terça-feira, 22 de julho de 2014

Portugal: ALTERNATIVAS POLÍTICAS, PRECISAM-SE!



Tomás Vasques – jornal i, opinião

No PS tudo se passa à volta do carisma do líder: quem tem mais charme político para convencer eleitores. Quer António Costa, quer António José Seguro têm entre os seus apoiantes, de tudo, como na loja dos chineses

Muitas vezes são os detalhes que melhor ilustram a crise de um regime. É o caso do todo-poderoso Ricardo Salgado, personagem que tem tatuado na testa o pedigree das elites que nos apascentam há mais de um século. O banqueiro entre os banqueiros, a quem chamavam, com acertada ironia, "o dono disto tudo", até há poucos dias símbolo caseiro da preponderância do mundo da finança sobre o poder político, contando para isso com a cumplicidade de todos os governos, foi literalmente despejado do seu escritório na imponente sede do Banco Espírito Santo para uma sala alugada, pelo próprio, num hotel do Estoril. Aqui, num "quarto alugado", para onde atirou tantas famílias que o desemprego impediu de pagar ao banco as prestações da casa, vai tentar salvar dos escombros da derrocada do grupo empresarial da família um mínimo de dignidade, já que o património ardeu na fogueiras das dívidas, ateada por uma gestão desastrosa e incompetente. Pela queda do presidente do maior banco privado português, que arrastou consigo o grupo empresarial da família, ninguém verterá uma lágrima, nem sequer os seus familiares e amigos. O pior é o que ainda está para acontecer, ou seja: o que vai sobrar de todo este embrenhado descalabro sobre a economia portuguesa e, consequentemente, sobre o dinheiro dos contribuintes, sobretudo sobre as vítimas do costume deste governo: funcionários públicos, reformados e pensionistas. Essas são cenas a desvendar nos próximos capítulos.

Contudo, a crise do regime, simbolizada na crise de um dos seus pilares nas últimas duas décadas - a família Espírito Santo -, está para além deste episódio cujas consequências hoje ainda desconhecemos. Os sinais mais visíveis deste apodrecimento foram fornecidos pela maioria dos portugueses. O sucesso de candidaturas independentes nas autárquicas (muitas das quais de ex-militantes contra os seus próprios partidos), o resultado obtido pela candidatura de Marinho e Pinto nas europeias, a crescente subida da abstenção e dos votos nulos e as consequentes perdas eleitorais dos partidos do "arco parlamentar" indiciam um significativo descontentamento e alheamento do regime que pode provocar, nas próximas eleições legislativas, uma regeneração do sistema político-partidário. As presentes crises internas no PS e no BE são uma consequência dessa crise mais geral, à qual aparentemente escapam, por agora, os partidos do governo, porque estão no poder a distribuir pelos seus, cargos e benesses, e o PCP porque vive numa incubadora e quando obtém mais um por cento de votos atira foguetes como se estivesse a subir a escadaria do palácio de Inverno.

No fundo, com as devidas diferenças, as crises internas do PS e do BE têm a mesma origem. Perante o empobrecimento generalizado da maioria dos portugueses, executado pelo "pior governo de sempre", como recuperar o "paraíso perdido" - ou seja, os eleitores que, por motivos diferentes, deixaram de acreditar nas soluções propostas por cada um destes partidos da oposição. No PS tudo se passa à volta do carisma do líder: quem tem mais charme político para convencer eleitores. Quer António Costa, quer António José Seguro têm entre os seus apoiantes, de tudo, como na loja dos chineses. No BE, aparentemente, a crise interna passa mais pelas opções políticas. Mas, o que parece grave, quer num caso, quer noutro, mas sobretudo no PS, é que não percebam que o "mundo mudou" e que os cidadãos descontentes, sobretudo de uma classe média empobrecida, estão escaldados e já não se deixam convencer facilmente dando indícios de preferirem experimentar outras soluções a ter de aguentar mais do mesmo. E o PCP que não tire o cavalo da chuva porque o recado é para todos os partidos do "arco parlamentar". Ou os actuais partidos da oposição percebem a tempo o estado a que isto chegou, e constroem uma alternativa, ou passam ao lado do descontentamento e dos anseios da maioria dos cidadãos. Não há meio-termo, especialmente em tempos de crise.

Jurista - Escreve à segunda-feira

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