domingo, 25 de janeiro de 2015

Grécia – Eleições: VINTE E UM BOLETINS DE VOTO E UMA URNA DE ESPERANÇA




À entrada das assembleias de voto formam-se filas de pessoas, num movimento maior do que o habitual em eleições. É um sinal de mudança  

Joana Pereira Bastos (texto e foto), enviada à Grécia – Expresso

Votar não é um processo simples na Grécia. Nem rápido. Cada eleitor recebe 21boletins, um por cada partido que concorre a estas legislativas e um outro em branco no caso de não querer escolher nenhum. São papéis e mais papéis. Na urna cada pessoadeposita apenas um. E uma última esperança no futuro do país.

Distribuídos em montes iguais numa mesa comprida colocada em todas as assembleias de voto, os boletins relativos a cada partido têm uma longa lista com o nome de todos os candidatos que concorrem, em cada círculo, às eleições. À entrada da sala, os muitos papéis são dados, um a um, a cadaeleitor, que os leva para uma cabine individual, tapada por uma cortina. O que corresponde ao seu voto é fechado num envelope e depositado na urna. Todos os outros vão para o lixo.

Em Atenas, praticamente todas as assembleias de voto estão instaladas em escolas. À entrada de cada sala de aula, decorada com desenhos infantis, formam-se enormes filas para votar. George Giokaris, arquiteto de 57 anos, está emocionado. Não é costume ver-se um movimento tão grande, diz. É um sinal de mudança, acredita o apoiante do Syriza, a coligação de esquerda radical que, de acordo com sondagens, deverá ganhar as eleições. "Ao votarmos hoje, mudamos a Grécia, mudamos a Europa e ajudamos a mudar o mundo. Desta vez o povo vai fazer a diferença". 

Alessandro Karakostas, dono de um pequeno restaurante no centro da capital, partilha a mesma opinião. Neste domingo, acredita, decide-se mais do que apenas o destino da Grécia. A expectativa é tanta que chega a comparar o líder do Syriza ao presidente dos Estados Unidos: "Quando foi eleito, Obama representou uma nova esperança para o mundo. Alexis Tsiprasrepresentará uma nova esperança para aEuropa, a esperança de um futuro melhor para todos os países, em particular para os países do Sul", garante.  

A verdade é que as eleições gregas estão a ser seguidas com atenção em todo o mundo. Mais de 700 jornalistas estrangeiros, do Japão ao Equador, estão no país a fazer a cobertura das legislativas. Não é por acaso. Uma vitória do Syriza, que promete acabar com a austeridade e exige a Bruxelas um perdão de 50% da dívida do país, tal como foi feito para a Alemanha em 1953, pode mudar a União Europeia. Se as negociações falharem e a Grécia acabar por sair da zona euro, fantasma que paira sobre estas eleições, pode abrir-se um precedente com consequências difíceis de determinar.

A atenção mediática é tal que não é fácil andar pelas ruas da capital grega sem "tropeçar" numa equipa de televisão estrangeira. É uma sensação estranha e desconfortável para muitos gregos. "Sentimo-nos como se estivéssemos no jardim zoológico. Somos os animais na jaula que o mundo veio ver", descreve George Kavradis. 

Ao contrário dos apoiantes do Syriza, que transpiram confiança, o arqueólogo, de 52 anos, que vai votar no partido de esquerda liberal To Potami (em terceiro lugar nas sondagens), não está muito otimista. "As eleições não mudam nada se não mudar a mentalidade das pessoas. O povo grego vive orgulhoso do passado glorioso do país, mas tem estado pouco preocupado em construir o seu futuro. Muitos querem dinheiro fácil. Mas só com mais educação e trabalho árduo podemos ter um bom futuro", diz.

Kalliope, uma jovem engenheira civil de 25 anos que não quis revelar o seu voto, também não está muito confiante. Mas por razões diferentes. "Os países ricos da União Europeia só pensam neles. Não se preocupam connosco e dificilmente farão com que tenhamos um futuro melhor", lamenta.

As urnas encerram às 19h (menos duas horas em Portugal). Os resultados definitivos deverão ser divulgados pelas 23h (21h em Lisboa). Não há, por enquanto, palcos montados em nenhuma das principais praças da capital, nem se sabe ao certo onde vão ter lugar os festejos. Muito menos o que vai acontecer depois disso.

Sem comentários:

Mais lidas da semana