quarta-feira, 9 de abril de 2014

RUANDA – UMA CRONOLOGIA HISTÓRICA ATÉ AO INÍCIO DA DÉCADA DE 90 DO SÉCULO XX



Martinho Júnior, Luanda

A 3 DE ABRIL DE 2004, NO ACTUAL Nº 390, FEZ AGORA 10 ANOS, ASSINALEI CONJUNTAMENTE COM LEOPOLDO BAIO, POR ALTURAS DO 10º ANIVERSÁRIO DO GENOCÍDIO DO RUANDA, A SITUAÇÃO DO RUANDA - GRANDES LAGOS, COM UM CONJUNTO DE ARTIGOS DOS QUAIS FAZIA PARTE O QUE SE SEGUE.

DE ENTRE OS ASPECTOS HÁ QUE REALÇAR O PAPEL DA COLONIZAÇÃO BELGA NO CONGO, NO RUANDA E NO BURUNDI.

UMA NAÇÃO EUROPEIA AINDA HOJE PROFUNDAMENTE MARCADA PELA CISÃO INTERNA, UMA CISÃO QUE SE ARRASTA DE HÁ MUITO, INSTALOU NAS COLÓNIAS O CRITÉRIO DE DIVIDIR PARA MELHOR REINAR ATÉ À EXAUSTÃO, ESPELHANDO O QUE SE PASSAVA NO SEU PRÓPRIO PAÍS!!!

DESDE ENTÃO QUE AS DISPUTAS NÃO PARARAM NOS GRANDES LAGOS, MAS HOJE OS APROVEITAMENTOS TÊM OUTROS INTERVENIENTES EXTERNOS: O IMPERIALISMO NORTE AMERICANO E O SUB-IMPERIALISMO GAULÊS!!!

EM ÁFRICA NÃO HÁ "GUERRAS CIVIS": AS COMPONENTES EXTERNAS TÊM SIDO NÃO SÓ DECISIVAS, COMO TAMBÉM ACOMODARAM AS MAIS DIVERSAS FORMAS DE INGERÊNCIA, DE MANIPULAÇÃO E DE SUBVERSÃO!

AS DISPUTAS ESPALHAM-SE SEM QUE AS FRONTEIRAS O IMPESSAM E AS REGIÕES AFECTADAS EXPANDEM-SE.

DESDE A DÉCADA DE 90 DO SÉCULO XX, LOGO APÓS O FIM DO BLOCO SOCIALISTA, A IMPLOSÃO DA URSS E O DERRUBE DO MURO DE BERLIM, QUE OS INTERVENIENTES EXTERNOS EM ÁFRICA FORAM-SE ENCAIXANDO NA HEGEMONIA UNIPOLAR DO IMPÉRIO, COM RESULTADOS CATASTRÓFICOS PARA OS AFRICANOS: UMA SUCESSÃO DE TENSÕES, CONFLITOS E GUERRAS QUE AINDA NÃO TERMINARAM! DAÍ A LEGITIMIDADE HISTÓRICA PARA AQUELES QUE PROCURAM A PAZ PAN-AFRICANA!!!

A PAZ PAN-AFRICANA TEM DE VENCER OBSTÁCULOS HISTÓRICOS E FERIDAS PROFUNDAS QUE SE ARRASTAM DESDE A COLONIZAÇÃO!!!

TODOS SOMOS POUCOS PARA LANÇAR OS ALICERCES DO RENASCIMENTO AFRICANO!!!

- Século XV – Os mais antigos habitantes do Ruanda, conforme é hoje ainda conhecido, são os twa, um povo de caçadores que se instalou na região desde épocas recuadas mas que se desconhece as origens.

- Século XV – Provavelmente originários da bacia do grande Congo, a estirpe hutu deve ter chegado durante este século, um pouco antes dos tutsis provenientes do norte (Somália) terem conquistado a região.

Os reis tutsis, ou “mwamis”, tornaram-se monarcas absolutos e os seus feudos e sub feudos formaram desde essa altura as “colinas”.

Os hutus passaram a formar uma casta inferior, os servos, que passaram a viver na dependência económica dos Tutsis.

No princípio o sistema funcionou rigidamente e o casamento entre elementos das duas castas não era permitido.

Os hutus dedicavam-se fundamentalmente à agricultura e os tutsis eram pastores pelo que a distinção social dos dois grupos integrava a dicotomia de modos de vida e todo um processo distinto de natureza sócio-cultural.

- Século XIX – Exploradores alemães chegaram à região provenientes do leste; em 1880 e missões católicas instalaram-se na região nessa altura.

O Ruanda, tal como o Urundi (Burundi), foram incorporados nos territórios alemães da África do Leste.

- Século XX – As profundas alterações que se sucederam à Revolução Industrial , influenciaram o destino do Ruanda.

- Em 1918, perdida a Iª Guerra Mundial, em função do Tratado de Versalhes, a anterior colónia Alemã do Ruanda-Urundi, ao abrigo da Liga das Nações, tornou-se um protectorado que passou a ser governado pela Bélgica, mantendo-se o sistema feudal com dois monarcas tutsis a governarem, um o Ruanda, o outro o Urundi.

Os belgas no início favoreceram os tutsis, não só mantendo a supremacia dessa casta e o feudalismo tradicional, mas conferindo-lhes o privilégio do acesso à educação ocidental, o que levou ao reforço da autoridade dos tutsis (14% da população), sobre os Hutus (85%) e ao fosso entre as duas componentes populacionais existentes no território.

- Nesse quadro os Belgas, em 1926, introduziram um sistema de identidade diferenciando as duas castas.

- Em 1957 é formado o “Parmehutu” (“Partido para a Emancipação dos Hutus”), ainda com o Ruanda sob autoridade belga; nessa altura iniciou-se a revolta não só contra a autoridade colonial, mas também contra os membros da casta superior, os tutsis.

Se antes as autoridades coloniais belgas haviam apoiado os tutsis e o seu regime feudal, perante a situação de independência elas mudaram de atitude e passaram a apoiar os hutus, o que estimulou por um lado a estrutura sócio-cultural tradicional, mas também a relativa estabilidade que havia vigorado até então no país.

- A 10 de Abril de 1957 nasce em Gitarama aquele que viria a ser um dos principais líderes do “Ruanda Patriotic Front”, Fred Rwigema (na altura ele recebeu o nome de Emmanuel Gisa). Paul Kagame nasceria na mesma Prefeitura em Outubro do mesmo ano.

- Em 1959 dá-se o primeiro episódio de sublevação hutu, que provocou a derrocada da monarquia tutsi e a saída forçada do território de 150.000 tutsis, àquela data cerca de metade da população tutsi residente no Ruanda.

Entre os refugiados partem, com tenra idade e acompanhando as respectivas famílias, Fred Rwigema e Paul Kagame.

Este episódio foi o primeiro duma série de massacres de tutsis que foram ocorrendo no Ruanda nos anos de 1963, 1965, 1973 e 1994.

- A família de Paul Kagame, de origem aristocrática, instala-se num campo de refugiados no oeste do Uganda.

Paul Kagame, como milhares de jovens tutsis cujas famílias se foram refugiando nos países vizinhos, cresceu num ambiente de trauma e nostalgia pela pátria e pelas propriedades perdidas, alimentando o desejo de desforra.

- Em 1960 os hutus ganharam as primeiras eleições do país, de âmbito municipal, organizadas pelos belgas.

- A 1 de Julho de 1962 a Bélgica garantiu a independência do Ruanda.

- A 20 de Outubro de 1962 o governo ruandês assinou um Tratado de Amizade e Cooperação com a França, fortalecido com vários acordos bilaterais, a 4 de Dezembro do mesmo ano: Acordo de Cooperação Económica, Acordo de Cooperação Cultural e Técnica e Acordo de Cooperação Radiofónica.

- Nos anos de 1961 e 1962, ao mesmo tempo que se dá a retirada belga, os dois Países, Ruanda e Burundi, separam-se formando dois estados independentes. Uma revolução hutu no Ruanda instala um novo Presidente, Gregoire Kayabanda e os combates contra os tutsis continuam provocando a continuação da sua saída do território; no Burundi os tutsis retêm o poder.

- Em 1963 ocorreu o segundo massacre dos tutsis em resposta a um ataque militar dos exilados tutsis no Burundi, o que provocou mais uma onda de refugiados, abandonando o país.

Nesse mesmo ano alguns tutsis iniciam a revolta contra o poder instituído.

Refugiados Hutus provenientes do Burundi chegaram ao Ruanda em grandes quantidades, vítimas de retaliações do governo tutsi do Burundi.

A lógica da violência entre hutus e tutsis estava definitivamente instalada.

- Em 1973 os Tutsis são expulsos das Universidades e o Chefe do Estado Maior, General Juvenal Habyarimana toma o poder, restaurando a ordem e implantando um estado mono partidário. Uma política de quotas para emprego na administração pública foi então estabelecida, tendo os tutsis preenchido 9% das necessidades.

- Em 1975 é formado o “MRND” (“Movimento Revolucionário Nacional para o Desenvolvimento”) e com ele os hutus originários da região do Chefe de Estado, ocupam paulatinamente as preferências no serviço público e nas Forças Armadas, continuando o padrão de exclusão dos tutsis ao longo das décadas de 70 e 80.

- A 18 de Julho de 1975 foi assinado o Acordo Particular de Assistência Militar, entre a França e o Ruanda, que se mantinha em vigor com algumas alterações até ao derrube do avião Presidencial a 6 de Abril de 1994 .

- Em 1978 o ditador Idi Amin invadiu a Tanzânia.

Para expulsar as suas tropas , o governo tanzaniano contou com os apoios dos refugiados ugandeses e ruandeses.

Yoweri Museveni e Fred Rwigema ajudaram as tropas tanzanianas na emergência.

- Em 1979, no Uganda, é formada a “UNLA”, (“Exército de Libertação Nacional do Uganda”), incorporando muitos dissidentes ugandeses e refugiados tutsis do Ruanda, entre eles Yoweri Museveni, Fred Rwigema e Paul Kagame.

- Em 1981 é criado no Uganda o “NRA” (“Exército de Resistência Nacional”), cujo objectivo principal era o de pôr fim à ditadura de Milton Obote que havia tomado o poder após o derrube de Idi Amin, no Uganda.

A primeira célula armada do “NRA” possui apenas 40 homens, dos quais apenas 27 possuem armas.

Faziam parte dessa célula, Fred Rwigema e Paul Kagame.

- Em 1986, entre as forças vitoriosas de Yoweri Musseveni que depuseram Milton Obote, o “NRA” (“Exército de Resistência Nacional”), encontram-se os exilados tutsis; esse êxito inspirou a formação no exílio do “RPF” (“Forças Patrióticas do Ruanda”), uma organização inteiramente dominada pelos tutsis.

- Entre 1986 e 1989, Fred Rwigema é o Chefe de Operações do “NRA”, no norte do Uganda, contra o movimento guerrilheiro “LRA” (“Exército de Resistência do Senhor”), de Alice Lakwena, que pela via armada se tem vindo a opor ao regime de Yoweri Museveni, com o apoio do regime islamizado do Sudão.

- Em 1989, a queda dos preços do café causaram imensos prejuízos ao Ruanda e a economia do país entrou praticamente em colapso, pelo que aumentaram as tensões sociais de toda a ordem.

Nessa altura, Fred Rwigema demitiu-se das suas funções no “NRA” e consagra-se à recolha de fundos na América do Norte e na Europa, no seio das comunidades tutsis em diáspora, a fim de recolher dinheiro e dar início à luta armada da “RPF”.

- A diáspora tutsi, com uma comunidade relativamente importante nos Estados Unidos, contribuiu para condicionar os relacionamentos Internacionais da revolta e foi nessa altura que jovens promissores, como Paul Kagame, foram conduzidos a cursos de Estado Maior, ao nível dos que foram “facilitados” por Academias como a de Fort Leavenworth, no Kansas.

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