Martinho
Júnior, Luanda
1
– Os sinais duma IIª Guerra-Fria começam a ser por demais evidentes, muito por
responsabilidade da hegemonia unipolar que foi assumida logo após o fim da Iª
Guerra-Fria.
A
imposição dum capitalismo selvagem, de natureza ultraliberal, profundamente
egoísta e avassalador no seu domínio dos processos globais, está a provocar um “efeito
boomerang” que se vai acentuando e marcando a geografia de todos os
continentes, embora em África, o continente onde os níveis de
subdesenvolvimento são muito relevantes, a situação apareça mais esbatida.
2.
Se durante a Iª Guerra-Fria os processos globais determinaram a contradição
entre o sistema capitalista e a tentativa socialista de gestão do mundo, agora
os processos globais estão a resvalar para a contradição entre dois sistemas
capitalistas: um ultraliberal, especulativo e predador (unipolar), outro
procurando fazer prevalecer os processos produtivos (multipolar) capazes de
trazer mais equilíbrio, integração e solidariedade.
Quer
dum lado, quer do outro, continuam a existir tendências e movimentos progressistas,
existindo no espaço multipolar outras condições para essas tendências e
movimentos emergirem no controlo de alguns estados, o que está a acontecer
particularmente na América Latina.
3
– O carácter desta IIª Guerra-Fria distingue-se da sua precedente que vigorou
desde praticamente o final da IIª Guerra Mundial até à implosão e
desaparecimento do socialismo real, no início da década de 90 do século passado
e por isso o acesso às riquezas naturais passou a fazer parte, muito mais que
antes (grande parte dos recursos não renováveis estão rapidamente a
desaparecer), da essência das disputas.
As
geoestratégias e as geopolíticas relativas à exploração e transporte de
petróleo e gás, dum lado e do outro, estão no cerne das tensões, em especial na
Europa do Leste e no Sudoeste da Ásia (Médio Oriente) e alguns dos conflitos
actuais, como o da Ucrânia, o da Síria, o do Iraque e a agressão de Israel à
Palestina, reflectem isso.
4
– O que está em jogo na Ucrânia é de especial relevância para os dois campos
contraditórios, que agora são mais visíveis que nunca com o aumento das
contradições.
A
Ucrânia está a ser um dos campos dilectos das tensões e conflitos e os sinais
da Guerra Fria fazem lembrar o início da agressão norte-americana ao Vietname,
com o episódio do Golfo de Tonkin que em princípios de Agosto de 2014
completará cinquenta anos desde que foi produzido.
Vem
isso a propósito para sublinhar que a propaganda norte-americana, década após
década, tem sido empregue profusamente e sempre que os Estados Unidos pretendem
aumentar a intensidade das tensões, dos conflitos e das guerras localizadas em
que se envolvem, em estreita sincronização com os interesses da aristocracia
financeira mundial e seus agentes.
A
propaganda omite o que não interessa divulgar a fim de dar relevo à psicologia
aplicada sobre os temas, de forma a trabalhar a opinião pública internacional a
favor da sua causa.
A
única diferença em relação aos acontecimentos do Golfo de Tonkin há cinquenta
anos explica-se: o crédito relativo à propaganda da hegemonia unipolar já não é
o mesmo que antes…
Efectivamente,
além das comunicações permitirem a desmistificação das notícias em função da
presença das mais variadas análises, os Estados Unidos têm agora mais uma
dificuldade acrescentada: de tanto utilizarem os mesmos métodos de propaganda e
de contrapropaganda, estão a “obrigar” a opinião pública
internacional a cada vez ter mais reservas em relação às notícias que divulgam,
principalmente em áreas de tensão, conflito e guerra!
Imagem:
Mapa mundial da fome: ao invés da humanidade se unir para melhor se atacarem os
flagelos que recaem sobre o homem e sobre o planeta, a polarização esvai os
recursos no pior dos sentidos, no âmbito duma lógica capitalista cada vez mais
irresponsável, egoísta e bárbara!
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