domingo, 9 de novembro de 2014

Angola: PRESIDENTE DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL JUSTIFICA POSSE DE TERRAS


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Rafael Marques de Morais – Folha 8, 08 novembro 2014

Um requerimen­to em nome do juiz presiden­te do Tribunal Constitucional, enquanto re­presentante de uma sociedade anónima, para a aquisição do direito de superfície de milhares de hectares de terra, no Kwan­za-Sul, levantou suspeitas de conduta ilegal. A Constitui­ção proíbe os magistrados de exercer outras funções públicas ou privadas. O pre­sidente do TC esclarece o assunto, numa breve e ame­na conversa com Maka An­gola.

Eis a narrativa.

No que resta da parede de­crépita de uma antiga casa colonial invadida por ve­getação daninha, alguém escreveu: “Seja bem-vindo [Cartaz com a fotografia es­tampada do presidente dos Santos] ao Lonhe”. A comu­na faz parte do município da Quibala, na província do Kwanza-Sul.

Um magistrado, sob ano­nimato, adianta que “o caso pode ser impugna­do, podendo depois o juiz formalizar, de outra maneira [a aquisição do direito de superfície]”.

“O que não entra pela porta, entra pela janela”, diz ironicamente o ma­gistrado.

Por sua vez, o delegado provincial da CASA-CE no Kwanza-Sul, Domin­gos Francisco Sobral, re­fere que “a atribuição de mais de 24 000 hectares de terra a um pai e dois filhos é mais do que um exagero”.

“Nós conhecemos bem a área do Lonhe e temos registado a expropriação de terras a milhares de camponeses que sempre viveram nessa área, há várias gerações. Os cam­poneses já não têm terras próprias para cultivarem para a sua subsistência”, explica o político.

Segundo Domingos Francisco Sobral, “essa situação poderá gerar conflitos dentro de vá­rios anos, por causa da exclusão da maioria. É importante revermos essa situação”.

“Hoje, todo o dirigente, incluindo o presidente da República, tem uma fazenda no Kwanza-Sul. Há alguns que têm qua­tro ou cinco”, sublinha.

Por via das suas investi­gações, Maka Angola, já tem contabilizados mais de 300,000 hectares de terras em posse de al­tos dirigentes angolanos e seus familiares só na província do Kwanza­-Sul.

O representante da CA­SA-CE recorda um fa­moso poema do primei­ro presidente de Angola, Agostinho Neto, segun­do o qual “hoje a África é como um corpo inerte, onde cada abutre vem debicar o seu pedaço”. Sobral enfatiza que, hoje, “o Kwanza-Sul é a pro­víncia onde cada abutre vem retirar o seu pedaço de terra”.

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