À
entrada das assembleias de voto formam-se filas de pessoas, num movimento maior
do que o habitual em eleições. É um sinal de mudança
Joana Pereira Bastos (texto e foto), enviada à Grécia – Expresso
Votar
não é um processo simples na Grécia. Nem rápido. Cada eleitor recebe
21boletins, um por cada partido que concorre a estas legislativas e um
outro em branco no caso de não querer escolher nenhum. São papéis e
mais papéis. Na urna cada pessoadeposita apenas um. E uma última esperança
no futuro do país.
Distribuídos
em montes iguais numa mesa comprida colocada em todas as
assembleias de voto, os boletins relativos a cada partido têm uma longa lista
com o nome de todos os candidatos que concorrem, em cada círculo, às
eleições. À entrada da sala, os muitos papéis são dados, um a um, a
cadaeleitor, que os leva para uma cabine individual, tapada por uma
cortina. O que corresponde ao seu voto é fechado num envelope e depositado
na urna. Todos os outros vão para o lixo.
Em
Atenas, praticamente todas as assembleias de voto estão instaladas em escolas.
À entrada de cada sala de aula, decorada com desenhos infantis,
formam-se enormes filas para votar. George Giokaris,
arquiteto de 57 anos, está emocionado. Não é costume ver-se um movimento
tão grande, diz. É um sinal de mudança, acredita o apoiante do Syriza, a
coligação de esquerda radical que, de acordo com sondagens, deverá ganhar as
eleições. "Ao votarmos hoje, mudamos a Grécia, mudamos a Europa e ajudamos
a mudar o mundo. Desta vez o povo vai fazer a diferença".
Alessandro Karakostas,
dono de um pequeno restaurante no centro da capital, partilha a mesma
opinião. Neste domingo, acredita, decide-se mais do que apenas o destino da
Grécia. A expectativa é tanta que chega a comparar o líder
do Syriza ao presidente dos Estados Unidos: "Quando foi eleito,
Obama representou uma nova esperança para o
mundo. Alexis Tsiprasrepresentará uma nova esperança para
aEuropa, a esperança de um futuro melhor para todos os países, em particular
para os países do Sul", garante.
A verdade
é que as eleições gregas estão a ser seguidas com atenção em todo o mundo. Mais
de 700 jornalistas estrangeiros, do Japão ao Equador, estão no país a
fazer a cobertura das legislativas. Não é por acaso. Uma vitória
do Syriza, que promete acabar com a austeridade e exige a Bruxelas um
perdão de 50% da dívida do país, tal como foi feito para a Alemanha em 1953,
pode mudar a União Europeia. Se as negociações falharem e a Grécia acabar por
sair da zona euro, fantasma que paira sobre estas
eleições, pode abrir-se um precedente com consequências difíceis de
determinar.
A
atenção mediática é tal que não é fácil andar pelas ruas da capital grega sem
"tropeçar" numa equipa de televisão estrangeira. É uma sensação
estranha e desconfortável para muitos gregos. "Sentimo-nos como se
estivéssemos no jardim zoológico. Somos os animais na jaula que o mundo veio
ver", descreve George Kavradis.
Ao
contrário dos apoiantes do Syriza, que transpiram confiança,
o arqueólogo, de 52 anos, que vai votar no partido de esquerda
liberal To Potami (em terceiro lugar nas sondagens), não está muito
otimista. "As eleições não mudam nada se não mudar a mentalidade das
pessoas. O povo grego vive orgulhoso do passado glorioso do país, mas tem
estado pouco preocupado em construir o seu futuro. Muitos querem dinheiro
fácil. Mas só com mais educação e trabalho árduo podemos ter um bom
futuro", diz.
Kalliope,
uma jovem engenheira civil de 25 anos que não quis revelar o seu voto, também
não está muito confiante. Mas por razões diferentes. "Os países ricos da
União Europeia só pensam neles. Não se preocupam connosco e dificilmente farão
com que tenhamos um futuro melhor", lamenta.
As
urnas encerram às 19h (menos duas horas em Portugal). Os resultados
definitivos deverão ser divulgados pelas 23h (21h em Lisboa). Não há, por
enquanto, palcos montados em nenhuma das principais praças da capital, nem
se sabe ao certo onde vão ter lugar os festejos. Muito menos o que vai
acontecer depois disso.
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