sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

NOVA ETAPA PARA AS RELAÇÕES ENTRE CUBA E OS ESTADOS UNIDOS



 Martinho Júnior, Luanda

1 – O Encarregado de Negócios da Embaixada de Cuba em Angola, companheiro Reinaldo Valdés Obregón, deu a 18 de dezembro de 2014 uma Conferência de Imprensa em que fez o ponto de situação sobre o estabelecimento de relações diplomáticas de Cuba com os Estados Unidos ao nível de Embaixadas, facto que foi marcado com a libertação dos três últimos prisioneiros anti terroristas (Gerardo Hernandez, António Guerrero e Ramón Labañino) que compõem o grupo heróico dos “Cinco”, por parte dos Estados Unidos e a libertação de Alan Gross, assim como de um espião norte-americano detido há duas décadas (cujo nome não foi revelado), por parte de Cuba.

2 – A representação Diplomática cubana na capital angolana quis fundamentalmente sublinhar o momento histórico, mantendo-se naturalmente cautelosa em relação à perspectiva dos próximos desenvolvimentos, que envolvem contenciosos muito sensíveis como por exemplo as questões que dão corpo ao bloqueio, o fim da prisão de Guantánamo, a desactivação da base naval norte-americana ou ainda a reincorporação do território de Guantánamo a Cuba.

O clima da própria Conferência de Imprensa, com a presença não só dos repórteres destacados por vários órgãos de imprensa angolanos, mas também de algumas entidades angolanas afectas às relações bilaterais entre Cuba e Angola, foi de regozijo e de expectativa em relação ao futuro imediato.

3 – Pôr fim aos contenciosos e aos traumas acumulados durante décadas não será fácil de um momento para o outro, mas sem sombra de dúvida que os fluxos bilaterais que construtivamente forem possíveis, influenciarão também e por exemplo:

- Na correlação de forças no interior dos Estados Unidos entre os “lobbies” que suportam democratas e republicanos, tendo em conta o horizonte eleitoral já relativamente próximo e sobretudo ao papel de “charneira” da Florida nessa correlação;

- Na oportunidade de um maior equilíbrio entre as culturas mais expressivas que se manifestam nas conjunturas sócio-políticas internas dos Estados Unidos, nomeadamente a anglo-saxónica, a latino americana e a afro descendente.

- Nos relacionamentos da Pátria Grande com os Estados Unidos, tendo em conta as tensões entre as equações de independência, soberania e integração, por um lado e as que se revelam no quadro do presente “modelo” de globalização segundo a óptica da hegemonia unipolar em função das doutrinas e práticas do neoliberalismo.

- Nos relacionamentos no Atlântico Sul e em África, onde a luta contra o subdesenvolvimento crónico exige uma outra concertação internacional que se afaste em definitivo dos parâmetros da segunda metade do século XX, conformes à Guerra Fria, uma vez que Cuba poderá fundamentalmente aumentar a sua capacidade e vocação no que diz respeito à educação e à saúde, num ambiente internacional mais saudável, mais harmonioso e reciprocamente respeitoso.

4 – O que se vai iniciar nos relacionamentos bilaterais entre Cuba e os Estados Unidos, é sem dúvida uma nova etapa aberta à esperança dum futuro melhor, mas o estado da humanidade e do próprio planeta exigem muito mais a partir daí: será finalmente possível a entrada numa nova era, de acordo com as exigências que se vão histórica e antropologicamente acumulando nos termos da lógica com sentido de vida?  

Foto: O Encarregado de Negócios da Embaixada de Cuba em Angola, Reinaldo Valdés Obregón, durante a Conferência de Imprensa.

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