Paula
Santos – Expresso, opinião
Os
últimos dias ficaram fortemente marcados pelo anúncio do Banco Central Europeu
(BCE) de aquisição de dívida pública dos Estados, pelas eleições na Grécia, que
se traduziram numa forte expressão e aspiração de mudança de política.
Não
houve ninguém que não falasse! O anúncio do BCE, feito pelo seu Governador
Mario Draghi, da compra de dívida pública no valor de 60 mil milhões mensais,
de março de 2015 a setembro de 2016, ecoou pelos quatro ventos, surgindo como
medida milagrosa para a resolução da situação económica e social que se vive
nos países que integram a União Europeia. Esta "solução", segundo
Mario Draghi permitiria travar a especulação sobre as dívidas soberanas, para
evitar a deflação e para responder à situação económica na zona euro.
Importa
analisar um pouco mais a fundo as reais intenções subjacentes a esta medida e
não ficarmos pela superficialidade, alinhando no foguetório que foi
propositadamente criado em torno desta mesma medida.
Se
o BCE avançar efetivamente para a aquisição de dívida pública onde é que isso
se traduz no crescimento e desenvolvimento económico e na melhoria das
condições de vida dos povos? A verdade é que não há nenhuma garantia que assim
seja. A única certeza que existe é que esta operação significa a injeção de
milhões de euros no sistema financeiro, mas sem qualquer garantia que tenha
repercussões na dita economia real. Mais, esta operação não se traduz em nenhum
financiamento direto aos Estados. Em suma, trata-se simplesmente de mais uma
forma de assegurar a liquidez dos bancos e dos grandes investidores
institucionais detentores de títulos da dívida pública.
Não
é, portanto uma medida que tenha sido tomada a pensar na melhoria das condições
de vida dos povos, é apenas um paliativo para continuar uma política que serve
os interesses do capital. Esta medida insere-se na estratégia da União Europeia
de aprofundamento do sistema capitalista que tem conduzido ao retrocesso os
países com as economias mais frágeis, como Portugal e de degradação das
condições de vida dos povos, da redução dos salários, restringindo o acesso a
direitos sociais.
O
resultado das eleições na Grécia representa uma derrota dos partidos da
política de direita, que levaram o país para o desastre económico e social, e
que para o povo grego significou desemprego, empobrecimento e exclusão social.
Demonstra o descontentamento com a política da troica e a imposição dos ditames
da União Europeia.
O
resultado das eleições gregas demonstra também que a soberania de um país
reside no seu povo e que é o povo que determina o futuro do seu país.
É
possível e é urgente uma mudança política no nosso país, uma mudança que não se
fique pela alternância entre partidos que já governaram e que já comprovaram
que não resolvem os problemas do país e dos portugueses. O único compromisso
que esses partidos assumem é com a política da troica, o tratado orçamental e
os interesses do grande capital, que impedem o desenvolvimento e o progresso
económico e social.
Diversas
instituições da União Europeia vão afirmando que é preciso manter os ritmos de
consolidação orçamental, isto é, que é preciso continuar a reduzir salários, a
cortar nas pensões, nas prestações sociais e nas funções sociais do Estado.
A
dita "política de ajustamento orçamental" como designam, significou
em Portugal o aumento de mais de 10 mil ricos, no mesmo período em que milhares
de trabalhadores e reformados foram empurrados para a pobreza, o desemprego e a
emigração. A concentração da riqueza nuns poucos, que lucraram neste período de
extremas dificuldades para a esmagadora maioria do povo deveu-se à custa da
exploração e da redução dos salários e pensões de milhares de trabalhadores e
reformados.
Disto
está o povo farto!
Foi
exatamente contra estas opções políticas que o povo grego se manifestou no
passado domingo.
Em
Portugal a mudança passa pela rutura com a política de direita e pela
construção de uma alternativa, uma política patriótica e de esquerda que tenha
como eixos centrais a renegociação da dívida de acordo com os interesse
nacionais, o estudo e a preparação do país para a saída do euro, a aposta na
produção nacional, a valorização de salários e pensões, o controlo público de
setores estratégicos da nossa economia, a defesa das funções sociais e dos
serviços públicos, o combate à injustiça fiscal e a afirmação dos interesses
nacionais e a defesa da nossa independência e soberania.
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