Fernanda
Câncio – Diário de Notícias, opinião
Faz
quatro anos que Passos recebeu, em biografia, o cognome de Um Homem Invulgar.
Assinada por Felícia Cabrita, a obra dá-nos a saber o que o atual PM queria que
dele soubéssemos à beira das legislativas.
Por
exemplo que quando saiu do parlamento, em 1999, "tinha direito à subvenção
vitalícia, mas abdicou". Um deputado só podia pedir a subvenção vitalícia
a partir dos 55; Passos tinha 35. O que pediu - e recebeu - foi o subsídio de
reintegração, de 60 mil euros. Factos sobre os quais a biografia é omissa,
citando antes o encómio de Marques Mendes - "Ficou sem rendimentos e foi
trabalhar e estudar. É extremamente sério" - e acrescentando: "Sem
ficar refém de quaisquer interesses, passa a viver como qualquer
estudante-trabalhador com família." Esforçado como é, porém, na página
seguinte (152) já tem emprego. "Trabalha agora na Tecnoforma, empresa de
recursos humanos vocacionada para a formação na área dos petróleos, onde
começara do nada até chegar a consultor."
Curioso
Passos ter "começado do nada" na empresa de Fernando Madeira, o mesmo
que em 1996 o convidara para presidir a uma organização denominada Centro
Português para a Cooperação. O CPPC, do qual Marques Mendes também fazia parte,
tinha, explicou Madeira numa entrevista à Sábado em maio de 2014, o objetivo de
"explorar as facilidades de financiamentos da UE para projetos nos
PALOP". Sabe-se que o atual PM se esqueceu de colocar esta invulgar ONG -
que teria a Tecnoforma como principal "mecenas" e visaria canalizar
dinheiros europeus para projetos em que a empresa participasse - no seu registo
de interesses como deputado; recentemente, afetou até não recordar se auferira
alguma coisa pelos seus serviços. Natural pois não a ter mencionado à biógrafa,
que no mesmo capítulo exalta a epopeia da candidatura autárquica, em 1997, na
Amadora: "É uma batalha impossível, mas ele parte sempre do princípio
contrário. (...) Paulo de Carvalho (...) é o mandatário. Com ele voa para Cabo
Verde. (...) O cantor recorda essas andanças: "Ele acreditava no que defendia,
e andou numa roda-viva. Até falou com o Presidente da República e outros
políticos para ver se eles também podiam ajudar na melhoria de vida dos seus
conterrâneos [os habitantes do bairro da Cova da Moura, subentende-se].""
Madeira, do qual o livro não reza, tem outra versão da viagem: ocorreu no
âmbito do CPPC. E do cantor diz: "Apareceu no aeroporto de Lisboa. Acho
que foi também para desbloquear, mas dá-me a impressão de que havia uma segunda
agenda entre eles. Em Cabo
Verde , depois das reuniões, eles foram para outro lado."
Como, atesta Madeira, "as despesas que envolviam os custos do CPPC eram
todas pagas pela Tecnoforma" e Marcelo, então líder do PSD, garante na
biografia que "o partido estava completamente falido, o homem teve de
fazer uma campanha sem recursos", teme-se que o PM tenha de vir a
acrescentar às confessas imperfeições campanhas eleitorais acima das suas
possibilidades.
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