Correio do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo
As
48 horas que antecedem as eleições presidenciais no Brasil foram previstas, na
Constituição, para que o eleitor possa refletir sobre a decisão a ser tomada no
domingo. Para dormir e acordar depois de um debate entre os candidatos,
realizado pela Rede Globo, em uma das mais controvertidas edições deste
expediente, que deveria servir para que o eleitor consolidasse sua opinião
acerca de quem poderá governar o país nos próximos quatro anos. Na sétima
escolha direta do presidente brasileiro, desde a redemocratização do país, em
1985, não há definição sobre um segundo turno que, se chegar a acontecer, segue
indefinido quem poderá disputá-lo com a presidenta Dilma Rousseff
(PT), que concorre à reeleição e lidera as pesquisas de intenção de votos.
A
pesquisa Datafolha divulgada na véspera, coloca Dilma na liderança,
com 40% de intenções de voto, com Marina e Aécio empatados, numericamente, com
24% e 21%. Em uma outra pesquisa, do Instituto Ibope, também veiculada na noite
anterior, as projeções de votos válidos colocavamDilma com 47%, contra 28%
para a adversária do PSB/Rede Sustentabilidade e 22% para o candidato tucano.
Segundo analista político ouvidos pelo Correio do Brasil, nesta sexta-feira,
“não seria exagero considerar a vitória de Dilma já em primeiro turno, diante
deste quadro”. Nas últimas pesquisas Ibope, a presidenta seguiu em uma escalada
de 42%, 43%, 45% e, agora, 47% das intenções de votos válidos, quando são
desconsiderados os brancos e nulos. Nesse ritmo, faltariam 3 pontos percentuais
mais um voto para encerrar a disputa agora, no primeiro turno. O Datafolha
também aponta 3 pontos percentuais na diferença entre Marina e Aécio. Ou seja,
uma pequena variação na escolha dos eleitores poderá configurar mudanças
definitivas no rumo das eleições.
A
pesquisa Istoé/Sensus, divulgada nesta tarde, confirma a disputa voto a voto
pela vaga em um previsto segundo turno. De acordo com a pesquisa, Marina Silva,
do PSB, e Aécio Neves, do PSDB, estão tecnicamente empatados. No entanto, a
diferença entre os dois, que era de 4,3 pontos na semana passada, encolheu para
apenas 1,9 ponto percentual. A pesquisa ISTOÉ/Sensus realizada entre a
terça-feira, 30 de setembro, e esta sexta-feira, indica que 14,4% dos eleitores
admitem mudar de voto e que outros 9,4% ainda não definiram em quem votar para
a sucessão presidencial. É esse universo de aproximadamente 35 milhões de
eleitores que irá definir quem deverá enfrentar a presidenta Dilma Rousseff
(PT) no segundo turno: Aécio Neves (PSDB) ou Marina Silva (PSB). A tendência
percebida, segundo Ricardo Guedes, diretor do Instituto Sensus, é a de que o
tucano passe para a fase final da disputa.
–
Os números mostram que Marina vem perdendo votos diariamente, em movimento
contrário ao de Aécio, que em menos de um mês teve um crescimento de pontos
percentuais no índice de intenção de voto. Soma-se a isso o fato de que a perda
de votos da candidata do PSB vem acompanhada de um aumento no seu índice de
rejeição, o que representa uma dificuldade maior da candidata para obter o voto
indeciso ou o voto mais volátil – adiantou. O levantamento, realizado em 136
municípios de 24 Estados, mostra que o índice de eleitores que afirmam não
votar em Marina de forma alguma saltou de 33% para 38,8% apenas nos últimos
sete dias. No mesmo período, a rejeição ao tucano praticamente não variou.
Aécio
e o aeroporto
Embora
Dilma seja presença garantida no possível segundo turno, sua campanha trabalha
para liquidar a fatura já no próximo domingo. De qualquer forma, terá seguido
em frente nesta eleição que cruzou as manifestações de Junho do ano passado,
uma Copa do Mundo, em Julho deste ano, e a comoção pela morte do presidenciável
Eduardo Campos. A tranqulidade com que o eleitor brasileiro superou cada um
desses obstáculos consolida a democracia brasileira, apesar de todas as
tentativas de candidatos, de partidos inteiros – ainda que nanicos – de
radicalizar o processo, como no debate desta madrugada.
Novamente,
os melhores momentos couberam a Luciana Genro, na avaliação do jornalista Paulo
Nogueira, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário
do Centro do Mundo:
“Foi
brilhante sua reação a uma deselegância de Aécio quando ela o questionou sobre
o aeroporto que ele mandou construir em terras da família com dinheiro público.
Desnorteado, sem encontrar palavras que expliquem o aeroporto, ele esticou o
dedo para Luciana Genro. Imediatamente ela ordenou que ele baixasse o dedo. E
ele baixou, depois da bofetada moral que levou”, acrescenta.
Ainda
segundo o diretor editorial, “logo no começo, ela aproveitou para falar o que
pensava daGlobo em plena Globo. Não poderia perder a oportunidade, e
não perdeu. Luciana Genro disse também certas verdades inconvenientes a Marina,
e arrancou dela uma declaração vital. Num tributo involuntário a Luciana Genro,
Marina disse que seu programa é parecido com o dela, Luciana, e não com o de
Aécio. Marina completou ali o giro total que ela deu nas suas propostas.
Premida pela queda nas intenções de voto, ela acabou indo para a esquerda,
depois de começar com um discurso de centro direita, parecido com o de Aécio”.
Fidelix
infeliz
“Flexibilizar
as leis trabalhistas se transformou em estendê-las para empregados que não
estão protegidos pela CLT. Até para o Bolsa Família ela anunciou uma novidade:
um 13º. É presumível que seu guru econômico, o ortodoxo Eduardo Giannetti,
tenha engasgado diante da nova Marina, tão identificada com Luciana Genro que
chegou a usar o pronome ‘tu’ em certo momento. Giannetti dissera, antes da
transformação, que os compromissos sociais só seriam cumpridos se e quando o
orçamento permitisse. Marina está dizendo o oposto, e há aí uma dissonância
cognitiva que deve redundar numa crise na equipe de Marina. Informalmente, é
como se ela tivesse despedido Giannetti e companheiros de ortodoxia”.
Para
Nogueira, “Luciana Genro foi aguda, também, ao perguntar a Dilma o que pensa da
taxação das grandes fortunas. É uma pena que Dilma não tenha respondido. No
encontro com blogueiros, diante de outro ponto vital para o avanço da
sociedade, a regulação da mídia, ela respondeu com firmeza e clareza. Foi ainda
Luciana Genro quem trouxe a criminalização da homofobia para o centro do debate
nacional ao perguntar, no debate anterior, a Levy
Fidelix o que pensava do assunto. Disse, em outro artigo, e repito aqui:
Luciana Genro não vai ganhar, e nem passará para o segundo turno”.
“Mas,
e isto ninguém lhe tira, ela dinamizou o debate político nestas semanas de
campanha com sua verve, com sua inteligência, com sua coragem e com sua
sinceridade. A expressão “nova política” acabou se tornando uma piada, no
decorrer das últimas semanas. Mas, se alguém emergiu desta campanha com ideias
que merecem ser chamadas de novas, é essa gaúcha ousada e intrépida que, cachos
ao vento, capturou o Zeitgeist, o espírito do tempo – aquele sentimento
que comandou as Jornadas de Junho, nas quais a voz rouca das ruas disse não à
política que está aí”, afirmou.
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