Martinho Júnior,
Luanda
A 3 DE ABRIL DE
2004, NO ACTUAL Nº 390, FEZ AGORA 10 ANOS, ASSINALEI CONJUNTAMENTE COM LEOPOLDO
BAIO, POR ALTURAS DO 10º ANIVERSÁRIO DO GENOCÍDIO DO RUANDA, A SITUAÇÃO DO
RUANDA - GRANDES LAGOS, COM UM CONJUNTO DE ARTIGOS DOS QUAIS FAZIA PARTE O QUE
SE SEGUE.
DE ENTRE OS
ASPECTOS HÁ QUE REALÇAR O PAPEL DA COLONIZAÇÃO BELGA NO CONGO, NO RUANDA E NO
BURUNDI.
UMA NAÇÃO EUROPEIA
AINDA HOJE PROFUNDAMENTE MARCADA PELA CISÃO INTERNA, UMA CISÃO QUE SE ARRASTA
DE HÁ MUITO, INSTALOU NAS COLÓNIAS O CRITÉRIO DE DIVIDIR PARA MELHOR REINAR ATÉ
À EXAUSTÃO, ESPELHANDO O QUE SE PASSAVA NO SEU PRÓPRIO PAÍS!!!
DESDE ENTÃO QUE AS
DISPUTAS NÃO PARARAM NOS GRANDES LAGOS, MAS HOJE OS APROVEITAMENTOS TÊM OUTROS
INTERVENIENTES EXTERNOS: O IMPERIALISMO NORTE AMERICANO E O SUB-IMPERIALISMO
GAULÊS!!!
EM ÁFRICA NÃO HÁ
"GUERRAS CIVIS": AS COMPONENTES EXTERNAS TÊM SIDO NÃO SÓ DECISIVAS,
COMO TAMBÉM ACOMODARAM AS MAIS DIVERSAS FORMAS DE INGERÊNCIA, DE MANIPULAÇÃO E
DE SUBVERSÃO!
AS DISPUTAS
ESPALHAM-SE SEM QUE AS FRONTEIRAS O IMPESSAM E AS REGIÕES AFECTADAS
EXPANDEM-SE.
DESDE A DÉCADA DE
90 DO SÉCULO XX, LOGO APÓS O FIM DO BLOCO SOCIALISTA, A IMPLOSÃO DA URSS E O
DERRUBE DO MURO DE BERLIM, QUE OS INTERVENIENTES EXTERNOS EM ÁFRICA FORAM-SE
ENCAIXANDO NA HEGEMONIA UNIPOLAR DO IMPÉRIO, COM RESULTADOS CATASTRÓFICOS PARA
OS AFRICANOS: UMA SUCESSÃO DE TENSÕES, CONFLITOS E GUERRAS QUE AINDA NÃO
TERMINARAM! DAÍ A LEGITIMIDADE HISTÓRICA PARA AQUELES QUE PROCURAM A PAZ
PAN-AFRICANA!!!
A PAZ PAN-AFRICANA
TEM DE VENCER OBSTÁCULOS HISTÓRICOS E FERIDAS PROFUNDAS QUE SE ARRASTAM DESDE A
COLONIZAÇÃO!!!
TODOS SOMOS POUCOS
PARA LANÇAR OS ALICERCES DO RENASCIMENTO AFRICANO!!!
- Século XV – Os
mais antigos habitantes do Ruanda, conforme é hoje ainda conhecido, são os twa,
um povo de caçadores que se instalou na região desde épocas recuadas mas que se
desconhece as origens.
- Século XV –
Provavelmente originários da bacia do grande Congo, a estirpe hutu deve ter chegado
durante este século, um pouco antes dos tutsis provenientes do norte (Somália)
terem conquistado a região.
Os reis tutsis, ou
“mwamis”, tornaram-se monarcas absolutos e os seus feudos e sub feudos formaram
desde essa altura as “colinas”.
Os hutus passaram a
formar uma casta inferior, os servos, que passaram a viver na dependência
económica dos Tutsis.
No princípio o
sistema funcionou rigidamente e o casamento entre elementos das duas castas não
era permitido.
Os hutus
dedicavam-se fundamentalmente à agricultura e os tutsis eram pastores pelo que
a distinção social dos dois grupos integrava a dicotomia de modos de vida e
todo um processo distinto de natureza sócio-cultural.
- Século XIX –
Exploradores alemães chegaram à região provenientes do leste; em 1880 e missões
católicas instalaram-se na região nessa altura.
O Ruanda, tal como
o Urundi (Burundi), foram incorporados nos territórios alemães da África do
Leste.
- Século XX – As
profundas alterações que se sucederam à Revolução Industrial , influenciaram o
destino do Ruanda.
- Em 1918, perdida
a Iª Guerra Mundial, em função do Tratado de Versalhes, a anterior colónia
Alemã do Ruanda-Urundi, ao abrigo da Liga das Nações, tornou-se um protectorado
que passou a ser governado pela Bélgica, mantendo-se o sistema feudal com dois
monarcas tutsis a governarem, um o Ruanda, o outro o Urundi.
Os belgas no início
favoreceram os tutsis, não só mantendo a supremacia dessa casta e o feudalismo
tradicional, mas conferindo-lhes o privilégio do acesso à educação ocidental, o
que levou ao reforço da autoridade dos tutsis (14% da população), sobre os
Hutus (85%) e ao fosso entre as duas componentes populacionais existentes no
território.
- Nesse quadro os
Belgas, em 1926, introduziram um sistema de identidade diferenciando as duas
castas.
- Em 1957 é formado
o “Parmehutu” (“Partido para a Emancipação dos Hutus”), ainda com o Ruanda sob
autoridade belga; nessa altura iniciou-se a revolta não só contra a autoridade
colonial, mas também contra os membros da casta superior, os tutsis.
Se antes as
autoridades coloniais belgas haviam apoiado os tutsis e o seu regime feudal,
perante a situação de independência elas mudaram de atitude e passaram a apoiar
os hutus, o que estimulou por um lado a estrutura sócio-cultural tradicional, mas
também a relativa estabilidade que havia vigorado até então no país.
- A 10 de Abril de
1957 nasce em Gitarama aquele que viria a ser um dos principais líderes do
“Ruanda Patriotic Front”, Fred Rwigema (na altura ele recebeu o nome de
Emmanuel Gisa). Paul Kagame nasceria na mesma Prefeitura em Outubro do mesmo
ano.
- Em 1959 dá-se o
primeiro episódio de sublevação hutu, que provocou a derrocada da monarquia
tutsi e a saída forçada do território de 150.000 tutsis, àquela data cerca de
metade da população tutsi residente no Ruanda.
Entre os refugiados
partem, com tenra idade e acompanhando as respectivas famílias, Fred Rwigema e
Paul Kagame.
Este episódio foi o
primeiro duma série de massacres de tutsis que foram ocorrendo no Ruanda nos
anos de 1963, 1965, 1973 e 1994.
- A família de Paul
Kagame, de origem aristocrática, instala-se num campo de refugiados no oeste do
Uganda.
Paul Kagame, como
milhares de jovens tutsis cujas famílias se foram refugiando nos países
vizinhos, cresceu num ambiente de trauma e nostalgia pela pátria e pelas
propriedades perdidas, alimentando o desejo de desforra.
- Em 1960 os hutus
ganharam as primeiras eleições do país, de âmbito municipal, organizadas pelos
belgas.
- A 1 de Julho de
1962 a Bélgica garantiu a independência do Ruanda.
- A 20 de Outubro
de 1962 o governo ruandês assinou um Tratado de Amizade e Cooperação com a
França, fortalecido com vários acordos bilaterais, a 4 de Dezembro do mesmo
ano: Acordo de Cooperação Económica, Acordo de Cooperação Cultural e Técnica e
Acordo de Cooperação Radiofónica.
- Nos anos de 1961
e 1962, ao mesmo tempo que se dá a retirada belga, os dois Países, Ruanda e
Burundi, separam-se formando dois estados independentes. Uma revolução hutu no
Ruanda instala um novo Presidente, Gregoire Kayabanda e os combates contra os
tutsis continuam provocando a continuação da sua saída do território; no
Burundi os tutsis retêm o poder.
- Em 1963 ocorreu o
segundo massacre dos tutsis em resposta a um ataque militar dos exilados tutsis
no Burundi, o que provocou mais uma onda de refugiados, abandonando o país.
Nesse mesmo ano
alguns tutsis iniciam a revolta contra o poder instituído.
Refugiados Hutus
provenientes do Burundi chegaram ao Ruanda em grandes quantidades, vítimas de
retaliações do governo tutsi do Burundi.
A lógica da
violência entre hutus e tutsis estava definitivamente instalada.
- Em 1973 os Tutsis
são expulsos das Universidades e o Chefe do Estado Maior, General Juvenal
Habyarimana toma o poder, restaurando a ordem e implantando um estado mono partidário.
Uma política de quotas para emprego na administração pública foi então
estabelecida, tendo os tutsis preenchido 9% das necessidades.
- Em 1975 é formado
o “MRND” (“Movimento Revolucionário Nacional para o Desenvolvimento”) e com ele
os hutus originários da região do Chefe de Estado, ocupam paulatinamente as
preferências no serviço público e nas Forças Armadas, continuando o padrão de
exclusão dos tutsis ao longo das décadas de 70 e 80.
- A 18 de Julho de
1975 foi assinado o Acordo Particular de Assistência Militar, entre a França e
o Ruanda, que se mantinha em vigor com algumas alterações até ao derrube do
avião Presidencial a 6 de Abril de 1994 .
- Em 1978 o ditador
Idi Amin invadiu a Tanzânia.
Para expulsar as
suas tropas , o governo tanzaniano contou com os apoios dos refugiados
ugandeses e ruandeses.
Yoweri Museveni e
Fred Rwigema ajudaram as tropas tanzanianas na emergência.
- Em 1979, no
Uganda, é formada a “UNLA”, (“Exército de Libertação Nacional do Uganda”),
incorporando muitos dissidentes ugandeses e refugiados tutsis do Ruanda, entre
eles Yoweri Museveni, Fred Rwigema e Paul Kagame.
- Em 1981 é criado
no Uganda o “NRA” (“Exército de Resistência Nacional”), cujo objectivo
principal era o de pôr fim à ditadura de Milton Obote que havia tomado o poder
após o derrube de Idi Amin, no Uganda.
A primeira célula
armada do “NRA” possui apenas 40 homens, dos quais apenas 27 possuem armas.
Faziam parte dessa
célula, Fred Rwigema e Paul Kagame.
- Em 1986, entre as
forças vitoriosas de Yoweri Musseveni que depuseram Milton Obote, o “NRA”
(“Exército de Resistência Nacional”), encontram-se os exilados tutsis; esse
êxito inspirou a formação no exílio do “RPF” (“Forças Patrióticas do Ruanda”),
uma organização inteiramente dominada pelos tutsis.
- Entre 1986 e
1989, Fred Rwigema é o Chefe de Operações do “NRA”, no norte do Uganda, contra
o movimento guerrilheiro “LRA” (“Exército de Resistência do Senhor”), de Alice
Lakwena, que pela via armada se tem vindo a opor ao regime de Yoweri Museveni,
com o apoio do regime islamizado do Sudão.
- Em 1989, a queda
dos preços do café causaram imensos prejuízos ao Ruanda e a economia do país
entrou praticamente em colapso, pelo que aumentaram as tensões sociais de toda
a ordem.
Nessa altura, Fred
Rwigema demitiu-se das suas funções no “NRA” e consagra-se à recolha de fundos
na América do Norte e na Europa, no seio das comunidades tutsis em diáspora, a
fim de recolher dinheiro e dar início à luta armada da “RPF”.
- A diáspora tutsi,
com uma comunidade relativamente importante nos Estados Unidos, contribuiu para
condicionar os relacionamentos Internacionais da revolta e foi nessa altura que
jovens promissores, como Paul Kagame, foram conduzidos a cursos de Estado
Maior, ao nível dos que foram “facilitados” por Academias como a de Fort
Leavenworth, no Kansas.
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