Sob
pressão do FMI para que cumpra prazos, Grécia terá que arcar com novas parcelas
da dívida já em maio.
Reunião dos ministros de Finanças da zona do euro, marcada
para esta semana, pode ser decisiva.
A
agenda de pagamentos do governo grego está cheia. Começa, logo em 1º de maio,
com um vencimento de 200 milhões de euros perante o Fundo Monetário
Internacional (FMI). E continua, até meados de junho, com uma série de
parcelas, totalizando 2,5 bilhões de euros, referentes ao pacote de ajuda
financeiro concedido pela instituição a Atenas.
Na
semana passada, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, insistiu na
necessidade de um pagamento pontual. Nos últimos 30 anos, afirmou ela, a
instituição jamais concedeu um adiamento a seus devedores.
"Nunca
tivemos o caso de um país desenvolvido ter pedido um adiamento do pagamento. E
esperamos que a Grécia não o faça. Com certeza, eu pessoalmente não iria apoiar
isso", justificou.
Lagarde
destacou que o FMI é uma "instituição baseada em regras". A frase
aparece com frequência também nos discursos de Mario Draghi, presidente do
Banco Central Europeu (BCE) – ainda que tais regras deixem espaço para
interpretação.
Na
opinião de muitos críticos, a compra em larga escala de títulos do governo não
está coberta pelo mandato da autoridade monetária europeia. O que não impede
Draghi, porém, de injetar 60 bilhões de euros nos mercados todos os meses.
Empréstimos
mais caros
De
acordo com suas próprias regras, o BCE também não deveria ter aceitado títulos
gregos como garantia, já que a nota de crédito (rating) de Atenas estava no
fundo do poço. Na ocasião, o problema foi contornado com a aprovação de uma
regra de exceção.
Em
fevereiro, pouco após Alexis Tsipras assumir como primeiro-ministro da Grécia,
o BCE suspendeu essa exceção e privou o país de uma importante fonte de
divisas. A justificativa oficial na época: não se esperava que a avaliação do
programa de reformas pudesse ser concluída com êxito.
Devido
ao fato de, desde então, instituições financeiras gregas não terem mais acesso
direto aos fundos do BCE, elas dependem agora de empréstimos emergenciais do
banco central da Grécia.
Esses
empréstimos não saem somente mais caros, mas também têm que ser aprovados pelo
BCE, que mantém os bancos na rédea curta ao elevar o limite máximo permitido de
forma muita mais lenta do que sob o governo anterior.
Para
os gregos, a tomada regular de empréstimos no mercado de capitais não é opção.
Depois do encontro do ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, com
Lagarde, na semana passada em Washington, os rendimentos dos títulos públicos
de três anos escalaram para estonteantes 27%, o nível mais alto desde o corte
da dívida em 2012.
Lagarde
pede negociação rápida
Por
esse motivo, os gregos estão fazendo pressão por um pagamento rápido das ajudas
financeiras já aprovadas, no valor de 7,2 bilhões de euros. No entanto, os
credores estão retendo os fundos por considerar insuficientes os esforços de
reforma do governo Tsipras.
Em
20 de fevereiro último, os países da zona do euro concordaram em prorrogar o
programa de resgate até junho. Na ocasião, isso foi considerado um sucesso, mas
não ajudou a melhorar a relação entre devedores e credores.
Os
gregos interpretaram o acordo como um "novo marco regulatório", como
Tsipras escreveu em carta à chanceler federal alemã, Angela Merkel. Os demais
países do euro viram ali somente a obrigação de dar prosseguimento à atual
política de austeridade.
E
é justamente isso que o governo grego rejeita. Ele foi eleito pela promessa de
pôr um fim às condições impostas para os empréstimos, consideradas, em sua
visão, social e economicamente contraproducentes. E as alternativas sugeridas
até agora por Atenas foram rejeitadas pelos parceiros de moeda única.
Diante
dos cofres vazios, Lagarde exortou todas as partes interessadas a se
apressarem: "Isso não é algo que possa ser resolvido com um acordo
político no último minuto." Segundo ela, cabe aos ministros de Finanças da
zona do euro e às instituições de avaliação por eles comissionadas tomar uma
decisão.
Possível
ajuda da Igreja
Tsipras
mostrou-se otimista, na semana passada, em conseguir um acordo até o fim do
mês, mesmo que ainda existam questões controversas, como relativas às reformas
do mercado de trabalho e das aposentadorias.
Nesta
sexta-feira (24/04), os ministros de Finanças da zona do euro voltam a se
reunir em Riga, capital da Letônia. Mas o ministro alemão das Finanças,
Wolfgang Schäuble, já arrefeceu as expectativas com antecedência.
"Não
há nada de novo", afirmou Schäuble na reunião do FMI em Washington.
"E não estou certo se já teremos alguma novidade na próxima semana em
Riga."
A
pressão sobre o governo grego para que se curve às exigências de reformas e
austeridade econômica dos credores aumenta diariamente. Enquanto isso, Tsipras,
ateísta declarado e primeiro premiê grego a recusar a Bíblia no juramento de
posse, iniciou um diálogo com a Igreja Ortodoxa, que se ofereceu para usar sua
fortuna bilionária para auxiliar Atenas a buscar novas fontes de ajuda
financeira.
Andreas
Becker (ca) – Deutsche Welle
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