quinta-feira, 31 de julho de 2014

SUSAN RICE, A “MAMA” ÁFRICA



Alberto Castro*, Londres

A ex-embaixadora norte-americana na ONU e atual Conselheira de Segurança Nacional dos EUA, Susan Rice, fez ontem declarações sobre o presente estado das relações EUA-África no âmbito da Cimeira que se realiza na próxima semana entre os dois blocos em Washington. As mesmas podem ser conferidas no link abaixo.

Entre as linhas gerais da política norte-americana para a África e a radiografia atual do continente, a governante focou nas receitas patrocinadoras de sempre: democracia e boa governação, o que, na prática, se traduz no disseminar dos valores modernos do chamado Ocidente. Rice sublinha aquele princípio, quase sagrado mas completamente profanado quando alguém ousa agir de forma autónoma, com a enorme falsidade retórica de um outro: o da igualdade de relacionamento com base no respeito mútuo.

''Obviamente existem diferenças de recursos e poder entre países africanos e entre a África e os EUA, mas uma parceria igual significa lidarmos uns com os outros com respeito mútuo. Trabalhamos juntos sobre nossas diferenças. Mais importante, parceiros iguais dizem a verdade uns aos outros mesmo quando não queremos ouvir'', disse.

Igualdade e capacidade, duas ideias chaves na mensagem da norte-americana. No entanto, apesar do cinismo da retórica, ou da retórica do cinismo, Rice tem razão quando sublinha que, a par e em resultado da parceria de iguais, a capacidade dos africanos crescerem economicamente e de resolverem os seus próprios problemas deve ser o pilar da construção da parceria entre eles e os norte-americanos.

O cinismo da retórica, ou a retórica do cinismo, continua no discurso pela partilha dos cada vez mais competitivos recursos naturais de África. Numa referência indireta à China e à Europa, os principais competidores que já tiveram suas cimeiras com o continente-berço da humanidade, afirma: ''África tem fortes laços com outras regiões e nações mas o engajamento americano com o continente é fundamentalmente diferente. Não vemos a África como um oleoduto para extrair recursos naturais nem como um funil para caridade''.   

Angola elogiada

Numa referência a paz e à segurança global, cita países do continente que ainda estão a braços com guerras civis e ameaças terroristas como o Congo Democrático e a Somália, e faz um elogio ao maior dos lusófonos africanos:  ''Vimos melhorias significativas em lugares como a Libéria e Angola. Contrariamente a algumas alegações, os EUA não visam militarizar a África ou manter nela uma presença militar permanente. Estamos comprometidos em ajudar os nossos parceiros a confrontar ameaças transnacionais para a nossa partilhada segurança.'' 

Todavia, um artigo do Huffington Post ( (ver no link abaixo) publicado em março último avança com atividades e números que demonstram precisamente o oposto: só em 2013 foram 10  exercícios, 55 operações e 481 atividades de cooperação de segurança que somaram um total de 546 ''atividades'' no continente de acordo com David Rodriguez, comandante da AFRICON, ou seja a média de uma missão e meia por dia que, segundo o mesmo artigo, tende a aumentar significativamente em 2014. 

Quanto cinismo, hipocrisia e desfaçatez! Como dizem os brasucas: me engana que eu gosto! De boas intenções foi a Líbia transformada em um inferno precisamente quando Susan Rice representava os EUA na ONU.

Colunista e jornalista freelance*, Londres
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http://www.menafn.com/1093895832/Remarks-by-National-Security-Advisor-Susan-E-Rice-Africa-and-America-Partners-in-a-Shared-Future
http://www.huffingtonpost.com/nick-turse/military-action-in-africa_b_5041847.html

A FUGA NORTE-AMERICANA DA LÍBIA



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

Numa altura em que o mundo centra as suas atenções nos conflitos da Ucrânia e na Faixa de Gaza, quase que passou despercebido o anúncio feito pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry, sobre a decisão tomada por Washington de fazer evacuar todo o seu pessoal diplomático, e respectivas famílias, que ainda se encontravam a funcionar na cidade de Trípoli, devastada capital da Líbia.

Este anúncio, meio envergonhado e feito numa situação em que os EUA voltam a estar debaixo de fogo devido às suas estratégias políticas que quase sempre culminam com o agravar dos conflitos onde intervêm, deixa a nu a clara evidência de que a diplomacia norte-americana está a ter enormes dificuldades em conciliar a sua influência negocial com as decisões erradamente tomadas pela Administração Obama.

No caso concreto da Líbia, foi a diplomacia dos EUA que, em 2011, mais contribuiu para o apoio que o então presidente de França, Nicolas Sarkozy, levou por diante com o objectivo de eliminar fisicamente o Presidente MuammarKadhaffi, uma das formas que encontrou para silenciar um potencial catalisador de problemas políticos resultantes das denúncias que corriam sobre quem havia financiado a sua campanha eleitoral na corrida para o Palácio do Eliseu.

Hoje sabe-se que Sarkozy está longe de ser uma personalidade acima de qualquer suspeita, correndo mesmo contra ele processos de investigação criminal que já o levou a responder perante um juiz na qualidade de arguido.

Muitas armas que as milícias radicais agora utilizam foram fornecidas pela França, os EUA e outros países da OTAN. Em Setembro de 2012 as milícias mataram o embaixador dos EUA na Líbia, Christopher Stevens, que juntamente com outros três norte-americanos foi vítima de um míssil disparado contra o consulado do seu país em Benghazi. São essas mesmas armas que as milícias usam para roubar enormes quantidades de petróleo que depois são vendidas a países ocidentais a preço de pataco.

Os diplomatas norte-americanos na Líbia fogem dessas armas, através de estradas que lhes são abertas para poderem chegar à vizinha Tunísia de onde, em segurança, continuam a monitorar tudo aquilo que se passa e que mais não é do que a continuação do processo de arrasar o que ainda resta de um país que era um dos mais prósperos do continente africano.

Só na última semana registaram-se 97 mortos e 404 feridos nos combates que se verificaram em Trípoli, com especial enfoque para as três tentativas que as milícias fizeram de ocupar o aeroporto internacional da capital líbia. Na cidade de Benghazi, que os EUA baptizaram de “berço da revolução”, registam-se os confrontos mais violentos e sangrentos. Centenas de pessoas morreram em fogo cruzado trocado entre diferentes grupos de milícias que operam sem que as forças governamentais tenham capacidade para intervir.

Sem uma ponta de hesitação, os EUA deixaram à sua sorte aqueles que em 2011 disseram ser as pessoas ideais para governar um país até então economicamente forte. Todo este embuste político foi consumado com promessas de muita democracia e estabilidade, rumo a um futuro melhor. Passados quase três anos desde o assassinato do Presidente Khadafi, ficou a descoberto a verdadeira intenção de uma coligação ocidental integrada pelos EUA que, a coberto da bandeira da OTAN, espezinhou todas as esperanças do povo líbio, moldando o país à imagem dos seus desígnios: roubo do petróleo.

Não é a primeira vez que os EUA resolvem abandonar os seus aliados quando chegam à conclusão de que eles já não servem para cumprir o papel que a sua ambiciosa estratégia lhes destinou. Também no Iraque se está a passar o mesmo, com os norte-americanos a abdicarem da sua obrigação moral de fazer prevalecer a democracia, que disseram querer impor depois de destituírem, primeiro, e depois assassinarem Saddam Hussein.

Na Faixa de Gaza, igualmente, o discurso político dos EUA vai de encontro ao seu comportamento prático. Washington é incapaz de obrigar Israel, seu braço armado no Médio Oriente, a pôr um ponto final no holocausto a que está a submeter mulheres e crianças que, por fatalidade do seu destino, se encontram no meio de radicais do Hamas.

Tudo isto serve de exemplo a países africanos que recorrem e confiam nas boas intenções do “amigo americano” para a solução dos seus problemas, mas que, por via desse envolvimento, correm riscos em termos de compromissos futuros. O exemplo que os EUA dão aos líbios deve ser tido em conta para compromissos futuros, por parte dos parceiros africanos, para não correrem os perigos resultantes da ilusão de estarem a contar com um aliado que não hesita em lhes virar as costas nos momentos de maior aflição.

Gaza: “Crianças mortas enquanto dormem, isto é uma vergonha universal”, diz a ONU




Mais uma escola atingida no conflito leva responsáveis da ONU a forte condenação do Estado hebraico por “grave violação da lei internacional”. Ban Ki-moon pede “que sejam apuradas responsabilidades e que seja feita justiça”

Um ataque a uma escola da ONU, uma explosão num mercado durante uma semi-trégua – o dia de quarta-feira estava a ser pesado para civis na Faixa de Gaza. Desde segunda-feira à noite, quando Israel anunciou um prolongamento da campanha militar em Gaza, que o território está a ser alvo de pesados bombardeamentos. Mas um ataque em particular levou a ONU a usar palavras especialmente duras para Israel.

A madrugada começou com a chamada para as primeiras orações, e minutos depois uma explosão atingiu uma escola gerida pela ONU no campo de refugiados de Jabaliya.

“Na noite passada, crianças morreram enquanto dormiam junto dos seus pais no chão de uma sala de aulas”, resumiu o responsável da UNRWA Pierre Krähenbühl. “Crianças mortas enquanto dormem; isto é uma afronta a todos nós, é uma vergonha universal”, continuou.

O ataque foi “injustificável”, reagiu o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pedindo “que sejam apuradas as responsabilidades e que seja feita justiça”. Além disso, Ban indicou que “a localização da escola foi comunicada 17 vezes às autoridades militares israelitas, a última vez horas antes do ataque”.

Ao contrário da última vez que uma escola da UNRWA foi atingida e que morreram pessoas (e até agora escolas a servir de abrigo já foram atingidas seis vezes neste conflito), em que havia duas versões sobre quem poderia ter disparado, desta vez a ONU explicou que os fragmentos das munições foram analisados e que a primeira conclusão foi tratar-se de um ataque israelita. Pierre Krähenbühl apontou claramente o dedo a Israel, condenando “nos termos mais fortes esta grave violação da lei internacional pelas forças israelitas.” O ataque, dizia um comunicado da agência, é “fonte de vergonha universal”.

“Estas pessoas vieram aqui para terem protecção"

Testemunhas contam como salas de aula acomodando 40 pessoas cada (a maioria mulheres e crianças) se iam esvaziando, na escola com cerca de 3300 pessoas no total, com os ocupantes a fugirem para o pátio, lugar que pensaram poder ser menos perigoso. Um projéctil atingiu a escola, fazendo um tecto de uma sala de aula cair. Entre destroços e estilhaços da explosão, 19 pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas, muitos com ferimentos graves e ainda em estado crítico.

 “Foi muito, muito duro para mim ver o sangue e ouvir as crianças a chorar”, contou Khalil al-Halabi, responsável da gestão das escolas na zona, que visitou a escola logo após o ataque. “Estava todo a tremer”, confessou.

E agora, Halabi não sabe o que responder a quem sobreviveu. “Estas pessoas vieram aqui para terem protecção. Agora perguntam-me se devem ficar ou ir embora. Estão muito assustadas. Não sabem o que fazer.”

“Estas são pessoas que foram instruídas a deixar as suas casas pelo exército israelita”, sublinhou Krähenbühl.

A UNRWA disse entretanto estar num “ponto de colapso” e Krähenbühl avisou: “Os nossos funcionários, as pessoas que estão elas próprias a liderar a assistência humanitária,  estão a ser mortos. Os nossos abrigos estão a rebentar pelas costuras. Dezenas de milhares de pessoas podem ficar em breve pelas ruas de Gaza, sem comida, sem água, e sem abrigo se continuarem ataques nestas áreas”.

A UNRWA anunciou na semana passada ter encontrado rockets em duas escolas, e criticou duramente quem levou para lá os projécteis por estar a pôr a vida de civis em risco. Israel também afirmou que por vezes enfrentou fogo vindo da proximidade de escolas, e disse que neste caso houve disparos vindos de perto da escola.

Já à tarde, em plena trégua humanitária de quatro horas anunciada pelo Governo de Israel, um ataque atingiu um mercado em que muitos palestinianos faziam compras, partindo do princípio de que havia uma pausa nos combates, aparentemente desconhecendo que era uma trégua com excepções para “locais onde estiverem a operar soldados das Forças de Defesa de Israel”. Pelo menos 15 pessoas morreram e 60 ficaram feridas.

Nos últimos ataques de Israel em Gaza, foi destruída infra-estrutura vital para o pequeno território, como a central eléctrica (que tinha já sido atacada em 2006 e em 2009, nunca recuperando totalmente). Os habitantes foram aconselhados a racionar a água (as bombas funcionam a electricidade) e temia-se o efeito no sistema de saneamento.

Mais de 20 rockets e morteiros foram disparados por combatentes palestinianos em direcção a Israel, mas fonte militar citada pelo Ha’aretz diz que o número de disparos de médio e longo alcance está a diminuir, e que a maioria dos projécteis está a ser usada contra os soldados israelitas no interior da Faixa de Gaza.

Morreram já mais de 1300 palestinianos, a maioria civis, na Faixa de Gaza. Do lado de Israel, morreram ontem mais três soldados numa entrada de túnel armadilhada, aumentando para 56 os militares mortos desde o início do conflito (e ainda três civis, dois israelitas e um trabalhador tailandês). E na Cisjordânia, desde protestos na semana passada em solidariedade com Gaza, morreram mais 13 pessoas em confrontos com as forças de segurança, segundo a organização de defesa de direitos humanos B’Tselem.

Um responsável do exército israelita disse ao Jerusalem Post que faltam poucos dias para a destruição dos túneis estar completa. Este foi o objectivo estipulado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para a campanha militar em Gaza. Mas ministros pediam antes a “destruição total do Hamas”. Enquanto isso, mediadores continuavam a tentar negociar um cessar-fogo no Cairo.

Na foto: Avó dá colo a neto que foi ferido durante ataque à escola BRAHEEM ABU MUSTAFA/REUTERS

GAZA, GAZA, ONDE FICA GAZA?



Francisco Louçã – Público, em Tudo Menos Economia

Entre 22 de julho e 12 de setembro de 1942, as autoridades nazis mataram ou deportaram 300 mil judeus polacos para campos de extermínio. Só trinta e cinco mil foram autorizados a ficar no gueto de Varsóvia. Esses, que se sabiam condenados, prepararam-se para o pior, porque o exército ocupante os podia exterminar sem piedade a qualquer momento.

Escavaram túneis. Reforçaram caves e bunkers. Fabricaram bombas. Esconderam armas e alimentos para resistir. Todos os edifícios foram transformados pelos sobreviventes em lugares de resistência.

Quando em abril do ano seguinte as tropas nazis entraram no gueto para dizimar a população, as milícias, 550 homens e mulheres com o apoio de todos, responderam. Combateram prédio a prédio, sala a sala, túnel a túnel. O mais forte exército do planeta contra civis que lutavam pela vida e pela humanidade.

O mundo ignorou-os e foram poucos os que conseguiram escapar da morte.

Foi uma das mais brilhantes histórias de coragem da modernidade e durou um mês. Marcou-nos para todo o tempo.

Gaza, a maior prisão ao ar livre do mundo, está a ser metodicamente destruída há vinte e três dias.

PENTÁGONO PESQUISA O CONTROLE SOCIAL




Em paralelo à espionagem da NSA, militares norte-americanos estimulam e financiam investigações sobre lógica da mobilização social, e como detê-la

Nafeez Ahmed, no The Guardian – Outras Palavras -  Tradução: Pedro Lucas Dulci

Um programa de pesquisa do Departamento de Defesa dos EUA – o Pentágono – está financiando universidades para mapear a dinâmica, riscos e pontos críticos de agitação civil em grande escala por todo o mundo, sob a supervisão de várias agências militares norte-americanas. O programa de milhões de dólares é projetado para desenvolver “estratégias relevantes de batalha” a curto e médio prazo para oficiais superiores e responsáveis pelas decisões de uma “comunidade política de defesa”, bem como para informar as políticas implementadas por “comandos de combatente”.

Lançada em 2008 – o ano da crise bancária global – a “Iniciativa de Pesquisa Minerva” do Pentágono faz parcerias com as universidades para “melhorar a compreensão básica do Departamento de Defesa a respeito das forças sociais, culturais, comportamentais e políticas que configuram regiões do mundo de importância estratégica para o EUA”.

Entre os projetos premiados para o período 2014-2017 encontra-se um estudo liderado pela Universidade de Cornell e gerido pelo Serviço de Investigação Científica da Força Aérea dos EUA, que tem por objetivo desenvolver um modelo empírico “da dinâmica de mobilização do movimento social e contágios”. O projeto vai determinar “a massa crítica (o ponto de inflexão)” de contágio social, estudando seus “rastros digitais” nos casos da “Revolução Egípcia de 2011, das eleições de Duma na Rússia em 2011, da crise nigeriana de subsídio aos combustíveis de 2012 e 2013 e dos protestos no Parque Gazi na Turquia”.

Postagens no Twitter e conversas serão examinadas “para identificar identificar indivíduos mobilizados por contágio social e quando eles começaram se movimentar”.

Outro projeto premiado este ano na Universidade de Washington “pretende descobrir as condições em que se originam os movimentos sociais que visam a mudança política e econômica em grande escala”, juntamente com as suas “características e consequências”. O projeto, gerido pelo Serviço de Pesquisas do Exército dos EUA, concentra-se em “movimentos em grande escala, envolvendo mais de 1.000 participantes em atividade permanente”, e irá abranger 58 países no total.

No ano passado, a Iniciativa Minerva do Pentágono financiou um projeto para determinar “quem não se torna um terrorista, e por quê?” que, no entanto, confunde ativistas pacíficos com os “partidários da violência política”, diferenciando-os de terroristas apenas na medida em que não embarcam na “militância armada” por si mesma. O projeto aventa estudar explicitamente os ativistas não violentos:

“Em cada contexto, encontramos muitas pessoas que compartilham o mesmo pano de fundo demográfico, familiar, cultural e/ou nível socioeconômico daqueles que decidiram se engajar em terrorismo, mas se abstiveram de assumir a militância armada, mesmo que fossem simpáticos aos objetivos finais de grupos armados. O campo de estudos sobre o terrorismo não tem, até recentemente, lançado olhar para este grupo de controle. Esse projeto não é sobre os terroristas, mas acerca dos apoiadores da violência política”.

Os 14 estudos de caso do projeto “envolvem extensas entrevistas com dez ou mais ativistas e militantes de partidos ou de ONGs que, apesar de simpáticos a causas radicais, escolheram um caminho de não-violência”.

Entrei em contato com a investigadora principal do projeto, Profª. Maria Rasmussen da Pós-graduação da Escola Naval dos EUA, perguntando por que os ativistas não violentos que trabalham para ONGs devem ser equiparados aos partidários da violência política – e quais “os partidos e ONGs” estavam sendo investigados –, mas não recebi resposta.

Da mesma forma, a equipe do programa Minerva se recusou a responder uma série de perguntas semelhantes que lhes fiz, inclusive indagando como “causas radicais” promovidas por ONGs pacíficas podem constituir uma potencial ameaça para a segurança nacional e do interesse do Pentágono.

Entre as minhas questões, eu perguntei:

O Departamento de Defesa dos EUA, vê os movimentos de protesto e ativismo social em diferentes partes do mundo como uma ameaça à segurança nacional dos EUA, e em caso afirmativo, por quê? Será que o Departamento de Defesa dos EUA considera movimentos sociais, com o objetivo de mudança política e econômica em grande escala, como uma questão de segurança nacional, em caso afirmativo, por que? Ativismo, protesto, “movimentos políticos” e, claro, as ONGs, são um elemento vital de uma sociedade civil saudável e democracia – então por que é que o Pentágono está financiando pesquisas para investigar essas questões?

O diretor do programa de Minerva, Dr. Erin Fitzgerald, disse: “Eu aprecio as suas preocupações e estou contente que você estendeu a mão para nos dar a oportunidade de esclarecer”, antes de prometer uma resposta mais detalhada. Em vez disso, recebi a seguinte declaração insossa da assessoria de imprensa do Pentágono:

O Departamento de Defesa leva a sério o seu papel na segurança dos Estados Unidos, seus cidadãos, aliados e parceiros dos EUA. Embora nem todos os desafios de segurança causem conflito, e nem todos os conflitos envolvam os militares dos EUA, o Minerva ajuda a financiar investigação de base das ciências sociais que ajude a ampliar a compreensão do Departamento de Defesa sobre o que causa instabilidade e insegurança em todo o mundo. Através de uma melhor compreensão destes conflitos e suas causas de antemão, o Departamento de Defesa pode se preparar melhor para o dinâmico ambiente de segurança do futuro.

Em 2013, o Minerva financiou um projeto da Universidade de Maryland, em colaboração com o Departamento de Energia do Laboratório Nacional do Noroeste Pacífico dos EUA, para avaliar o risco de distúrbios civis, devido às mudanças climáticas. Nos três anos do projeto, 1,9 milhões de dólares são empregados no desenvolvimento de modelos para prever o que poderia acontecer às sociedades sob uma gama de potenciais cenários de mudanças climáticas.

Desde o início, o programa Minerva foi projetado para oferecer até 75 milhões de dólares em cinco anos para pesquisa em ciências sociais e comportamentais. Só este ano, o Congresso dos EUA atribuiu um orçamento total de 17,8 milhões de dólares ao Minerva.

Uma comunicação por e-mails pessoais internos do Minerva, referenciado em uma dissertação de mestrado 2012, revela que o programa é voltado para a produção de resultados rápidos, que são diretamente aplicáveis ​​às operações de campo. A dissertação foi parte de um projeto financiado pela Minerva sobre “o discurso muçulmano anti-radical radicais” da Universidade Estadual do Arizona.

O e-mail interno do Prof. Steve Corman, o investigador principal do projeto, descreve uma reunião organizada pelo Programa de Modelagem do Comportamento Humano e Social do Pentágono (HSCB, em inglês), em que altos funcionários do Pentágono disseram que sua prioridade era “desenvolver capacidades que se tornam rapidamente disponíveis ” na forma de “modelos e ferramentas que podem ser integrados com as operações”.

Embora o supervisor do Escritório de Pesquisa Naval, Dr. Harold Hawkins, tenha assegurado aos pesquisadores da universidade desde o início que o projeto era apenas “um esforço de pesquisa básica, por isso não deve se preocupar em fazer coisas aplicáveis”, a reunião de fato mostrou que Pentágono está à procura de “fomentar resultados” em “aplicações”, disse Corman no email. Ele aconselhou os seus investigadores a “pensar sobre a formatação dos resultados, relatórios, etc, para que eles [Departamento de Defesa] possam ver claramente a sua aplicação para as ferramentas que poderão ser utilizadas em campo”.

Muitos estudiosos independentes criticam o que veem como os esforços do governo dos EUA para militarizar as ciências sociais e colocá-las a serviço da guerra. Em maio de 2008, a Associação Americana de Antropologia (AAA) escreveu para o governo norte-americano notificando que o Pentágono não tem “o tipo de infra-estrutura para a avaliação antropológica [e de outras ciências sociais] de investigação” de uma forma que envolve a “revisão rigorosa, equilibrada e objetiva dos seus pares”, conclamando, assim, para esse tipo de pesquisa venha ser gerida por agências civis como a Fundação Nacional de Ciência (NSF).

No mês seguinte, o Departamento de Defesa assinou um memorando de entendimento (MoU) com a NSF para que esse coopere na gestão da Minerva. Em resposta, o AAA alertou que, apesar das propostas de pesquisa passar a ser agora avaliadas por painéis de revisão por mérito da NSF, “funcionários do Pentágono ainda teriam o poder de decisão para escolher quem fica nos painéis”:

…ainda existem preocupações, na disciplina, de que pesquisa que só serão financiadas quando apoiarem a agenda do Pentágono. Outros críticos do programa, incluindo a Rede de Interesses de Antropólogos, levantaram preocupações de que o programa iria desencorajar a pesquisa em outras áreas importantes, prejudicando o papel da universidade como um lugar para a discussão independente e crítica dos militares.

Segundo o professor David Price, um antropólogo cultural na Universidade de St Martin, em Washington DC e autor de Weaponizing Anthropology: Social Science in Service of the Militarized State [Antropologia Armada: Ciências Sociais a Serviço do Estado militarizado], “quando você olha para as partes específicas de muitos desses projetos, elas parecem normais, ciências sociais, análise textual, pesquisa histórica, e assim por diante. Mas quando você soma estas partes, todas eles compartilharam temas de legibilidade, com todas as distorções oriundas da simplificação excessiva.

O professor Price já havia exposto como o programa de Sistemas de Terreno Humano (HTS) do Pentágono – projetado para incorporar os cientistas sociais em operações militares de campo – rotineiramente conduz cenários de treinamento em regiões “dentro dos Estados Unidos”.

Citando uma crítica resumida do programa enviada para os diretores do HTS por um ex-empregado, Price informou que os cenários de treinamento HTS “adaptaram COIN [contra-insurgência] do Afeganistão e Iraque” para situações domésticas “nos EUA, onde a população local foi vista a partir da perspectiva militar, enquanto ameaça ao equilíbrio estabelecido de poder e a influência, bem como desafiando a lei e a ordem”.

Em um jogo de guerra, disse Price, estavam envolvidos ativistas ambientais protestando contra a poluição de uma usina a carvão perto de Missouri, alguns dos quais eram membros da conhecida ONG ambientalista Sierra Club. Os participantes foram incumbidos de “identificar aqueles que eram ‘solucionadores de problemas’ e aqueles que eram ‘causadores problema’, bem como o resto da população. Esta seria o alvo das operações de informação, voltadas a mover o centro de gravidade dos cidadãos em direção ao conjunto de pontos de vista e valores que era o ‘estágio final desejado’ da estratégia dos militares”.

Tais jogos de guerra estão de acordo com uma série de documentos de planejamento do Pentágono que sugerem que a vigilância em massa da Agência de Segurança Nacional (NSA) é parcialmente motivada para se preparar para o impacto desestabilizador da vinda choques ambientais, energéticos e econômicos.

James Petras, Professor de Sociologia na Universidade de Binghamton, em Nova York, concorda com as preocupações de Price. Os cientistas sociais financiados pela Minerva e vinculados à operações de contra-insurreição do Pentágono, estão envolvidos no “estudo das emoções alimentadas ou reprimidas por movimentos ideologicamente conduzidos”, disse ele, incluindo como “neutralizar movimentos de base”.

Minerva é um excelente exemplo da natureza profundamente tacanha e auto-destrutiva da ideologia militar. Pior ainda, a falta de vontade dos funcionários do Departamento de Defesa para responder às perguntas mais básicas é sintoma de um fato simples. Em sua missão inabalável de defender um sistema global cada vez mais impopular e servir os interesses de uma pequena minoria, as agências de segurança não têm escrúpulos em pintar o resto nós todos como potenciais terroristas.

Dr. Nafeez Ahmed é um jornalista de segurança internacional e acadêmico. Ele é o autor do A User’s Guide to the Crisis of Civilization: And How to Save It [Guia do Usuário para a Crise de Civilização: e como salvá-la], e o próximo thriller de ficção científica, Zero Point [Ponto Zero]. Siga-o no Facebook e no Twitter @ nafeezahmed.


A SEMANA QUE ANUNCIOU SOLENEMENTE A NOVA GUERRA-FRIA



M. K. Bhadrakumar

Se historiadores do futuro quiserem localizar com precisão o momento de transição em que a era pós guerra-fria transmutou-se na nova Guerra-fria, eles estão obrigados a examinar esta semana com atenção. A administração Barack Obama está numa disposição triunfalista após o êxito, finalmente, em alinhar os principais aliados europeus dos EUA – Reino Unido, França, Alemanha e Itália – por trás da sua estratégia concertada para isolar a Rússia da Europa e impor sanções contundentes contra ela.

Obama podia ter feito um emocionante discurso Cortina de Ferro esta semana – se não fosse a grande bagunça na Líbia, Iraque, Síria, Afeganistão, et al, e o horrendo massacre em Gaza que arruinou a sua própria reputação e, além disso, não esquecer, ele é um Nobel e não se supõe que lance um grito de guerra.

Ainda assim, o vídeo da teleconferência de Obama na segunda-feira com seus homólogos europeus anunciando que o acordo sobre "medidas coordenadas de sanção à Rússia" sugere sem qualquer dúvida que a era pós guerra-fria está a acabar.

Dentro das próximas "12-48 horas" Bruxelas estará a anunciar novas sanções contra Moscovo com base nos planos dos EUA que envolvem um vasto conjunto de medidas destinadas a deixar a economia russa de rastos. Washington em seguida anunciará suas próprias sanções contra a Rússia.

Espera-se que as assim chamadas sanções em Três Níveis atinjam instituições financeiras, negócios de armas e tecnologia de exploração energética da Rússia. Os bancos russos serão impedidos de apresentar novas emissões de títulos ou acções nas bolsas europeias e haverá proibição de transferir tecnologias sensíveis que poderiam ser utilizadas na perfuração em mares profundos, na exploração do Árctico e na extracção do petróleo de xisto. Também se espera que o embargo inclua uma proibição de futuros negócios de armas com a Rússia.

Moscovo podia antever as chamadas sanções em Três Níveis e começou a circular os vagões. Terça-feira passada o Presidente Vladimir Putin efectuou uma reunião no Kremlin do Conselho de Segurança da Rússia, o mais alto organismo de elaboração política sobre política externa e questões de segurança. Putin fez um importante discurso na reunião cuja agenda era inequivocamente discutir opções estratégicas da Rússia no novo clima de Guerra-fria em todas as áreas das políticas nacionais – interna, externa, poder militar e mesmo a "guerra de informação".

Disse Putin: "Nossas Forças Armadas permanecem o mais importante garante da nossa soberania e da integridade territorial da Rússia. Reagirmos adequadamente e proporcionalmente à aproximação da infraestrutura militar da NATO em direcção às nossas fronteiras e não deixaremos de observar a expansão dos sistemas de defesa de mísseis globais e os aumentos nas reservas de armamento não nuclear de precisão... podemos ver claramente o que está a acontecer: grupos de tropas da NATO estão claramente a ser reforçados em estados da Europa Oriental, incluindo os dos Mares Negro e Báltico. E a escala e intensidade do treino operacional e de combate está em crescimento. É imperioso implementar todas as medidas planeadas para fortalecer a capacidade defensiva da nossa nação plenamente e no prazo certo". ( sítio web do Kremlin ).

Os acontecimentos desta semana quase eliminam quaisquer perspectivas residuais de uma acomodação entre Washington e Moscovo. Igualmente, o papel mediador da Europa – França e Alemanha em particular – também está a desaparecer. A estimativa estado-unidense é de uma situação "vence-vence" ("win-win"), porque, como observou esta semana o académico Dmity Trenin, da Carnegie, "Mesmo se nenhum líder pró ocidental substituir um Putin no Kremlin... a Rússia sucumbirá a um outro período de perturbação, fazendo com que se centre sobre si própria ao invés de criar problemas para Washington".

Trenin apresentou o cenário com dureza: "Já não é mais a luta pela Ucrânia, mas uma batalha pela Rússia. Se Vladimir Putin conseguir manter o povo russo do seu lado, ele vencerá. Do contrário, uma outra catástrofe geopolítica pode seguir-se".

Naturalmente, Trenin exagera. A avaliação da popularidade de Putin é o dobro da de Obama. O povo russo admira Putin como um patriota e um líder forte, ao passo que os americanos vêm Obama cada vez mais como um incompetente não importando o assunto que manuseie.

Mas o perigo real está em outro lugar – nomeadamente, a comunidade internacional pode ter de pagar um preço pesado pelo trabalho mal feito de Obama no estabelecimento de uma nova Guerra-fria. Quando o Irão não pôde ser intimidado por sanções, o que é que torna Obama e seus colegas europeus tão confiantes em que um país muito mais poderoso como a Rússia possa ser?

Será que o poder combinado dos EUA e dos seus aliados europeus basta para redefinir a ordem mundial e isolar a Rússia a qual, a propósito, também é uma ávida globalizadora (ao contrário da antiga União Soviética)?

Se a Europa não vai comprar petróleo russo e vai diversificar, o que acontece ao mercado do petrolífero que também atende ao resto do mundo? O que acontecer na verdade à própria recuperação económica da Europa se o preço do petróleo disparar?

De modo bastante óbvio, quando a Rússia vê a NATO e a instalação de ABMs como um desafio existencial, como pode isto reconciliar-se com o estabelecimento de bases militares dos EUA-NATO no Afeganistão? Além disso, se a Rússia é um adversário, por que deveria ela cooperar com os EUA (e o Ocidente) sobre o Irão, a Síria ou o Iraque?

Onde é que tudo isto deixa os outros países importantes nos cantos não ocidentais do mundo – Índia, Brasil ou China? Será que o Ocidente espera que estes países cumpram o seu regime de sanções em Três Níveis? E se eles não o fizerem?

Não, Sr. Trentin, o Sr. está errado. Isto não é realmente acerca do regime na Rússia, isto é acerca da ordem mundial. Isto é acerca do sistema de Bretton Woods e o desafio a ele que Putin encabeça, como evidenciou na cimeira dos BRICS em Fortaleza.

Isto é o contra-ataque de Obama numa guerra de guerrilha, assustado acerca do desafio crescente à supremacia do US dólar. A questão crucial é que, sem a liberdade contínua para imprimir notas de dólar, a economia americana está condenada.

O resto do mundo entende perfeitamente bem que a nova Guerra-fria é disto que trata. Mesmo os europeus não são tontos, eles também compreendem o que está a acontecer, como testemunha a sua grande relutância em isolar a Rússia durante todas estas semanas e meses.

Quase certamente, não há ideologia aqui envolvida. Não é uma guerra sobre socialismo ou terrorismo, nem é uma guerra intrinsecamente acerca da Ucrânia ou da Rússia. Em termos claros, a nova Guerra-fria é acerca da perpetuação da dominância global dos EUA.

Sem o sistema de Bretton Woods, sem a NATO, sem superioridade nuclear sobre a Rússia, os EUA enfrentam a perspectiva ao longo do tempo de se tornarem uma potência amplamente diminuída. Sem a liderança transatlântica, fica reduzido ao que costumava ser antes da I Guerra Mundial uma centena de anos atrás – uma influente potência regional no Hemisfério Ocidental. 


Portugal: PIRATARIA, CRIME, “MADOFF” E “BPN” NO CASO GES/BES




Daniel Deusdado – Jornal de Notícias, opinião

1 Antes de mais: o Banco de Portugal prometeu que não deixaria falir o BES - fosse qual fosse o prejuízo. O banco será intervencionado pelo Estado ou vendido, mas é demasiado importante para fechar. Numa expressão famosa, "too big to fail". E esta é a salvação dos depositantes e trabalhadores. Posto isto, o problema GES é colossal. A estrutura do Grupo Espírito Santo cruzou negócios e escondeu dívidas tão bem, e por tantos países e off-shores, que não houve bancos de Portugal, do Luxemburgo ou da Suíça capazes de desemaranhar tanta "engenharia financeira". Um BPN em ponto grande. O resultado está à vista no BES: são precisos mais de três mil milhões de euros para limpar a casa - fora os milhões de milhões de buracos noutras praças financeiras com que Ricardo Salgado vai ter que se entreter. É que os tribunais, lá fora, não funcionam à "velocidade BPN". E se o que Salgado cometeu não é crime financeiro, o que será crime?

2 Vejamos a situação à lupa. Percebe-se agora muito bem o esforço titânico do presidente do BES para não pedir ajuda ao fundos da troika. Imagine-se o que seria alguém entrar para dentro da administração do BES e impedir criminosos empacotamentos de dívida decididos pela administração de forma a que o mais simplório cliente do balcão comprasse papel comercial BES - sempre com o embrulho da santidade e solidez da marca (embora, por dentro, estivesse o financiamento para sociedades falidas como a Rioforte ou a Espírito Santo Investimento). Qualquer novo administrador fora da quadrilha que dirigia o BES não ficaria em silêncio perante uma decisão da CMVM (Comissão de Mercado de Valores Mobiliários) de impedir a venda, por exemplo, de papel comercial em subscrição pública, e depois o tio Ricardo contornar o regulador (dividindo os lotes abaixo dos 150 subscritores para que a operação fosse privada), deixando a CMVM de mãos atadas...

É neste ponto que Salgado se equipara ao americano Bernard Madoff, que depois de perder biliões de dólares e perceber que o buraco não tinha fundo, continuou a receber depósitos para que os que chegavam pagassem aos que iam saindo sem nunca chegar a ver o momento em que o dinheiro não chegava. Mas esse dia chega sempre. E as operações que agora o "novo BES" avalia em perdas de três mil milhões de euros são fruto deste crime, agora totalmente à vista.

Esqueçam se Salgado era ou não o nosso último pirata desde a saga dos Descobrimentos, um especialista em off-shores ou então essencialmente um perverso lobista que levou muitos políticos a adjudicar obras públicas que demoraremos décadas a pagar. Isso é o passado - uns calaram, outros aproveitaram, outros não. Mas a operação Monte Branco é o menor dos males para o DDT ("Dono Disto Tudo"), é coisa de caução e décadas para a justiça portuguesa. Quando aparecerem os "chuis" da Bolsa de Nova Iorque, é que vamos ver.

3 Repare-se nesta pérola: o Banco de Portugal e a CMVM obrigam o banco a fazer uma provisão de 700 milhões para assegurar o pagamento de papel comercial que ilegitimamente o BES colocou através do balcão. O que fez o líder de uma casa respeitada há 150 anos? Dá a Tranquilidade como penhor - que, na altura, se dizia já valer apenas 300 milhões (erro de quem aceitou...). Mas pior: fez a Tranquilidade subscrever 150 milhões de euros de papel comercial da sua marca mais falida, a Rioforte. Resultado: agora que é preciso vender a Tranquilidade para pagar aos aforradores, ela não vale quase nada. Em termos líquidos, dos 700 milhões de garantias, restam 50... Bom, e ainda há quem ache que se está a bater em Ricardo Salgado por ele estar na mó de baixo. Esta tese não resiste a um dos mil factos todos os dias a surgirem na praça pública.

4 A vida, entretanto, continua. O Governo assinou ontem o acordo com a União Europeia para gerir 25 mil milhões de euros do novo quadro comunitário, enquanto, em simultâneo, suspende os apoios à contratação de desempregados de longa duração ou de estágios para jovens - ambos sem aviso prévio e supostamente para piorar as condições de acesso, porque não há dinheiro. Faz o mesmo com os apoios à agricultura, considerando-se incompetente para gerir tamanho sucesso. Não se pode confiar um minuto nas regras do Governo.

Na foto: Ricardo Salgado (BES), Carlos Costa (governador do Banco de Portugal)

BANCO DE PORTUGAL ADMITE CONSEQUÊNCIAS CRIMINAIS NO BES



O Banco de Portugal disse, esta quarta-feira à noite, que factos recentemente descobertos no BES apontam para a "prática de atos de gestão gravemente prejudiciais" e admite consequências contraordenacionais e até criminais para a ex-equipa de gestão liderada por Ricardo Salgado.

Após serem conhecidos na noite de quarta-feira os prejuízos semestrais do BES de quase 3,6 mil milhões de euros, o Banco de Portugal emitiu um comunicado sobre a situação do banco, em que diz que as perdas resultantes da exposição ao Grupo Espírito Santo (GES) referentes a 30 de junho estão de acordo com a almofada que tinha determinado que fosse constituída, de 2 mil milhões de euros.

No entanto, refere o supervisor, "factos supervenientes, identificados pelo auditor externo apenas na segunda quinzena de julho e com um impacto negativo de cerca de 1,5 mil milhões de euros, vieram alterar substancialmente o valor das perdas a reconhecer na conta de resultados do primeiro semestre, pondo em causa o cumprimento dos rácios mínimos de solvabilidade vigentes".

Nas contas divulgadas, o BES apresentou um rácio "common tier 1" de 5% a 30 de junho, abaixo do mínimo exigido pelo Banco de Portugal de 7%. Os rácios de capital servem para atestar a solvabilidade de uma instituição financeira.

Segundo regulador e supervisor bancário, os factos entretanto descobertos "indiciam a prática de atos de gestão gravemente prejudiciais para os interesses do BES e um claro incumprimento das determinações emitidas pelo Banco de Portugal".

A entidade liderada por Carlos Costa refere, assim, que a auditoria forense que já está em curso vai permitir "avaliar responsabilidades individuais".

E aponta diretamente para eventuais responsabilidades do "anterior presidente da Comissão Executiva", Ricardo Salgado, do "anterior administrador com o pelouro financeiro", Morais Pires, e de "outros membros da Comissão Executiva que entretanto renunciaram aos cargos exercidos".

Caso se confirme que foram praticados atos ilícitos, "serão extraídas as necessárias consequências em matéria contraordenacional e, porventura, criminal", garante o Banco de Portugal.

O Banco de Portugal assegurou ainda que o BES tem condições para manter a sua atividade e garante a "plena proteção dos interesses dos depositantes".

Jornal de Notícias

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Timor-Leste vai voltar a apoiar financeiramente a Guiné-Bissau ainda este ano - ministro




Bissau, 30 jul (Lusa) - Timor-Leste vai apoiar financeiramente o Estado da Guiné-Bissau ainda durante este ano num montante equivalente a um mês de salários da função pública, anunciou hoje o ministro das Finanças e Economia guineense, Geraldo Martins.

O apoio foi anunciado num encontro com a homóloga timorense à margem dos trabalhos da cimeira da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada no dia 23 de junho em Díli, capital de Timor-Leste.

"O que trazemos de concreto é a promessa de Timor-Leste ajudar o Governo imediatamente com um mês de salário [aos funcionários públicos guineenses], ou seja, vai entregar recursos nos próximos tempos, ainda em 2014", referiu Geraldo Martins.

"Não há promessa concreta em termos de números. É uma questão a ser discutida no parlamento [de Timor-Leste], mas existe vontade de inscrever verbas para a Guiné-Bissau no orçamento geral do Estado para 2015", referiu.

O apoio timorense nasceu em 2013 dinamizado por Ramos-Horta, antigo Presidente de Timor-Leste e representante das Nações Unidas em Bissau entre fevereiro do último ano e junho de 2014.

O país abriu uma Agência de Cooperação na capital guineense, equipou e deu formação para a realização do recenseamento eleitoral que permitiu a realização de eleições em abril e maio deste ano.

As eleições legislativas e presidenciais, as primeiras depois do golpe de Estado de abril de 2012, permitiram à Guiné-Bissau regressar à norma democrática e reativar relações internacionais fulcrais para receber ajuda externa.

Ao longo do último ano, Timor-Leste já entregou donativos a diversos serviços estatais, instituições de cariz social e tem até patrocinado a participação da seleção nacional de futebol na fase de apuramento para a Taça das Nações Africanas de 2015.

Ambos os países lusófonos fazem parte do G7+, uma organização criada em abril de 2011 que reúne 18 Estados-membros e que defende reformas no modo como a comunidade internacional apoia os países frágeis ou em situação de pós-conflito.

LFO // VM - Lusa

Guiné-Bissau procura inspiração de Singapura nas áreas de planeamento urbano e saneamento




Bissau, 30 jul (Lusa) - A Guiné-Bissau pretende conhecer a experiência considerada positiva de Singapura nas áreas de planeamento urbano e saneamento para as aplicar no país, anunciou hoje o primeiro-ministro Domingos Simões Pereira.

"Mantivemos uma reunião muito positiva com uma delegação do Governo de Singapura em que expressámos interesse em conhecer o plano" que mudou a face daquele país na última metade do século XX.

Simões Pereira falava numa conferência de imprensa para rever temas tratados durante encontros mantidos no exterior nas últimas semanas.

O chefe de governo pretende que se realizem encontros bilaterais entre os dois países.

"Singapura é um caso de estudo. Nos anos 50 ou 60 teria situações semelhantes às de alguns dos nossos bairros", entretanto erradicadas, referiu.

Em causa está um cenário urbano maioritariamente composto por esgotos a céu aberto em bairros de construções precárias e em que as ruas de terra ficam intransitáveis na estação das chuvas.

Simões Pereira apontou também o exemplo de mercados de Singapura, outrora sem condições básicas, tal como acontece com o Mercado do Bandim, em Bissau, mas que se transformaram em espaços aprazíveis e ligados à cultura local.

O primeiro-ministro anunciou ainda a visita à Guiné-Bissau de Mari Alkatiri, líder da oposição em Timor-Leste, durante o mês de setembro para apresentação da experiência timorense na criação de uma zona económica especial, processo que pode ser ligado ao plano de desenvolvimento em preparação pelo governo guineense.

LFO // EL - Lusa

TRIBUNAL RECUSA PROPAGANDA A REFERENDO INFORMAL EM MACAU




Macau, China, 30 jul (Lusa) - O Tribunal de Última Instância de Macau afastou hoje considerar como "reuniões" ou "manifestações" as ações de promoção do referendo informal sobre a eleição do chefe do Governo, acabando por, indiretamente, impedir que estas se realizem na via pública.

A decisão do TUI, num acórdão votado por unanimidade em que foi relatora da juíza Song Man Lei e que teve como adjuntos Sam Hou Fai e Viriato Lima, acaba por permitir a decisão do Instituto dos Assuntos Cívicos de Municipais (IACM), que tinha recusado autorizar a realização de ações públicas de rua de propaganda ao referendo pedidas pelo ativista Jason Chao, através de associações como a Open Macau Society.

Jason Chao tinha contestado junto do TUI a decisão do IACM não autorizar a realização de diversas reuniões para promoção do referendo, facto que ao ser descartado como tal pelo tribunal afastou uma tomada de posição e, indiretamente, acaba por aprovar a recusa do instituto público em negar a realização das reuniões pretendidas pelas associações promotoras da consulta.

É que, segundo o acórdão, o tribunal alega que não tem competência para servir de órgão de recurso à recusa do Instituto dos Assuntos Cívicos de Municipais em autorizar as ações de propaganda que Jason Chao pretendia realizar no início de agosto.

"Ora, atenta a natureza real desse 'referendo civil', afigura-se que não se deve considerar as respetivas atividades de propaganda como 'reuniões' em sentido técnico-jurídico, cujo direito merece a proteção da lei e a interdição ou restrição do exercício deste direito justifica a intervenção do Tribunal de Última Instância", sustenta o acórdão.

O mesmo tribunal não encara tais ações como manifestações, também essas protegidas pela lei.

Segundo o texto do acórdão, "não resulta dos autos que tais atividades de propaganda se destinam à troca de ideias, debate e formação coletiva de opinião nem se fazem para expor e discutir ideias, servindo apenas para chamar a atenção das pessoas para participar na sondagem a realizar sobre a eleição do chefe do executivo".

O referendo informal, anunciado para decorrer entre 24 e 30 de agosto - durante o período de campanha eleitoral para a eleição do chefe do Governo - foi considerado "ilegal" e "inválido" pelo Governo de Macau, mas diversos juristas locais sublinham que apesar de não ter qualquer validade formal, a consulta popular feita pelas associações não viola qualquer norma da Lei Básica, a miniconstituição que rege a vida local.

A votação do referendo está pensada em duas modalidades: via online e em assembleias de voto instaladas em cinco locais de Macau entre 24 e 30 de agosto, com o resultado a ser anunciado no dia 31, precisamente a data da escolha do chefe do Governo por um colégio eleitoral de 400 pessoas.

Com a decisão do TUI, Jason Chao não pode realizar na via pública qualquer ação de promoção do referendo, muito embora não esteja impedido de realizar a consulta e de a promover em espaços fechados até porque, como o próprio frisou, o tribunal não considerou ilegal a consulta.

Jason Chao não disse, contudo, como irá promover a consulta popular, lamentou que o tribunal não tenha anulado a decisão do IACM, mas congratulou-se pelo facto de também não ter declarado ilegal o referendo, decisão que acaba por ser útil às associações promotoras da atividade que irão, agora, estudar formas de incentivar à participação popular.

JCS/FV // VM - Lusa

METRO LIGEIRO DE MACAU EM FUNCIONAMENTO PLENO SÓ EM 2022




Macau, China, 30 jul (Lusa) - O metro ligeiro, que vai ligar a península de Macau e a ilha da Taipa, só deverá estar a funcionar em pleno em 2022 tendo em conta o plano de execução de obras previsto pelo gabinete responsável pelo projeto.

André Ritchie, coordenador adjunto do Gabinete para as Infraestruturas de Transportes, explicou à agência Lusa que na ilha da Taipa, o metro ligeiro - que terá uma extensão de nove quilómetros - estará concluído até ao final de 2016 num traçado que vai ligar a zona do aeroporto internacional até à ponte Sai Van, onde, depois, será feito o prolongamento na ponte com o mesmo nome até à zona da Barra, já na península de Macau, onde está a ser construída uma das estações modais da península.

"Na estação da Barra, cuja parte estrutural está feita, vamos lançar em setembro o concurso para o centro modal que inclui um parque de estacionamento, um terminal de autocarros e camionetas de turismo e ainda uma zona de táxis e que vai começar a ser construído em 2015", disse.

Na península de Macau, o projeto só estará concluído ao longo de 2015 e, com "cinco a seis anos de obras", só em 2022 deverá estará a funcionar em pleno, ou seja, entre a península de Macau e a ilha da Taipa.

Com um traçado entre a península de Macau e a ilha da Taipa de cerca de 20 quilómetros, o metropolitano ligeiro, construído em plataforma elevada, deverá custar, a preços atuais, cerca de 15.000 milhões de patacas (1.400 milhões de euros) - incluindo custos de construção e comboios e a preços atuais -, mas é ainda preciso esperar pela decisão final relativa ao traçado de Macau para apurar custos do projeto, disse.

"O preço estimado de 500 milhões de patacas (46,7 milhões de euros) por quilómetro refere-se a preços atuais e em plataforma elevada, mas estando ainda o traçado de Macau em consulta pública, não se pode estimar em concreto, para já, o valor da obra porque não temos o traçado final definido", assinalou.

André Ritchie explicou também que as obras na ilha da Taipa são "complexas e demoradas" porque implicam a "execução de estacas para sustentar os pilares do metro, algumas das quais cravadas a mais de 100 metros de profundidade".

"A zona da Taipa, maioritariamente em zonas de aterros, implica um trabalho extraordinário para que toda a infraestrutura esteja segura e por isso demora mais tempo", disse.

Instado a comentar o prolongamento das obras - o metro ligeiro é uma obra que é falada desde 2004 e deveria ter entrado em funcionamento em 2011/2012 - André Ritchie salientou apenas que uma construção do género "é demorada, implica padrões de segurança complexos e não pode ser colocada em causa por questões de datas".

"O que temos a fazer é um trabalho que tem de ser seguro, viável e funcional sendo adequado não só às necessidades dos residentes, mas também dos turistas e que possa ser um veículo alternativo útil a Macau e à sua população", concluiu.

JCS // VM - Lusa

Timor-Leste: CNRT PEDE A XANANA PARA EXPLICAR A SUA INTENÇÃO DE RESIGNAR




O Conselho Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) vai pedir ao Primeiro-ministro Xanana Gusmão para esclarecer a sua vontade quanto à resignação do cargo, uma vez que o partido não concorda com a sua saída do governo.

Depois de participar na cerimónia de tomada de posse de Mari Alkatiri, no Palácio Presidencial, o secretário-geral do partido CNRT, Dionísio Babo, afirmou que o partido vai ouvir o primeiro-ministro sobre este assunto.

“O partido respeita a sua decisão, mas o primeiro-ministro irá responder, durante o congresso do partido, a algumas perguntas relacionadas com a sua resignação”, disse Dionísio Babo.

No mesmo local, o Vice Primeiro-ministro, Fernando La Sama de Araújo, disse que não tem qualquer informação sobre o caso e pediu para que não sejam feitos comentários que não sejam verdadeiros porque neste momento o primeiro-ministro ainda não falou sobre a sua resignação.

Sapo TL, com Suara Timor Lorosae

PIB NÃO-PETROLÍFERO DE TIMOR-LESTE CRESCEU 7,8 POR CENTO EM 2012 - governo




Díli, 30 jul (Lusa) - O Produto Interno Bruto não-petrolífero de Timor-Leste cresceu 7,8 por cento em 2012, anunciou hoje em comunicado o porta-voz do governo timorense e ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, Agio Pereira.

O número consta no relatório sobre a "Contabilidade Nacional 2000-2012" oficialmente apresentado sexta-feira na reunião com os parceiros de desenvolvimento.

"A edição de 2014 confirma o forte crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não-petrolífero de Timor-Leste. Em 2012 o PIB não-petrolífero de Timor-Leste cresceu 7,8 por cento em termos de preços constantes", refere em comunicado divulgado à imprensa o ministro timorense.

Segundo Agio Pereira, em 2012, houve também um crescimento de 13,1 por cento nas despesas de consumo final dos agregados familiares, "associado a um crescimento significativo da agricultura de subsistência".

A Contabilidade Nacional 2000-2012 revela também que os três setores industriais que mais cresceram em 2012 foram os da Informação e Comunicação, com um aumento de 19,6 por cento, Agricultura, Floresta e pescas (14,6 por cento) e as atividades imobiliárias, com um aumento de 14,4 por cento.

O setor da Administração Pública aumento 11 por cento, Minas e Pedreiras teve um aumento de 7,9 por cento e o comércio grossita e retalhista registou um aumento de 7,3 por cento foram os outros setores que também registaram mais crescimento.

"O PIB total para Timor-Leste, em 2012, a preços correntes, foi de 5,579 milhões de dólares, correspondendo o setor petrolífero a 77,2 por cento e o setor não-petrolífero a 22,8 por cento do PIB total, um aumento na proporção da contribuição do não-petrolífero para o PIB, em comparação com os valores de 2011", refere o governo.

A Contabilidade Nacional 2000-2012, a quarta edição publicada pela Direção-Geral de Estatística é elaborada com base no sistema de contabilidade nacional da ONU.

MSE // JPF - Lusa

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