Portugal ainda é um
símbolo de acesso ao mar nalgumas comunidades piscatórias da ilha das Flores,
Indonésia, com portos ancestrais construídos por portugueses e outros agora
reconstruídos com o apoio da cooperação internacional de Lisboa.
Em 2007, "o
apoio português para construir o cais ajudou-os muito. Antes, só podíamos ir
diretamente para o mar a partir da praia e era muito difícil”, diz Paulus
Kedang, cujo barco transporta diariamente “entre 100 a 250” pessoas.
Em Larantuca, o
Estado português financiou, em 2007, à recuperação dos equipamentos portuários,
atingidos nalguns casos pelo maremoto de 2004, um símbolo positivo da
cooperação portuguesa que deverá ser agora de novo discutido pelas autoridades
dos dois países no encontro de segunda-feira entre os ministros do Negócios
Estrangeiros, Rui Machete e Marty Natalegawa.
Na regência das
Flores Oriental, foram gastos 235 mil euros na construção do cais em Tanah
Merah, na ilha de Adonara, inaugurado em 2009, e na extensão do cais existente
em Lohayong, na ilha de Solor, uma obra finalizada em 2010.
No leste da ilha,
na província de Sica, as obras em dois cais (Sica e Waturia) são menos
consensuais, devido à sua má conceção e falta de qualidade.
Na aldeia de Sica,
cujo turismo assenta sobretudo na herança portuguesa ali deixada, em especial
pelos missionários católicos, são visíveis vários barcos estacionados junto à
praia, ao lado dos destroços daquilo que foi o cais inaugurado em 2008.
O cais nunca teve
utilidade, porque “antes de o utilizarem, já estava partido”, refere Gregorius
Tamela Carvallo, habitante da aldeia de Sica, onde cerca de metade da população
vive da pesca tradicional.
“Depois de o
construírem, tornou-se numa área perigosa, porque fizeram-no muito perto” da
costa, disse o aldeão que lamenta a opção do antigo Instituto Português de
Apoio ao Desenvolvimento (atual Instituto Camões) de dar o apoio às autoridades
locais em vez de implantar o projeto através de uma ONG.
“Eles apoiaram o
governo local a nível económico, mas estes mudaram o dinheiro para a mão deles,
porque é melhor proteger as suas casas do que fazer a obra” em condições,
acusa, por sua vez, Daeng Colli, que vende peixe junto à estrada principal de
Waturia.
Rudy Salam,
pescador e líder da comunidade de Waturia, recorda uma reunião onde foi
decidido que o cais deveria ficar a 200 metros da praia e lamenta que no final
o mesmo tenho sido construído a apenas 36 metros, o que faz com que as ondas
sejam maiores e dificulte a chegada dos barcos.
A força das ondas
ao chocar com o cais provocou não só a destruição de parte da obra, inaugurada
em 2010, mas também danos em cinco casas.
Por isso,
entretanto, a comunidade decidiu destinar fundos para comprar barcos de pesca
que recebeu do governo indonésio para construir uma barreira de pedras que
facilita a atracagem dos barcos e protege as casas.
O regente de Sica,
Yoseph Ansar Rera, que representa o poder central, também reconhece que “as
condições não são boas” e promete reconstruir o cais, embora sem avançar uma
data para tal.
Mas em Larantuca, a
satisfação é evidente. O barco de Paulus Kedang viaja da aldeia de Palo, em
Larantuca, até a Tanah Merah “mais de sete vezes” por dia, sendo que antes da
construção do cais apenas fazia duas a três viagens diárias devido às
dificuldades de acostagem.
Para Nurdin Syukur,
proprietário de um barco com dois andares que faz a viagem entre o porto de
Larantuca e o cais de Lohayong, na ilha de Solor, transportando cerca de 100
pessoas em duas viagens diárias, a extensão do cais foi positiva, “porque antes
era muito difícil para as pessoas entrarem no barco”.
“O cais realmente
ajudou muito o povo local”, disse à Lusa o líder da aldeia muçulmana de
Loyahong, Abdullah Imran. O projeto trouxe ainda melhorias no “setor
económico”, dado que várias “atividades diárias começam no cais”.
No entanto, o
responsável da aldeia lamenta que o cais não tenha mais um metro de altura dado
que o nível do mar por vezes dificulta a entrada e a saída dos passageiros.
O regente das
Flores Oriental, Joseph Lagadoni Herin, mostra-se grato pelo investimento feito
por Portugal, que foi “muito importante para a população local” e inspirou a
regência a construir obras do género.
AYN // PJA – Lusa
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