Tiago
Mota Saraiva – jornal i, opinião
Em
Portugal, sobre a tradicional dicotomia esquerda-direita tem vindo a ser
promovida uma nebulosa que baralha a identificação de políticas que temos de
distinguir. Se não nos é difícil enquadrar um programa de modernização do
parque escolar público como uma medida de esquerda, a forma como foi
operacionalizado – sem transparência, favorecendo as grandes construtoras,
fazendo transitar a propriedade das escolas ou beneficiando o privado em
detrimento do interesse público – destruiu o seu teor progressista.
Tal
como há 40 anos a melhor forma de aniquilar o socialismo era propagar que todos
eram socialistas, hoje é tido como normal que o ministro Poiares Maduro ensaie
qualificar algumas das políticas do seu governo como sendo “de esquerda”.
Esta
nebulosa é terreno fértil para a confusão. O PSD diz ter introduzido algumas
medidas de esquerda, o PS reivindica a paternidade dos únicos governos de
esquerda possíveis, o PCP e o BE recusam aliar-se ao PS por não ser de
esquerda, o Livre reivindica o número de deputados necessário para participar
num governo com o PS e Marinho e Pinto tem dias que se põe à esquerda, outros à
direita.
O problema é que, neste momento histórico, a definição das fronteiras da esquerda é um debate teórico difícil de clarificar que corre o risco de não sair do “quem quer, e não quer, casar com a carochinha (o governo PS)?”.
A
forma mais certeira de ultrapassar este impasse parece ser recuperando a
terminologia marxista. Da luta de classes à dicotomia entre explorados e
exploradores. Na verdade, é aí que os projectos políticos se distinguem, na
definição dos interesses que pretendem defender e no seu carácter de classe. É
aí que se clarificam as diferenças em temas vitais na actualidade, como o
combate à corrupção, o resgate da soberania ou a concretização da democracia.
Mais é aí que se identifica o possível quadro de alianças para a governação.
Escreve
ao sábado
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