sexta-feira, 24 de abril de 2015

MP nega qualquer ilicitude no caso do jovem português encontrado morto em Macau




Macau, China, 24 abr (Lusa) - O Ministério Público de Macau admitiu hoje, durante as alegações finais sobre o caso do jovem português encontrado morto em 2007, que não foram feitas todas as diligências sugeridas, mas negou quaisquer ilicitudes por parte das autoridades.

Em causa está o processo interposto pelos pais contra o Governo de Macau por negligência na investigação da morte do seu filho. Luís Amorim tinha 17 anos quando foi encontrado sem vida junto à ponte Nobre de Carvalho, a 30 de setembro de 2007.

A polícia concluiu que se tratou de um suicídio, uma tese que a família rejeitou desde o início, acusando as autoridades de nunca terem realmente investigado a hipótese de homicídio.

Hoje, o magistrado do Ministério Público (MP) Joaquim Sousa admitiu alguns factos apontados como falhas pelos pais, como a lavagem imediata do local onde o jovem foi encontrado, não permitindo recolha de indícios.

Reconheceu também que algumas diligências sugeridas pelos pais - que se constituíram assistentes da investigação - não foram realizadas, mas que tal se justificou, até porque "o assistente colabora com o MP, não é o MP que colabora com o assistente, senão era a balbúrdia total".

Uma das diligências requisitadas foi a realização de uma segunda autopsia, que o advogado da família garante ter sido pedida "sucessivamente, oito a dez vezes", e que o MP diz "não ter sido necessária".

Joaquim Sousa admitiu também que não foi feita "uma reconstituição dos acontecimentos no Bex", bar onde o jovem foi visto pela última vez e onde se suspeita que algo relevante possa ter acontecido, porque "nenhuma ideia havia sobre o que se passou no Bex". "Há um manto de silêncio sobre o assunto. Como é que a polícia pode reconstituir?", disse.

O bar, que fechou pouco tempo depois do incidente, também não foi imediatamente investigado nem pedidas as gravações de videovigilância. "Como podiam ir imediatamente ao bar se não sabiam onde o Luís tinha estado", justificou o magistrado.

A família alertou ainda as autoridades para relatos vindos de funcionários do Bex que traçavam cenários sobre a morte - um segurança terá mesmo dito que o jovem morreu na passagem superior do Centro Cultural de Macau, em frente ao bar - mas queixa-se de estes nunca terem sido interrogados.

"A polícia não ouviu os funcionários, mas isso não quer dizer que não tenha feito diligências para os encontrar. Mas ia sempre parar a becos sem saída", afirmou o MP.

Por fim, os pais criticaram que a roupa do jovem nunca tenha sido analisada, apesar de se encontrar rasgada nalgumas zonas, ao que Joaquim Sousa respondeu que tal aconteceu porque o pai pediu que lhe fossem entregues.

O magistrado pôs ainda em causa o relatório pericial encomendado ao Instituto Nacional de Medicina Legal - que indica taxativamente que as lesões de Luís Amorim não eram compatíveis com uma queda, mas com agressões - defendendo que "os peritos de Coimbra basearam-se em fotografias, num relatório com problemas de tradução e numa exumação que não permite análise dos tecidos moles".

"Os médicos de Macau fizeram a autópsia, tiveram imediação com o cadáver, acredito que tenhaM uma ideia mais rigorosa", concluiu.

Nas alegações finais, o advogado da família, Pedro Redinha, voltou a defender que as autoridades rotularam o caso como suicídio desde o início, que não foi provado que Luís Amorim esteve sequer na ponte e que não houve daí qualquer queda - teses que sustentou com uma longa lista de prova documental, pericial e de testemunhas.

ISG // VM

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