quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Angola: Oposição desiludida com exclusão de autárquicas antes de 2017




Os partidos da oposição angolana com representação parlamentar consideraram hoje que o discurso do Presidente, sobre o estado da Nação, "quebrou expectativas", sobretudo com o anúncio da exclusão de eleições autárquicas antes de 2017.

José Eduardo dos Santos, que discursou hoje sobre o estado da Nação na Assembleia Nacional, na abertura da terceira sessão legislativa da III legislatura, iniciada em 2012, anunciou a falta de condições para a realização das primeiras eleições autárquicas em Angola.

O chefe de Estado angolano advertiu que a pressa deve ser evitada "para que não haja tropeços", pedindo unidade e coerência para a concretização "deste grande desejo dos angolanos" ao invés de se transformar o assunto em "tema de controvérsia e de retórica político-partidária".

Em declarações à agência Lusa, o líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, que assistiu à cerimónia, referiu que os argumentos apresentados não foram convincentes.

"Porque o Presidente levou quatro anos a gizar estratégias para encontrar também coragem e vir dizer ao povo angolano que não há eleições autárquicas antes das próximas eleições legislativas", criticou Samakuva, que agendou para quinta-feira uma posição final ao discurso de José Eduardo dos Santos.

O líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), Abel Chivukuvuku, disse que esperava um discurso "com mais visão, mais ambicioso e sobretudo programático".

"(Um discurso) em que o Presidente anunciasse uma reforma institucional para a implementação do poder local autárquico. O Presidente veio com um discurso de inércia, o conceito de realismo e pragmatismo é diferente de inércia. Aqui foi um discurso em que o Presidente catalogou todas as dificuldades e não deu mais nenhum calendário nem opção", acusou Chivukuvuku.

Acrescentou que o discurso de José Eduardo dos Santos "teria sido mais produtivo" se apontasse caminhos e propostas do que deve ser feito e em que prazos.

"Durante o ano de 2015 podíamos fazer todas as questões de ordem legal e organizacional e podíamos ter as eleições autárquicas no ano de 2016, um ano antes das eleições legislativas. E alguns dos arranjos legais serviriam para 2017", apontou.

O presidente da bancada parlamentar do Partido de Renovação Social (PRS), Benedito Daniel não escondeu a desilusão com o anúncio feito por José Eduardo dos Santos.

"Realmente, o discurso correspondeu às expectativas, queríamos que o Presidente abordasse o assunto e que estabelecesse um horizonte temporal para quando a realização das eleições autárquicas, mas infelizmente esse discurso caiu como se fosse uma bomba, porque esperávamos que fosse num curto espaço de tempo", lamentou.

Ainda assim, considerou importante a abertura da discussão, restando aos angolanos "encontrar consensos dentro da discussão que o discurso do Presidente abriu", para se "encontrar um horizonte temporal breve".

José Eduardo dos Santos reconheceu que o tema das eleições autárquicas, previstas na Constituição angolana mas ainda por marcar, está "na agenda política de todos os partidos" e tem "suscitado os mais acesos debates".

Contudo, alertou, "são várias as questões" que os órgãos de soberania "têm que tratar até que sejam reunidas as condições necessárias" para a sua criação.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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