Ana Sá Lopes –
jornal i, editorial
Amarrados ao
"cumprimento dos nossos compromissos externos", não há alternativa
Esta frase da moção
de António Costa é exemplar da quadratura do círculo em que os partidos
socialistas europeus estão implicados - e que, chame-se o líder Costa, Seguro,
Hollande, Renzi ou rato Mickey, não dão mostras de conseguir ultrapassar. Ora
vamos lá a ver: António Costa defende que a recuperação económica e social
"tem de integrar um novo equilíbrio entre um sério cumprimento dos nossos
compromissos externos no quadro da União Económica e Monetária" - aqui
está a frase maldita que muitos juravam que Costa nunca pronunciaria - com
"o respeito das responsabilidades constitucionais" e também com
"uma renovada capacidade para dar resposta às necessidades de
desenvolvimento da nossa sociedade".
A verdade é que
"os compromissos externos" são exactamente aqueles que o governo tem
esgrimido como principal motivo da devastação económica e social a que
assistimos nos últimos três anos. Pode dizer-se que o governo gosta da política
em vigor na União Europeia e o PS não gosta - isto é uma verdade, venha ela do
socialista Costa ou do socialista Seguro. Mas uma coisa é não gostar, outra é
pôr em causa esses compromissos, através de propostas de renegociação de dívida
e quejandos: e nisso os dois candidatos às primárias estão de acordo. Estamos
vinculados "a um sério cumprimento dos nossos compromissos", diz
António Costa, que é basicamente o mesmo que dizia António José Seguro quando a
ala mais à esquerda que hoje apoia António Costa atacava Seguro pela sua
complacência face a esses "compromissos". Tudo isto acaba por ser um
bocadinho cómico.
Claro que Costa
defende outra atitude perante a Europa com que Passos não concorda - mas que
Seguro, por acaso, também defende. Aliás, defendem os dois o mesmo. Cito a moção
de Costa: "É no quadro da negociação destas novas políticas europeias que
o PS se deve comprometer a trabalhar para encontrar um novo equilíbrio entre os
compromissos assumidos em matéria orçamental, a necessidade de reduzir os
custos da dívida pública e a urgência de políticas para mais crescimento e
emprego." Isto era bom que acontecesse, mas até agora não aconteceu. Um
senhor chamado François Hollande, presidente da República Francesa, um país com
muito mais poder que Portugal no quadro europeu, não conseguiu nada. A maioria
na UE que manda é contra. A política socialista (não importa quem é o
protagonista) resume-se a rezar.
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