sábado, 8 de novembro de 2014

Portugal: NÃO ABRAS A PESTANA, NÃO



João Luís

Entre outros títulos possíveis (“uma mão cheia de nada”; “espera que o pai já vai”; “moção estratégica para totós”, ou “não venhas tarde”), optei por este por me parecer mais abrangente.

O António Costa é como aqueles antigos vendedores de banha da cobra. Detentores da panaceia para todos os males e que afinal, a clientela compradora do produto verificava que o unguento adquirido não passava de um embuste.

Que conclusões podemos tirar da brilhante e revolucionária estratégia costista? Todas e nenhuma. É ao gosto do freguês.

Vejamos as medidas anunciadas para um futuro governo “socialista” (de maioria absoluta, claro está, que esta rapaziada não é pobre a pedir):

 Comecemos por aquilo que nos tem asfixiado e que promete chupar-nos até ao tutano. Renegociar ou reestruturar a dívida, népia. Nem falar disso é bom. Portanto, portugueses aguentem os cavalos que não é por aqui que se safam. Mas o artista de lábios carnudos, tez morena e timbre de voz forte e bem colocada diz que tem reservada uma posição mais categórica sobre o assunto mas será coisa, digo eu, para falar depois das eleições. Por agora, venham os votozitos. “Há um elevado grau de endividamento do país”, diz ele, como se tivéssemos recuado 100 anos e chegássemos agora da santa terrinha, ou seja, os tugas ainda não se tinham apercebido do facto. Solução? Não aponta, diz que a coisa tem de ser alargada à “Europa” e depois dispara frases ocas como a necessidade de iniciativas para a “redução sustentada do impacto do endividamento, seja na construção de instrumentos que estimulem a procura e o investimento europeu em paralelo à promoção da coesão interna da UE”. Dá para ficar descansado? Não, obviamente que não. O que ele afirma já o insonso Seguro defendia.

Sobre a eliminação da sobretaxa do IRS, que insiste em acabar com ela (e bem), mas não diz como nem quando. Venham de lá esses votos que depois veremos isso no nosso governo de maioria absoluta.

Um dos cavalos de batalha de Costa é o salário mínimo que no passado muito recente defendia a sua subida para os 522 euros e agora diz que sim senhor subir sim, mas com cautela. “Sustentado” foi o eufemismo utilizado para dizer que 505 euros está muito bom, pois nem este nem outro valor aparece na estratégia nem na, coisa linda, “agenda para a década”. Para os menos informados, década, designa uma série de dez unidades. É também a designação de duas unidades de tempo correspondentes a períodos de dez dias ou de dez anos. Neste último caso o termo mais apropriado (por não ser ambíguo) é decénio. Não sou eu que digo, é o Infopédia e o Dicionário Priberam. Ou seja, eventualmente Costa pode estar a querer dizer-nos que tem uma agenda para os primeiros dez dias de governo absoluto.

Sobre o Tratado Orçamental diz o “socialista” Costa que quer respeitá-lo e que não existe muita margem de manobra para alterar a corda que nos enforca mas, adianta, se nos juntarmos àqueles que fazem uma “leitura inteligente e flexível” da tal corda, pode ser que possamos substituí-la por cordel. Sempre mata mais devagar.

Apresentou ainda mais dois dedos de medidas quanto às políticas orçamentais sem nos dizer como vai impor aos restantes países membros e ao capitalismo em geral.

Quer o Costa e queremos nós mais investimento público e melhor aproveitamento dos fundos europeus. Não disse o Costa, mas dizemos nós que isto é pouco como motores do crescimento.

Para a Educação, Costa não pretende acabar com a realização de exames nos primeiros anos mas antes reavaliar a realização desses exames. Propinas, encerramentos de escolas, más condições nas salas de aulas, despedimento de professores…, cala-te ó chato!

No emprego apresentou a “novidade” das políticas activas de emprego, como forma de combater o desemprego. Mas isso não é o que temos agora? Para os “chavalos” mais novos e tal e coisa, tenho aqui uns princípios gerais que são uma maravilha. Votem lá em mim e verão se é verdade ou não.

Para a função pública afirmou Costa peremptório “blá, blá, blá whiskas saquetas (passe a publicidade).

Ó senhor recém-futuro líder do PS, e as reformas mínimas? Bem…o mais importante é tornar mais importante o Complemento Solidário…portanto, quero dizer, em vez de aumentar as pensões mínimas, diz ele, o homem dos lábios carnudos. Ah, mas também adiantou que que uma convergência efectiva dos sistemas de pensões com uma paridade na formação de direitos para o futuro, aniki bébé, aniki bóbó/passarinho tótó/berimbau, cavaquinho/ salamão, sacristão/polícia, ladrão.

Mas para que tudo isto funcione e os portugueses possam finalmente fugir ao garrote é fundamental que o Partido “Socialista” ganhe com maioria absoluta. (Ps, pst, vocês entendem, não é verdade? Sem a maioria absoluta tenho os comunas à perna, estão a ver? Depois não vos posso dar estas coisas boas, topam? Não estou aqui para enganar ninguém. Quero maioria absoluta mão não vou governar só. Podem confiar. Há por aí uns “esquerdas” fixes que me vão ajudar). Mas ó senhor Costa, é só com a “esquerda” conforme prometeu nas primárias? Eh pá, não. Isto vai ser do baril, porque quero “procurar pontos de entendimento e compromisso” “com as diferentes forças políticas e partidárias”. Mas isso vai ficar decidido antes das eleições?, pergunto eu. NÃO, responde o Costa, e eu sou parvo? Vocês dão-me a maioria absoluta e depois logo converso com os outros. Está a parecer-me que és comuna, ó escriba…

Para o fim fica a cereja que embeleza este bolo. Costa quer rever desde já o sistema eleitoral mas não pretende a redução do número de deputados, ai isso não. Vai sim introduzir o sistema uninominal que terá certamente a bênção do PSD (vai uma apostinha?) garantindo desta forma que PS e PSD tenham ainda mais deputados, sendo certo, como todos sabemos, que estes dois partidos “responsáveis” nada têm que ver com o endividamento e falência do país; com a retirada de direitos; com o aumento da carga fiscal; com a corrupção e a dança de cadeiras entre o sector privado e o sector público.

Fontes: O observador; Aniki Bóbó, filme de Manoel de Oliveira

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