O
alarde associando oscilações da Bolsa às pesquisas eleitorais é uma versão 'Não
vai ter Bolsa' do 'Não vai ter Copa'. Quem apostou contra o Brasil, perdeu
Helena
Sthephanowitz
O
banco Santander do Brasil abriu seu capital ao público na Bolsa de Valores de
São Paulo (Bovespa) em outubro de 2009, a R$ 23,50 cada ação. Menos de cinco anos
depois, a matriz espanhola do banco fez, em 29 de abril de 2014, uma oferta
pública para os acionistas minoritários – que detêm cerca 25% dos papéis do
Santander do Brasil negociados na Bovespa – trocarem suas ações pelas ações da
matriz do grupo espanhol, ao valor de R$ 15,31.
Significa
que quem aplicou seu dinheiro nas ações do Santander Brasil em 2009 ao valor
unitário de R$ 23,50, depois recebeu uma proposta do próprio banco de
negociá-las por R$ 15,31. Um prejuízo de 34,85% entre uma operação e outra.
Será que o banco pode ser considerado um bom conselheiro? A ponto de escrever
uma mensagem nos extratos de caráter especulativo sobre rumos da economia de
acordo com oscilações das pesquisas eleitorais que, pela falta de fundamentação
mais sólida, não difere muito de previsões vistas nos horóscopos.
Outra
curiosidade é que a matriz do grupo espanhol quer se fortalecer unificando com
as operações brasileiras. Ou seja, há uma clara aposta no crescimento do
mercado brasileiro maior do que na Espanha e, independentemente do resultado
das eleições – senão esperaria outubro passar para montar tal operação ou não,
conforme o resultado.
Há,
de fato, especulação financeira na Bolsa de Valores quando as pesquisas
melhoram as chances dos candidatos de oposição, porque o mercado financeiro vê
o candidato do PSDB, Aécio Neves, como o seu representante. Se considerarmos as
tensões naturais entre os interesses de lucro de banqueiros e o papel moderador
da autoridade de governo para defender a sociedade dos excessos cometidos pelos
bancos, através da boa regulação do mercado, Aécio se posiciona do lado do
balcão em que estão os banqueiros. Dilma Rousseff é criticada por eles, que
reclamam de excesso de "intervencionismo".
Porém,
tal especulação não passa de alarde. Os espertos espalham o boato de que a
Bolsa de Valores sobe ou desce conforme o resultado das pesquisas. As pessoas
ingênuas acreditam e passam a vender ou comprar ações em função de oscilações
nas pesquisas. Os espertos sabem de antemão o comportamento e fazem seus
movimentos inversos, de forma a ganhar o dinheiro dos ingênuos. É como
boiadeiros que conduzem a manada rumo ao abate.
Se
a oposição tucana ganhasse as eleições, com suas medidas amargas prometidas, o
mais provável é haver no Brasil medidas recessivas pedidas pelos bancos. E
estas medidas prejudicam o desempenho de empresas, inclusive as de capital
aberto, com ações negociadas. Logo, o cenário mais provável seria que a Bovespa
sofresse queda em 2015, caso houvesse a eleição do tucano, e permanecesse
combalida. Algo semelhante ao que ocorreu no início do governo Collor.
Mesmo
a Petrobras perderia valor ao longo do tempo à medida que o tucano cumprisse
sua promessa de retirar o protagonismo da estatal na exploração do petróleo no
pré-sal, entregando para empresas estrangeiras. Seriam as petroleiras
estrangeiras que teriam suas ações valorizadas em seus países, enquanto a
Petrobras perderia valor por passar a um processo de encolhimento, como ocorreu
no governo FHC.
O
Banco do Brasil também perderia valor, pois o projeto tucano é privatista, de
enfraquecer os bancos públicos em favor dos bancos privados. A única estatal
que poderia ter seu valor de mercado maior a curto prazo seria a Eletrobras, se
Aécio promovesse um tarifaço na conta de luz, como faz com a Cemig, forçando o
cidadão a pagar mais para distribuir mais dividendos aos acionistas.
Porém,
essas medidas prejudicariam todo o setor produtivo que tem a eletricidade como
insumo. É outra medida recessiva que prejudica a produção e as exportações. Há
outras questões, como a visão equivocada do tucanato em se imaginar atrelado
apenas às economias estadunidense e europeia, se afastando do G-20 e dos Brics,
o que importaria a crise europeia para cá, fazendo a bolsa cair.
Enfim,
uma análise bem fundamentada não autoriza ninguém a levar a sério estas
variações na Bolsa de Valores por causa de pesquisas. Até porque se houvesse
essa relação de verdade, os próprios bancos contratariam suas pesquisas
eleitorais internas diariamente para tomada de decisão no dia a dia. Mas os
espertos especulam, e azar de quem perder dinheiro caindo nesta conversa.
Como
há males que vêm para bem, o fato de um banco grande como o Santander ter
replicado oficialmente este alarmismo chamou atenção para o que está
acontecendo de fato. Este alarde é uma versão "Não vai ter Bolsa" do
"Não vai ter Copa". Quem especulou que a organização da Copa do Mundo
2014 no Brasil fracassaria, perdeu. A Copa foi um sucesso na organização e nos
resultados econômicos que o evento produz para o país.
Com
aqueles que apostam contra a economia brasileira, que mostra capacidade de
superar as adversidades, deve ocorrer a mesma coisa. A economia brasileira vem
resistindo nos momentos mais adversos, até porque hoje é muito sólida, com
reservas de US$ 370 bilhões que garantem folga para enfrentar tormentas. Se
ajusta com novas oportunidades e horizontes que se abrem, como a recente
criação do Banco de Desenvolvimento dos Brics.
Os
que hoje pregam o terror para especular nas bolsas pedirão para esquecer o que
escreveram logo que passar as eleições. Abertas as urnas, não haverá mais pesquisas
eleitorais para especular com a crença dos ingênuos.
Rede Brasil Atual, em Blog da Helena
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