Folha
8 (ao) Digital – 25 abril 2015
O
país acordou em estado de choque com a notícia sobre a morte de sete agentes
da Polícia Nacional e dois em estado grave, que viriam a falecer dois dias
depois. As mortes teriam sido causadas por uma “seita religiosa”, capitaneada
por Kalupeteka, que arrastava as pessoas para as matas, privando também as
crianças da escola.
Imediatamente
a propaganda do regime colocou uma versão, a sua, não dando margem a outras.
E, para multiplicar essa tese, usou e abusou do facto de dominar muitos dos areópagos
políticos internacionais, como é o caso do Conselho de Segurança da ONU.O que
ocorreu afinal?Kalupeteka é o novo líder carismático do país, que sem uma
máquina de propaganda mobiliza milhares que, despojados e humilhados de tudo,
viram em Kalupeteka a esperança de os conduzir para uma forma de vida
participativa, em que todos ajudam todos.
Nessa
organização não era preciso a legalização, pois eles querem apenas professar a
fé e deixaram a vida das cidades e vilas, onde não há emprego, não há comercialização
dos seus produtos, para experimentar outra vida; a espiritual.
Seguiram
alguém que não lhes pedia nada em troca, apenas que comungassem a fé e
acreditassem nas escrituras.
Mas
o crescimento exponencial de Kalupeteka começou a meter medo ao regime, pois
hoje, já são cerca de um milhão e 200 mil espalhados pelo país. A verdade é que
nunca nenhum fiel do Kalupeteka foi agredir um polícia ou andar em sentido
contrário à lei.
Os
polícias foram ao local de culto deste, numa zona que era inóspita e passou a
ser uma nova terra de crença e, ao invés de tentar falar com o pastor, pura e
simplesmente tentaram algemá-lo estando este em pleno culto e no meio dos seus
fiéis.
Esta
actuação musculada e despreparo da Polícia Nacional esteve na base da subida
dos ânimos dos fiéis que tudo foram fazendo para defesa do seu líder e foi
nesse confronto que ocorreram as mortes, sempre lamentáveis, dos agentes da
ordem.
No
caso concreto, não desculpando as perdas de vidas humanas, não se pode
escamotear que a Polícia actuou como agente de provocação.
Triste
é que logo depois, em retaliação, começou uma verdadeira chacina e caça ao
homem. Todos os fiéis assistiram em seguida a uma verdadeira batalha em que a
Polícia de Intervenção Rápida chegou e sem querer saber quem estava, começou a
disparar, matando só no primeiro dia, 250 pessoas. Muitos que foram fugindo
para as montanhas foram perseguidos até à morte.
Os
fiéis em nenhum momento estavam munidos de armas, tanto que nenhum polícia
morreu alvejado por balas, mas sim com arma brancas, como rezaram as
autópsias.
Kalupeteka
não matou nem mandou matar ninguém e foi provocado no seu templo quando a
Constituição do país, que também é o seu, diz respeitar a crença religiosa.
A
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que com publicidade enganosa,
prática de burla e defraudação e os seus bispos a fazerem publicidade na
televisão, rádios e jornais, o chamado dia da Virada do Fim, provocou a morte a
mais de uma dezena de pessoas, não viu expedito nenhum mandado de captura, nem
ordem de prisão.
E
não podiam pois tem a sua televisão ao serviço do regime e ao invés de penalização
foram premiados, sendo que as outras igrejas, que não tiveram nada a ver com o
caso, é que foram suspensas, como a Igreja Mundial, por alegada ordem de Edir
Macedo da IURD, em função dos acordos secretos com o MPLA.
Ora,
não se desculpando, a verdade é que morte é morte e não podem umas serem mais
do que outras. Será que não vale a vida de quem morreu na campanha da IURD e
só os por acção provocadora de agentes da Polícia contra a sede de Kalupeteka.
Neste
momento existe um clima de terror no Huambo e perseguição impiedosa aos
Kalupetekas e a politica de intimidação e perseguição para aterrorizar as
pessoas prossegue.
O
F8 está no local, na zona do Mbave, e sente no ar o cheiro da pólvora e dos
cordões policiais.
Quanto
às declarações do secretário de Estado do Interior de que os homens da seita
teriam sido encontrados com armas, é a mais pura mentira e irresponsabilidade,
pois um oficial da Polícia disse não terem encontrado nenhuma arma nem
material de propaganda política, pois se assim fosse, os agentes teriam morrido
com balas e não com armas brancas.
O
F8 não quer avançar cifras definitivas, porque continua no terreno a obter
informações, mas seguramente pode avaliar em cerca de 359 as vítimas já
confirmadas e enterradas em valas comuns, sem qualquer ritual.
O
grave é que Kalupeteka continua a ser espancado, ainda não falou, está algemado
e muitos dos seus fiéis em várias sanzalas estão a fugir para as matas face a
esta política de terror, que visa dissuadir as pessoas a aderir a contestações
de massas e com isso haver incidência nas eleições.
O
regime parece, com estas chacinas, querer reeditar o 27 de Maio, numa altura
que o chão lhe começa a fugir e as populações estão descrentes nas suas
políticas de má gestão.
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