quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Portugal: O PLANO ECONÓMICO DO PS É REZAR



Ana Sá Lopes – jornal i, editorial

Amarrados ao "cumprimento dos nossos compromissos externos", não há alternativa

Esta frase da moção de António Costa é exemplar da quadratura do círculo em que os partidos socialistas europeus estão implicados - e que, chame-se o líder Costa, Seguro, Hollande, Renzi ou rato Mickey, não dão mostras de conseguir ultrapassar. Ora vamos lá a ver: António Costa defende que a recuperação económica e social "tem de integrar um novo equilíbrio entre um sério cumprimento dos nossos compromissos externos no quadro da União Económica e Monetária" - aqui está a frase maldita que muitos juravam que Costa nunca pronunciaria - com "o respeito das responsabilidades constitucionais" e também com "uma renovada capacidade para dar resposta às necessidades de desenvolvimento da nossa sociedade".

A verdade é que "os compromissos externos" são exactamente aqueles que o governo tem esgrimido como principal motivo da devastação económica e social a que assistimos nos últimos três anos. Pode dizer-se que o governo gosta da política em vigor na União Europeia e o PS não gosta - isto é uma verdade, venha ela do socialista Costa ou do socialista Seguro. Mas uma coisa é não gostar, outra é pôr em causa esses compromissos, através de propostas de renegociação de dívida e quejandos: e nisso os dois candidatos às primárias estão de acordo. Estamos vinculados "a um sério cumprimento dos nossos compromissos", diz António Costa, que é basicamente o mesmo que dizia António José Seguro quando a ala mais à esquerda que hoje apoia António Costa atacava Seguro pela sua complacência face a esses "compromissos". Tudo isto acaba por ser um bocadinho cómico.

Claro que Costa defende outra atitude perante a Europa com que Passos não concorda - mas que Seguro, por acaso, também defende. Aliás, defendem os dois o mesmo. Cito a moção de Costa: "É no quadro da negociação destas novas políticas europeias que o PS se deve comprometer a trabalhar para encontrar um novo equilíbrio entre os compromissos assumidos em matéria orçamental, a necessidade de reduzir os custos da dívida pública e a urgência de políticas para mais crescimento e emprego." Isto era bom que acontecesse, mas até agora não aconteceu. Um senhor chamado François Hollande, presidente da República Francesa, um país com muito mais poder que Portugal no quadro europeu, não conseguiu nada. A maioria na UE que manda é contra. A política socialista (não importa quem é o protagonista) resume-se a rezar.

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