quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

É URGENTE A MUDANÇA!



Paula Santos – Expresso, opinião

Os últimos dias ficaram fortemente marcados pelo anúncio do Banco Central Europeu (BCE) de aquisição de dívida pública dos Estados, pelas eleições na Grécia, que se traduziram numa forte expressão e aspiração de mudança de política.

Não houve ninguém que não falasse! O anúncio do BCE, feito pelo seu Governador Mario Draghi, da compra de dívida pública no valor de 60 mil milhões mensais, de março de 2015 a setembro de 2016, ecoou pelos quatro ventos, surgindo como medida milagrosa para a resolução da situação económica e social que se vive nos países que integram a União Europeia. Esta "solução", segundo Mario Draghi permitiria travar a especulação sobre as dívidas soberanas, para evitar a deflação e para responder à situação económica na zona euro.

Importa analisar um pouco mais a fundo as reais intenções subjacentes a esta medida e não ficarmos pela superficialidade, alinhando no foguetório que foi propositadamente criado em torno desta mesma medida.

Se o BCE avançar efetivamente para a aquisição de dívida pública onde é que isso se traduz no crescimento e desenvolvimento económico e na melhoria das condições de vida dos povos? A verdade é que não há nenhuma garantia que assim seja. A única certeza que existe é que esta operação significa a injeção de milhões de euros no sistema financeiro, mas sem qualquer garantia que tenha repercussões na dita economia real. Mais, esta operação não se traduz em nenhum financiamento direto aos Estados. Em suma, trata-se simplesmente de mais uma forma de assegurar a liquidez dos bancos e dos grandes investidores institucionais detentores de títulos da dívida pública.

Não é, portanto uma medida que tenha sido tomada a pensar na melhoria das condições de vida dos povos, é apenas um paliativo para continuar uma política que serve os interesses do capital. Esta medida insere-se na estratégia da União Europeia de aprofundamento do sistema capitalista que tem conduzido ao retrocesso os países com as economias mais frágeis, como Portugal e de degradação das condições de vida dos povos, da redução dos salários, restringindo o acesso a direitos sociais.

O resultado das eleições na Grécia representa uma derrota dos partidos da política de direita, que levaram o país para o desastre económico e social, e que para o povo grego significou desemprego, empobrecimento e exclusão social. Demonstra o descontentamento com a política da troica e a imposição dos ditames da União Europeia.

O resultado das eleições gregas demonstra também que a soberania de um país reside no seu povo e que é o povo que determina o futuro do seu país.

É possível e é urgente uma mudança política no nosso país, uma mudança que não se fique pela alternância entre partidos que já governaram e que já comprovaram que não resolvem os problemas do país e dos portugueses. O único compromisso que esses partidos assumem é com a política da troica, o tratado orçamental e os interesses do grande capital, que impedem o desenvolvimento e o progresso económico e social.

Diversas instituições da União Europeia vão afirmando que é preciso manter os ritmos de consolidação orçamental, isto é, que é preciso continuar a reduzir salários, a cortar nas pensões, nas prestações sociais e nas funções sociais do Estado.

A dita "política de ajustamento orçamental" como designam, significou em Portugal o aumento de mais de 10 mil ricos, no mesmo período em que milhares de trabalhadores e reformados foram empurrados para a pobreza, o desemprego e a emigração. A concentração da riqueza nuns poucos, que lucraram neste período de extremas dificuldades para a esmagadora maioria do povo deveu-se à custa da exploração e da redução dos salários e pensões de milhares de trabalhadores e reformados.

Disto está o povo farto!

Foi exatamente contra estas opções políticas que o povo grego se manifestou no passado domingo.

Em Portugal a mudança passa pela rutura com a política de direita e pela construção de uma alternativa, uma política patriótica e de esquerda que tenha como eixos centrais a renegociação da dívida de acordo com os interesse nacionais, o estudo e a preparação do país para a saída do euro, a aposta na produção nacional, a valorização de salários e pensões, o controlo público de setores estratégicos da nossa economia, a defesa das funções sociais e dos serviços públicos, o combate à injustiça fiscal e a afirmação dos interesses nacionais e a defesa da nossa independência e soberania.

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