domingo, 23 de novembro de 2014

Portugal: PASSOS ATIROU A PRIMEIRA PEDRA?



Bernardo Ferrão – Expresso, opinião

Tudo à defesa. Da direita à esquerda. "À política o que é da política e à justiça o que é da justiça". As cautelas são muitas e é assim que deve ser. Sócrates ainda está a ser ouvido e para já, nada mais há do que indícios. 

Cavalgar agora a detenção de Sócrates, quando o que existe é apenas isso, a detenção, é perigoso e os partidos sabem disso. Os estilhaços deste caso, se se provar que há de facto um caso, podem atingir várias frentes.

E é neste cenário que surge a frase de Passos Coelho: "os políticos não são todos iguais". Não são de facto. Ao dizer isto precisamente no dia de hoje e rompendo as cautelas que impôs ao seu partido, Passos quis dizer que não é igual a Sócrates.

Mas o primeiro-ministro devia lembrar-se que não há só uma herança socrática, também há uma herança da direita. Afinal este é o país do Bloco central. E foi com ele que chegámos onde chegámos. 

É certo que o líder do PSD não estava a falar diretamente do ex-PM, mas ao trazer para o seu discurso o debate sobre o regime e a sua regeneração, Passos nem precisou de apontar o dedo a Sócrates e à sua detenção. 

Passos atirava assim a primeira pedra? É o que parece e sem esperar pelas conclusões no campus da justiça. Na política não pode valer tudo. Não era Passos que se estava a lixar para as eleições? 

Nos cenários que a direita já traça nos bastidores, há um que não pode ser esquecido: é que se nada se provar contra Sócrates, o PS sairá em força para a rua reclamando justiça. O jogo é ainda uma incógnita e por isso merece todos os cuidados. Dizer agora que uns não são iguais a outros, além de perigoso, é também pouco avisado. E Passos mostrou que afinal não é assim tão diferente.

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