Pedro
Tadeu – Diário de Notícias, opinião
A
semântica é tramada. A campanha publicitária de lançamento do Novo Banco diz
assim: "Nascer com o empenho renovado de seis mil colaboradores é um bom
começo"... "Colaboradores?!", perguntei-me, com espanto.
"Mas será que não há trabalhadores no Novo Banco?!" Tento, então,
adivinhar as razões para ter sido adotada a opção de substituir a palavra
"trabalhador" por "colaborador".
Eis
a primeira hipótese: ser "trabalhador" foi considerado insulto capaz
de fazer corar de vergonha estas seis mil almas do Novo Banco...
Entrar,
de segunda a sexta-feira, às oito da manhã, nas 600 agências da instituição
financeira para atender clientes a troco de um salário pago no final de cada
mês é algo embaraçoso? É atribuir a alguém um estatuto pária na sociedade?
Eis
algo que não aceito. Trabalhar é uma honra e, nos dias que correm, de
desemprego crónico, arrisca-se a ser um privilégio. Colaborar, pontual e
precariamente, é, isso sim, sinónimo de degradação de estatuto social. Não é
por aqui.
Segunda
hipótese: terá algo a ver com a apresentação? Como os bancários costumam andar
de fato e gravata ou de fato saia-casaco, conforme o género, distinguem-se
estes assalariados das hordas "proletas" de operários de ganga
criando, com apenas uma palavra, uma elite especial dentro da mole imensa que
declara ao Estado rendimentos por conta de outrem?
Se
passearmos num centro comercial percebemos logo como essa linguagem corporal é
coisa do século XX: ele há tanto corpo fabril a desfilar casaco Gucci e tanto
burguês com cor de spa a estalar nos pés chinelos (havaianas, dizem eles) que
também não pode ser por aí...
Resta-me
esta terceira e última hipótese: o colaborador colabora e o trabalhador
atrapalha.
Um
colaborador não tem horário certo, não tem sindicato, não reclama, obedece, e
está sempre com um sorriso. É um descanso.
Um
trabalhador é um calão que só pensa em direitos e recusa deveres, um
desconfiado que quer saber como os administradores governam a empresa, um
obcecado com as desigualdades salariais, um perturbador. Um comuna, em suma.
(Isto
de achar que todos os trabalhadores são comunas é presumir que todos os
comunistas são trabalhadores, o que é uma óbvia mentira e um erro grave para
quem é trabalhador e não é comunista.)
Chego
ao fim sem conclusão segura sobre o slogan. Mas, constato: se no antigo BES
existissem mais trabalhadores que achassem ter a obrigação de colaborar
qualitativamente com a gestão da empresa - e não haver apenas colaboradores
reduzidos à condição de verbos de encher - se calhar a tragédia financeira do
Velho Banco não tinha acontecido.
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