segunda-feira, 31 de março de 2014

Portugal: Movimento tenta oferecer "bilhete de avião" a Passos para ele emigrar




Se a emigração tem sido a única alternativa para um crescente número de portugueses, "para bem do país", o primeiro-ministro deve seguir-lhes o exemplo.

Um grupo de populares que apoiam o Movimento Irrevogável tentaram oferecer um bilhete de avião ao primeiro-ministro. A tentativa deu-se nos portões de entrada no centro de congressos do Europarque, na Feira, antes da apresentação da rede internacional de negócios BizFeira.

O líder do movimento explicou à agência Lusa que, embora o bilhete de avião seja apenas simbólico, expressa "a vontade real de que Pedro Passos Coelho faça aquilo a que vem obrigando os portugueses e também emigre". 

O primeiro-ministro usou uma entrada secundária e evitou assim receber o bilhete simulado sem destino de voo específico, mas o líder do movimento, Victor Pinto, declara que a oferta mantém-se: "O primeiro-ministro pode escolher o destino que quiser, desde que seja o mais distante possível de Portugal". 

As razões para que o Movimento Irrevogável pretenda esse afastamento "devem-se ao facto de que este Governo ainda não apreendeu o significado da palavra 'irrevogável' e continuar sem perceber que todas as suas acções são contraproducentes". 

Para Victor Pinto, são disso exemplificativos os dados "absolutamente isentos" do Instituto Nacional de Estatística (INE), que recentemente demonstrou que "25,5% dos portugueses viveram em 2013 com privações materiais, o que representa mais 3,7% em relação aos valores de 2012". 

O Movimento Irrevogável defende, por isso, que "a realidade do país está em total desacordo com qualquer tipo de milagre económico como o que o Governo está sempre a apresentar". 

Outra referência estatística que, para esse responsável, demonstra que "não se pode confiar minimamente neste Governo" é o agravar da própria dívida púbica portuguesa, que "em 2009 era de 126 mil milhões de euros e em Fevereiro deste ano já vai em mais de 212 mil milhões". 

Se a emigração tem sido a única alternativa para um crescente número de portugueses, Victor Pinto afirma que, "para bem do país", o primeiro-ministro deve seguir-lhes o exemplo. 

"Aqui ele já demonstrou que só sabe empobrecer toda a gente", explica. "Mais vale ir para fora, para não nos deixar pior do que já estamos", conclui. 

O Movimento Irrevogável nasceu em Aveiro na sequência da demissão que Paulo Portas anunciou como "irrevogável" e após a qual foi nomeado vice-primeiro-ministro de Portugal.

Rádio Renascença

Brasil: SOMOS EDUCADOS PARA O ANALFABETISMO ECONÔMICO




Somos treinados a concordar com coisas que não fazem sentido. Por exemplo, pagamos um Mineirão dia, em juros da dívida, e achamos que a Copa é o problema.

Antonio Lassance – Carta Maior

Os barões ladrões que rebaixam o Brasil

A agência Standard & Poors, uma das que fazem classificação de risco de países e empresas, alterou a nota do Brasil para pior: de BBB para BBB-.

E se alguém acha que esse é um debate econômico, está redondamente enganado. A economia continua sendo um assunto importante demais para ficar restrito aos economistas.

A elevação ou o rebaixamento da nota de um país são entendidas, mundo afora, como um sinal do quanto um país é rentável e confiável.

Confiável segundo agências de classificação especializadas em dizer aos grandes financistas internacionais onde investir seu dinheiro para obter maiores lucros, com a garantia de que não tomarão um calote.

A Standard & Poors foi criada no século XIX, nos Estados Unidos, por Henry Varnum Poor, em plena época dos chamados barões ladrões.

Os grandes investidores que Henry Poor avaliava e recomendava ganhavam dinheiro com ferrovias,  siderúrgicas e empresas de petróleo.

Uma parte significativa dos lucros desses magnatas vinha da apropriação de terras e outros ativos públicos e da arte de usar e roubar o dinheiro de pequenos investidores desavisados, que depositavam suas economias no nascente mercado de ações.

Esses barões ladrões do século XIX não eram tão diferentes dos mais recentes, que causaram a grande crise financeira de 2008 e 2009. Todos bem recomendados pela Standard & Poors.

A avaliação de risco do Brasil basicamente expressa o quanto o país continua sendo um dos paraísos mundiais do rentismo, a mágica de ganhar dinheiro com o trabalho dos outros. Quanto mais a política econômica de um país é ditada pelos interesses dos rentistas, melhor a nota.

Para não ser rebaixado pelas agências, um país precisa rebaixar sua política econômica. Tem que seguir uma receita orientada pelo objetivo de fazer crescer o volume de dinheiro movimentado pelas finanças, e não o de fazer crescer o país.

E ainda tem gente que acha que nosso grande problema é a Copa

Se o Brasil sofreu o rebaixamento de um único pontinho, “o que eu tenho a ver com isso?”, pode e deve perguntar o cidadão. Como diria o velho Brecht, tem a ver com o custo de vida, o preço do feijão, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio. Não deveria ter, mas tem.

Para dizer a verdade, esse rebaixamento tem a ver até com a Copa do Mundo de futebol, pois, enquanto tem gente preocupada, com razão, com o custo dos estádios, esqueceram-se do principal.

Para se ter uma ideia: o País vai gastar cerca de 8 bilhões em estádios. É, de fato, muito dinheiro. Mas o analfabetismo econômico ajuda todo mundo a se esquecer de fazer a conta que importa.

O Brasil gastou, em 2013, R$ 248 bilhões com o pagamento de juros, segundo o Banco Central. Pois bem, dividindo esse valor pelos 365 dias do ano, pagamos mais de R$ 679 milhões por dia.

Vamos comparar com a copa? Dá quase para construir um estádio do Mineirão por dia. Aliás, registre-se que o Mineirão só tem R$11 milhões de dinheiro público envolvido em seu financiamento. O restante será pago pela iniciativa privada. Dois dias de juros da dívida pagam mais de um Maracanã.

E ainda tem gente que acha que a copa é o absurdo dos absurdos do gasto em dinheiro público. É a prova cabal do quanto perdemos a noção das coisas.

Perdemos a noção de grandeza e a de proporção. Com isso, perdemos também o senso crítico em relação a esse buraco negro de nossas finanças públicas. Depois, perdemos o foco das prioridades.

Finalmente, erramos o alvo das manifestações. Tem gente malhando o Judas (a Copa, a Fifa) fingindo que está enfrentando o Império Romano. Se não for piada, é teatro.

Quem sabe, um dia, alguém se lembre de escrever a frase em um cartaz: “Cada 1% de aumento na taxa de juros custa R$20 bilhões aos brasileiros”. É uma mensagem mais consistente e valiosa do que “Não é só pelos 20 centavos”.

Vinte bilhões são duas vezes e meia, por ano, o que iremos investir em estádios, que serão pagos em 15 anos em empréstimos ao BNDES – ou seja, dinheiro que voltará aos cofres públicos.

O rebaixamento do debate econômico nos fez perder a noção das coisas

O verdadeiro rebaixamento que o país sofre não é de hoje e não é só o da Standard & Poors. O mais prejudicial de todos é o rebaixamento do debate sobre os rumos da economia do país.

O Brasil continua sendo um carro em que os mecânicos  do mercado puxam o freio de mão e culpam o motorista pela dificuldade de acelerar o crescimento, melhorar a infraestrutura e a qualidade do serviço público.

A primeira mudança para uma tomada de consciência é superar a visão de que os juros são um problema só da macroeconomia e que sua conta é paga pelo governo. Não é.

O governo é apenas quem assina o cheque. Quando falamos “o Brasil”, muita gente ainda acha que estamos falando do governo. Perdemos, talvez na ditadura, e ainda não recuperamos a noção de que o Brasil são os brasileiros.

Quem confunde isso com nacionalismo barato e governismo acaba por reproduzir, às avessas, a velha maneira de pensar ensinada pela própria ditadura. Puro analfabetismo cívico.

Quem paga a conta cara dos juros altos são todos os que pagam impostos, principalmente os mais pobres, que, proporcionalmente, pagam mais impostos.

A luta para inverter prioridades precisa convencer milhões de brasileiros de que é preciso virar as finanças públicas de cabeça para baixo.

Hoje, a principal função do Estado brasileiro é pagar juros, os maiores do planeta. O Brasil é um dos três países que mais comprometem recursos públicos com o pagamento de juros, em proporção do PIB, conforme diz até o Fundo Monetário Internacional.

A educação, a saúde, a segurança pública e os investimentos em infraestrutura são pagos com o troco do que sobra do pagamento de juros.

Somos educados para o analfabetismo econômico

O problema que temos em mãos lembra o alerta feito por um professor de Matemática, com cara de cientista maluco, chamado John Allen Paulos, em seu livro “O analfabetismo em Matemática e suas consequências" (publicado originalmente em 1988).

O divertido livro de Paulos relembra casos famosos que denunciam a falta nem tanto de habilidade, mas de uso prático e corriqueiro até das operações matemáticas mais simples.

A principal denúncia de Paulos é ao quanto nos desacostumamos da operação mais essencial de todas, não exclusiva da Matémática: pensar sobre os problemas e raciocinar logicamente sobre eles.

Paulos nos avisa que isso é um perigo. Corremos riscos diários com essa nossa preguiça de pensar logicamente sobre os problemas e com a nossa incapacidade de extrair resultados práticos e numéricos dessas operações.

O que acho mais curioso nesse livro, e muito similar ao que acontece em nosso debate econômico, é que esse tipo de analfabetismo é ensinado diariamente.

É como se fôssemos educados para o analfabetismo. Somos treinados a esquecer a lógica dos argumentos e a concordar com coisas que não fazem o menor sentido.

Paulos usa, dentre tantos exemplos, o livro “Viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift (1667-1745). O matemático nos mostra como o autor de Gulliver, ao descrever um gigante em uma terra de pequeninos (Lilliput), lascou o livro de grandezas absurdas, que não fazem o menor sentido.

As histórias de Gulliver são de 1726. Para não parecer tão distante, Paulos escreveu, em 1995, “Como um Matemático lê os Jornais”, publicado no Brasil como “As Notícias e a Matemática” ou “Como um Matemático lê jornal”.

Acertou na mosca. A imprensa é useira e vezeira em nos deseducar a usar não só os números, mas a lógica. É assim também com as notícias cujo título é contraditado pelas próprias matérias, armadilha comum aos que leem jornal com o espírito crítico repimpado e babando no sofá.

Terrorismo fiscal, um atentado ao raciocínio lógico

A notícia sobre o rebaixamento da nota do Brasil foi uma farra nesse sentido de propagar o analfabetismo econômico.

A conclusão enfiada goela abaixo é a de que o País precisa aumentar seu rigor fiscal e seu controle sobre a inflação.

Ou seja, o Brasil precisaria urgentemente cortar gastos e continuar elevando sua taxa de juros. Como assim, se o nosso principal gasto extraordinário é com juros? Não faz sentido, faz? Depende pra quem.

A ideia brilhante para atender às agências de risco é cortar o que o governo faz para pagar mais juros. Faz todo o sentido – para o financismo, não para a maioria dos brasileiros.

Mal começou o ano, os problemas sazonais dos preços dos alimentos, que impactam também os alugueis, são traduzidos na conclusão disparatada e tão absurda quanto os números das “Viagens de Gulliver”.

A lógica é a seguinte: se choveu muito, ou se choveu pouco, a inflação de alimentos elevou-se. Solução: aumentem os juros. Elevando-se os juros, as pessoas vão comer menos alimentos e os agricultores assim plantarão mais alimentos. Com juros mais altos, choverá a quantidade certa, no lugar certo. Entendeu? Nem eu.

O preço do tomate disparou, então o remédio é aumentar os juros. A pessoa irá desistir de levar tomates quando pensar que a taxa Selic está mais alta. Quando a taxa Selic alcança dois dígitos, as pessoas trocam a macarronada a bolonhesa por lasanha ao molho  branco.

Os alugueis subiram, então os juros precisam aumentar, pois, em Lilliput, a terra de quem pensa pequeno, quando os juros sobem, ao contrário do que ocorre em qualquer lugar do mundo, mais imóveis são construídos e os alugueis baixam.

Engraçado, pensávamos que seria o contrário; que, com juros mais baixos, mais pessoas poderiam comprar seus próprios imóveis e se livrar dos alugueis. Aumentaria a própria oferta de imóveis e os aluguéis cairiam. Difícil entender os lilliputianos.

Essa falta de parâmetros e de noção do debate econômico causa uma deficiência grave em nossas políticas públicas.

Figuras exemplares que alertam sobre isso, como fazem Paulo Kliass, Ladislaw Dowbor e Amir Khair aqui na Carta Maior, há muito tempo, falam de coisas sobre as quais deveríamos não só prestar mais atenção, mas usar em nosso dia a dia.

Os movimentos sociais precisam se lembrar de explicar essa lógica dos argumentos aos seus militantes.

Precisam fazer as contas de quantos trabalhadores do setor público poderiam ser contratados e pagos com esses valores estratosféricos e escatológicos pagos com juros.

Precisam mostrar para a opinião pública quanto custa o reajuste de salários de suas categorias e compará-los com o que se paga em juros aos banqueiros.

Quem sabe, uma boa ideia seria acampar no gramado em frente ao Banco Central toda vez que ocorre uma reunião do Copom. E por que não fazer pelo menos um dia de luto quando se decreta aumento na taxa de juros.

Imagine todo mundo com a fitinha preta no braço explicando quanto vai nos custar pagar 0,25 ou meio ponto percentual a mais na taxa Selic, e quanto deixará de ser aplicado em prioridades para o país.

Pode até não ajudar a pressionar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, mas, pelo menos, seria um sinal de quantas pessoas terão se livrado do analfabetismo econômico atroz que nos acomete.

(*) Antonio Lassance é cientista político.

Leia mais sobre o assunto:

A propósito, a próxima reunião do Copom será nos dias 1º e 2 de abril. Conheça o calendário de reuniões do Comitê em 2014.

Ladislau Dowbor, em “Os vazamentos do dinheiro público” , mostra que o Brasil não é pobre, mas os recursos são frequentemente mal utilizados, vazando por numerosas brechas, legais ou ilegais, quando poderiam ser produtivos.  
 
blog do professor Ladislau Dowbor é uma grande biblioteca de Economia, com artigos, livros, vídeos, filmes e inúmeros recursos dedicados a trabalhar temas econômicos complexos de forma compreensível. 

Um editorial recente da Carta trata do mesmo assunto deste artigo de forma exemplar: “Se pensar pequeno, o governo escorrega na goela conservadora”. Lembra-nos de algo fundamental: que o capitalismo não é apenas um sistema econômico, e sim uma relação de poder. 
 
Jaciara Itaim, “Dívida pública e juros: coquetel explosivo”, traz o dado de que 1% a mais em juros custa 20 bilhões. 
 
Do economista Amir Khair, "Desafios ao crescimento".  
 
 
Agradeço ao colega e grande economista Paulo Kliass pela orientação sobre alguns números. Os eventuais equívocos são de minha inteira responsabilidade e, possivelmente, resquícios do meu próprio analfabetismo econômico.

Créditos da foto: Arquivo

Tarso Genro: BRASIL SOFRE EFEITOS DE TRANSIÇÃO IMPERFEITA PARA A DEMOCRACIA




Em entrevista à Carta Maior, governador do Rio Grande do Sul fala sobre as consequências da transição imperfeita para a democracia na vida do Brasil hoje.

Marco Aurélio Weissheimer – Carta Maior

Porto Alegre  - “O Brasil viveu uma transição imperfeita da ditadura para a democracia e essa transição trouxe efeitos que perduram até hoje. Ela carrega consigo uma ambiguidade: ao mesmo tempo em que abre um ciclo democrático novo no país, com a Constituinte de 1988, ela carrega as dores de um parto não terminado. A transição democrática foi jurídica e politicamente completada, sem que se resgatasse para a história o que foi efetivamente a ditadura. Essa história, até hoje, não foi resgatada”. A opinião é do ex-ministro da Justiça e atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, ao avaliar o significado dos 50 anos do golpe de 1964 e o atual estágio da democracia brasileira.

Em entrevista à Carta Maior, Tarso Genro fala sobre o golpe de 64 e a ditadura, sobre a transição conciliada para a democracia, a Constituinte, a Lei da Anistia e as tarefas democráticas que ficaram incompletas, como o julgamento dos responsáveis por tortura e morte durante a ditadura. Para o governador gaúcho, a Lei da Anistia teve um resíduo de conquista democrática, mas representou um habeas corpus preventivo para quem torturou durante a ditadura. Tarso reafirma a sua crítica à decisão do Supremo que estendeu a Lei da Anistia aos torturadores: “Bastaria o Supremo dizer: a Lei da Anistia não se aplica a quem torturou e matou. Mas até agora, o Supremo não teve a coragem de tomar uma decisão desse tipo”. E aponta, por fim, aqueles que são para ele os principais problemas de democracia hoje: a opacidade do Estado e a captura do Estado pelo capital financeiro.

Carta Maior: 50 anos do golpe de 64: o que essa data significa hoje para a política e a democracia brasileira?
 
Tarso Genro: Olhando hoje para 1964, com uma perspectiva histórica, pode-se dizer, em primeiro lugar, que o golpe no Brasil teve algumas particularidades em relação aos golpes militares típicos de um determinado momento da história da América Latina, que derrubaram vários governos constituídos democraticamente. O golpe de 64 foi resultado de um processo gestado por setores da burguesia brasileira e do latifúndio temerosos das reformas sociais e da reforma agrária que o governo Jango propunha.

As elites políticas desses dois setores se integraram e incidiram sobre as forças armadas, aproveitando o clima extremado da guerra fria, da disputa entre o bloco soviético e o bloco norte-americano no espaço geopolítico mundial. Essa resistência às reformas e a abertura de um novo ciclo de acumulação no país, associado de maneira profunda ao capitalismo norte-americano principalmente, é que deu substrato social e apoio político para que se instalasse uma ditadura no Brasil. O poder não foi apropriado diretamente pelos militares para eles próprios. Foi um projeto político desses setores mais conservadores e reacionários que tiveram nas forças armadas um apoio e um protagonismo muito grande.

A trajetória dos governos militares não foi uniforme. Tivemos, em um primeiro momento, um setor da intelectualidade das forças armadas dirigindo o processo, com Castelo Branco. Depois, houve uma degradação dessas lideranças, especificamente com Costa e Silva e Médici. Digo degradação porque eram pessoas despreparadas para gerir o próprio projeto no qual as classes dominantes apostavam. Mais tarde veio o governo Geisel, que manteve os mecanismos ditatoriais e iniciou um processo de abertura. Geisel tinha uma compreensão de que o poder militar puro era incabível numa economia com as características que a brasileira apresentava naquele momento e que, por isso, era preciso criar espaços políticos novos onde as forças sociais pudessem se movimentar. Esse processo de abertura controlada redundou na Assembleia Nacional Constituinte, após a ditadura dizimar a esquerda que fazia a resistência através da luta armada.
 
O processo de conciliação para a abertura colocou no mesmo campo a oposição e os setores que apoiavam a ditadura e vai se consolidar no governo Figueiredo, desaguando na Lei da Anistia. Essa lei foi, na verdade, um habeas corpus preventivo para quem exerceu a ditadura. Os que lutaram contra a ditadura já tinham sido presos, torturados, julgados, assassinados, exilados, expostos. Ela teve um resíduo de conquista democrática, ao devolver direitos, estabelecer indenizações e corrigir algumas injustiças. Mas ela foi um grande habeas corpus preventivo para aqueles que exerceram uma espécie de poder paralelo, exercido nos porões da ditadura por estruturas irregulares e regulares. O Doi-Codi funcionou como um aparato clandestino de repressão, com um grupo de bandidos e assassinos fazendo o ‘trabalho sujo’ da ditadura.
 
Tivemos muitas debilidades no processo de transição. Aqui nunca se pediu que se julgassem pessoas que exerceram cargos executivos e ministeriais, como os ministros da Justiça da época da ditadura, por exemplo. Pessoas que faziam de conta que não havia tortura. Aqui no Brasil, o que se pediu foi que se julgassem os assassinos e torturadores e nem isso aconteceu. Essa transição imperfeita é o que vivemos hoje. Ela carrega uma ambiguidade: ao mesmo tempo em que abre um ciclo democrático novo no país, com a Constituinte de 1988, ela carrega as dores de um parto não terminado. A transição democrática foi jurídica e politicamente completada, sem que se resgatasse para a história o que foi efetivamente a ditadura. Essa história, até hoje, não foi resgatada.

Carta Maior: A Argentina vive hoje uma nova etapa do processo de julgamento de crimes da ditadura e discute a responsabilização de civis por esses crimes. Vê alguma possibilidade de acontecer algo parecido com isso no Brasil ou essa é uma batalha que já foi perdida?

Tarso Genro: Acho que é uma batalha difícil de ser ganha, mas também é difícil de ser encerrada. Ela é difícil de ser ganha porque as forças armadas na Argentina saíram da ditadura completamente derrotadas, desprestigiadas e aniquiladas moralmente. Aqui no Brasil não ocorreu isso. A transição para a democracia se deu por meio de uma conciliação com a oposição. Essa conciliação carregou para dentro do novo regime que surgiria um acordo de prestigiamento das forças armadas que acabaram passando praticamente incólumes por esse processo.

Isso também carrega uma ambiguidade. A primeira possibilidade é aproveitar essas características da transição conciliada para apostar numa profissionalização cada vez maior das forças armadas, isolando-as das influências politicas que ordinariamente se manifestam a partir de uma vocação golpista de direita extremada. A segunda questão é que essa radicalização pela direita está sempre colocada de maneira potencial. Veja, por exemplo, a desfaçatez com que o Círculo Militar defende os torturadores e a tortura. Isso reflete uma sensação de prestigiamento histórico que as forças armadas tiveram na transição, que faz com que essas viúvas do regime ditatorial se expressem dessa maneira perversa. Acho que o caminho mais provável é que tenhamos uma trajetória de reparações, o que está sendo feito hoje, e que as forças armadas majoritariamente afirmem o seu profissionalismo. Não vejo outra possibilidade na atual conjuntura.

Carta Maior: Qual sua opinião sobre as novas gerações de oficiais das forças armadas, a partir da sua experiência à frente do Ministério da Justiça? Há uma percepção diferente sobre o que aconteceu no Brasil durante a ditadura?

Tarso Genro: Durante o período em que estive no Ministério da Justiça, conversei muito com as forças armadas, em diversas circunstâncias e com diversos chefes militares. Como ministro da Justiça, eu integrava o Conselho de Defesa Nacional e participei de vários debates sobre a política nacional de defesa. Junto à maioria dos oficiais com quem tive contato não vi qualquer resíduo de antagonismo com a democracia, embora a gente ainda veja, em determinados quadros, um saudosismo autoritário. Isso, na minha opinião, não decorre de uma mudança na educação e na ideologia de segurança nacional que ainda está na cabeça da maioria das forças armadas, mas sim de uma mudança que ocorreu nos padrões políticos mundiais e do próprio crescimento do Brasil como país com possibilidade de ter uma presença importante no cenário mundial.

Essas mudanças fizeram com que a maioria dos profissionais das forças armadas não rezassem mais pela cartilha da guerra fria e passassem a se preocupar mais com a afirmação do Brasil como projeto de Estado nacional. Isso não quer dizer que não haja nas forças armadas setores que possam abraçar uma agenda autoritária e direitista no futuro. Pode ocorrer, mas creio que esse é um fenômeno presente em todas as forças armadas, não apenas nas brasileiras.

Carta Maior: Qual o balanço que faz de sua passagem pelo Ministério da Justiça no que diz respeito ao tratamento desses temas? 

Tarso Genro: Juntamente com o Paulo Abrão, reorganizei todo o sistema de anistia no Ministério da Justiça. Aquilo ali não tinha lógica nem estrutura, não por culpa dos ministros anteriores, mas sim pelo fato não existir uma preocupação expressa dos governos para organizar essa área de uma maneira racional e de uma maneira institucional mais elevada. Nós fizemos arquivos, contratamos servidores, organizamos protocolos. Não havia ordem de preferência nos julgamentos de anistia. Organizamos as comissões que julgavam esses processos. O presidente Lula assegurou recursos para que fossem iniciadas massivamente as indenizações, o que foi muito importante.

Nós produzimos uma nova cultura sobre a anistia no Brasil. A nossa ideia sobre a anistia mudou completamente. Até a nossa chegada, a Anistia era tratada como um perdão do Estado. Nós mudamos isso e a anistia passou a significar que o Estado é que pede perdão. Nós não estamos perdoando ninguém, mas sim fazendo reparações e pedindo desculpas pelo o quê o Estado cometeu. Afinal, o Estado é fundado no Direito e no respeito aos direitos humanos. Foi essa a cultura de anistia que nós criamos e que teve momentos muito significativos. Estruturamos as Caravanas da Anistia e também um conjunto de debates para fortalecer essa nova cultura sobre a anistia. Fizemos uma sessão histórica no Araguaia, anistiando os guerrilheiros e os mateiros da região. Fizemos isso com absoluta tranquilidade, levados pela FAB com todo respeito.

Nós também iniciamos um debate no Ministério da Justiça defendendo a tese de que a Lei da Anistia não se aplica aos torturadores. Isso acabou pervertido perante a opinião pública pelos jornais e tvs conservadores como se nós estivéssemos pedindo uma reforma dessa lei para punir os torturadores, o que representou uma dupla confissão. A primeira confissão foi admitir que a Lei da Anistia foi feita para anistiar os torturadores. Em segundo lugar foi uma confissão de que eles não querem que os torturadores sejam punidos.

Esse debate foi feito como se eu fosse uma excrescência dentro do governo. O presidente Lula, naquela oportunidade, pediu apenas que eu retirasse essa discussão de dentro do Ministério da Justiça e levasse para fora dele, de modo a não ferir suscetibilidades em partidos políticos que estavam dentro do governo e que achavam que esse debate era desnecessário. E foi o que fiz, fazendo esse debate sobre a necessidade de punir os torturadores, até o momento em que o Supremo Tribunal Federal, em um voto lamentável do ministro Eros Grau, entendeu que a Lei da Anistia se aplicava também aos torturadores, sob o argumento cínico de que era uma lei que promovia anistia ampla, geral e irrestrita, o que incluiria os torturadores.

Esse foi um momento muito duro do debate político no país. Felizmente, têm ocorrido algumas decisões no sentido de punir essas pessoas que torturaram e mataram, mas não sabemos até onde isso vai. O ideal seria que acabasse provocando uma nova decisão do Supremo. Bastaria o Supremo dizer: a Lei da Anistia não se aplica a quem torturou e matou. Mas até agora, o Supremo não teve a coragem de tomar uma decisão desse tipo.

Carta Maior: Quais são, na sua avaliação, os principais problemas e ameaças que a democracia brasileira enfrenta hoje?

Tarso Genro: A opacidade do Estado e a captura do Estado pelo capital financeiro. Essa opacidade só pode ser vencida por um controle público da cidadania sobre o Estado, um controle público que não vai extinguir a opacidade, mas vai aumentar a interferência da cidadania nas decisões. A grande questão da democracia brasileira, ao meu ver, é conseguir uma combinação entre a participação direta da cidadania, por meios presenciais e virtuais, e fazer permanentes correções e adaptações na democracia representativa, dentro da perspectiva de estabelecer uma nova relação entre Estado e sociedade.

A segunda questão, a captura do Estado pela dívida, é mais complexa pois só pode ser enfrentada mediante um novo pacto internacional, entre países que se disponham a se articular e a resistir ao controle do capital financeiro sobre o Estado, criando novos parâmetros de sustentabilidade financeira para as democracias e inclusive criando instituições financeiras alternativas. Já se falou, por exemplo, da possibilidade dos BRICS criarem um banco semelhante ao Banco Mundial para conseguir libertar o Estado dessa tutela absoluta do capital financeiro. Essa tutela é exercida sobre o Direito do Estado, que passa a funcionar segundo uma lógica normativa que vem de fora para dentro, do capital, e não da participação da cidadania.

Esse choque entre o Estado capturado pelo capital financeiro e as demandas sociais cada vez mais volumosas sobre um Estado que não pode responder representa a grande crise democrática do presente. É ela que está nas ruas todos os dias. É ela que está no cotidiano das administrações todos os dias e que deve dirigir os grandes embates políticos daqui em diante. Quem controla o Estado é o capital financeiro que capturou o Estado pela questão da dívida, ou quem controla o Estado é a cidadania organizada, participante da representação política e da democracia direta? Esse é o grande embate global que a democracia brasileira enfrenta hoje.

Créditos da foto: Gustavo Gargioni/GERS

Angola: EM 2014, UM NOVO, VELHO GOVERNADOR PARA O HUAMBO




DEUS E O “ESCOLHIDO DE DEUS” NÃO GOSTAM DOS OVIMBUNDUS

Folha 8 - 29 março 2014

O presidente angola­no José Eduardo dos Santos exonerou Kundi Paihama do cargo de ministro dos Antigos Comba­tentes e Veteranos da Pátria e nomeou­-o, em 2014, pleno século XXI, gover­nador provincial do Huambo, quando até pelo factor idade, já percorreu quase todos os pelouros, sem nunca ter em­prestado nada de substantivo, para exibir como legado, intelectual, reconciliador e de competência. Ora, com este acto do titular do poder executivo, fica demonstra­do duas coisas: primeiro, José Eduardo dos Santos, deixou de respeitar até os seus mais próximos, face a concentração excessiva do poder, segundo, Kundi Pahiama demonstra não se respeitar a si próprio, quer como po­lítico, quer como gestor público, com ideias próprias e ambições pragmáticas.

Com base nisso, temos que nem Deus nem o “escolhido de Deus” gostam dos ovimbundus. Quem melhor explicou essa antipatia, tão genética quanto patológica, foi o próprio Kundi Paihama quando disse que em Angola existem dois tipos de pessoas, os angolanos e os kwachas, sendo que estes eram, ou são, os ovimbundus que apoiavam a UNITA.

Embora saibam que pecar em pensamento pode ser, de o MPLA descobrir, crime contra o Estado, os ovimbundus – entre outros – recordam o dis­curso do general Kundi Paihma, em Agosto de 2012, no Estádio Nacional de Ombaka, em que ele garantiu que os que lutarem contra o MPLA e contra José Eduardo dos Santos “vão ser var­ridos”. Muitos já foram; Mfulumpinga Landu Victor, Adão da Silva, Alves Kamulingue, Isaías Cassule, Hibert Ganga, etc e outros estão em lista de espera.

Reconheça-se que se Kundi Paihama o diz é por­que vai mesmo fazer isso. O regime, ou seja o MPLA, há muito que começou – embora de for­ma mais subtil - a pôr a razão da força acima da força da razão, mostrando que na sua óptica só é possível haver paz e democracia em Angola se tudo continuar na mesma: Povo, sociedade civil não bajuladora e oposição, todos devem ficar subjugados aos apetites do partido no poder.

CUMPLICIDADE DO OCIDENTE NA FRAUDE

Ao que parece, e ao con­trário do que aconteceu em 2008, o regime tem cada vez indicações fide­dignas de que, nas eleições autárquicas ou nas outras (se as houver), os mortos se vão recusar a votar no MPLA. Isso não é, reco­nheça-se, impeditivo de uma solução alternativa, testada com êxito nas an­teriores eleições, em que em alguns círculos eleito­rais apareçam mais votos do que votantes.

Se se estivesse a falar de um Estado de Direito e de uma comunidade in­ternacional honesta, seria criticável que o partido que nos desgoverna desde 11 de Novembro de 1975, que tem como seu líder carismático e presidente da República alguém que está no poder desde 1979 sem ter sido nominalmen­te eleito, sentisse necessi­dade de usar a intimidação violenta para ganhar elei­ções.

Mas como nada disso se passa, tudo vai continuar a ser feito por medida e à medida do MPLA. É para isso que o petróleo existe.

E porque o regime só reco­nhece a existências de um único “escolhido de Deus”, Eduardo dos Santos, não admite que existam dúvi­das, não aceita que a sua liberdade termine onde começa a do Povo. Vai daí, intimida, ameaça, espanca, rapta e mata quem tiver a veleidade de contrariar o “querido líder”.

Como dizia o bispo emé­rito de Cabinda, Paulino Madeca, “quando um po­lítico entra em conflito com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade, torna-se um eterno dita­dor”.

Por alguma razão Kundi Paihama, tal como os res­tantes “yes man” do regi­me, continua a pedir aos militantes do seu partido para que controlem “mi­limetricamente” todas as acções da oposição, para não serem “surpreendi­dos”.

Na senda do que tem fei­to ao longo dos anos, o MPLA acusa a Oposição de enveredar por “ma­nifestações violentas e hostis, provocando víti­mas, inventando vítimas, incentivando a desobe­diência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e pa­trulhas da polícia com pe­dras, garrafas e paus”.

OBJECTIVO É DESTRUIR OPOSIÇÃO

Certamente graças ao ár­duo trabalho de Kundi Paihama, o MPLA sempre disse que tinha em seu po­der “informações secretas que apontam que a UNITA e outros opositores estão prestes a levar a cabo um plano B”.

Plano que prevê, segundo os etílicos delírios dos diri­gentes do regime, “uma in­surreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto, Tunísia e Síria”, sendo as provín­cias de Luanda, Huíla, Ben­guela, Uíge e, claro está, Huambo as visadas.

Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver outro partido que não o MPLA a governar o país.

Para além do domínio qua­se total dos meios mediáti­cos, tanto nacionais como estrangeiros, o MPLA aposta forte numa estra­tégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação. E para esse papel, reconhe­ça-se, não ninguém melhor do que Kundi Paihama, nomeadamente numa pro­víncia que, apesar de algu­ma submissão, continua a ser uma espinha entalada na garganta do regime.

Aliás, um dia destes vamos ver por aí Kundi Paihama afirmar que todos aqueles que têm, tiveram, ou pen­sam ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA que devem “ser varridos”.

E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segun­do o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada que tem na primeira linha das suas opções e que é tão do agrado das potências inter­nacionais, ou seja a de que há perigo de terrorismo, de guerra civil.

Kundi Paihama não tardará (por ele já o teria feito) a re­descobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política, no Huambo por exemplo, para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia, certa­mente comer farelo.

Tal como mandam os ma­nuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxur­radas de propaganda, pre­venir os angolanos de que ou estão com ele ou vem aí o fim do mundo.

Além disso, nos areópa­gos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos ar­mados que precisam de ser neutralizados. E não precisa de fazer grande esforço para que os ami­gos acreditem. Aliás, essa estratégia é mesmo acon­selhada pelos seus sub­missos parceiros.

ARMAS DE CAÇA “EME” E CÃES GOVERNADOR

Como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também todos sa­bemos, em caso de dúvida a UNITA e os seus aliados serão culpados até prova em contrário.

Numa entrevista à LAC - Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, era então ministro da Defesa, Kundi Paihama, levantou a suspeita (nunca confirmada mas também nunca desmentida) de que a UNITA mantinha armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de vol­tar à guerra.

Kundi Paihama, ao seu melhor estilo, esclareceu, contudo, que os antigos militares do MPLA, “se têm armas”, não é para “fazer mal a ninguém” mas sim “para ir à caça”. Não era preciso dizê-lo. Todos sabemos que é mesmo as­sim…

Quanto aos antigos mili­tares da UNITA, Kundi Paihama disse que a con­versa era outra e lembrou que mais cedo ou mais tar­de seria preciso falar sobre este assunto. Na entrevis­ta à LAC disse textual­mente: “Ainda hoje se está a descobrir esconderijos de armas”.

Razão tinha, aliás, Kun­di Paihama quando, uns dias antes, “botou faladu­ra” num comício na Sede do Município da Matala e disse: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”. Cães que, certamente, o vão acom­panhar no Huambo.

E por que não vai para os pobres?, perguntam os lei­tores, tal como os milhões (ou serão só meia dúzia?) que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães… é preciso alimentá­-los bem.

E se todos fizessem como Kundi Paihama, não have­ria cães com raiva. Conti­nuaria a haver, é claro, an­golanos a morrer à fome. Mas entre morrer à fome e morrer contaminado com raiva...

“Eu semanalmente man­do um avião para as mi­nhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”, disse então o agora governador do Huambo.

Não admira, por isso, que todos os angolanos procu­rem, e os ovimbundos não são excepção, ter a mesma sorte que os cães de Kun­di Paihama. Têm, contudo, pouca sorte. Os cães que lhes tocaram em sorte es­tão cheios de raiva.

É claro que, embora reco­nhecendo a legitimidade que os cães do governador do Huambo têm para rei­vindicar uma boa alimen­tação, não se pode deixar de dar um conselho aos milhões, os tais 68%, de angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco de­pois com fome.

Não. Não se transformem em cães para ter um prato de comida. Reivindiquem o direito tão simples de comer como os cães de Kundi Paihama.

Angola: DPIC ACUSADA DE RAPTAR JOVENS




Director Provincial Adjunto em Exercício da Investigação Criminal em Luanda Noé António disse desconhecer qualquer operação ligada aos seus efectivos.

Coque Mukuta - Voz da América


O activista Nito Alves denunciou ter sido brutalmente espancado na passada sexta-feira, 21, por indivíduos ligados à Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC) no momento em que quatro jovens foram levados para um lugar  não identificado.
 
Uma viatura de marca Land Cruiser, com a matrícula LD-84-96-BY, de cor branca, foi utilizada  por oito indivíduos supostamente ligados à Direcção Provincial da Investigação Criminal para raptar quatro jovens.
 
Na ocasião, os raptores espancaram o activista Manuel Chivonde Baptista Nito Alves que estava no local, como o próprio conta.
 
“Eu e o meu colega Paulo encontramos uma viatura em que haviam oito senhores na qual um deles estava identificado com um passe da DPIC a bater os quatro jovens com ferros e porretes, e quatro deles deslocaram-se até junto de mim e um abraçou-me e outro deu-me uma queda e bofetadas”, contou Alves.  
 
O jovem disse ainda que conseguiu ser solto quando, em viva voz, citou o nome do chefe da investigação municipal de Viana: “Eu lhes disse que conhecia o chefe deles e que era o Lito Chuvas, eles disseram olha esse conhece e pode ir nos denunciar”.
 
A VOA falou com o Director Provincial Adjunto em Exercício da Investigação Criminal em Luanda Noé António que, sem gravar entrevista, disse desconhecer qualquer operação ligada aos seus efectivos na zona em referência.

Entretanto, questiona-se a existência de elementos estranhos à polícia a fazerem buscas e se a polícia eventualmente controla os seus efectivos.
 
Manuel Nito Alves tinha sido detido a 12 de Setembro de 2013, acusado de "ultraje ao Presidente" por ter encomendado a impressão de camisolas em que apelidava   José Eduardo dos Santos de "ditador nojento", para serem utilizadas numa manifestação anti-governamental.

Moçambique: DAVIZ SIMANGO É O CANDIDATO DO MDM ÀS PRESIDENCIAIS




Em Moçambique, o MDM elegeu este domingo (30.03) Daviz Simango como candidato às presidenciais de 15 de outubro próximo. Simango é o edil da segunda maior cidade do país, Beira, pelo terceiro mandato consecutivo.

O Conselho Nacional do Movimento Democrático de Moçambique, MDM, elegeu Daviz Simango para concorrer pelo Partido às eleições presidenciais de 15 de outubro próximo.

Simango, que foi o único pré candidato, obteve 94 por cento dos votos e nenhum contra. Os restantes votos foram nulos.

O seu manifesto eleitoral, aprovado pelo Conselho Nacional assenta na preservação da paz, coesão entre os moçambicanos, consolidação da unidade nacional e da democracia, desenvolvimento económico e criação de emprego.

Daviz Simango lista as outras linhas de força do seu manifesto eleitoral: "Desenvolvimento do capital social com enfoque para a juventude, a nossa cara de Moçambique dinámico, e a elevação do estatuto da mulher. Por outro lado pretendo reforçar a participação de Moçambique no contexto internacional."

Simango, filho de um ex-membro da FRELIMO

Daviz Simango, de 50 anos de idade, é filho de Urias Simango, que foi o Primeiro vice-presidente da FRELIMO, durante a luta armada pela independência do país.

Licenciado em Engenharia civil, Simango, tornou-se edil da Beira em 2003 em representação do maior partido da oposição, a RENAMO. Em 2008 concorreu à sua sucessão como independente e saiu vencedor.

Em março de 2009 criou um novo partido, o Movimento Democrático de Moçambique, MDM, com o qual foi reeleito edil da Beira em novembro do ano passado.

Daviz Simango foi premiado pela revista Professional Manangement Review-África como o melhor Presidente de todos os municípios em Moçambique em 2006, 2008 e 2009.

Ele tem agora o desafio de em pouco mais de seis meses divulgar o seu manifesto eleitoral, mas mostra-se confiante na vitória. Daviz Simango acredita em igualdade quando diz: "Chegou a hora de Moçambique para todos vencer."

Vantagem moral

O Movimento Democrático de Moçambique acredita ter saído fortificado com as recentes vitórias nas eleições autárquicas ao conquistar a presidência de três das quatro principais cidades do país, nomeadamente Beira, Nampula e Quelimane.

Nestas eleições o MDM conseguiu obter, pela primeira vez, a maioria de assentos em algumas autarquias do país enquanto noutras, incluindo a capital, passou a contar com vários representantes nas Assembleias municipais.

O MDM torna-se assim no segundo partido a indicar o seu representante às presidenciais de 15 de outubro, depois da FRELIMO que designou o então ministro da Defesa, Filipe Nyussi.

Nyussi encontra-se já a realizar uma pré-campanha eleitoral que tem motivado críticas, pelo facto de ele ter sido apresentado como candidato da FRELIMO pelo Presidente, Armando Guebuza, em comícios populares que orientou na qualidade de Chefe de Estado nas províncias nortenhas do Niassa e Cabo Delgado.

Deutsche Welle - Autoria: Leonel Matias (Maputo) – Edição: Nádia Issufo / António Rocha

Moçambique: LADRÃO ESCAPA DO LINCHAMENTO NA MAGANJA DA COSTA




Um cidadão identificado pelo nome de Rafael Gonçalves, de 28 anos de idade, escapou de um linchamento supostamente em virtude de ter sido surpreendido a assaltar uma residência, na manhã desta segunda-feira (31), no bairro Baila, na Maganja da Costa, província da Zambézia.

O visado dedica à venda de peixe seco no Mercado Municipal da Maganja da Costa. Contudo, testemunhas alegam que não é a primeira vez que o jovem cai nas mãos de populares por roubos. Na altura da sua neutralização, na casa de uma cidadã chamada Inês Manuel, Rafael Gonçalves estava na posse de instrumentos tais como alicate, chave de fenda, catana, o que fez a população acreditar bastante que se tratava de um ladrão.

O vizinho de Inês Manuel apercebeu-se de uma movimentação estranha e gritou pelo socorro. O jovem ensaiou uma fuga mas ficou encurralado e foi violentado com recurso a instrumentos contundentes, o que culminou com ferimentos que forçaram a sua evacuação para uma unidades sanitária após passar pelo Comando Distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM) da Maganja da Costa.

Verdade (mz)

Quatro pessoas morreram na província moçambicana de Cabo Delgado devido a inundações




Quatro pessoas morreram na sequência do desabamento de uma residência inundada por cheias na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, indicou hoje o governador da província, Abdul Razak.

Segundo Razak, o mau tempo destruiu igualmente 552 casas, obrigou centenas de pessoas a retirarem-se das suas residências e deixou isolados cinco distritos de Cabo Delgado.

As vias de acesso aos cinco distritos mais afetados estão intransitáveis e prevê-se uma rutura no fornecimento de bens essenciais, incluindo combustíveis, devido a restrições na circulação.

Lusa

PM timorense inicia visita à Malásia com assinatura de memorando no setor da educação




Díli, 31 mar (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, iniciou hoje uma visita oficial à Malásia com um encontro com o seu homólogo, Najib Razak, e a assinatura de um memorando de entendimento no setor da educação.

No final de um encontro com Xanana Gusmão, o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, afirmou que o seu país apoia a adesão de Timor-Leste à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

"Faremos o nosso melhor e continuamos a olhar em frente para quando pudermos ser um membro da ASEAN", disse Xanana Gusmão, citado na imprensa malaia.

Najib Razak disse também que há um grande potencial para os dois países aumentarem a cooperação bilateral.

Segundo o primeiro-ministro malaio, Timor-Leste convidou o setor privado da Malásia para investir nos setores das infraestruturas, petróleo e gás, saúde, exploração mineira, turismo e agricultura.

Depois do encontro bilateral, os dois primeiros-ministros testemunharam a assinatura de um memorando de entendimento entre a Universidade Sabah da Malásia e a Universidade Nacional de Timor-Leste.

Na terça-feira, o primeiro-ministro timorense participa num encontro com cerca de 200 empresas malaias.

No último dia de visita, Xanana Gusmão vai receber o doutoramento Honoris Causa da Universidade Sabah da Malásia, onde vai proferir um discurso sobre a "ASEAN: Perspetivas e Desafios".

Da Malásia, Xanana Gusmão segue para Perth, Austrália, para uma deslocação de trabalho, viajando depois para a China para uma visita oficial.

MSE // PJA - Lusa

Grande Barreira de Coral pode sofrer danos irreparáveis em 25 anos devido a emissões de CO2




Sydney, Austrália, 31 mar (Lusa) - A Grande Barreira de Coral, situada a nordeste da Austrália, pode sofrer danos irreparáveis dentro de 25 anos caso não sejam adotadas medidas para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) e o aquecimento global, segundo alertaram hoje cientistas.

"É evidente que um fracasso na adoção de medidas não é uma opção", advertiu Ove Hoegh-Guldberg, que contribuiu para o relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas, o qual foi apresentado hoje no Japão.

Numa intervenção em Sydney, Ove Hoegh-Guldberg alertou para o risco de desaparecimento de metade do coral nos próximos 27 anos, caso o aquecimento global não seja contido.

O biólogo marinho da Universidade de Queensland explicou que a Austrália tem experienciado uma subida da temperatura de quase um grau no último século e que nos próximos cem anos o país sofrerá outro aumento, desta feita, superior a cinco graus.

Hoegh-Guldberg considera serem "muito escassas" as perspetivas da Grande Barreira de Coral, declarada Património da Humanidade, caso a temperatura média aumente em dois graus centígrados.

A Grande Barreira de Coral começou a deteriorar-se a partir de 1990, altura em que foi detetado o primeiro recuo no seu crescimento e uma menor calcificação nos corais.

Segundo o Instituto Australiano de Ciências Marinhas, a queda do crescimento da superfície coralina deve-se ao duplo impacto provocado pelo aquecimento da água do mar e o aumento da sua acidez por causa de uma presença maior de dióxido de carbono na atmosfera.

O Governo australiano aprovou, em dezembro, um projeto mineiro na zona da Grande Barreira de Coral, cujos oponentes alertam que fará com que Austrália venha a gerar anualmente mais dióxido de carbono do que a Dinamarca e Portugal juntos.

Essa decisão foi tomada no mesmo dia em que Hoegh-Guldberg publicou um livro em que adverte que a Grande Barreira de Coral poderá desaparecer por completo em 2100.

A Grande Barreira de Coral alberga 400 tipos de corais, 1.500 espécies de peixes e 4.000 variedades de moluscos.

DM // JPF - Lusa

Prosseguem buscas pelo avião da Malaysia Airlines após detetados novos objetos




Sydney, Austrália, 31 mar (Lusa) -- As equipas de resgate prosseguem hoje com as operações de busca pelo avião da Malaysia Airlines, desaparecido a 08 de março com 239 pessoas a bordo, depois de, no domingo, terem sido avistados vários objetos no Oceano Índico.

"A intensidade das buscas e a amplitude das operações aumentam, não diminuem", afirmou hoje o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, durante uma conferência de imprensa na base aérea Pearce, na cidade australiana de Perth.

De acordo com a Autoridade Australiana de Segurança Marítima (AMSA), participam nas operações dez aviões e dez barcos, aos quais se juntou o navio australiano Ocean Shield, que leva um detetor de caixas negras e um submarino não tripulado.

O organismo indicou, no seu primeiro comunicado de hoje, que algumas partes da zona de buscas -- situada a cerca de 1.850 quilómetros a oeste da cidade de Perth, serão afetadas por nebulosidade e chuvas.

Um avião militar australiano avistou, no domingo, quatro objetos de cor laranja de mais de dois metros numa área de cerca de nove quilómetros dentro da zona designada de buscas, segundo a cadeia televisiva local ABC.

Os objetos detetados no local, onde foi colocada uma boia com GPS, ainda têm de ser analisados para determinar se estão relacionados com o voo MH370.

Desde que o avião da Malaysia Airlines desapareceu vários satélites captaram imagens de objetos no Oceano Índico, tendo sido avistado e recuperados outros tantos, embora, até ao momento, nenhum tenha sido confirmado como pertencendo à aeronave.

O avião da Malaysia Airlines descolou de Kuala Lumpur com 239 personas a bordo rumo a Pequim na madrugada de 08 de março e desapareceu dos radares civis da Malásia cerca de 40 minutos depois de levantar voo.

As caixas negras ajudariam a explicar o desaparecimento do avião, sobre o qual apenas se sabe que se desviou da rota, depois de desligados os sistemas de comunicação.

O desaparecimento do avião desencadeou uma operação internacional sem precedentes, em que mais de duas dezenas de países foram alterando as zonas de busca do Golfo da Tailândia, ao Mar do Sul da China, ao Estreito de Malaca, às ilhas de Andaman até se fixarem no Índico.

DM // DM - Lusa

Lucros dos maiores bancos da China somaram mais de 100 mil milhões de euros em 2013




Pequim, 31 mar (Lusa) - Os lucros dos cinco maiores bancos estatais chineses, entre os quais o Bank of China, já estabelecido em Portugal, aumentaram 11% em 2013, para 862,8 mil milhões de yuan (100,8 mil milhões de euros), anunciou hoje a imprensa oficial.

A lista é encabeçada pelo Industrial and Commercial Bank of China (ICBC), considerado o maior banco do mundo em valor de capitalização, cujo balanço contabilístico do ano passado apresenta um lucro líquido de 262,6 mil milhões de yuan (30,69 mil milhões de euros).

O Bank of China, o quarto da lista e o primeiro a abrir um escritório em Lisboa, em fevereiro de 2013, apresentou lucros de 156,9 mil milhões de yuan (18,33 mil milhões de euros).

China Construction Bank (CCB), Agricultural Bank of China e Bank of Communications são os outros três grandes do setor.

A China deverá aprovar este ano a criação dos primeiros cinco bancos privados, numa "iniciativa piloto" para concretizar o programa de "aprofundamento global das reformas económicas" preconizado em novembro passado pela direção do Partido Comunista Chinês.

Segundo foi anunciado há duas semanas, Xangai, Tianjin e as províncias de Zhejiang e Guangdong serão as primeiras a testar a abertura do setor financeiro à iniciativa privada.
A China é a segunda economia mundial, a seguir aos Estados Unidos da América, e apesar do abrandamento dos últimos anos, continua a crescer acima dos 7%.

Em 2013, o Produto Interno Bruto chinês cresceu 7,7%, igualando o valor alcançado no ano anterior, e para 2014 o crescimento preconizado pelo governo é de "cerca de 5%".

AC // VC - Lusa

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