sexta-feira, 25 de julho de 2014

BES: PROMISCUIDADE, DIZEM ELES


Manchete no jornal SOL

Luís Albuquerque

Chatice pá, anda agora parte da nossa classe política e não só, chocadíssima com esta estória do BES e de Ricardo Salgado, impoluto democrata e banqueiro. Os socialistas, mais os sociais-democratas, mais… enfim, os moderados porque radicais são os trabalhadores, a CGTP e o PCP (cambada de malandros, pá), estão em estado de choque. E a coisa não é para menos. Não bastava já a trapalhada no Grupo (ou grupos sei lá, que aquilo é muito areia para a nossa camioneta) como o senhor de todos os regimes foi detido por alegadamente ter trabalhado competentemente.

De facto os moderados têm razões de sobra para estarem de boca aberta de espanto. Como vergonha na cara é coisa que não têm, lá vão dizendo que «acabamos por ter um poder oligárquico que age irresponsavelmente, com consequências negativas para toda a sociedade», diz Francisco Assis na TVI24, esquecendo que «amigos e aliados de Salgado, como Mário Soares, que se empenhou no regresso de famílias como a Espírito Santo a Portugal» (1) ou «as privatizações dos sectores estratégicos lançadas por António Guterres, que conferiram ao BES um lugar de comando na banca nacional. A relação de credor com a PT passa a ser um dos pilares do grupo, com Murteira Nabo a saltar de Ministro de Guterres para a presidência da telefónica (1996-2003), integrando, quatro anos mais tarde, a administração do BES.

No mesmo período, um ex-quadro do BES, António Mexia, chega ao comando da Galp, petrolífera onde o banco manteve uma posição até ao ano 2000, alienando-a à ENI e Iberdrola por influência do inevitável Pina Moura» (2). Mas também João Galamba deputado socialista e apoiante do Vamos dar a Volta a Isto Costa se mostra preocupado e diz que «não aceito é a ideia de que ‘basta tirar o Salgado’ para isto entrar nos eixos». Mais nada! E Marcos Sá, outro ex-deputado do PS, critica: «Enquanto Presidente do BES nunca foi detido. É o estado disto tudo…». Lindo, não é? (3)

Já os sociais-liberais-democratas (e tudo aquilo que lhes queiram chamar) vêm dizer pela voz José Eduardo Martins, ex-secretário de Estado do Ambiente do PSD e ex-deputado que «Enquanto foi presidente do banco tudo assobiou para o lado, ninguém se meteu com quem manda que o respeitinho é bonito e por cá o cultivamos com a manha da raposa»(4). Tomaaaa! Cheios de razão caramba. Como é possível deter as rédeas do poder político, económico e judicial há mais de uma trintena de anos e estas coisas acontecem? Só pode ser por causa dos trabalhadores, da CGTP e do PCP (cambada de malandros, pá).

No IX Governo Constitucional (1983-1985) também conhecido por Bloco Central (olha que engraçado esta curiosidade, este governo foi formado pelo PS e PSD/PPD ou PPD/PSD (e tudo aquilo que lhes queiram chamar) o ministro das Finanças, Ernâni Lopes, foi «responsável pela chamada Lei de Delimitação de sectores, aprovada em 1983, que pela primeira vez desde as nacionalizações abria o sector da banca à iniciativa privada, preparando assim a primeira fase de privatizações. A criação do Banco Comercial Português, em 1984, com capitais coordenados por Américo Amorim, teve o apoio deste economista e quadro do Banco de Portugal. O BES foi, posteriormente, o único banco privado no qual Ernâni Lopes desempenhou funções de administração (2002-2003)» (5). Se a memória não me falha este Governo foi liderado pelo moderado Mário Soares (hã? Apago isto? Não convém à unidade das esquerdas? Ó pá, deixa estar que ninguém quer saber).

Mais à frente nos governos daquele que nunca foi, é ou será político, Cavaco Silva, «são marcantes para a recomposição do grupo, abrindo os campos legais à privatização (criação das sociedades anónimas de capitais públicos e nova revisão constitucional), e gerindo estrategicamente a entrega das seguradoras como primeira etapa de recomposição do poder financeiro. A privatização da Tranquilidade, com o apoio do Crédit Agricole e o apadrinhamento político de Mário Soares, foi fundamental para o regresso da família Espírito Santo e o fortalecimento financeiro indispensável no ataque à privatização do BES.»(6)

Mas temos mais sortido para os anos 80 e 90. «Miguel Horta e Costa ocupa o cargo de Secretário de Estado do Comércio Exterior (1987-1990), decisivo nas novas relações com a banca europeia, para logo depois ingressar na presidência do BES Investimento (1990-1995). Um acontecimento não inédito na família, uma vez que o seu tio, Miguel Jorge Horta e Costa, o quinto Barão de Santa Comba Dão, era muito próximo de Manuel Ricardo Espírito Santo, do qual recebeu a administração da Mocar e Santomar. Nesta fase ingressam ainda no banco ex-governantes como Rui Machete (1990-1991), Emílio Vilar (1985-1986) e Almerindo Marques (1985). Este último viria a reencontrar o BES já na qualidade de presidente das Estradas de Portugal, tendo por função a supervisão do consórcio que o banco mantém com a Mota-Engil (Ascendi).(7)

E mais recentemente como é? «Apesar da relação exímia com todos os governos, "com nenhum outro primeiro-ministro [Salgado] teve uma relação tão próxima como com José Sócrates (…) posições próximas em vários temas, como o fomento da economia pelas grandes obras públicas» (8).  

Este tem sido o nosso sério, idóneo, “por Portugal” regime político. «Com figuras destacadíssimas do PS e PSD, com ministros do atual governo (por exemplo, Machete foi ministro, foi para o BES, voltou a ser ministro) e com ex-governantes e empresários de brilhantes carreiras. Considerando só os casos mais relevantes, temos cinco administradores do BES que foram para o governo (e depois não voltaram ao BES), treze que foram do governo para funções de direção no BES e cinco que foram do governo para o BES e voltaram ao governo (Silveira Godinho, Martins Adegas, Rui Machete, Miguel Frasquilho e Manuel Pinho). É preciso voltar ao tempo de Lourdes Pintasilgo para encontrar um governo sem BES» (9).

Temos assim que Salgado e o BES sempre andaram de mãozinha dadas com os moderados/ democratas-sociais/socialistas modernos, Mário Soares e «Francisco Balsemão, que nos anos 1990 chegou a levar o banqueiro a reuniões do grupo de Bilderberg, que junta a elite política e empresarial mundial, antes de se zangarem e esfriarem a relação».(10)

Ó meu, isto é muita grande para se ler… Ok, vou encurtar.

Sinha David publicava no “facebook” em Agosto de 2013 o seguinte: «Hoje, porém, o BES de Salgado encontra-se perdido no seu próprio labirinto. O banqueiro é suspeito de fuga aos impostos e vê o seu braço direito, Amílcar Morais Pires, ser constituído arguido por crimes financeiros. E também o presidente do BESI, apontado como sucessor natural de Ricardo Salgado, foi constituído arguido. Toda a cúpula do banco se encontra sob suspeita. Esboçamos aqui a teia de alguns casos que, nos últimos anos, pintam de negro a reputação dos Espírito Santo:

2004 – Portucale

Três gestores do Grupo Espírito Santo (GES) – Carlos Calvário, José Manuel de Sousa e Luís Horta e Costa – foram constituídos arguidos e levados a julgamento num processo que investigou suspeitas de corrupção ao mais alto nível do então Governo de Santana Lopes e Paulo Portas para a aprovação de importantes projectos ligados ao BES. Em causa estão as últimas reuniões de Conselho de Ministros daquele Executivo, em que foram apreciados o empreendimento turístico Portucale (em Benavente), o projecto para a Quinta do Montado (em Gaia) e o acordo para o reequilíbrio financeiro do consórcio explorador das SCUTs AENOR.

Na mesma altura, foram registados 115 depósitos em numerário numa conta do CDS-PP de Paulo Portas no BES num valor total superior a um milhão de euros, tendo o banco sido legalmente obrigado a reportar à justiça aquela operação suspeita. O caso Portucale tornou-se especialmente mediático pelo facto de ministros do CDS-PP terem autorizado o abate de 2500 sobreiros (uma árvore protegida) para a construção do empreendimento de Benavente, e pelos pseudónimos caricatos inscritos nos depósitos suspeitos. Entre estes, o posteriormente celebrizado ‘Jacinto Leite Capelo Rego’. Links: ionline, DN

2004 - Submarinos

Será o maior escândalo de corrupção de sempre em Portugal. Foi detectado durante as investigações ao caso Portucale e também envolve o Grupo Espírito Santo (GES). A compra de dois submarinos para a marinha portuguesa custou cerca de mil milhões de euros aos contribuintes e o negócio foi financiado por um consórcio bancário formado entre o BES e o Crédit Suisse escolhido em 2004 pelo então ministro da Defesa do CDS-PP Paulo Portas. A proposta vencedora do BES terá sido posteriormente agravada com prejuízo para o Estado, com a duplicação do spread cobrado pelo banco, mas ainda assim aceite pelo ministro.

O GES, através da ESCOM, assessorou ainda o consórcio alemão que venceu o concurso para a construção e entrega dos dois navios (Portas escolheu a Man Ferrostaal em 2004 em detrimento de um grupo francês seleccionado pelo Governo anterior).

A justiça portuguesa investiga o rasto de cerca de 24 milhões de euros que os alemães transferiram para a ESCOM UK, e que daí terão seguido para uma conta do BES nas Ilhas Caimão, que se suspeita que terão sido utilizados para pagar subornos a responsáveis políticos e militares portugueses que tomaram a decisão de avançar com o polémico negócio – uma vez que os serviços prestados pela ESCOM não justificariam mais que 5 milhões de euros. Parte desse dinheiro poderá ter regressado ao BES, para a mesma conta do CDS-PP cujos depósitos em numerário desencadearam o processo Portucale. São vários os nomes ligados ao Grupo Espírito Santo visados pelo Ministério Público no processo dos submarinos, incluindo Luís Horta e Costa, Miguel Horta e Costa e Pedro Ferreira Neto. Links: Público, SOL

2005 - Contas de Pinochet

Os fundos públicos desviados pelo antigo ditador chileno Augusto Pinochet também passaram pelo Banco Espírito Santo. Assim concluiu o Senado norte-americano, que investigou o rasto do dinheiro do general, entretanto falecido, que estava sujeito a sanções financeiras internacionais.

Um relatório de uma comissão de inquérito datado de 2005 indica que Pinochet teve pelo menos 4 milhões de dólares em várias contas abertas numa dependência do BES em Miami. O caso foi também investigado pela justiça chilena, tendo o banco português alegado o dever de confidencialidade face aos seus clientes para não colaborar com as instâncias judiciais. Links: Público, TSF, DN 1, DN 2» (11)

Conclusão: Se não fossem os trabalhadores, a CGTP e o PCP até que o país estava bem, pá.

NOTA FINAL: Evitei pesquisas no Avante! para não ser apelidado de sectário, ok?

Fontes:
(1) – “O Último banqueiro” de Maria João Babo e Maria João Gago;
(2) – Esquerda.net;
(3) – Observador;
(4) – Observador;
(5) – Esquerda.net;
(6) – Esquerda.net;
(7) – Esquerda.net;
(8) – Público;
(9) - www.leituras.eu
(10) - “O Último banqueiro” de Maria João Babo e Maria João Gago;
(11) - https://www.facebook.com/cmjornal/posts/10153157988120475

Sem comentários:

Mais lidas da semana