sábado, 18 de janeiro de 2014

Moçambique: E OS BROS. SE “DESCONVERGEM”

 

Eugénio Costa Almeida* - Pululu
 
Até Outubro do ano passado, os moçambicanos com maior ou menor corrupio mantinham uma estabilidade social e política interessante.
 
Havia aqui ou ali alguns contratempos, algumas vozes mais críticas, alguns sectores sociais mais recalcitrantes e reivindicativos mas, no todo, tudo se processava com a normal intensidade de quem vive de e para o seu país e para o desenvolvimento de Moçambique.
 
É certo que a dada altura o líder do maior partido da Oposição, Afonso Dhlakama decidiu voltar para as suas antigas bases na Gorongosa, denunciando alguma inflexibilidade política do poder em Maputo e contestando as linhas mestras das políticas eleitorais moçambicanas.
 
Na prática, mais não era que Dhlakama estar a passar umas férias no mato junto dos seus companheiros e apoiantes; ou seja, tudo normal.
 
Isto, até Outubro de 201 quando as forças militarizadas de Moçambique estatuíram o final desse período de ócio; para estas a forma como Dhlakama se movimentava nas terras da Gorongosa ultrapassavam meros encontros políticos como, tão-só, havia uma tentativa de restaurar a sua influência político-militar na região o que, na concepção das autoridades em Maputo dever-se-ia pôr fim a essas movimentações e restaurar, segundo estas, a soberania completa do país.
 
Para isso, as forças militarizadas de Moçambique invadiram e ocuparam o campo de Sathundjira onde se sedeava o líder da perdiz.
 
Ora, naturalmente, estas movimentações político-militares desencadearam retaliações e contra-retaliações de ambas as partes com naturais prejuízos para a vida social e económica dos moçambicanos.
 
As críticas vozes que se têm levantado aliadas às que defendem um compromisso imediato entre as duas partes litigantes – acresce que se uma está bem armada, as forças de Defesa de Moçambique, já as da Renamo nem por isso são supostas estarem – exigem que os líderes políticos, no caso o Presidente de Moçambique, senhor Armando Guebuza, e o da Renamo, senhor Afonso Dhlakama se juntem e conversem frente-a-frente como duas pessoas e dois políticos inteligentes e práticos e coloquem os interesses nacionais acima dos seus interesses pessoais.
 
Só que a realidade, ou a falta de bons interlocutores e bens assessores têm impedido esse desiderato; e Moçambique continua desde Outubro passado, ou seja, há quase 4 meses em estado de pré-conflito latente com os naturais e incomportáveis custos para a economia e estabilidade social e política.
 
É certo que apesar do boicote da Renamo e das dúvidas antecedentes e posteriores ocorreram as eleições autárquicas com a presença não só da Frelimo, o partido maioritário e do poder, como do MDM e de outras forças políticas que passaram a ocupar cargos autárquicos em quase todo o país.
 
Foi, reconhece-se, um revés político forte para a Renamo e para o se líder.
 
Todavia, sabe-se que ambas as partes e as forças sociais do país procuram que os dois líderes se reúnam e discutam. Só que também aqui as divergências são demais mas não creio que sejam insanáveis e inexequíveis.
 
Enquanto Guebuza e a Frelimo desejam que o encontro seja entre as duas partes e debatido no seio dos dois grupos com o acompanhamento externo das forças sociais moçambicanas, ou seja, uma conversa entre dois irmãos que se desconvergem, Dhlakama e o partido da perdiz, bem como os seus assessores, querem que as conversações sejam conduzidas por personalidades exógenas, internacionais.
 
Compreende-se ambas as partes, principalmente as desconfianças de Dhlakama no que são acompanhadas, não poucas vezes, por personalidades moçambicanas de outros quadrantes políticos; mas é preciso ter em linha de conta que a actual situação política e social de Moçambique não é a mesma de quando as duas partes assinaram o acordo de Paz de 1992 assinado em Roma, mediado pela Igreja Católica, pelos clérigos de Santo Egídio.
 
Guebuza quer que as conversações sejam similares às que conduziram a Paz em Angola. Conversas directas entre os dois opositores, frente-a-frente e sem intermediários. Dhlakama, como se sabe não aceita.
 
Só que as conversações que levaram à paz em Angola e à assinatura do Memorando de 4 de Abril de 2002, apesar de ter sido uma conversa intra-pares e entre irmãos, não deixou de ser uma conversa entre um vencedor e um acabrunhado movimento rebelde com a natural imposição dos termos de Paz serem tributados pela parte mais forte.
 
Já no caso de Moçambique essa situação não se põe pelo que é aceitável que, levando em conta as desconfianças e o facto de ambos estarem em quase pé de igualdade, haja uma entidade conciliadora a mediar as duas partes.
 
Se ambos estiveram em Santo Egídio e ambos lhe reconhecem credibilidade, porque não voltam a chamar os padres de Santo Egídio e também clérigos islâmicos, já que o Moçambique faz parte da Conferência Islâmica, para mediar o conflito?
 
Por vezes é mais fácil e pertinente usar o que se conhece e “já se provou” do que tentar obter e fomentar novos ingredientes em “manjares” complexos e muito condimentados…
 
Moçambique não pode esquecer que a África Austral já tem problemas que cheguem, e alguns bem graves, casos de Madagáscar e do Zimbabué, para lhe acrescentar outro, claramente obtuso e imponderado, onde tudo mais parece que um amuo entre Bros. com evidentes e incomportáveis reflexos para os seus concidadãos.
 
Por vezes apetece expressar, “parem um pouco e pensem!” Não desconvirjam!
 
©Artigo de Opinião publicado no semanário angolano Novo Jornal, secção “1º Caderno” ed. 312 de 17-Janeiro-2014, pág. 22)
 
*Eugénio Costa Almeida* – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.
 

2 comentários:

Anónimo disse...

NAO E POSSIVEL QUE UM DIABO DESTA IDADE PASSA O SEU TEMPO A TROMENTAR A POPULACAO COM A GUERRA SEM NOME A GUERRA SE FAZ NA ASSEMBLEIA NACIONAL COM VOTOS DOS DEPUTADOS PORQUE ESTES SAO ELEITOS POR ESTA RAZAO. ABAIXO O DITADOR

Anónimo disse...

AS FORCAS ARMADA MOCAMBICANAS AINDA ESTAO A BRINCAR COM ESTE CHEFE DE B... ENQUANTO OS INOCENTES MORREM TODOS OS DIAS.

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