sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Independentistas - Catalunha: O 9N mostra que Estado espanhol não deixa votar




O processo de participação cidadã de 9N representa também uma mobilização da cidadania catalã para denunciar que o governo do Estado espanhol, em nome da democracia, não deixa exercer a democracia, disse à Lusa a vice-presidente do parlamento catalão.

"As pessoas querem expressar-se, mobilizar-se. O povo catalão quer votar e decidir o que quer e isso é também o novo cariz deste 9N: denunciar que o governo do Estado, em nome da democracia, não deixa exercer a democracia", disse Anna Simó, que é também dirigente da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC).

"Vamos aproveitar também para denunciar às instituições europeias, à comunidade internacional, que o Governo do Estado, em nome da democracia não deixar exercer a democracia", explicou a responsável da ERC, o segundo partido no parlamento (e o primeiro atualmente segundo as sondagens).

A conversa ocorre num momento de incerteza sobre se haverá ou não consulta dia 9 de novembro, com responsáveis de forças políticas pró-consulta a garantirem que estarão, nas filas, com o boletim de voto na mão.

"As pessoas podem opinar. Mas parece que nem isso é do agrado do Governo espanhol. O presidente da Generalista, perante tantas dificuldades e limitações à democracia que o Governo espanhol quer colocar, retirou a consulta. Agora trata-se apenas de que as pessoas possam opinar. Consideramos que o presidente tem que continuar em frente", afirmou.

Todo o processo continua marcado por tensão e o pacto político que outrora havia entre grande parte do arco parlamentar catalão, está hoje muito mais diluído e até em risco: prova disso o facto da ERC poder votar contra as propostas orçamentais da CiU, partido do Governo.

Simó explica que o facto do primeiro modelo de consulta ter sido abandonado pelo presidente regional catalão, Artur Mas - que anunciou o novo modelo de "participação cidadã", agora também em risco perante novo eventual recurso do Governo - alterou a dinâmica, acelerando o passo seguinte: eleições.

"Desde a extrema-esquerda parlamentar, passando pela esquerda ecosocialista, pela social-democracia e o centro direita liberal e democrata-cristão no parlamento - um arco muito plural -, acordamos realizar uma consulta. A unidade estava aqui", disse.

"De repente o presidente disse que não continua adiante com esta consulta e produz-se essa divisão. Já sabíamos que o Governo e o poder de Estado tentaria bloquear isto como pudesse", afirmou.

Agora, explicou, esses mesmos grupos políticos estão agora a pedir que haja eleições "quanto antes" para que os catalães possam decidir sobre um ponto central: querem ou não independência.

"Depois do 9N tem que se convocar eleições o quanto antes. Se há uma maioria parlamentar a favor da independência, declara-se a independência e depois negoceia-se (com o Estado espanhol)", disse.

"Independência sim ou não. É o que dizemos que tem que se perguntar nas eleições. E se houver uma maioria pró-independentista no parlamento da Catalunha, depois das eleições, a ERC considera que primeiro se declara a independência e depois se negoceia. Será uma declaração de um parlamento da Catalunha, não uma proclamação e depois vai-se negociar", afirmou.

Depois dessa declaração, explica, avançariam "três agendas - a catalã a espanhola e a internacional" para criar uma comissão interdisciplinar que defina "que modelo de país" se pretende e para começar a "definir como se reflete esse modelo de país numa constituição catalã".

"Depois proclama-se a independência. Que pode depois ser até referendada", afirmou.

Para Anna Simó este é um processo irreversível e, cada vez que o Estado espanhol toma uma decisão contrária, apenas leva a que "mais gente se rebele" e se junte às filas independentistas.

"O que move este movimento popular tão amplo, potente e transversal é a vontade de regeneração e de aprofundamento democrático, de justiça social. Há muita gente que não é independentista mas que chegou à conclusão que com um sistema autonómico como se montou e se executa, Catalunha e os catalães, têm perdido", afirmou.

"Eu sou independentista desde os 16 anos e por uma questão emocional, de identidade. Mas também por uma questão social. Porque consideramos que sem poder gerir os nossos próprios recursos e competências, não poderemos dar às pessoas que vivem neste país, independentemente de como se sinta, de que língua fala, não podemos dar-lhes o que necessitam", afirmou.

Simó insiste que a melhor solução seria um referendo ao estilo escocês onde, se vencer o 'não' se termina este assunto. Mas nunca alargado a todo o território espanhol.

"Onde é que já se viu isso? Os galeses, os ingleses votaram no referendo da Escócia? Em nenhum lado, em nenhum referendo de autodeterminação, vota o todo pela parte", afirmou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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