Martinho Júnior,
Luanda
1 – O Mundo está a
viver um momento de transição entre o “diktat” da aristocracia
financeira anglo-saxónica e a sua “ementa” de hegemonia unipolar que
provoca o desequilíbrio, as injustiças de toda a ordem, o caos, as tensões, os
conflitos e as guerras, face à emergência multipolar que procura a todo o
transe uma ordem internacional mais justa, mais vocacionada para a paz, para a
busca de consensos e aberta à participação numa ordem multipolar.
Os que defendem a
hegemonia unipolar estreitaram tanto as capacidades de lucro que hoje, em claro
sinal de desespero, recorrem à ditadura do capital, em estreita aliança com o
terrorismo fundamentalista islâmico, o fascismo e até com o nazismo, na ânsia
de manter o domínio, tirando partido do modelo de revolução industrial e de
outras tecnologias que impuseram historicamente a toda a humanidade!
O seu poder é de
tal ordem que, como um enorme camaleão consegue recorrer ao mimetismo da“democracia
representativa”para salvar o que é essencial a um punhado, aos tais 1% que
procuram dominar o controlo das riquezas do planeta e são incapazes de assumir
outra equação para além daquela que se reduz ao seu próprio umbigo, em relação
ao qual se revêem desde há décadas…
Os que emergem ansiosos
por um universo multipolar, não têm outra alternativa senão tirar partido das
brechas que esse atroz egoísmo faz prevalecer desde o fim da assim considerada “Guerra
Fria”, de forma tão desastrosa, sangrenta e obsoleta.
A emergência assume
assim o espaço crítico que um dia foi ocupado pelo socialismo, ainda que hoje
não se reduza a ele, embora o tenha em devida conta.
A luta contra o
subdesenvolvimento crónico faz parte dessa emergência, pois são os
desequilíbrios provocados à escala global que alimentam o atraso de continentes
inteiros e muito particularmente de África.
Os espaços gerados
pelas emergências são a oportunidade para se quebrar esse ciclo vicioso de
largos séculos, que em África se iniciou, é preciso recordá-lo, com a primeira
das globalizações: o “comércio triangular” que recorreu à escravatura
de tantos milhões de africanos, obrigando-os à força a abandonar o seu
continente… para assim melhor delapidar as suas riquezas…
2 – As
geo-estratégias e as geo-políticas reflectem as enormes tensões existentes
entre as duas linhas de força e nos imensos teatros geográficos, as opções e os
alinhamentos vão transformando as sociedades, como se o mundo não passasse duma
simples aldeia com pouca harmonia, apesar dos vasos comunicantes tão evidentes que
obrigam a essas alterações, por que, consciente ou inconscientemente, por via
das mais legítimas aspirações de paz, de liberdade, de solidariedade e de amor,
a humanidade é obrigada a optar e a escolher o caminho, que não pode ser mais
favorável aos tradicionais 1% da aristocracia financeira mundial, nos termos em
que ela se faz prevalecer.
Em todas as
sociedades as pessoas buscam enveredar por políticas que são opções entre os
dois parâmetros, mesmo que a sua influência sócio-política seja aparentemente inócua,
ou seja neutralizada pela manipulação, pela mentira, pelo embuste ou pela
opressão.
Aqueles que “absorveram” historicamente
capacidades de domínio em relação aos recursos da Terra, são prevalecentes nos
dois campos: são eles que assumem as linhas de força mais decisivas em relação
ao petróleo, aos minerais e a todos os recursos de conhecimento científico e
tecnológico daí derivados, bem como às articulações do poder…
As geo-estratégias
e as geo-políticas da transição em curso, reflectem portanto as duas visões de
mundo que actualmente se confrontam sem remissão e a luta não conhece
fronteiras, passando-se por vezes bem no interior das sociedades e até das
comunidades.
3 – A aproximação
entre os emergentes que perseguem a multipolarização é inevitável e é a
cegueira do campo controlado pela aristocracia financeira mundial, daqueles que
reduzem o mundo ao seu umbigo, que está, quantas vezes, a incitar essa
aproximação.
A China e a Rússia
assumem a “espinha dorsal” dessa geo-estratégia e geo-política, de
forma a cobrir o paralelo continental do Pacífico ao Atlântico.
No momento em que a “civilização
ocidental” instrumentaliza a NATO e grupos fascistas e nazis na Ucrânia, ao
mesmo tempo que impõe os parâmetros da encoberta ditadura do capital na União
Europeia, precisamente para “parar” o domínio russo em relação ao
leste europeu, o Presidente Putin toma iniciativas sem precedentes de
aproximação à China, de modo a que essa aproximação não perca de vista impactos
de toda a ordem em todos os continentes.
Os reflexos desse
estreitamento de relações entre a Rússia e a China dizem respeito a todas as
actividades humanas, desde a exploração e exploração do gás, até às mais
enérgicas medidas em relação à dilatação dos vasos comunicantes no âmbito dos
transportes, comunicações e ligações de toda a ordem.
Para além dos BRICS
propriamente ditos, os que rompem com a visão obsoleta da humanidade e do
planeta, anseiam por essa emergência, no momento em que se torna evidente que
não será nem pelo domínio na informação, nem pelas imensas capacidades na“inteligência”,
nem na capacidade colossal da força das armas, ou seja, nas potencialidades de
manipulação e ingerência, que as sociedades se vão abater… ou vão deixar de
saber optar!
De facto, a ânsia
de liberdade, de solidariedade, de participação, colocam limites
sócio-políticos ao poder daqueles que abusam da “democracia
representativa” para blindar os e blindarem-se nos seus interesses
egoístas, tão perversamente assumidos!
4 – O que é
obsoleto está agora mais visível que antes e o“papel celofane” que antes
servia para esconder o apodrecimento da “civilização ocidental” e da “doutrina
de choque” eminentemente neo liberal, está velho e rasga-se com múltiplas
contradições que vão consumindo a“ementa” intestina.
No momento em que,
por exemplo, se evidenciam os expedientes fascistas, nazis e colonialistas na
Europa, um Presidente ultra-conservador como Cavaco Silva busca
desesperadamente na China alternativas que contribuam para sair do sufoco e das
grilhetas que foram impostas pela ditadura do capital a Portugal: é a rota das
caravelas de novo em pleno século XXI!
Cabe agora aos
emergentes terem mais ousadia para a formulação das políticas multipolares: a
ONU está obsoleta, o FMI está obsoleto, o Baco Mundial idem, a OMC já não pode
esconder os relacionamentos desestabilizadores… há que criar novas Organizações
Internacionais que reflictam a emergência multipolar e coloque de quarentena
tudo o que está obsoleto!
O exemplo vem-nos
da América Latina: está de quarentena a Organização dos Estados Americanos,
está de quarentena a ALCA, o “pátio traseiro” já não pode ter a
serventia que antes tinha para o império e as“democracias representativas” estão
a ser neutralizadas por dentro dos ambientes sócio-políticos pelas organizações
populares que buscam ansiosamente mais liberdade, mais solidariedade e mais
participação.
Quanto mais
musculado se manifestar o império anglo-saxónico nas suas jogadas de desespero,
mais os povos vão perceber qual o caminho a seguir, como vão segui-lo e com quem!
A luta consciente
sobre os fenómenos profundamente dialécticos que vão ocorrendo na “nossa
casa comum”, é essencial para trazer mais felicidade à humanidade e garantir o
respeito que a Mãe-Terra merece!
*Mapa global das exportações
de cada país; compreender as correlações de forças, passa pelo conhecimento
real das tendências nos relacionamentos que o comércio internacional obriga a
implicar.
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