raiz, permite impor perspectivas e medidas inaceitáveis sem ela. É preciso opor-lhe a análise de um conceito de aparência banal, mas que parece ter suplantado qualquer outra noção política: a segurança.
 
Poderíamos pensar que o objetivo das políticas de segurança seja simplesmente prevenir os perigos, os problemas ou mesmo as catástrofes. A genealogia remonta a origem do conceito ao provérbio romano “Salus publica suprema lex” – “A salvação do povo é a lei suprema” – e, assim, a inscreve no paradigma do estado de exceção. Pensemos nosenatus consultum ultimum e na ditadura em Roma;1 no princípio do direito canônico, segundo o qual “necessitas legem non habet” (“necessidade não tem lei”); nos Comitês de Salvação Pública2 durante a Revolução Francesa; ou ainda no artigo 48 da Constituição de Weimar (1919), fundamento jurídico do regime nacional socialista, que igualmente mencionava a “segurança pública”.
 
Embora correta, essa genealogia não permite compreender os dispositivos de segurança contemporâneos. Os procedimentos de exceção visam uma ameaça imediata e real, que deve ser eliminada ao se suspender por um período limitado as garantias da lei; as “razões de segurança” de que falamos hoje constituem, ao contrário, uma técnica de governo normal e permanente.
 
Mais do que no estado de exceção, Michel Foucault3 aconselha procurar a origem da segurança contemporânea no início da economia moderna, em François Quesnay (1694-1774) e nos fisiocratas.4 Se pouco depois do Tratado de Vestfália (1648)5 os grandes Estados absolutistas introduziram em seus discursos a ideia de que a soberania deveria velar pela segurança de seus súditos, foi preciso esperar Quesnay para que a seguridade – ou melhor, a “segurança” – se tornasse o conceito central da doutrina do governo.
 
Seu artigo consagrado aos “Grãos” na Enciclopédia permanece, dois séculos e meio depois, indispensável para compreender o modo de governo atual. Voltaire diz que, desde que esse texto surgiu, os parisienses pararam de discutir teatro e literatura para falar de economia e agricultura... Um dos principais problemas que os governos então precisavam enfrentar era o da escassez de alimento e a fome. Até Quesnay, eles tentavam preveni-los criando celeiros públicos e proibindo a exportação de grãos. Mas essas medidas preventivas tinham efeitos negativos sobre a produção. A ideia de Quesnay foi inverter o procedimento: em vez de tentar prevenir a fome, era preciso deixá-la acontecer e, pela liberação do comércio exterior e interior, governá-la quando ocorresse. “Governar” retoma aqui seu sentido etimológico: um bom piloto – aquele que detém o governo – não pode evitar a tempestade, mas, se ela ocorre, ele deve ser capaz de dirigir seu barco.
 
É nesse sentido que devemos compreender a expressão atribuída a Quesnay, mas que, na verdade, ele nunca escreveu: “Laisser faire, laisser passer”. Longe de ser apenas a divisa do liberalismo econômico, ela designa um paradigma de governo que situa a segurança – Quesnay evoca a “segurança dos agricultores e trabalhadores” – não na prevenção dos problemas e desastres, mas na capacidade de canalizá-los numa direção útil.
 
É preciso considerar a implicação filosófica dessa inversão que perturba a relação hierárquica tradicional entre as causas e os efeitos: pois é vão, ou de qualquer modo custoso, governar as causas, é mais útil e mais seguro governar os efeitos. A importância desse axioma não é negligenciável: ele rege nossas sociedades, da economia à ecologia, da política externa e militar às medidas internas de segurança e de polícia. É ele também que permite compreender a convergência antes misteriosa entre um liberalismo absoluto na economia e um controle de segurança sem precedentes.
 
Tomemos dois exemplos para ilustrar essa aparente contradição. Primeiro, o da água potável. Ainda que se saiba que esta vai logo faltar numa grande parte do planeta, nenhum país segue uma política séria para evitar seu desperdício. Ao contrário, vê-se se desenvolverem e se multiplicarem, nos quatro cantos do globo, as técnicas e usinas para o tratamento de águas poluídas – um mercado considerável no futuro.
 
Segundo exemplo. Consideremos no presente os dispositivos biométricos, que são um dos aspectos mais inquietantes das tecnologias de segurança atuais. A biometria surgiu na França na segunda metade do século XIX. O criminologista Alphonse Bertillon (1853-1914) se apoiaria na fotografia signalética e nas medidas antropométricas para constituir seu “retrato falado”, que utiliza um léxico padronizado para descrever os indivíduos numa ficha com seus sinais. Pouco depois, na Inglaterra, um primo de Charles Darwin e grande admirador de Bertillon, Francis Galton (1822-1911), desenvolveu a técnica das impressões digitais. Esses dispositivos, evidentemente, não permitem prevenir os crimes, mas perseguir criminosos reincidentes. Encontramos aqui ainda a concepção de segurança dos fisiocratas: é apenas com o crime cometido que o Estado pode intervir com eficácia.
 
Pensadas para os delinquentes recidivos e os estrangeiros, as técnicas antropométricas permaneceram por muito tempo privilégio exclusivo deles. Em 1943, o Congresso dos Estados Unidos recusou o Citizen Identification Act (Ato de Identificação do Cidadão), que visava dotar todos os cidadãos de carteiras de identidade com suas impressões digitais. Foi apenas na segunda metade do século XX que elas se generalizaram. Mas a última novidade aconteceu há pouco tempo. Os scanners ópticos, que permitem revelar rapidamente as impressões digitais e também a estrutura da íris, fizeram os dispositivos biométricos sair das delegacias de polícia para ancorar na vida cotidiana. Em certos países, a entrada nas cantinas escolares é controlada por um dispositivo de leitura óptica sobre o qual a criança pousa a mão distraidamente.
 
Leis mais severas que no fascismo
 
Preocupações se acumulam sobre os perigos de um controle absoluto e sem limites por parte de um poder que disporia de dados biométricos e genéticos de seus cidadãos. Com essas ferramentas, o extermínio dos judeus (ou qualquer outro genocídio imaginável), baseado numa documentação incomparavelmente mais eficaz, teria sido total e extremamente rápido. Em matéria de segurança, a legislação hoje em vigor nos países europeus é, em certos aspectos, sensivelmente mais severa do que a dos Estados fascistas do século XX. Na Itália, um texto único das leis sobre segurança pública (Testo Unico delle Leggi di Pubblica Sicurezza, Tulsp) adotado em 1926 pelo regime de Benito Mussolini está, no essencial, ainda em vigor; mas as leis contra o terrorismo votadas durante os “anos de chumbo” (de 1968 ao início dos anos 1980) restringiram sensivelmente as garantias nele contidas. Como a legislação francesa contra o terrorismo é ainda mais rigorosa que sua homóloga italiana, o resultado de uma comparação com a legislação fascista não seria muito diferente.
 
A crescente multiplicação de dispositivos de segurança testemunha uma mudança na conceituação política, a ponto de podermos legitimamente nos perguntar não apenas se as sociedades em que vivemos ainda podem ser qualificadas de democráticas, mas também e acima de tudo se elas ainda podem ser consideradas sociedades políticas.
 
No século V a.C., como demonstrou o historiador Christian Meier, uma transformação do modo de conceber a política já tinha se produzido na Grécia, por meio da politização (Politisierung)da cidadania. Uma vez que o pertencimento à cidade (a polis) era até então definido pelo estatuto e pela condição – nobres e membros das comunidades culturais, agricultores e comerciantes, senhores e clientes etc. –, o exercício da cidadania política se tornou um critério da identidade social. “Cria-se assim uma identidade política especificamente grega, na qual a ideia de que os indivíduos devem se conduzir como cidadãos encontra uma forma institucional”, escreve Meier. “O pertencimento a grupos constituídos com base nas comunidades econômicas ou religiosas foi relegado a segundo plano. À medida que os cidadãos de uma democracia se dedicavam à vida política, eles compreendiam a si mesmos como membros da polis. Polis epoliteia, cidadee cidadania, se definem reciprocamente. A cidadania se torna assim uma atividade de uma forma de vida para aqueles para quem a polis, a cidade, constituía um domínio claramente distinto de oikos, a casa. A política se tornou um espaço público livre, oposto enquanto tal ao espaço privado onde reinava a necessidade.”6 Segundo Meier, esse processo de politização especificamente grego foi transmitido como herança à política ocidental, na qual a cidadania permaneceu – com altos e baixos, certamente – o fator decisivo.
 
É precisamente esse fator que hoje está se revertendo de modo progressivo: trata-se de um processo de despolitização. Antes limiar da politização ativa e irredutível, a cidadania se tornou uma condição puramente passiva, em que a ação ou a inação, o público e o privado se desvanecem e se confundem. O que se concretizava por uma atividade cotidiana e uma forma de vida se limita hoje a um estatuto jurídico e ao exercício de um direito de voto cada vez mais parecido com uma pesquisa de opinião.
 
“Todo cidadão é um terrorista potencial”
 
Os dispositivos de segurança têm desempenhado um papel decisivo nesse processo. A extensão progressiva a todos os cidadãos das técnicas de identificação outrora reservadas aos criminosos inevitavelmente afeta a identidade política. Pela primeira vez na história da humanidade, a identidade não é mais função da “pessoa” social e de seu reconhecimento, do “nome” e da “nominação”, mas de dados biológicos que não podem manter nenhuma relação com o sujeito, como os rabiscos sem sentido que meu polegar molhado de tinta deixou sobre a folha de papel ou a inscrição de seus genes na dupla hélice do DNA. O fato mais neutro e mais privado se torna assim o veículo de identidade social, removendo seu caráter público.
 
Se critérios biológicos, que em nada dependem da minha vontade, determinam minha identidade, então a construção de uma identidade política se torna problemática. Que tipo de relação eu posso estabelecer com minhas impressões digitais ou com meu código genético? O espaço da ética e da política que estamos acostumados a conceber perde seu sentido e exige ser repensado a partir do zero. Enquanto a cidadania grega se definia pela oposição entre o privado e o público, a casa (sede da vida reprodutiva) e a cidade (lugar do político), a cidadania moderna parece evoluir numa zona de indiferenciação entre o público e o privado, ou, para tomar emprestadas as palavras de Thomas Hobbes, entre o corpo físico e o corpo político.
 
Essa indiferenciação se materializa na videovigilância das ruas em nossas cidades. Tal dispositivo conheceu o mesmo destino que o das impressões digitais: concebido para prisões, ele tem sido progressivamente estendido para os lugares públicos. Um espaço videovigiado não é mais uma ágora, não tem mais nenhuma característica pública; é uma zona cinzenta entre o público e o privado, a prisão e o fórum. Tal transformação tem uma multiplicidade de causas, entre as quais o desvio do poder moderno em relação à biopolítica ocupa lugar especial: trata-se de governar a vida biológica dos indivíduos (saúde, fecundidade, sexualidade etc.), e não mais apenas exercer uma soberania sobre o território. Esse deslocamento da noção de vida biológica para o centro da vida política explica o primado da identidade física sobre a identidade política.
 
Mas não podemos esquecer que o alinhamento da identidade social com a corporal começou com a preocupação de identificar os criminosos recidivos e os indivíduos perigosos. Portanto, não é surpreendente que os cidadãos, tratados como criminosos, acabem por aceitar como evidente que a relação normal entre o Estado e eles seja a suspeita, o fichamento e o controle. O axioma tácito, que é preciso aqui arriscar a anunciar é: “Todo cidadão – enquanto ser vivente – é um terrorista potencial”. Mas o que é um Estado, o que é uma sociedade regida por tal axioma? Podem ainda ser definidos como democráticos ou mesmo como políticos?
 
Em seus cursos no Collège de France e também em seu livro Vigiar e punir,7 Foucault esboça uma classificação tipológica dos Estados modernos. O filósofo mostra como o Estado do Antigo Regime, definido como um Estado territorial ou de soberania, cuja divisa era “fazer morrer e deixar viver”, evoluiu progressivamente para um Estado de população em que a população demográfica substitui o povo político e para um Estado de disciplina, cuja divisa se inverte em “fazer viver e deixar morrer”: um Estado que se ocupa da vida dos sujeitos para produzir corpos sãos, dóceis e disciplinados.
 
O Estado em que vivemos hoje na Europa não é um Estado de disciplina, mas – segundo a expressão de Gilles Deleuze – um “Estado de controle”: ele não tem por objetivo ordenar e disciplinar, mas gerir e controlar. Depois da violenta repressão das manifestações contra o G8 de Gênova, em julho de 2001, um funcionário da polícia italiana declarou que o governo não queria que a polícia mantivesse a ordem, mas gerasse a desordem. Por sua vez, os intelectuais norte-americanos que tentaram refletir sobre as mudanças constitucionais induzidas pelo Patriot Act (Lei Patriótica) e a legislação pós-11 de Setembro8 preferem falar de “Estado de segurança” (security State). Mas o que quer dizer “segurança” aqui?
 
Durante a Revolução Francesa, essa noção estava implicada com aquela de polícia. A lei de 16 de março de 1791 e depois a de 11 de agosto de 1792 introduziram na legislação francesa a ideia, que teria uma longa história na modernidade, de “polícia de segurança”. Nos debates precedentes à adoção dessas leis, parecia claro que polícia e segurança se definiam reciprocamente; mas os oradores – entre os quais Armand Gensonné, Marie-Jean Hérault de Séchelles, Jacques Pierre Brissot – não foram capazes de definir nem uma coisa nem outra. As discussões se mantiveram essencialmente nas relações entre a polícia e a justiça. Segundo Gensonné, trata-se de “dois poderes perfeitamente distintos e separados”; e, portanto, enquanto o papel do Poder Judiciário é nítido, o da polícia parece impossível de definir.
 
A análise do discurso dos deputados mostra que o lugar da polícia é impossível de ser decidido, e deve continuar assim, pois se estivesse inteiramente absorvida pela justiça a polícia não poderia mais existir. É a famosa “margem de apreciação” que ainda hoje caracteriza a atividade do agente de polícia: em relação à situação concreta que ameaça a segurança pública, ele age com soberania. Fazendo assim, não decide nem prepara – como se diz erroneamente – a decisão do juiz: toda decisão implica causas e a polícia intervém sobre os efeitos, isto é, sobre algo que não pode ser decidido.
 
Esse não decidido não se chama mais, como no século XVII, de “razão de Estado”, mas de “razões de segurança”. O security State é, portanto, um Estado de polícia, mesmo que a definição de polícia constitua um buraco negro na doutrina do direito público: quando no século XVIII surgiu na França o Traité de la police, de Nicolas de La Mare, e na Alemanha a Gesamte Policey-Wissenschaft, de Johann Heinrich Gottlob von Justi, a polícia foi reduzida à sua etimologia de politeia e tende a designar a política verdadeira, indicando o termo “política” nessa época apenas a política externa. Von Justi nomeia assim Politik a relação de um Estado com os outros e Polizei a relação de um Estado consigo mesmo: “A polícia é a relação de força de um Estado consigo mesmo”.
 
Ao se colocar sob o signo da segurança, o Estado moderno deixa o domínio da política para entrar numa no man’s land em que mal se percebem a geografia e as fronteiras e para a qual nos falta conceituação. Esse Estado, cujo nome remete etimologicamente a uma ausência de preocupação (securus: sine cura), nos deixa ainda mais preocupados com os perigos a que ele expõe a democracia, já que a via política se tornou impossível; pois democracia e vida política são – ao menos em nossa tradição – sinônimos.
 
Diante de tal Estado, é preciso repensar as estratégias tradicionais de conflito político. No paradigma securitário, todo conflito e toda tentativa mais ou menos violenta de reverter o poder oferecem ao Estado a oportunidade de administrar os efeitos em interesse próprio. É isso que mostra a dialética que associa diretamente terrorismo e reação do Estado numa espiral viciosa. A tradição política da modernidade pensou nas transformações políticas radicais sob a forma de uma revolução que age como o poder constituinte de uma nova ordem constituída. É preciso abandonar esse modelo para pensar mais numa potência puramente destituinte, que não fosse captada pelo dispositivo de segurança e precipitada na espiral viciosa da violência. Se quisermos interromper o desvio antidemocrático do Estado securitário, o problema das formas e dos meios de tal potência destituinte constitui a questão política essencial que nos fará pensar durante os próximos anos. 
 
*Giorgio Agamben é Filósofo
 
Ilustração: Laura Teixeira
 
Notas
1  Em casos graves, a República romana previa a possibilidade de confiar, de modo excepcional, plenos poderes a um magistrado (o ditador).
2  Comitês que deviam proteger a República contra os perigos de invasão e da guerra civil.
3  Michel Foucault, Sécurité, territoire, population. Cours au Collège de France (1977-1978)[Segurança, território e população. Curso no Collège de France (1977-1978)], Gallimard/Seuil, Paris, 2004.
4  A fisiografia baseia o desenvolvimento econômico na agricultura e defende a liberdade do comércio e da indústria.
5  O Tratado de Vestfália encerrou a Guerra dos Trinta Anos opondo o campo dos Habsburgos, apoiados pela Igreja Católica, e os Estados alemães protestantes do Sacro Império. Ele inaugura uma ordem europeia fundada nos Estados-nação.
6  Christian Meier, “Der Wandel der politisch-sozialen Begriffswelt im V Jahrhundert v.Chr.”. In: Reinhart Koselleck (org.), Historische Semantik und Begriffsgeschichte, Klett-Cotta, Stuttgart, 1979.
7  Michel Foucault, Surveiller et punir [Vigiar e punir], Gallimard, Paris, 1975.
8  Ler Chase Madar, “Recrudescimento do aparato de segurança norte-americano”, Le Monde Diplomatique Brasil, out. 2012.
 

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