domingo, 11 de janeiro de 2015

TERRORISTAS DE ESTADO MARCHAM EM PARIS CONTRA O TERRORISMO?



Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Os jornalistas têm sido vítimas de bárbaros assassínios ao longo da existência e exercício da profissão. Nos últimos anos o número de jornalistas assassinados por todo o mundo subiu como não há memória. Terrorismo seletivo contra aqueles profissionais chega aos nossos olhos com degolações e disso fazem garbo os seus terríveis assassinos. Há dias foi em Paris. De rajada 12 profissionais do jornal satírico Charlie Hebdo foram assassinados, outros 10 estão gravemente feridos e a receberem tratamentos adequados em hospitais da capital francesa. Dois terroristas cometeram em Paris o vil ato de atentarem contra as vidas de trabalhadores daquele jornal e contra a liberdade de expressão. Outros atos de terrorismo se sucederam em Paris após o do Charlie. A hedionda ação terrorista merece a repulsa de todos que prezam a vida, a liberdade e a democracia – pese embora que na Europa a democracia já é algo fictício. Ninguém, no seu juízo perfeito, defensor de valores da vida e da democracia, da justiça, se inibe de condenar vivamente aqueles atos terroristas. Aqueles e outros. Também os atos de terrorismo que estadistas e Estados exercem sobre os cidadãos inocentes. E a Europa não está livre de não conter em muitos dos seus governos executantes de terrorismo, mais que não seja o terrorismo económico, para além do terrorismo praticado em invasões de países e matança de civis inocentes com objetivos de subjugação, exploração e geoestratégia. Pese-se ainda mais o apoio que a UE oferece aos nazis na Ucrânia, o que pode ser o prenúncio do nazismo encapotado que alimenta ideologicamente governantes europeus e  mais além no ocidente, os EUA.

Bernard Holtrop, cartoonista do jornal satírico Charlie Hebdo, afirmou com todas as letras que os sobreviventes do Charlie Hebdo vomitam sobre todas as pessoas que se dizem amigas do jornal e seus trabalhadores, desvalorizando a onda de hipócrita solidariedade que tem sido manifestada.

Bernard Holtrop, explicou que a maior parte do apoio tem chegado por parte de pessoas que “nunca viram o Charlie Hebdo”.

“Para o cartoonista todo este apoio de pessoas como Vladimir Putin, Papa Francisco e rainha Isabel II dá-lhe vontade de “rir”. Pode ler-se na notícia que publicamos mais em baixo com origem no Jornal de Notícias.

Não refere o cartonista que a manipulação à volta dos atos terroristas ocorridos em Paris nos últimos dias são igualmente motivo de muitos vómitos. A indiscutível reprovação e condenação dos referidos atos não deve cegar os cidadãos porque também o terrorismo de Estado merece o mesmo trato. Igual reprovação e condenação. Contudo esse terrorismo, exercido indiscriminadamente sobre povos (civis) do Médio Oriente, da Ásia e de África nunca mobiliza um milhão de manifestantes europeus em Paris ou noutra capital europeia, para além de os responsáveis que decidem tais operações militares gozarem de estatutos de impunidade que até lhes permite receberem por retorno promoções, nomeações em cargos nunca anteriormente sequer sonhados pelos próprios beneficiários. Lembro o caso de Durão Barroso (outros exemplos existem), à data primeiro-ministro de Portugal, que após se ter aliado a George W. Bush – com Blair e Asnar – para a invasão do Iraque à revelia da ONU, foi nomeado Presidente da Comissão Europeia, abandonando inusitadamente o cargo de primeiro-ministro em Portugal. Se não foi a compensação de um favor...

As tropas da coligação no Iraque a quantos inocentes civis levaram o terror e a morte? E quem colocou os militares no terreno com ordens para destruir e matar não é terrorista? Quantas dezenas de milhares de inocentes civis foram aterrorizados e assassinados desde então e até à atualidade? Por certo existiam vias de diálogo e diplomacia para que fossem evitadas ações bélicas com produção de tantas vítimas humanas mas esse não era o objetivo do terrorista W. Bush, que mentiu a todo o mundo sobre o “perigoso arsenal militar existente no Iraque às mãos de Sadam”. Levar o terror ao povos são atos terroristas. Muitos estadistas do passado e da atualidade encaixam perfeitamente no conceito.

Na atualidade os atos terroristas de países do ocidente continuam a existir. Condenar povos à fome e à miséria também se enquadra em atos terroristas no conceito de muitos cidadãos. Na Europa viram-se já imensas manifestações contra a fome e a austeridade - principalmente nos países do sul – e não tem sido por isso que o terror da miséria e da fome abrandou. E isso porque existem imensas famílias europeias que continuam a sobreviver nesse terror. Nessa sujeição imposta por governantes que consciente ou inconscientemente exercem terrorismo sobre os seus povos. Um aspeto é certo: agem em obdiencia servil e total aos Mercados e a Ângela Merkel. Onde está a diferença de uns terroristas e de outros? Será que é por uns usarem botas cardadas e atuarem com estradalhaço, dispararem metralhadoras e acabarem logo ali com a vida de inocentes, enquanto outros usam pantufas, fortes doses de hipocrisia e vão destruindo e matando lentamente? Não é pelos diferentes modos de atuarem que não são terroristas.

E são exatamente esses que hoje se colam à manifestação de Paris. Imagine-se que até Netanyahu, PM de Israel que exerce verdadeiro terrorismo dizimante de vidas inocentes na Palestina, se manifesta contra o terrorismo e marcha ao lado de outros estadistas, dizem que cerca de 50. Também de Portugal marcha em Paris Passos Coelho. Um terrorista da fome e miséria a que condenou muitos portugueses. E são estes maus exemplos que em Paris se colaram a algo que cidadãos franceses pretenderam organizar em solidariedade com as vítimas do Charlie Hebdo e na defesa da liberdade de expressão. Liberdade de expressão que tantas vezes é manipulada pelos estadistas marchantes em Paris. Liberdade de expressão que é tolhida a jornalistas que perderam as forças necessárias para defendê-la nos órgãos de comunicação social em que trabalham porque se o fizerem declaradamente a “prateleira” e o desemprego espera-os.

É de um descaramento inqualificável assistirmos à colagem de políticos a marchantes em Paris que participam numa manifestação que devido a eles ganhou a chancela de alta manipulação e que certamente não era o desejado pelos seus promotores. Mas é o que se vê e daqui foi ganho terreno para justificar maior controlo dos cidadãos europeus no Espaço Schengen, na Internet, noutras comunicações, em quase tudo. É o controlo à laia de Hitler numa Europa que caminha para o nazismo pelas mãos de Merkel e seus servis pares dos governos dos restantes países europeus que se dizem União Europeia. União de alguns das elites a exercerem a subjugação de milhões. Puro terrorismo.

Foto: Philippe Wojazer / Reuters

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