quinta-feira, 24 de julho de 2014

ESTÁ AÍ A IIª GUERRA-FRIA



Martinho Júnior, Luanda 

1 – Os sinais duma IIª Guerra-Fria começam a ser por demais evidentes, muito por responsabilidade da hegemonia unipolar que foi assumida logo após o fim da Iª Guerra-Fria.

A imposição dum capitalismo selvagem, de natureza ultraliberal, profundamente egoísta e avassalador no seu domínio dos processos globais, está a provocar um “efeito boomerang” que se vai acentuando e marcando a geografia de todos os continentes, embora em África, o continente onde os níveis de subdesenvolvimento são muito relevantes, a situação apareça mais esbatida.

2. Se durante a Iª Guerra-Fria os processos globais determinaram a contradição entre o sistema capitalista e a tentativa socialista de gestão do mundo, agora os processos globais estão a resvalar para a contradição entre dois sistemas capitalistas: um ultraliberal, especulativo e predador (unipolar), outro procurando fazer prevalecer os processos produtivos (multipolar) capazes de trazer mais equilíbrio, integração e solidariedade.

Quer dum lado, quer do outro, continuam a existir tendências e movimentos progressistas, existindo no espaço multipolar outras condições para essas tendências e movimentos emergirem no controlo de alguns estados, o que está a acontecer particularmente na América Latina.
  
3 – O carácter desta IIª Guerra-Fria distingue-se da sua precedente que vigorou desde praticamente o final da IIª Guerra Mundial até à implosão e desaparecimento do socialismo real, no início da década de 90 do século passado e por isso o acesso às riquezas naturais passou a fazer parte, muito mais que antes (grande parte dos recursos não renováveis estão rapidamente a desaparecer), da essência das disputas.

As geoestratégias e as geopolíticas relativas à exploração e transporte de petróleo e gás, dum lado e do outro, estão no cerne das tensões, em especial na Europa do Leste e no Sudoeste da Ásia (Médio Oriente) e alguns dos conflitos actuais, como o da Ucrânia, o da Síria, o do Iraque e a agressão de Israel à Palestina, reflectem isso.
  
4 – O que está em jogo na Ucrânia é de especial relevância para os dois campos contraditórios, que agora são mais visíveis que nunca com o aumento das contradições.

A Ucrânia está a ser um dos campos dilectos das tensões e conflitos e os sinais da Guerra Fria fazem lembrar o início da agressão norte-americana ao Vietname, com o episódio do Golfo de Tonkin que em princípios de Agosto de 2014 completará cinquenta anos desde que foi produzido.

Vem isso a propósito para sublinhar que a propaganda norte-americana, década após década, tem sido empregue profusamente e sempre que os Estados Unidos pretendem aumentar a intensidade das tensões, dos conflitos e das guerras localizadas em que se envolvem, em estreita sincronização com os interesses da aristocracia financeira mundial e seus agentes.

A propaganda omite o que não interessa divulgar a fim de dar relevo à psicologia aplicada sobre os temas, de forma a trabalhar a opinião pública internacional a favor da sua causa.

A única diferença em relação aos acontecimentos do Golfo de Tonkin há cinquenta anos explica-se: o crédito relativo à propaganda da hegemonia unipolar já não é o mesmo que antes…

Efectivamente, além das comunicações permitirem a desmistificação das notícias em função da presença das mais variadas análises, os Estados Unidos têm agora mais uma dificuldade acrescentada: de tanto utilizarem os mesmos métodos de propaganda e de contrapropaganda, estão a “obrigar” a opinião pública internacional a cada vez ter mais reservas em relação às notícias que divulgam, principalmente em áreas de tensão, conflito e guerra! 

Imagem: Mapa mundial da fome: ao invés da humanidade se unir para melhor se atacarem os flagelos que recaem sobre o homem e sobre o planeta, a polarização esvai os recursos no pior dos sentidos, no âmbito duma lógica capitalista cada vez mais irresponsável, egoísta e bárbara!

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