quinta-feira, 16 de abril de 2015

UNIÃO EUROPEIA VOLTA A FINANCIAR O ZIMBABWE



Roger Godwin – Jornal de Angola

 A União Europeia entregou um cheque de 270 milhões de dólares ao governo do Zimbabwe destinado a financiar projectos de carácter social, 13 anos depois da imposição de sanções económicas ao país, como uma manifesta forma de pressão política sobre o Presidente Robert Mugabe.

Este é o primeiro financiamento que os 28 países membros da União Europeia aceitaram entregar directamente ao governo do Zimbabwe para que o possa gerir directamente sem a intervenção fiscalizadora da entidade doadora, facto que foi devidamente sublinhado pelas autoridades de Harare. É evidente que a entrega destes 270 milhões de dólares pode ser o primeiro passo para o reatamento normal das relações entre o Zimbabwe e a União Europeia mas, está longe de ser o início do fim do ostracismo a que os europeus votaram o Presidente Mugabe.

A atestar isto, está o facto, considerado “muito preocupante” pelo governo zimbabweano, que tem a ver com a manutenção das sanções políticas que ainda pendem sobre a família Mugabe que continua, por força dessas determinações, impedido de viajar para território europeu. Tentando separar, aparentemente, as relações económicas das políticas, a União Europeia continua a ter em relação ao Zimbabwe uma posição que configura uma continua pressão política com o objectivo, cada vez mais claro, de influenciar a sua gestão em termos de liderança e de programa de governo.

Ao condicionar essa ajuda de 270 milhões de dólares a projectos sociais, a União Europeia transmite a ideia de se querer aproveitar da fragilidade económica do país para condicionar o seu programa de acção sufragado em 31 de Maio de 2013, com mais de 62 por cento dos votos da população e expressos em eleições legislativas e presidenciais internacionalmente consideradas como tendo sido “exemplares”.

Ao receber o cheque dos 270 milhões de dólares, o ministro zimbabweano das Finanças, Patrick Chinamasa, considerado como sendo da “linha dura” da ZANU-Frente Patriótica, de Robert Mugabe, foi claro ao dizer que a ajuda é bem vinda mas que, por si só, não é razão suficiente para relançar definitivamente as relações entre as duas partes. Chinamasa lamentou que a União Europeia continue a querer condicionar a liderança política de Robert Mugabe, mantendo o impedimento de viajar para território europeu e criando balizas para orientar a forma de aplicação deste financiamento.

Mas a verdade é que desde há alguns meses que se vinha assistindo como que a um “namoro discreto” entre o Zimbabwe e alguns países da União Europeia, conduzido no sentido de encontrar mecanismos personalizados de cooperação e que não ferissem as determinações e condicionalismos impostos pela União Europeia, a alguns dos seus membros.

Desde sempre, a Inglaterra e mais recentemente a França e a Alemanha, se relacionam com algumas empresas privadas do Zimbabwe no sentido do estabelecimento de parcerias que sirvam os interesses das partes e não afectem as negociações em curso com a União Europeia.

Logo no início de 2013 que o governo zimbabweano aguardava com alguma impaciência que a União Europeia desse um passo, no sentido de reconhecer os esforços que Harare estava a fazer, no sentido de reconquistar a confiança perdida em 2002, altura em que entraram em vigor as sanções,  que com algum pudor apelidaram de económicas mas que, inquestionavelmente, sempre tiveram um forte cariz político.

Depois da realização das eleições de 31 de Maio de 2013 que o governo zimbabweano esperava o levantamento da sanções, uma vez que o pleito havia obedecido aos preceitos exigidos por Bruxelas.

A verdade é que, por uma razão ou por outra, a União Europeia foi buscando argumentos políticos para dilatar no tempo o cumprimento da promessa feita, limitando-se a suavizar algumas medidas impostas a partir de 2002 mas que, reconhecidamente, estavam – como ainda estão – longe de ir bem ao fundo da questão.

O passo agora dado com a entrega de um financiamento de 270 milhões de dólares foi, para a União Europeia, difícil de dar, por representar um importante esforço económico com escassos dividendos políticos, pelo menos no imediato.

Mas, para o Zimbabwe tratou-se de uma ajuda importante que ajuda a resolver alguns problemas imediatos mas que, por razões óbvias, fica longe de responder às suas melhores expectativas.

Entre essas expectativas está o reatamento normal e sem condicionalismos das relações com a União Europeia, o que obriga a que esta organização reconheça, de forma explícita e com todo o seu envolvimento, a legitimidade da liderança política de Robert Mugabe libertando-o, assim, dos impedimentos que sobre ele pesam para viajar livremente para onde muito bem entender.

E foi devido à grave crise económica e financeira que afectam o seu quotidiano, que o governo do Zimbabwe se viu quase “obrigado” a receber este cheque de 270 milhões de dólares com os quais conta poder resolver alguns problemas da sua população. 

Mas, é bom que fique claro, que não vai ser com este dinheiro que a União Europeia conseguiu ainda comprar a submissão de um líder, que o seu povo aclama e que o continente africano respeita, conforme disse o ministro zimbabweano das Finanças, na cerimónia oficial que pode ter marcado uma nova era nas relações do seu país com a União Europeia

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