Francisco Louçã – Público, opinião
Se
votares em mim, é a prova da consciência e maturidade do povo. Se votares nele,
é a prova do vazio de um mero voto de protesto.
Eu
apresentei propostas consistentes. Não resultaram e ninguém as quis manter. Mas
qualquer mudança será grave prova de populismo desbragado.
Só
podem ganhar as políticas de compromisso. Excepto o Syriza, que é um partido de
extrema-esquerda, perigoso para o compromisso europeu. “Colisão com a Europa”,
diz a capa do Guardian. “Terror”, escreve o Bild.
Ouviu
estas três frases durante o dia de ontem? Pois divirta-se que estes momentos
são únicos.
Pese
a todas as conversas de um dia de muita perplexidade e expectativa, começou a
contagem decrescente para a formação do governo grego, depois da vitória
esmagadora do Syriza. Até 4ªf, Tsipras deve comunicar ao Presidente que está em
condições de formar uma coligação e deve pouco tempo depois obter a sua
confirmação na primeira sessão parlamentar. E começam os trabalhos de Hércules
de uns e de outros, de Atenas a Berlim.
A
Europa é a responsável primeira pela desagregação da Grécia. Portanto, é ou com
a União ou contra a União que é preciso ser realista. Ou há negociações que
conduzam a resultados muito depressa e que permitam a reestruturação da dívida
pública e o financiamento ao sistema bancário, conduzindo assim à redução
radical da dívida externa total, ou a Grécia terá de se defender sem a Europa.
Para
isso, não há muito tempo. A chave de um governo de esquerda é o curtíssimo
prazo: em semanas, os gregos esperam medidas que façam caminho. Não esperam
certamente milagres, mas querem atitudes. Depois do protectorado, nada pode
falhar.
O
segundo trabalho de Hércules, este para Merkel, é a resposta ao fim do consenso
institucional sobre os tratados, como o Tratado Orçamental, tão laboriosamente
construído pelo centro e pela direita na Europa, que é um choque difícil. Não
porque mude a Europa, de facto a Europa já está mudada porque se está a
desagregar: a Grécia ameaça poder, o Reino Unido ameaça sair, a França ameaça
cair, a Espanha ameaça querer. Só se reconstituirá a Europa se acabar com as
regras que fizeram este monstro e adiar é a pior de todas as respostas.
Claro
que se pode pedir menos e esperar mais. Só que não resulta. Austeridade como
destino cósmico, empobrecimento como punição, ódios como norma, e temos uma
democracia em
apodrecimento. O problema é portanto europeu. E o problema é
que a Europa não funciona.
Não
é preciso os gregos gritarem mais alto para se ouvir este recado.
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