terça-feira, 20 de maio de 2014

ALTERAÇÕES PROFUNDAS NA “NOSSA CASA COMUM”



Martinho Júnior, Luanda

1 – O Mundo está a viver um momento de transição entre o “diktat” da aristocracia financeira anglo-saxónica e a sua “ementa” de hegemonia unipolar que provoca o desequilíbrio, as injustiças de toda a ordem, o caos, as tensões, os conflitos e as guerras, face à emergência multipolar que procura a todo o transe uma ordem internacional mais justa, mais vocacionada para a paz, para a busca de consensos e aberta à participação numa ordem multipolar.

Os que defendem a hegemonia unipolar estreitaram tanto as capacidades de lucro que hoje, em claro sinal de desespero, recorrem à ditadura do capital, em estreita aliança com o terrorismo fundamentalista islâmico, o fascismo e até com o nazismo, na ânsia de manter o domínio, tirando partido do modelo de revolução industrial e de outras tecnologias que impuseram historicamente a toda a humanidade!

O seu poder é de tal ordem que, como um enorme camaleão consegue recorrer ao mimetismo da“democracia representativa”para salvar o que é essencial a um punhado, aos tais 1% que procuram dominar o controlo das riquezas do planeta e são incapazes de assumir outra equação para além daquela que se reduz ao seu próprio umbigo, em relação ao qual se revêem desde há décadas…

Os que emergem ansiosos por um universo multipolar, não têm outra alternativa senão tirar partido das brechas que esse atroz egoísmo faz prevalecer desde o fim da assim considerada “Guerra Fria”, de forma tão desastrosa, sangrenta e obsoleta.

A emergência assume assim o espaço crítico que um dia foi ocupado pelo socialismo, ainda que hoje não se reduza a ele, embora o tenha em devida conta.

A luta contra o subdesenvolvimento crónico faz parte dessa emergência, pois são os desequilíbrios provocados à escala global que alimentam o atraso de continentes inteiros e muito particularmente de África.

Os espaços gerados pelas emergências são a oportunidade para se quebrar esse ciclo vicioso de largos séculos, que em África se iniciou, é preciso recordá-lo, com a primeira das globalizações: o “comércio triangular” que recorreu à escravatura de tantos milhões de africanos, obrigando-os à força a abandonar o seu continente… para assim melhor delapidar as suas riquezas…

2 – As geo-estratégias e as geo-políticas reflectem as enormes tensões existentes entre as duas linhas de força e nos imensos teatros geográficos, as opções e os alinhamentos vão transformando as sociedades, como se o mundo não passasse duma simples aldeia com pouca harmonia, apesar dos vasos comunicantes tão evidentes que obrigam a essas alterações, por que, consciente ou inconscientemente, por via das mais legítimas aspirações de paz, de liberdade, de solidariedade e de amor, a humanidade é obrigada a optar e a escolher o caminho, que não pode ser mais favorável aos tradicionais 1% da aristocracia financeira mundial, nos termos em que ela se faz prevalecer.

Em todas as sociedades as pessoas buscam enveredar por políticas que são opções entre os dois parâmetros, mesmo que a sua influência sócio-política seja aparentemente inócua, ou seja neutralizada pela manipulação, pela mentira, pelo embuste ou pela opressão.

Aqueles que “absorveram” historicamente capacidades de domínio em relação aos recursos da Terra, são prevalecentes nos dois campos: são eles que assumem as linhas de força mais decisivas em relação ao petróleo, aos minerais e a todos os recursos de conhecimento científico e tecnológico daí derivados, bem como às articulações do poder…

As geo-estratégias e as geo-políticas da transição em curso, reflectem portanto as duas visões de mundo que actualmente se confrontam sem remissão e a luta não conhece fronteiras, passando-se por vezes bem no interior das sociedades e até das comunidades.

3 – A aproximação entre os emergentes que perseguem a multipolarização é inevitável e é a cegueira do campo controlado pela aristocracia financeira mundial, daqueles que reduzem o mundo ao seu umbigo, que está, quantas vezes, a incitar essa aproximação.

A China e a Rússia assumem a “espinha dorsal” dessa geo-estratégia e geo-política, de forma a cobrir o paralelo continental do Pacífico ao Atlântico.

No momento em que a “civilização ocidental” instrumentaliza a NATO e grupos fascistas e nazis na Ucrânia, ao mesmo tempo que impõe os parâmetros da encoberta ditadura do capital na União Europeia, precisamente para “parar” o domínio russo em relação ao leste europeu, o Presidente Putin toma iniciativas sem precedentes de aproximação à China, de modo a que essa aproximação não perca de vista impactos de toda a ordem em todos os continentes.

Os reflexos desse estreitamento de relações entre a Rússia e a China dizem respeito a todas as actividades humanas, desde a exploração e exploração do gás, até às mais enérgicas medidas em relação à dilatação dos vasos comunicantes no âmbito dos transportes, comunicações e ligações de toda a ordem.

Para além dos BRICS propriamente ditos, os que rompem com a visão obsoleta da humanidade e do planeta, anseiam por essa emergência, no momento em que se torna evidente que não será nem pelo domínio na informação, nem pelas imensas capacidades na“inteligência”, nem na capacidade colossal da força das armas, ou seja, nas potencialidades de manipulação e ingerência, que as sociedades se vão abater… ou vão deixar de saber optar!

De facto, a ânsia de liberdade, de solidariedade, de participação, colocam limites sócio-políticos ao poder daqueles que abusam da “democracia representativa” para blindar os e blindarem-se nos seus interesses egoístas, tão perversamente assumidos!

4 – O que é obsoleto está agora mais visível que antes e o“papel celofane” que antes servia para esconder o apodrecimento da “civilização ocidental” e da “doutrina de choque” eminentemente neo liberal, está velho e rasga-se com múltiplas contradições que vão consumindo a“ementa” intestina.

No momento em que, por exemplo, se evidenciam os expedientes fascistas, nazis e colonialistas na Europa, um Presidente ultra-conservador como Cavaco Silva busca desesperadamente na China alternativas que contribuam para sair do sufoco e das grilhetas que foram impostas pela ditadura do capital a Portugal: é a rota das caravelas de novo em pleno século XXI!

Cabe agora aos emergentes terem mais ousadia para a formulação das políticas multipolares: a ONU está obsoleta, o FMI está obsoleto, o Baco Mundial idem, a OMC já não pode esconder os relacionamentos desestabilizadores… há que criar novas Organizações Internacionais que reflictam a emergência multipolar e coloque de quarentena tudo o que está obsoleto!

O exemplo vem-nos da América Latina: está de quarentena a Organização dos Estados Americanos, está de quarentena a ALCA, o “pátio traseiro” já não pode ter a serventia que antes tinha para o império e as“democracias representativas” estão a ser neutralizadas por dentro dos ambientes sócio-políticos pelas organizações populares que buscam ansiosamente mais liberdade, mais solidariedade e mais participação.

Quanto mais musculado se manifestar o império anglo-saxónico nas suas jogadas de desespero, mais os povos vão perceber qual o caminho a seguir, como vão segui-lo e com quem!

A luta consciente sobre os fenómenos profundamente dialécticos que vão ocorrendo na “nossa casa comum”, é essencial para trazer mais felicidade à humanidade e garantir o respeito que a Mãe-Terra merece! 

*Mapa global das exportações de cada país; compreender as correlações de forças, passa pelo conhecimento real das tendências nos relacionamentos que o comércio internacional obriga a implicar.

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