quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Ativistas de Macau criticam silêncio dos três cavaleiros do apocalipse português


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Macau encontra-se num processo mais brando que Hong Kong na exigência de democracia naquela região especial da China. Ali está em vigor a “paciência de chinês” que em Portugal é famosa, dita e redita. E que herdámos.

Decerto que também cheios de paciência os jovens do movimento democrático macaense que pretendem democratizar a região e ver eleições verdadeiramente livres e democráticas em Macau, em vez das “encomendadas” por Pequim, esperavam que Portugal, o governo português, tomasse uma posição que não fosse o silêncio luso sobre o sufrágio universal que pretendem ver reconhecido por Pequim como um direito e uma efetiva prática.

Estão fisicamente longe de Portugal estes jovens macaenses que lutam pela democracia em Macau. E ainda mais longe no desconhecimento da realidade em Portugal e seu défice democrático. Jamais este governo português de Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas quebrariam o silêncio sobre mais democracia para Macau ou seja lá para que país ou região for desde que envolva o “negócio” os euros, os dólares, ou os yuans. Aqueles três cavaleiros do apocalipse português quando ouvem ou pensam a palavra China estendem a mão e as suas pupilas adquirem a forma da moeda que pretendem nos “negócios”. Regra geral dólar americano ou euro.

É bíblica a frase de que “é mais fácil um camelo passar pelo orifício do cu de uma agulha que um rico passar e entrar no reino dos céus”. Pois então, estimados jovens democratas, estimados macaenses, é mais fácil Pequim atender as vossas legítimas pretensões do que este governo de Portugal contrariar e “provocar” a China por causa do défice democrático em Macau. É que eles aqui em Portugal julgam que democracia é pôr, dispor, querer, poder e mandar, empobrecer, roubar, distribuir pelos ricos e quem não está contente deve emigrar.

Dir-me-ão: “mas então e as eleições? Em Portugal há sufrágio universal. É isso que em Macau queremos!” Pois. Jovens ativistas macaenses, chineses. Imaginem que vão a um supermercado e no rotulo, assim como na publicidade, a embalagem indica que contém mel. Compram. Porém, quando a abrem ficam a saber que foram ludibriados. Aquilo contém fel. Assim são as eleições e estes pseudo democratas. Embalam-se apelativamente “docinhos”, publicitam que vão proporcionar o céu e rios de abastança aos eleitores, mas quando se apanham nos governos praticam o contrário daquilo que prometeram. Vendem gato por coelho (lebre) e os portugueses ficam com os olhos em bico… Até se esquecerem e voltarem a cair noutro conto do vigário nas eleições seguintes.

Perante este péssimo quadro luso não esperem que os já referidos três cavaleiros do apocalipse português mexam uma palha que seja a favor do vosso pretendido sufrágio universal. Aqui, em Portugal, o défice democrático é superior ao endividamento externo do país. endividamento que beneficiou alguns mas é pago por todos os portugueses até chegarem, esgotados, à miséria e à fome. Esqueçam, por agora, este Portugal. Prometemos “fundar” outro. Com verdadeiros democratas, homens e mulheres de bem. Principalmente que sejam honestos e não roubem a cada passo.

Prossigam a vossa luta. Até porque sabem tão bem como nós que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. (MM / PG)

Jovens democratas criticam silêncio de Portugal sobre sufrágio universal

Macau, China, 17 dez (Lusa) - Os jovens líderes do movimento democrático em Macau defendem que o governo português devia "trazer para cima da mesa" a questão do sufrágio universal nas conversações com a China.

Sulu Sou, Rocky Chan e Jason Chao, com idades entre os 23 e 27 anos, estão na linha da frente na luta pelo sufrágio universal para a eleição do chefe do governo local, e lamentam que o país que administrou Macau durante mais de 400 anos se mantenha em silêncio nesta questão.

"Não vejo o governo português muito interessado no movimento democrático de Macau", diz em entrevista à agência Lusa o ativista Jason Chao, num momento em que Hong Kong, outra região administrativa especial chinesa, é palco de várias manifestações pró-democracia, que concentram a atenção do mundo.

O antigo presidente da Novo Macau, a maior associação pró-democracia do território, com cerca de meia centena de membros, lembra que a própria União Europeia emitiu um comunicado encorajando o executivo da Região a fazer a transição para a plena democracia.

"Não ouvi nenhuma palavra do governo português", aponta Jason Chao, salientando que Lisboa tem "uma relação muito boa com Pequim", mas que esta "não deve ser apenas na cooperação económica, mas também no campo da proteção dos direitos humanos e da democracia".

Num momento em que passam 15 anos da passagem de administração, a 20 de dezembro de 1999, Rocky Chan, membro da associação Novo Macau, também reclama um papel mais ativo de Portugal, que deveria ter uma voz mais ativa sobre Macau, até porque "há uma Declaração Conjunta luso-chinesa", documento que definiu os termos da transferência de soberania.

"Temos um sistema político criado por Portugal, mas que [os portugueses] não desenvolveram de forma a ser mais justo", considera o jovem de 25 anos.

Para o atual presidente da Novo Macau, Sulu Sou, é óbvio que esses governantes são os responsáveis por "trazerem os assuntos democráticos para cima da mesa".

O jovem dirigente mostra-se pouco confiante que tal aconteça: "Vejo dificuldade na promoção da democracia por estados estrangeiros, tendo em conta o poder económico da República Democrática da China".

Num registo mais otimista, Rocky Chan diz que Portugal está a tempo de manifestar o seu apoio ao movimento pró-democracia. "Ter o apoio de mais países é melhor do que lutarmos sozinhos. Se Portugal nos apoiar, vamos ficar muito satisfeitos", sublinha.

A associação queixa-se de algum distanciamento da comunidade portuguesa em relação ao movimento, mas acredita que seja guiada por valores mais liberais do que a sociedade chinesa.

Sulu Sou compara a cobertura noticiosa dos temas pró-democracia na imprensa portuguesa e chinesa e conclui que influenciam significativamente "a ideologia das respetivas comunidades".

"Não acredito que as pessoas nascem para ser conservadoras. Só se tornam conservadoras depois de expostas às visões da sociedade", conclui.

ISG/FV // PJA

Interesses económicos impedem Portugal de falar em democracia – sociólogo

Macau, China, 17 dez (Lusa) - O sociólogo Boaventura de Sousa Santos considera que Portugal não deixou tradição democrática em Macau há 15 anos, quando deixou o território, e hoje está limitado no seu apoio à democracia pelos interesses económicos que tem com a China.

"Em termos de democracia não penso que tenha sido significativa essa semente", afirmou, em entrevista à agência Lusa, o coautor de "Macau: O Pequeníssimo Dragão", o grande estudo da sociedade de Macau feito em português, lançado em 1998.

A primeira razão, segundo o sociólogo, prende-se com o facto de Portugal ter, acima de tudo, prezado "a estabilidade das relações com a China", dando sempre "prioridade a uma transição pacífica e pouco agitada" até para marcar uma diferença em relação à antiga colónia britânica.

"O governador Rocha Vieira sempre se gostou de se apresentar como alguém que criava menos dificuldades à China do que o governador de Hong Kong", lembrou.

O também diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra recorda, a propósito, uma recente entrevista à agência de notícias Xinhua do último governador de Macau, sobre os protestos pró-democracia em Hong Kong: " acima de tudo é preciso preservar a ordem, é preciso garantir o diálogo e a harmonia, e qualquer confrontação com a China é malvista".

O facto de, em 1999, a democracia em Portugal ser ainda bastante jovem terá contribuído para a ausência de "um caráter afirmativo na defesa de um sistema político que, para os portugueses, também era uma relativa novidade", sublinhou.

Portugal passou, entretanto, de "uma potência administrante com o consentimento da China" durante mais de 400 anos, para uma situação de dependência económica do país asiático agravada pela crise financeira europeia.

"A China é, hoje, um grande investidor em Portugal. Aspetos estratégicos da vida dos portugueses estão na mão dos chineses, como é o caso da eletricidade", justificou.

Esta situação, sublinhou Boaventura de Sousa Santos, "amordaça totalmente" o governo português, impedindo-o de manifestar apoio a causas contrárias às posições de Pequim, como é o caso do movimento pró-democrático, "até porque a China sabe como é que pode controlar qualquer tentativa que seja menos consentânea com os seus interesses".

Independentemente do contributo de Portugal e até da vontade da população de Macau, Boaventura de Sousa Santos acredita que o sufrágio universal só chegará por iniciativa da China.

"É evidente que os deputados pró-democratas vão continuar a fazer pressão, talvez com o mesmo apoio popular que há em Hong Kong, mas é evidente que o que pode vir a mudar é a própria China", observou.

"Há sinais de que este desenvolvimento económico pode vir a criar problemas, devido à discrepância que é ter um sistema económico capitalista e um sistema político comunista. Os sinais de tensão já estão a surgir", concluiu o sociólogo.

FV/ISG// PJA

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